Discurso durante a 25ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

PREOCUPAÇÃO COM O FORTALECIMENTO CONTINUO DOS PAISES RICOS NO PROCESSO DE COMPETIÇÃO INTERNACIONAL.

Autor
Eduardo Siqueira Campos (PFL - Partido da Frente Liberal/TO)
Nome completo: José Eduardo Siqueira Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • PREOCUPAÇÃO COM O FORTALECIMENTO CONTINUO DOS PAISES RICOS NO PROCESSO DE COMPETIÇÃO INTERNACIONAL.
Publicação
Publicação no DSF de 31/03/2001 - Página 4525
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • ANALISE, GLOBALIZAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, TECNOLOGIA, CONCENTRAÇÃO, PODER, RIQUEZAS, GRUPO ECONOMICO, SUJEIÇÃO, POLITICA, GOVERNO.
  • NECESSIDADE, REFORÇO, COOPERAÇÃO, RELAÇÕES INTERNACIONAIS.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, BANCO OFICIAL, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, COOPERAÇÃO, AMBITO INTERNACIONAL, INVESTIMENTO, BRASIL, AREA, PRODUÇÃO, ALIMENTOS, REFORÇO, INFRAESTRUTURA.

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PFL - TO) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nesta época da globalização, Sr. Presidente, Nobres Senadores, avultam duas perspectivas distintas dentro do processo de interação entre as nações - que também se aplicam aos negócios ou às relações interpessoais.

A primeira dessas perspectivas é a competição, que se centra no fortalecimento contínuo de uma parte com vistas a tornar-se mais forte, a sobrepujar a outra parte, submetendo-a ou eliminando-a.

Esse é um princípio que sempre existiu nas relações pessoais, na ordem econômica, ou nas relações políticas e que encontrou o seu extremo com o surgimento do capitalismo.

A limitação do poder, da riqueza ou da tecnologia, no entanto, permitia um certo equilíbrio nas relações entre os povos, ou nas relações econômicas e sociais, permitindo a sobrevivência de uma sociedade pluralista, malgrado os conflitos internos.

A concentração rápida do poder e da riqueza, viabilizada pela tecnologia, está a poucos passos de eliminar a própria competição, substituída neste processo pelo domínio absoluto de grupos cada vez mais poderosos e em número cada vez menor, excluindo, ou eliminando, quaisquer concorrentes.

O mais grave, como já denunciei desta tribuna, é que esse poder foge da área política para concentrar-se na economia, que passa a submeter o próprio processo político, o Estado e os governos, que representam. Os números, diariamente mostrados pela mídia, pelos organismos internacionais, e pelos Centros de Estudos e Pesquisas, demostram cabalmente esse processo.

Em face desse processo autofágico e suas conseqüências sobre a humanidade, tem se fortalecido cada vez mais a segunda alternativa de forma de relacionamento entre as Nações, povos ou mesmo entre os mais variados grupos da sociedade ou de pessoas. Refiro-me à idéia da cooperação, que, cada vez mais, se firma como o grande princípio que há de ordenar as relações sociais da era pós-tecnológica, viabilizando uma nova ordem social nesta nova era em que estamos ingressando, com o advento do Terceiro Milênio.

Creio que esse é um princípio que se fortalece, cada dia mais, não só nas relações sociais, mas também se institucionaliza nas relações entre os povos e Nações com mais força. No que se refere às relações sociais, poderia citar o sentimento de solidariedade que une comunidades e pessoas nas mais diversas formas de atividades cooperativas e que inspiram, já a esta altura, programas oficiais, como o da solidariedade ou do voluntariado, em que estão engajados mais de 30 milhões de brasileiros. Esse é um fato que deve ser considerado, não apenas pela sua dimensão quantitativa, mas como uma referência de que a sociedade se aproxima de novos padrões de valores, seguramente mais adequados à era pós-tecnológica e muito além da visão tradicional da competição da concentração e da exclusão.

Mas esse sentimento, Sr. Presidente e Nobres Senadores, ultrapassa a cada dia mais a dimensão social, para atingir dimensões políticas e econômicas entre povos e Nações e é preciso estar atento a este fenômeno.

Assim, a formação de blocos regionais como o Mercosul não podem ser vistos apenas como uma União de países para fortalecer sua capacidade competitiva diante de outros países ou outros blocos, mas sim como um sistema de cooperação em favor do desenvolvimento, da sustentabilidade e da melhoria das condições de vida dos povos que o integram.

A recente posição adotada pelo Brasil em face da crise argentina, de compreensão e colaboração, pode bem ser citada como exemplo da prevalência do espírito cooperativo sobre o da competição.

No entanto, como exemplo marcante do espírito de cooperação e de seus resultados, a bem dos povos e das relações entre eles, devem ser lembrados os investimentos maciços realizados pela União Européia nos países mais pobres do velho Continente como Portugal, Espanha e Grécia, que modificaram radicalmente suas condições de vida, catapultando-os ao primeiro mundo. Isso pode ser ampliado, à medida que houver a percepção da necessidade de aumentar a cooperação, como fundamento da organização social do mundo pós-tecnológico.

Faço essas considerações, Sr. Presidente e Nobres Senadores, porque tenho em mãos este folheto, que nos dá conhecimento, e faço questão de registrá-lo nesta Casa, do novo perfil do mecanismo de cooperação do Japão com empresas e governos de outros países - o Banco Japonês para Cooperação Internacional - JBCI.

Absorvendo o Banco Japonês para Importação e Exportação (JEXIM) e o Fundo de Cooperação Econômica do Japão (OECF) o Governo do Japão criou um vigoroso mecanismo de cooperação internacional, com um capital da ordem de U$60 bilhões, tendo assumido valores de financiamentos cooperativos acima de U$200 bilhões, aplicados em vários países, inclusive no Brasil.

É de se registrar, Sr. Presidente, que esse volume de recursos é comparável ao do Banco Mundial e bem acima das aplicações do BID, sendo que, só no primeiro ano de exercício do novo organismo, foram aprovados financiamentos da ordem de U$24 bilhões.

Devo acrescentar que, desses recursos, 56% foram destinados a países da Ásia; vindo, em segundo lugar, a América Latina, com 16% dos quais a maior parte foi destinada ao Brasil.

Esses recursos beneficiaram predominantemente a área de produção de alimentos e de fortalecimento da infra-estrutura econômica do país, com forte cuidado no que se refere à preocupações ambientais.

Informo, ainda, que o Governo do Japão continua mantendo a Agencia de Cooperação para o Desenvolvimento - a JICA, que também segue atuando com seus programas que abarcam sobretudo a cooperação técnica.

Vou concluir, Sr. Presidente, registrando a profunda transformação que ocorreria no mundo e, mutatis mutandis, no Brasil, se o espírito de cooperação e solidariedade inspirasse atitudes semelhantes dos que têm o poder e a riqueza para governar o mundo - ou o Brasil.

Mas, a cobrança do espírito de cooperação, superando a concentração e a exclusão que a competição selvagem provoca, é um direito da humanidade a ser posto nas discussões internacionais, quer nos órgãos internacionais, quer nas relações bilaterais entre países.

Alguns países, os mais fortes, os mais concentradores, nada fazem, ou fazem muito pouco na linha da cooperação. Ao contrário, até como tivemos muitos exemplos em nossas relações internacionais com países do 1º mundo, e dos quais os recentes episódios envolvendo o Canadá, constituem um bom exemplo.

Resolver os problemas mais cruciais do mundo, Sr. Presidente, como os do Brasil, é possível, se sobre o espírito de ganância, herdado do passado, prevalecer o espírito da cooperação e da solidariedade, como instrumentos de construção do futuro.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/03/2001 - Página 4525