O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (Bloco/PSDB - CE) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nesta breve intervenção, quero registrar a posse, ocorrida no início de junho, do novo presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento - Cebrap, o cientista político Fernando Limongi, que substitui no cargo o filósofo José Arthur Giannotti.

Como jovem pesquisador, Limongi detém um currículo acadêmico excepcional, tendo freqüentado duas de nossas mais importantes universidades. Graduado pela Universidade de São Paulo - USP, ingressou a seguir no programa de mestrado da Universidade de Campinas - Unicamp. Já os seus estudos de doutoramento foram feitos na prestigiosa Universidade de Chicago. Ele também é co-autor de duas obras que se mostram bastante relevantes para o entendimento do País e das relações entre democracia e desenvolvimento, e tem trabalhos publicados, inclusive, originalmente em língua inglesa.

Em suas novas funções, Limongi tem diante de si um considerável desafio, de vez que nos próximos dois anos, período de sua gestão, ele pretende consolidar o Cebrap como um centro autônomo de pesquisas, considerando a sensível modificação, que ora ocorre em todo o mundo, nos modelos de financiamento de pesquisas. O que, aliás, é um ponto crucial para todas as instituições voltadas para a produção de conhecimento, especialmente no âmbito das ciências sociais. Na realidade, há algum tempo a comunidade científica depara-se com um problema sério, devido ao crescimento exponencial do número de projetos e uma escassez crescente de recursos, públicos ou privados, capazes de tornar esses projetos realidade.

O Cebrap, permitam-me recordar, foi fundado em 1969, quando o Brasil vivia sob a égide do governo militar. Naquela época, um grupo de pesquisadores e professores preocupados em pensar e discutir o País, melhor conhecendo as suas estruturas para avaliar as suas perspectivas futuras, decidiu implantar o Centro. Em pouco mais de três décadas, o Cebrap firmou-se como uma das mais importantes instituições brasileiras, pelas contribuições permanentes que vem oferecendo ao pensamento brasileiro.

Sempre com foco nos estudos transdisciplinares, uma característica que remonta à sua fundação e evidencia um nítido contraste com outros centros similares, o Cebrap está organizado em áreas de pesquisa integradas por especialistas de inúmeros segmentos acadêmicos. São economistas, historiadores, sociólogos, cientistas políticos, antropólogos, filósofos e demógrafos reunidos em áreas temáticas, sob a orientação científica geral de uma câmara de pesquisa, que é o órgão responsável pelas abordagens teórico-metodológicas adotadas nos trabalhos.

Durante os anos 70, o Cebrap orientou o seu trabalho em torno de três eixos: as transformações da estrutura social brasileira, a análise da especificidade do regime autoritário e o estudo crítico do padrão de desenvolvimento econômico no período posterior a 1964. A partir do final da década, com o início do processo de redemocratização do País, foram agregados temas sobre o surgimento na esfera pública de novos atores sociais, formando-se os contornos do que foi chamado de nova cidadania. Acompanhando o cotidiano de uma sociedade complexa e dinâmica como a brasileira, o Cebrap vem incluindo outras questões fundamentais para o Brasil, como a especificidade de nosso modelo de democracia e o modo como se processa a urbanização no País.

Atuando como um verdadeiro pólo de reflexão e de geração de conhecimento sobre a realidade brasileira, o Cebrap mantém relações permanentes com intelectuais e estudiosos brasileiros e estrangeiros, realizando com regularidade seminários, com a entusiástica participação da comunidade intelectual e universitária nacional.

Com o apoio da principal agência financiadora oficial do País, a Capes, o Cebrap oferece também aos pós-graduandos brasileiros um programa de formação de dois anos, durante os quais os estudantes selecionados beneficiam-se do contato diário com os pesquisadores da instituição.

Como forma de veicular suas pesquisas e promover o debate brasileiro e internacional das ciências humanas e da filosofia, o Cebrap mantém um conjunto de publicações científicas, tendo editado vários livros de grande difusão e aceitação. A revista Novos Estudos estimula e dissemina o debate intelectual no País e na América Latina, circulando em três edições anuais, com publicação desde o início dos anos 80. É, sem favor, uma verdadeira referência dentro das ciências humanas. Além disso, os Cadernos Cebrap marcaram a formação de várias gerações de universitários.

Um papel igualmente importante cumprido pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento é o de articular ações conjuntas com outras instituições brasileiras e estrangeiras. Assim, desde a sua fundação desenvolve trabalhos com a USP e a Unicamp, com o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea, no Brasil. No plano internacional, realiza ações conjuntas com o Programa de Investigações Sociais sobre Problemas de População, do México, o Conselho Latino-americano de Ciências Sociais e o Centro de Estudos de Estado e Sociedade, ambos da Argentina, bem como com a Corporação de Investigações Econômicas para a América Latina, com sede no Chile.

Os qualificados quadros do Cebrap, dentre os quais se encontram alguns dos mais respeitáveis e prestigiados nomes brasileiros das ciências humanas, têm permanentemente contribuído para que o Brasil e os brasileiros conquistem uma inteligência lúcida, produtiva e transformadora sobre si mesmos.

            Por tudo isso, Sr. Presidente, o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento tem merecido o respeito e a credibilidade que lhe conferem intelectuais, estudiosos e a comunidade científica brasileira e latino-americana. Finalizando, espero que o cientista político Fernando Limongi conduza o Cebrap a um novo patamar, consolidando e difundindo uma tradição de pesquisa social transdisciplinar cada vez mais decisiva para o desenvolvimento do Brasil.

Muito obrigado.