Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO ESCRITOR JORGE AMADO, OCORRIDO ONTEM, EM SALVADOR/BA.

Autor
Hugo Napoleão (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Hugo Napoleão do Rego Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO ESCRITOR JORGE AMADO, OCORRIDO ONTEM, EM SALVADOR/BA.
Publicação
Republicação no DSF de 10/08/2001 - Página 16324
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JORGE AMADO, ESCRITOR, ESTADO DA BAHIA (BA), ELOGIO, VIDA PUBLICA, IMPORTANCIA, OBRA LITERARIA.

O SR. HUGO NAPOLEÃO (PFL - PI. Para encaminhar a votação.) -

            Sr. Presidente, em nome da Liderança do Partido da Frente Liberal venho trazer a minha palavra de saudade, secundando o requerimento dos Senadores Antonio Carlos Junior e Paulo Souto, que também tive a honra de assinar.

A Nação chora, Sr. Presidente, a perda de um de seus mais notáveis filhos, que teve uma atuação destacada e significativa em todos os setores da atividade brasileira e internacional. Poucos como ele terão tido uma abrangência tão grande, tão expressiva e tão intensa quanto Jorge Amado. Seus livros, sua obra foi publicada em dezenas de línguas, uma delas o farsi

Quando o meu pai foi Embaixador do Brasil naquele país, no tempo do Xá, Jorge Amado, que era seu amigo dos tempos de juventude, pedira-lhe que conseguisse uma tradução em farsi do seu O Cavaleiro da Esperança. As mais variadas nações, o diversos países, parece que todos absorveram a obra de Jorge Amado, tão variada, tão genuinamente baiana, tão autenticamente brasileira.

A caracterização de seus personagens era, sem dúvida alguma, algo de essencialíssimo. Era um deleite folhear as páginas e ainda o é - e por muito tempo o será -, e ler os romances de Jorge Amado. Começam com O País do Carnaval, já consagrado na admiração de Agripino Grieco, grande crítico literário, que lhe valeu um passo para Suor, para Mar Morto e para Jubiabá. Depois, uma verdadeira pletora com as publicações de Gabriela, Cravo e Canela, Tereza Batista Cansada de Guerra, Quincas Berro D’água, etc. Enfim, uma obra interminável.

É interessante notar a firmeza das suas atitudes: a sua filiação e a sua lealdade ao Partido Comunista, que terminou em cassação. Fui advogado de prisioneiro político, portanto, sei o que significa ser um cassado.

Jorge Amado foi para o exílio, para a França. Amava Paris e, ali, fez relacionamentos dos mais variados no mundo intelectual: Sartre, Simone Signoret e até mesmo teve um encontro com Albert Camus. Mais do que isto: encontrou-se, também, com o escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez, cuja obra é tão vasta e tão rica.

Aproximou-se dos intelectuais das letras e dos intelectuais da música: Georges Moustaki, Harry Belafonte, Yves Montand, enfim, cantores e cantoras de vários países do mundo. A todos encantava com o seu tom, com a sua marca de simplicidade.

Nesta Casa, registro a amizade que teve com dois colegas nossos: o ex-Senador Antonio Carlos Magalhães e o Senador e ex-Presidente José Sarney. Eram seus amigos diletos, companheiros de várias horas.

Portanto, Jorge Amado era assim, admirado pela esquerda, pela direita, pelo centro e pelas alturas da consciência nacional. Basta olhar os jornais de hoje e observar as suas fotografias ao lado de populares na querida Bahia; sentado nas calçadas do Pelourinho ou caminhando com José Saramago, também seu amigo, e, muitas vezes, com cantoras e cantores baianos. E, claro, que brasileiros!

É isso o que encantava em Jorge Amado. Equilibrava a grandeza de sua inteligência com a simplicidade, quase inocente, da sua bondade.

Certamente, está garantida a sua passagem para o destino.

Para encerrar essas singelas e modestas, mas sinceras palavras, Sr. Presidente, eu gostaria de lembrar Eduardo Portella, meu antecessor no Ministério da Educação. Um nome laureado pela crítica literária, inclusive por meio da revista O Tempo, que tão bem conduziu; sendo hoje Presidente da Biblioteca Nacional e membro da Academia Brasileira de Letras. Disse ele: “Desaparece o escritor virtuoso, a vida do escritor virtuoso, e começa a vida do escritor virtual”.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/08/2001 - Página 16324