Discurso durante a 46ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

SOLICITAÇÃO DE PRAZO PARA APRESENTAÇÃO DO RELATORIO FINAL, PERANTE O CONSELHO DE ETICA, SOBRE O PROCESSO QUE INVESTIGA A VIOLAÇÃO DO PAINEL ELETRONICO DO PLENARIO. (COMO LIDER)

Autor
Roberto Saturnino (PSB - Partido Socialista Brasileiro/RJ)
Nome completo: Roberto Saturnino Braga
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • SOLICITAÇÃO DE PRAZO PARA APRESENTAÇÃO DO RELATORIO FINAL, PERANTE O CONSELHO DE ETICA, SOBRE O PROCESSO QUE INVESTIGA A VIOLAÇÃO DO PAINEL ELETRONICO DO PLENARIO. (COMO LIDER)
Publicação
Publicação no DSF de 05/05/2001 - Página 8205
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • INEXATIDÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), REFERENCIA, DECLARAÇÃO, ORADOR, QUALIDADE, RELATOR, CONSELHO, ETICA, PROPOSIÇÃO, CASSAÇÃO, JOSE ROBERTO ARRUDA, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR, MOTIVO, VIOLAÇÃO, APARELHO ELETRONICO, VOTAÇÃO SECRETA.
  • SOLICITAÇÃO, AUMENTO, PRAZO, APRESENTAÇÃO, RELATORIO, CONSELHO, ETICA.

O SR. ROBERTO SATURNINO (PSB - RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, ontem, terminada a reunião do Conselho de Ética, que procedeu à acareação entre os Senadores Antonio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda e a Drª Regina, fui cercado por representantes da imprensa e disse que não daria declarações; que, dali para frente, iria recolher-me para preparar o relatório que pretendia apresentar na quinta-feira.

Assim fiz e evitei todas as tentativas de que fossem extraídas de mim quaisquer declarações, de qualquer natureza, sobre a minha impressão a respeito dos questionamentos feitos e das respostas dadas no Conselho de Ética.

Sr. Presidente, fui surpreendido hoje com a manchete principal do Jornal do Brasil, que diz: “Relator quer a cassação dos Senadores. Após acareação de ACM, Arruda e Regina, Saturnino diz que pedirá pena máxima.” Segundo o jornal, eu teria revelado a dois interlocutores próximos que já estava tomada a minha decisão a respeito do relatório. Na matéria, houve a descrição de algumas partes do relatório, que já estariam prontas; enfim, uma declaração que até parece fundada numa conversa de um repórter do Jornal do Brasil com duas pessoas próximas a mim.

Sr. Presidente, realmente conversei muito brevemente com dois assessores jurídicos que me estão ajudando na elaboração do relatório e lhes falei da impressão que me causaram as diferentes versões: de um lado, a versão consistente, coerente, sem contradições da Drª Regina e, do outro lado, as versões dos dois Senadores, a meu juízo, pontilhadas de incoerências e contradições, que, por todas as maneiras, tentei desvendar. Cheguei mesmo a declarar, como provocação ao Senador José Roberto Arruda, que tinha dificuldade de acreditar na versão dele, mas, efetivamente, não tive sucesso na obtenção de uma explicação que me satisfizesse.

Diante desse quadro, sentia que os Senadores, como eu mesmo, estavam-se sentindo ludibriados ou, pelo menos, submetidos a uma tentativa de ludíbrio na medida em que as versões dos dois Senadores, a meu juízo, e a juízo de vários Senadores com quem conversei, eram inconvincentes, muito inconvincentes.

Diante disso, efetivamente inclinava-me pela proposição da cassação, não só pelo fato em si, pelos ilícitos cometidos, mas até mesmo por essa atitude de os Senadores apresentarem versões que se iam sucedendo com ligeiras modificações, mas sempre pontilhadas de contradições que não conseguiam explicar.

Mas, Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, esse procedimento do Jornal do Brasil, que, com certeza, conversou com esses dois assessores, está a exigir de mim mesmo um certo recolhimento, porque isso para mim foi tão chocante que me levou a perceber, com clareza, que, neste afã de dar notícias em primeira mão, de apresentar os fatos mais escandalosos, capazes de reter, mobilizar e indignar a opinião pública, a nossa mídia está realmente criando um clima de caça às bruxas. Ao perceber isso, senti-me obrigado a me recolher e a pedir mais prazo, até para meditar antes de apresentar o meu relatório.

Efetivamente, eu estava com uma tendência de propor a cassação - comentei isso com os dois assessores -, mas essa manchete do Jornal do Brasil e essa competição dos órgãos de imprensa, cada um querendo mais do que o outro apresentar fatos novos, versões e criar um clima mobilizador da opinião pública contra as instituições políticas de um modo geral, tudo isso me leva a pedir mais prazo para meditar e apresentar o meu relatório.

Vou pedir ao Presidente Ramez Tebet que me dê mais prazo; não vou mais apresentar o relatório na quinta-feira. Preciso de um tempo. Preciso de um tempo até para observar esse clima, porque, obviamente, se de um lado, temos que apreciar os fatos e julgar as acusações com o máximo de acuidade, de seriedade e de rigor também - está em jogo a imagem da instituição, a dignidade da instituição -, de outro lado, não podemos efetuar um julgamento sereno sob uma pressão criada por um clima, como eu disse, de caça às bruxas.

Sr. Presidente, eu não pretendia vir à tribuna. Estou com uma viagem programada, iria me recolher neste fim-de-semana, ausentar-me de Brasília e do Rio para produzir esse relatório. Essa manchete do Jornal do Brasil, porém, fez-me mudar de idéia.

Tendo me recusado terminantemente a dar qualquer declaração, quando vi esta manchete na primeira página, pensei comigo mesmo: será que não estamos sendo levados por um clima que, de certa forma, vai distorcer o nosso julgamento? Decidi, então, pedir mais tempo ao Presidente Ramez Tebet.

Era isso, basicamente, o que queria dizer desta tribuna hoje: preciso de mais tempo para meditar, para produzir um relatório que eu julgue não estar influenciado por um clima criado pela disputa, pela competição entre os órgãos de imprensa, em que cada um quer revelar mais achados do que os outros.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ROBERTO SATURNINO (PSB - RJ) - Antes de terminar, ouço o aparte, com muito interesse, do Senador Pedro Simon, um homem experimentado e de grande sabedoria.

O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Senador Pedro Simon, o eminente Senador Roberto Saturnino está falando no horário de liderança, por cinco minutos, mas vejo que V. Exª tem uma contribuição importante a apresentar. Para que não quebremos as regras do Regimento, pergunto-lhe se poderia falar em seguida; asseguro a palavra a V. Exª.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Pelo amor de Deus, o que sobra do Regimento!

Vou aguardar.

O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Do que sobra do Regimento!

O SR. ROBERTO SATURNINO (PSB - RJ) - Sr. Presidente, era o que tinha a dizer. Vou para a minha bancada escutar o discurso do Senador Pedro Simon.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/05/2001 - Página 8205