Discurso durante a 90ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

INTENÇÃO DE S.EXA. EM DISPUTAR A CANDIDATURA A PRESIDENCIA DA REPUBLICA PELO PMDB. DUVIDAS QUANTO A ISENÇÃO DA GRANDE MIDIA NO PROCESSO DE DIVULGAÇÃO DE PESQUISAS ELEITORAIS. REFLEXÃO SOBRE OS RUMOS DO PMDB.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. POLITICA PARTIDARIA.:
  • INTENÇÃO DE S.EXA. EM DISPUTAR A CANDIDATURA A PRESIDENCIA DA REPUBLICA PELO PMDB. DUVIDAS QUANTO A ISENÇÃO DA GRANDE MIDIA NO PROCESSO DE DIVULGAÇÃO DE PESQUISAS ELEITORAIS. REFLEXÃO SOBRE OS RUMOS DO PMDB.
Aparteantes
Lauro Campos, Leomar Quintanilha, Marina Silva.
Publicação
Publicação no DSF de 11/08/2001 - Página 16381
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ANALISE, HISTORIA, DEMOCRACIA, BRASIL, COMENTARIO, ATUAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, PROCESSO ELEITORAL, PAIS.
  • REGISTRO, LANÇAMENTO, CANDIDATURA, ORADOR, ELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).
  • ANALISE, CRITICA, IMPRENSA, FALSIFICAÇÃO, PESQUISA, CANDIDATURA, MANIPULAÇÃO, ELEIÇÃO.
  • CRITICA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, IMPOSIÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), APOIO, CANDIDATO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL).
  • REGISTRO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), NECESSIDADE, AFASTAMENTO, GOVERNO, OBJETIVO, INDEPENDENCIA, LANÇAMENTO, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • COMENTARIO, REALIZAÇÃO, CONVENÇÃO, OBJETIVO, ESCOLHA, CANDIDATO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), REGISTRO, CONCORRENCIA, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, ITAMAR FRANCO, GOVERNADOR, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG).

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero, primeiramente, agradecer a gentileza do meu prezado amigo, Senador Luiz Otávio, do Pará, em ceder o seu tempo.

Estava inscrito, mas, na hora em que fui chamado, não estava presente e, normalmente não teria mais oportunidade de falar aqui. Sou descendente de libanês e acredito muito no maktub: “o que está escrito”. Inscrevi-me para falar, não estava presente na hora e não ia falar. Mas o bravo companheiro, Senador Luiz Otávio, cede-me o seu lugar e, então, eu vou falar.

Vou falar sobre o PMDB. Não sei se é hora, mas vou falar sobre o nosso Partido.

Como V. Exªs sabem, estou disputando uma vaga de candidato à Presidência da República pelo PMDB. Para quem não me conhece, pode parecer algo muito estranho eu, de repente, aparecer como pré-candidato à Presidência. Não é bem assim. O PMDB dos Estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná - em uma reunião presidida pelo Senador Roberto Requião -, de Goiás, Mato Grosso do Sul, Rondônia, reuniram-se, convidaram-me e lançaram o meu nome.

            Meditei muito. Não é do meu estilo. Quando jovem, eu tive oportunidades de ser candidato pelo PMDB. Poderia ter sido candidato naquela eleição da qual o Dr. Ulysses participou. Houve um momento dramático em que os 23 Governadores chegaram à conclusão de que o Dr. Ulysses não deveria ser candidato porque não tinha chances de ganhar. Qualidades tinha, valor tinha, mas, eleitoralmente falando, não era o seu momento. Houve apenas um momento em que os Governadores reuniram-se e decidiram que eu deveria ser o candidato. O Álvaro Dias retirou sua candidatura; o Tasso Jereissati disse que havia falado com o Presidente José Sarney e que Sua Excelência teria afirmado que apoiaria a minha candidatura; o Iris Rezende, candidato do Presidente José Sarney, disse que retirava sua candidatura; e o Valdir Pires, candidato da Bahia, também retiraria a sua. Havia uma unanimidade a meu favor. Mas não aceitei, porque tenho princípios muito rígidos. Afinal, no dia anterior, os Governadores do PMDB haviam chegado à conclusão de que o candidato do PMDB não deveria ser o Dr. Ulysses Guimarães, porque ele não teria condições de ganhar, e haviam decidido que deveria ser eu a comunicar-lhe o fato. Foi uma missão muito difícil, foi uma hora e meia muito dramática para mim. E, no dia seguinte, queriam voltar para comunicar-lhe que eu seria o candidato, o que me levou a reagir dizendo-lhes que, então, não deveriam ter me mandado lá no dia anterior, pois o Dr. Ulisses poderia interpretar que eu havia ido preparar o caminho para minha candidatura. Por isso não aceitei.

Veio o impeachment do Presidente Collor. Modéstia à parte, no meu gabinete é que se fez todo o trabalho, todo o esquema para o afastamento do Collor. Assumiu o Itamar. Não aceitei assumir os Ministérios para os quais fui indicado, nem o da Fazenda, cujo titular o PMDB tinha o direito de indicar, e não indicou. Não queria nem mesmo ser líder, por uma razão muito simples, que as pessoas também não entendem, mas é meu estilo: nós, do Rio Grande do Sul, sofremos muito com o suicídio do Dr. Getúlio, que foi levado a isso, derrubado pelo Lacerda. E os que o derrubaram, tendo à frente Café Filho, foram para o poder e abocanharam os cargos - o Brigadeiro Eduardo Gomes e outros mais. Na deposição de João Goulart, os que o derrubaram também abocanharam os cargos. Isso nós comentamos muito, principalmente no Rio Grande do Sul.

Então, eu pensei: “Já disseram que fizemos uma CPI e derrubamos um presidente. E se eu for Ministro nesse novo governo vão dizer que eu comandei a derrubada para depois pegar um cargo?” Não aceitei.

Tive muita honra em ser Ministro do Itamar. Creio que o Itamar fez um governo excepcional, é um homem de bem, correto. É complicado, não há dúvida disso, mas ele tem do que se honrar, e nós temos do que nos honrar do Itamar Franco na Presidência da República.

Ao final, falou-se no meu nome. O próprio Itamar dizia que os candidatos eram o Antônio Britto, o Pedro Simon e o Fernando Henrique. E houve uma mobilização, nós achávamos que não devia ser o Fernando Henrique, mas o Itamar parece que se apaixonou pelo Fernando Henrique. Eu avisei-lhe várias vezes que Fernando Henrique não era o homem, principalmente quando buscamos o então Governador de Minas para ser candidato a vice. Ele tinha sido vice do Tancredo, pertencia ao PTB e entendíamos que era uma boa aliança, mais para o lado do social. O Covas, quando foi candidato a Presidente da República, esfacelou-se porque não teve sustentação. O PSDB era muito complicado, não deixava ninguém subir no palanque do Covas e, assim, dificultou a sua caminhada e ele acabou perdendo a eleição.

E Fernando Henrique achava que o PFL daria a estrutura de que ele precisava, não tanto os votos, mas a estrutura e a solidez que ele queria. Parece piada, mas aconteceu em uma reunião no gabinete do Presidente no Palácio - estávamos presentes o Governador Itamar Franco, Fernando Henrique e eu - o Fernando Henrique teve o topete e a coragem de vetar, dizendo que já tinha um candidato a vice do PFL; não deu o nome, mas disse que já tinha candidato. O Governador de Minas saiu chateado, dizendo: “E aí, Pedro?” E eu respondi: “Tu és Presidente da República, estás fazendo esse homem Presidente. Se não fosses tu, ele não se elegeria Senador”. Fernando Henrique tinha-se comprometido na campanha do Collor de que ia ser Ministro. Ele e o Serra já estavam escolhidos Ministros do Governo Collor, um das Relações Exteriores e o outro do Planejamento. Quem virou a mesa foi o Covas, que, numa reunião no Partido, fez um daqueles discursos fantásticos que costumava fazer e conseguiu mudar tudo, o PSDB não participou do Ministério do Governo Collor. E o Fernando Henrique não foi ser Ministro. Após a CPI e a derrubada do Collor, o Fernando Henrique se queimou junto, tanto que ele não teve nenhuma participação na CPI; a única participação que teve durante foi às escondidas, querendo visitar o Itamar e começar a se reaproximar dele. Como ele tinha feito com Tancredo, só que o Tancredo não o escolheu como Ministro; como ele tinha feito com Sarney, só que Sarney não o escolheu como Ministro; como ele tinha feito com Collor e ele quase conseguiu.

Essa é uma especialidade do Fernando Henrique. Fez com Tancredo, por pouco não sai Ministro; fez com Sarney, que o deixou falando sozinho; fez com Collor, por pouco não sai Ministro; e fez com o Itamar, e saiu Ministro. Não fora isso, não se elegia nem Senador por São Paulo. O Itamar morreu de amores pelo Sr. Fernando Henrique, apesar das minhas advertências e de outras pessoas e saiu a candidatura de Fernando Henrique. Ali, eu podia ter sido candidato. Se eu tivesse defendido a minha candidatura, até o Itamar eu tenho certeza de que me apoiaria. Não aceitei.

Então, se em duas circunstâncias o cavalo passou na minha frente e eu não montei, por que estou aceitando agora participar de um debate em circunstâncias muito mais adversas? É que, quando fui convidado, entendi que não podia me furtar, com meus 70 anos e mais um, eu que já cumpri a minha meta e fiz o que fiz, nos erros e nos acertos. Se me aparece uma oportunidade numa hora como esta, eu devo aceitá-la. Não posso voltar para casa criticando como venho criticando, batendo como venho batendo, pensando que tive uma chance de fazer alguma coisa e não tive coragem de fazer.

Esta coragem eu tenho: de enfrentar, de apresentar uma proposta diferente do que está aí, totalmente diferente, baseada em uma longa vida pública de 40 anos, que começou como líder estudantil. Fui presidente da Junta Governativa da UNE. Exerci várias funções, ainda assim, a minha vida é uma só.

E a minha proposta social, as doutrinas de Alberto Pasqualini*!? A minha proposta, centrada na angústia deste País, vou apresentar. Vou apresentar esse plano e divulgá-lo pelo Brasil afora. Vou fazê-lo.

Eu gostaria de ser o candidato. Eu gostaria de debater com o Lula, que considero um grande nome; de debater com o Ciro, com quem tenho divergências; com o Garotinho, que não entendo direito, e com o próprio Itamar Franco, se ele sair do PMDB e for para um outro partido.

Não tenho preocupação. Muitos podem dizer: “Mas o Pedro Simon tem zero nas pesquisas, não aparece nas pesquisas”. É verdade. É porque, no Brasil - o único País no mundo que conheço que age dessa forma -, os grandes jornais, as rádios, a televisão e os institutos de pesquisa querem forjar uma vitória para determinados candidatos. Eles dizem quem será eleito.

Posso me queixar de que tenho zero nas pesquisas. Nem apareço. E o Ciro Gomes está lá em cima. Se medirem, no jornal O Globo, em centímetros quadrados, quantas vezes o Ciro Gomes aparece e o quanto se fala nele, o resultado será surpreendente. Poder-se-ia falar do Garotinho, do Lula ou do Itamar, mas fala-se do Ciro porque esse não tem nenhum cargo. Sou Senador, e ele não é nem Senador; os outros são Governadores, e o Lula é um Presidente.

Quantos centímetros quadrados são utilizados para eles aparecerem nos jornais O Globo, Folha de S. Paulo, Estadão ou no Jornal do Brasil? Quantas notícias lhes são destinadas ou quantos minutos de notícia, durante o mês, eles têm no Jornal Nacional ou na TV Globo; no SBT, de Silvio Santos; na Bandeirantes ou na Record? Em quantas capas eles aparecem nas revistas semanais e quantas vezes eles apareceram nas emissoras de rádio?

Eu disse para um diretor de um instituto de pesquisa que eles deveriam publicar, de um mês para o outro, quantas notícias foram publicadas daquele candidato. “No mês de junho, tiveram tanto e, no mês de julho, tanto”. Deveriam publicar - aí, sim, seria certo - o quanto cada um apareceu, em centímetros quadrados, nos principais jornais e revistas; o quanto foram ouvidos, em minutos, nas principais emissoras de televisão e nas principais emissoras de rádio.

Nesse caso, ninguém poderá fugir da estatística. É o Garotinho porque é o Garotinho; é o Lula, justiça seja feita, porque tem uma trajetória e uma história; é o Ciro porque querem que seja o Ciro. 

Fui lançado como candidato a Presidente, em Santa Catarina, Florianópolis. Todos os prefeitos, todos os vereadores e todos os deputados estavam presentes. A assembléia estava lotada. Foi uma aclamação emocionante. Não saiu nenhuma linha a respeito em jornal nenhum do Brasil. Estavam lá os representantes de todos os jornais, e não saiu uma vírgula sobre o assunto em jornal nenhum. No dia seguinte, domingo, e na segunda-feira, páginas inteiras foram destinadas ao Sr. Ciro Gomes, que fez uma palestra, a convite do Congresso de Cirurgiões-Dentistas, nas águas do rio quente. Foram páginas inteiras com a notícia, em todos os jornais.

Portanto, o que tenho a dizer é o seguinte: não aceito a tese do que os grandes jornais e os institutos de pesquisa, que respeito, querem fazer no sentido de impor candidatos. Não entendo por que o meu nome não aparece. As propostas, os discursos e as palestras que faço não aparecem; e, quando aparecem, é no sentido de deboche.

Assim, tenho dito ao meu Partido: “Isso não me preocupa. Se eu for candidato do PMDB e se eu tiver os oito minutos do PMDB gratuitos no rádio e na televisão, na campanha eleitoral, esse problema será resolvido facilmente”. Afinal, o Fernando Henrique tinha 2% em abril do ano em que foi lançado candidato; era o único que não tinha nenhuma expressão. O Collor, em maio, tinha 2%.

Isso reflete a seguinte imagem, em nível interno: “O Pedro Simon não está nas pesquisas”.

Essa é a primeira questão. Não tenho essa preocupação e quero falar aos convencionais do PMDB, não com vaidade nem com pretensão, mas com singeleza e com simplicidade, que eles têm a obrigação de analisar essa questão. Podem escolher o candidato Itamar. Eu mereço ser candidato e ele merece; tem grandes condições, é um grande companheiro. Mas não por causa do resultado das pesquisas que estão aí, por esse boicote, que muito me honra, porque eles devem ter algo contra mim. E não deve ser pelos meus defeitos que estão fazendo esse boicote.

Concorrerei à convenção com um grande nome, que é o de Itamar Franco. A meu ver, isso fortalece o PMDB. Creio que é bom para o PMDB ter o Itamar e o Pedro Simon. Será uma convenção no mais alto nível, porque vou dizer que o Itamar é um grande nome, um grande cidadão. E tenho certeza de que o Itamar me tratará com o maior respeito e com a maior simpatia. Será uma convenção de debates, de disputas, de teses. Vou expor que proponho praticamente uma revolução na maneira de fazer política; e tenho condições de fazer isso. Vou governar este País de uma forma diferente. Não terei amigos, não terei outra reta que não seja a busca do bem comum. Meu Ministério, por exemplo, não terá a cota de amigos do Fernando Henrique. Detesto cota de amigos. O meu Ministério terá cota de competentes.

            Alguém me perguntou, por exemplo: “Com que tipo de pessoa o senhor governará, Senador? De que forma, que tipo de pessoas o senhor convidará?” Dei um exemplo singelo para exemplificar o que penso. Sendo Presidente da República, o meu Ministro da Fazenda será o Senador José Alencar. Por quê? Porque é um grande empresário, veio do nada e conserva a mesma dignidade, a mesma correção. É voltado para as suas indústrias e não está ligado nem com o setor empreiteiro, nem com o setor de bancos e nem com empréstimos. Quer fortalecer a indústria nacional, entende que o social é importante e quer uma independência com relação ao Fundo Monetário Internacional. É o homem que me interessa.

            Não quero banqueiro no Ministério da Fazenda; não quero banqueiro no Banco do Brasil; não quero banqueiro no Banco Central - aliás, como o Itamar.

O Sr. Leomar Quintanilha (Bloco/PPB - TO) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Com prazer, ouço V. Exª.

O Sr. Leomar Quintanilha (Bloco/PPB - TO) - Agradeço a V. Exª a oportunidade que me dá de participar dessa discussão brilhante que traz a esta Casa. V. Exª comenta, com muita intimidade, as questões internas do seu Partido, que não integro. Represento o PPB, o Partido Progressista Brasileiro, que, historicamente, no meu Estado, é adversário do seu Partido. No meu Estado, a disputa ferrenha que o agrupamento político que integro enfrenta é justamente com o Partido de V. Exª, o PMDB. No entanto, aqui, nesta Casa, temos uma convivência muito boa. Somos vizinhos de bancada inclusive. Temos convergido e divergido em várias questões e temos tido oportunidade de conversar sobre elas. Por exemplo, sobre a coincidência das eleições, algo que defendo e a que V. Exª é contrário. Eu gostaria que, no Brasil, houvesse eleições coincidentes apenas a cada quatro anos; V. Exª entende que isso não contribui. Porém, neste momento em que o sistema partidário brasileiro expõe as suas vísceras e mostra a sua fragilidade, ele deixa, de forma inquestionável, a visão de que é preciso robustecer, encontrar a forma de fortalecer o sistema partidário, para que possamos extrair o individualismo, o caciquismo de dentro dos partidos. Não podemos permitir que alguém mande nos partidos. É importante que os programas, idéias e ações dos partidos sejam resultado de discussão. Podem ser fruto, talvez, da inteligência brilhante de um dos seus membros. Mas que sejam essa inteligência, essa sugestão, essa idéia abraçadas pelo partido, para que o País possa, efetivamente, encontrar o seu curso. Se o preceito constitucional, nobre Senador Pedro Simon, confere a qualquer cidadão a possibilidade de ser candidato - a Presidente da República, inclusive -, essa legitimidade, de forma muito mais clara e acentuada, V. Exª tem, porque, ao longo da sua trajetória, da sua bonita vida pública, deixou transparecer vários traços significativos e importantes do seu caráter, que deveriam ser marcantes e basilares para qualquer pessoa que quisesse ser representante do povo em alguma coisa. V. Exª é um homem probo, coerente, corajoso e transparente, que expõe com muita clareza e franqueza os seus pensamentos e sentimentos, que já tem uma larga folha de serviços prestados ao seu Estado e a este País. V. Exª tem, efetivamente, legitimidade para postular, dentro do seu Partido, esse cargo tão importante. Aplaudo V. Exª por essa decisão, já que deixou passar essa oportunidade outras vezes. Vá em frente. Não estou, com isso, assumindo o compromisso de votar em V. Exª para Presidente da República. Represento um outro Partido, o Partido Progressista Brasileiro, que, possivelmente, terá candidatura própria ou fará algum tipo de articulação para ter candidatura própria, mas quero cumprimentá-lo pela sua história, pelo seu trabalho, pela sua contribuição e pela sua decisão de, analisando a situação do seu Partido, enfrentar, na convenção, a disputa para ser o candidato do Partido a Presidente da República.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado, muito obrigado. Agradeço muito o fruto da gentileza e da amizade que não é apenas nossa, mas das nossas famílias e dos nossos filhos, o que faz com que tenhamos um carinho e um respeito tão grande um pelo outro.

Quero salientar o que está acontecendo hoje na imprensa. Um grande e brilhante jornalista, Franklin Martins, comentando na Rede Globo, disse o seguinte, ontem à noite: “O PMDB governista joga na expectativa de ver o que vai acontecer. Se o Governo for bem, vai apoiá-lo. Se o Governo for mal, tem candidato, que não será o Itamar, será o Pedro Simon, para perder.”

Respeito-o muito e penso que as fontes de informações daquele brilhante e íntegro jornalista são muito grande, mas me atrevo a divergir dele e até das fontes que possa vir a ter de membros do Governo ou membros do PMDB que estejam com o Governo. Hoje, há um sentimento universal no PMDB: o Partido tem que ter candidato próprio. O PMDB sente os equívocos que cometeu ao longo do tempo, desde a morte do Dr. Tancredo até hoje. O PMDB é um partido a quem este País muito deve.

Na luta pela anistia, pela Constituinte, pela eleição direta, pela busca do regime democrático, o PMDB comandou este País. Foi uma campanha fantástica, em que Tancredo, Teotônio, Ulysses, eu e tantos percorremos o Brasil inteiro, em meio a uma ditadura militar de violência, e conseguimos transformar o País numa democracia. O auge foi a eleição de Tancredo, mas parece que Deus quer para o PMDB o destino dos judeus na Terra Prometida: quarenta anos caminhando em busca e não chegando lá.

Com a morte do Dr. Tancredo, veio a posse de José Sarney, que era presidente do PMDB. Na verdade, havia uma disputa permanente entre ele e o Dr. Ulysses e, com isso, o PMDB começou a praticar os seus grandes erros: era Governo e não era Governo. O resultado disso foi o fracasso da eleição do Dr. Ulysses. Quércia assumiu o comando no lugar de Ulysses - erro histórico que o PMDB fez. O Dr. Ulysses era o homem mais extraordinário da história deste País, mas tinha um defeito: queria ser Presidente a qualquer custo. Na Presidência do Partido, não deixava se aproximar ninguém que pudesse ser seu concorrente: nem Tancredo, nem Teotônio, nem Arraes, nem quem quer que seja. Deixando de ser candidato a Presidente, ele era o grande Presidente Nacional do Partido.

O Quércia impôs a sua candidatura à Presidência e convidou-me para ser seu primeiro candidato à Vice-Presidência, porque eu o era do Dr. Ulysses. Não aceitei e disse-lhe que ele não devia fazê-lo. Ele fez e foi candidatado à Presidência. Esse foi o segundo fracasso do PMDB.

O terceiro fracasso foi na convenção. Votei no Itamar, que era nosso candidato à Presidência da República, mas os governistas usaram, abusaram, violentaram a convenção e arrancaram a fórceps o apoio a Fernando Henrique, derrotando Itamar.

Hoje, as bases do PMDB analisam todas essas questões.

O Senhor Fernando Henrique está cometendo um equívoco tremendo: ele não quer só o apoio ao seu Governo, mas impor ao PMDB que apoie o candidato do Governo, como se isso existisse. Ele não está nem procurando dialogar e discutir com o PMDB, ele não quer o apoio das bases, mas determinação. O apoio tem que existir ao seu candidato.

Isso não vai acontecer. O PMDB vai ter candidato próprio. E, na medida em que isso acontecer, precisará se afastar do Governo. O afastamento já deveria ter sido feito e penso que, nessa convenção, deverá acontecer. Apoio o Itamar quando S. Exª diz que, na convenção do dia 09, devemos decidir o afastamento do Governo e a candidatura à Presidência.

Para mim, esse afastamento não deve ser radical, com os integrantes do Partido dizendo horrores e fazendo guerra com o Governo do Senhor Fernando Henrique. Não! Penso que deve ser um afastamento respeitoso, afinal, o PMDB participou do Governo com o Ministro dos Transportes, que passou até hoje sem um tostão, com o atual Ministro Ramez Tebet e também com uma Secretaria Nacional. Parece-me que um Partido, o maior Partido que integra o Governo, é uma representação ridícula, e se formos analisar o percentual da responsabilidade do PMDB no conjunto do Governo, vamos verificar que são esses três Ministérios. Alguma coisa com o PFL e o restante disposto entre o PSDB e os amigos de Fernando Henrique, algo que, se Deus me ajudar, eu, como Presidente da República, não vou ter. Amigo meu no Governo, não. Claro que pode ser amigo meu e estar no Governo, mas pela sua capacidade, pela sua competência e porque o Brasil reconhece que ele é capaz e competente, e não, de repente, tirando do fundo do baú um nome que nunca ninguém ouviu falar: “Mas de onde veio esse nome? Ah, ele é amigo de Fernando Henrique. Ah, esse foi amigo não sei de onde. Ah, esse foi amigo não sei do quê.” O PMDB deve se afastar do Governo serenamente.

Eu não tenho problema, porque nos oito anos de governo do Sr. Fernando Henrique, embora eu tenha sido um dos primeiros nomes que ele convidou para a Liderança da Bancada - “Simon, tu vais ser meu Líder. Continua na Liderança” -, eu rejeitei, numa boa, dizendo-lhe: “Olha, Fernando, posso ajudar, conta comigo no que for necessário, mas não posso ser teu Líder, porque tu fizeste uma base muito cosmopolita, tu abriste muito o leque. Fui até o leque do Itamar, agora tu não, tu trouxeste o PFL, tu tens aí Ministros dos quais discordo totalmente. Perdoa-me, Fernando, esse teu Ministério é mais liberal do que social-democrata; eu vou te atrapalhar. Então, para nós continuarmos amigos e eu não ter que renunciar dizendo sei lá o quê, eu não aceito. Infelizmente, nesses 8 anos eu tenho ocupado esta tribuna muito mais para criticar - e tenho votado nos projetos mais polêmicos muito mais como a Oposição - , então, para mim não vai mudar. Mas eu tenho que respeitar os companheiros do PMDB que defenderam os projetos de Governo nesta Casa, e tenho que respeitar quando o Padilha diz que ele aceita a decisão do Governo: se afastar do Ministério. Mas ele quer ter o direito de ir ao Presidente, abraçá-lo e dizer-lhe que continua seu amigo, que tendo sido uma decisão de Partido, ele não pode mais ajudá-lo, mas que ele vai se afastar. Eu acho correto. Acho que isso é bom que se decidisse agora no dia 9 para que o Sr. Itamar pudesse disputar e tivesse a convicção e a certeza dessas duas teses. Aí eu digo novamente ao meu amigo Franklin Martins que ele está equivocado. Eu posso ganhar ou perder a Convenção, mas não vai ser por que o Governo estará de um ou de outro lado; forte ou fraco. A decisão do PMDB é uma só meu amigo Franklin Martins! Ninguém, ninguém - nem que o Governo pressione dez vezes mais como fez no passado - conseguirá influenciar a Convenção do PMDB em apoiar um candidato de que não seja de uma candidatura própria do PMDB. E digo mais: ninguém convencerá o PMDB de não se afastar; ele se afastará do Governo. Pode não ser no dia 9 - eu acho que deve ser no dia 9 -, mas tendo uma candidatura própria, que será uma candidatura independente. Acho isso, importante.

Digo à imprensa nacional o equívoco que ela está cometendo. Se alguém está falando, se algum Líder do PMDB fala aqui, se algum Líder de Bancada, Líder de Partido, Presidente, seja lá o que for está falando diferente do que eu estou falando aqui está falando da boca para fora, porque não tem autoridade, não tem poder, não tem vez e não tem voz!

Fui convidado para uma reunião do PMDB na casa do Governador Roriz, quando eles decidiram lançar a candidatura do Michel Temer à presidência do Partido. Fui convidado, e fui. Falaram vários representantes. Falaram os Ministros; falaram os dirigentes partidários; falaram os Governadores. Muita gente falou. Houve unanimidade. Jarbas Vasconcelos - um dos que defendia - era um dos nomes mais extraordinário do PMDB: sua bandeira, sua história, sua biografia. Jarbas Vasconcelos é daqueles nomes com dignidade, com correção; ele é o que é. Ele era, até pouco tempo, favorável a continuar com o PSDB, e apoiar o PSDB, candidato pelo PSDB. Na reunião ele falou: - Todo mundo me conhece. Todo mundo sabe que eu sempre fui defensor do acordo com o PSDB. Quero dizer que as minhas bases, em Pernambuco, não admite. Eles querem e exigem candidatura própria. Então, quero dizer, aqui, que sou favorável a candidatura própria. E acho que, tendo candidatura própria, com dignidade, devemos nos afastar do Governo. Não podemos ter candidato próprio e permanecer no Governo. Na reunião das Lideranças do Governo, estavam lá todos eles - Ministro Padilha, Ministro Tebet - ratificando que devemos ter candidatura própria. No momento em que decidirmos pela candidatura, teremos de nos afastar do Governo. No momento em que nos afastarmos do Governo, automaticamente deixaremos o Ministério.

Meu amigo querido Franklin Martins e demais jornalistas, radialistas e homens de televisão que estão querendo colocar o PMDB numa posição grosseira, vulgar, ridícula, estão dando um vexame. Acham que o Itamar é a salvação, porque o Itamar, candidato, está lutando para ser candidato e salvar o PMDB. Se o candidato for o Pedro Simon, ele está com o Governo no sentido de fazer de conta, de ser mentirinha. Não acredito nisso! O Itamar ganhando, eu estarei ao seu lado - e será uma grande candidatura, com grande competência! Mas eu ganhando, eu não tenho medo nem de cristianização. Porque quando houve a cristianização não havia rádio nem televisão. A cédula era individual. E o boicote feito pela cúpula do PSD que apoiou Getúlio Vargas e traiu Cristiano Machado pôde ser feito e ele não pôde fazer nada! Agora não! A cédula é única! Tem-se o espaço gratuito de rádio e televisão. Eu terei meus sete minutos diários para falar e para decidir. Eu não tenho medo nem de cristianização. Minha candidatura não vai ser motivo de deboche. Vai haver um programa, uma idéia, uma filosofia, uma doutrina. Perdoem-me a sinceridade: mas aos 71 anos de idade, alguém que já passou por tudo o que se possa imaginar no Governo e na Oposição - minha biografia está à disposição para ser analisada -, posso pregar o que eu pretendo, dizendo o que eu fiz no governo do Rio Grande do Sul, ou no Ministério, ou nas várias vezes em que comandei o PDMB, o que eu fiz como cidadão, com dignidade, com correção, com idéias, com os meus princípios e a minha maneira de ser.

Há pessoas que pularam de partido para lá e para cá. Deixei de ser governador, em 1982, porque não acompanhei o Brizola, fiquei no PDMB. Pensei que ele estava no esquema do Golbery*: dividir para continuar.

Não acompanhei o PSDB, governador, porque achei que o Covas deveria ficar conosco. Se o Covas tivesse ficado conosco ele seria o candidato e ele ganharia a eleição, e não o Collor.

Quando ficaram Collor e Lula, no segundo turno, eu fui o único Governador a subir no palanque do Lula - eu e todo o meu governo - dizendo que eu era Lula, que tinha que ser, que entre o Collor, que eu conhecia, e o Lula, que eu conhecia, o Brasil tinha que votar no Lula.

Nunca regateei o que eu penso nem o que eu defendo. Quando fui contra Quércia, e defendia que o Partido deveria averiguar o Quércia, vim para esta tribuna, fiz uma série de pronunciamentos abertos, dizendo o que deveria ser feito. Fui rifado? Pode ser. Mas fiz o que eu achava que deveria fazer.

Há uma mágoa que guardo de certos jornalistas que me tratam com desrespeito e alguns grandes articulistas que não citam o meu nome senão para debochar. Quero dizer que eles estão enganados. Eu mereço respeito pela minha biografia, pelo que eu sou e pela minha história. Não estou aqui como um Dom Quixote maluco querendo falar não sei o quê, sem saber o que quer!

Pode ter candidato à Presidência que tenha uma visão como eu, que tenha uma proposta como a minha, mas duvido que tenha alguém mais do que eu!

O Sr. Lauro Campos (Bloco/PDT - DF) - Permite V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pois não, Senador Lauro Campos.

            O Sr. Lauro Campos (Bloco/PDT - DF) - Nobre Senador Pedro Simon, felizmente estou há seis anos e meio nesta Casa e aqui pude conhecer melhor e observar bem o comportamento de V. Exª. Esse leque que V. Exª abre hoje diante de nossa atenção é o leque transparente de uma vida que nada tem a temer, uma vida sem narcisismo, uma vida sem egoísmo, uma vida sem traição, uma vida sem ambições desmedidas. Acompanho os projetos de V. Exª e, algumas vezes, houve coincidências entre as iniciativas de V. Exª e as minhas, e eu, reconhecendo a prioridade, a preferência e a antecipação de V. Exª, retirei projetos meus para apoiar, no seu projeto, aquilo que eu pretendia modificar. No que se refere à questão da mídia, à qual V. Exª aborda no seu leque de hoje, é muitíssimo importante. Ou seja, como os institutos de pesquisa querem produzir resultados eleitorais, querem favorecer certos candidatos, fazer milagres, às vezes, como foi o “milagre Collor”. Como é que se pode fazer alguma restrição a uma biografia como a de V. Exª e permitir que um sujeito sem biografia, uma pessoa desconhecida, uma pessoa que surgiu de uma gestação espontânea, como Collor de Mello, assumisse a Presidência da República? Desse modo, aos brasileiros que querem, realmente, tranqüilidade, calma - porque a sociedade não vai se acalmar com a eleição de ninguém, ela vai continuar efervescente, vai continuar frustrada, vai continuar pré-revolucionária, como se encontra -, V. Exª, não tenho dúvida alguma, dá uma felicidade, como candidato - felicidades que são tão raras e difíceis neste País. V. Exª não é um candidato da aventura, do narcisismo; é um candidato da seriedade, é um candidato de uma biografia respeitabilíssima. Portanto, o que creio que temos de feliz, desta vez, é a possibilidade de que cidadãos brasileiros de alto nível possam se apresentar, para que nós, eleitores, escolhamos entre os virtuosos, entre os merecedores. Será que o Brasil não merece poder escolher entre pessoas que realmente estejam abalizadas a se apresentarem ou a serem apresentados, como é o caso de V. Exª, à candidatura máxima neste País? Eu teria muito a dizer, mas fiquei aqui aprendendo com a vasta experiência histórica de V. Exª e até mesmo pensando se deveria ou não fazer decair o nível desta manhã, interrompendo, para um aparte, V. Exª. Muito obrigado.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - V. Exª fez muito bem ao meu sentimento e ao meu espírito com seu aparte.

V. Exª é um patrimônio do Senado, pela sua dignidade, correção, cultura, inteligência e independência. As palavras espontâneas que V. Exª proferiu a meu respeito, em uma hora tão difícil que estou vivendo, confortam-me bastante. Do fundo do coração, digo-lhe muito obrigado.

A Srª Marina Silva (Bloco/PT - AC) - Senador Pedro Simon, V. Exª me concede um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ouço V. Exª com prazer.

A Srª Marina Silva (Bloco/PT - AC) - Senador Pedro Simon, tenho nutrido nesta Casa um respeito e um carinho muito grande por V. Exª. Enquanto V. Exª fazia esse discurso apaixonante e apaixonado, eu estava aqui de cabeça baixa lendo o texto de uma carta que o Betinho escreveu para a sua esposa, Maria, e que somente poderia ser lida ou publicada um ano após a sua morte. Por esse meu comportamento, as pessoas poderiam pensar que eu estava sendo desrespeitosa com V. Exª enquanto faz seu discurso, por não estar olhando para V. Exª. Mas Deus me deu o dom de ficar em vários canais. E eu estava aqui em dois canais similares: lendo essa linda carta do Betinho, que me emocionou sobremaneira - nem sei se vou conseguir lê-la, pois ontem foi aniversário da morte dele -, e ouvindo o discurso de V. Exª. E esses dois canais me permitiram fazer a fusão de um homem que se foi e de V. Exª, um homem que, graças a Deus, ainda temos nessa tribuna, e teremos por muito tempo. V. Exª está colocando toda a problemática de seu propósito em ter uma candidatura pelo PMDB. Friso a palavra “propósito” e não as palavras “desejo, vontade”, porque, muitas vezes, as vontades e os desejos são mesquinhos, individuais, personalistas, narcisistas, enquanto os propósitos são grandiosos. Quero dizer que V. Exª está colocando um “propósito”, porque, talvez, se fosse por narcisismo, vaidade, não o estaria fazendo, porque não está tendo retorno para esses fins; pelo contrário, está tendo um retorno - eu diria - quase que de calvário, de mártir, porque não está sendo compreendido, em parte pelo seu Partido, em parte pelos meios de comunicação, diante dos fatos que V. Exª acaba de colocar. Penso que, quando um homem está seguro dos seus propósitos éticos e morais, e quando estes são verdadeiros, não há por que se preocupar em querer desagregar e destruir o propósito dos outros. Quando ouço V. Exª falar com tanto carinho e respeito do meu companheiro Lula, fico pensando: só mesmo uma pessoa que está bastante agregada em si mesma, em sua inteireza moral, fala de um possível adversário, caso venha a ser candidato, da forma como V. Exª está falando. De sorte que, para mim, que aprendi a amar e a respeitar o Lula, seria muito bom ter V. Exª como adversário dele, porque sei que V. Exª seria um adversário leal, do qual eu não teria nenhum receio de que viessem a acontecer as velhas baixarias, os processos perversos que são praticados. Haveria, sim, uma disputa de idéias, de projetos, de pensamentos diferentes, mas com o respeito devido. Com essas palavras, também quero colher para mim o que disse o Senador Lauro Campos, não quero prejudicar o brilho do pronunciamento de V. Exª, apenas manifestar o carinho, o respeito e a gratidão que tenho por V. Exª existir nesta Casa como legislador, como político, como uma pessoa real. Muitas vez, quando se diz que “todo político é safado”, sempre cito alguns exemplos para demonstrar que isso não é verdade. E, na minha lista, além do Senador Eduardo Suplicy, com certeza, sempre tem figurado V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço muito o aparte de V. Exª. Tenho aprendido a ter um carinho muito grande por V. Exª, pela maneira de falar, pelo misticismo que representa. Sinto muito orgulho de ser amigo de V. Exª e posso dizer que eu, Presidente da República, vejo em V. Exª uma das pessoas que: ou em cargo, ou na amizade, ou escutando, gostaria que tivesse influência profunda em meu governo, pela maneira com que V. Exª sente na alma os problemas sociais e os vive. É como sinto, e é a diferença profunda desse Governo que aí está. Penso que deve ser um governo que se identifique com o povo, que vá debater, que vá lá. E, se eu for candidato agora, se no dia 9 sair a minha candidatura, pretendo, durante um ano, percorrer o Brasil, andar, ficar um mês na Amazônia, outro no Nordeste, outro no Centro-Oeste, ir, conversar, fazer o levantamento e com eles fazer a proposta. Haverá uma proposta para o Nordeste que seja diferente, dessas que todos fizeram e ninguém cumpriu; uma proposta para a Amazônia, que V. Exª tão bem conhece, que começa por preservá-la como território brasileiro.

V. Exª se referiu ao Betinho e ao Lula. Posso citá-los também. Embora o Governo não fosse eu, eu era o Líder do Governo, o Lula me procurou para entregar um projeto que o PT tinha de combate à fome para que eu mostrasse ao Ministro da Fazenda. Eu o li e fiquei impressionado. Fui ao Itamar e disse: “Esse é um projeto importante”. “Mas é do PT!” “Não importa, Itamar. Vamos chamá-los aqui para virem expor e, se for o caso, vamos adotar esse projeto”. O Lula se assustou quando falei que havia uma audiência marcada com o Itamar, que iria reunir seis Ministros, e que ele levasse quem quisesse. O Lula levou toda uma equipe. Debateu-se o assunto horas e horas e lançou-se o projeto da fome, no qual trabalhei, tendo participado de todas as reuniões. E escolhemos o Betinho, que era um algoz do Governo, para Presidente, como também buscamos o D. Mauro Morelli, lá de Duque de Caxias, para ser o Secretário-Executivo. O projeto saiu e foi talvez um dos mais profundos no combate à fome. Como dizia o Betinho, não era um projeto definitivo; era um projeto que poderia até envergonhar - nós queremos é dar dignidade para que o cidadão ganhe para se sustentar -, mas, num País em que se está morrendo de fome, era um projeto inicial, do qual tive a honra de participar, articulando-o e vendo sua execução.

Sr. Presidente, quero dizer o seguinte, primeiramente dirigindo-me ao meu Partido, o PMDB: Sr. Presidente Maguito Vilela, Srs. Líderes, Srs. Senadores, Srs. Deputados, Srs. Membros do Diretório Nacional, dos Diretórios Regionais, Srs. Convencionais, levarei meu nome à Convenção. Apresentarei a minha plataforma e vou disputá-la. Se ganhar, serei um candidato que procurará honrar a história do Partido. Não terei compromisso com ninguém senão com a história do meu Partido e com o futuro do meu País. O meu Partido, com a minha candidatura, traçará o seu destino e, de certa forma, voltará no passado à eleição de Tancredo Neves. Traçaremos a proposta do que deve ser feito, e que ninguém fez até agora. O PMDB titubeou, mas ninguém conseguiu fazer o que deveria ser feito.

O meu Partido pode votar em mim. Primeiramente, não se assustem com essas pesquisas, com medo de que a minha candidatura não empolgue. Tentarei deixar a modéstia, dizendo que, com sete ou oito minutos nas emissoras de rádio e televisão e indo para os debates, estarei em condições de igualdade, jamais de inferioridade. E aí o bloqueio da grande imprensa não me atingirá, porque chegaremos nos lares de todos os brasileiros, numa versão direta da campanha.

            Quero dirigir-me aos membros do meu Partido para dizer quem eu sou - e eles o sabem muito bem. Busco uma candidatura sem ódios e sem vinditas, mas com respeito e com dignidade. Jamais serei um Governo de centro-direita! Nisso me diferenciarei radicalmente do Senhor Fernando Henrique Cardoso, que, embora sendo socialdemocrata, fez um Governo absolutamente neoliberal. O meu Governo será voltado para os que mais precisam e para os que mais necessitam. Poderei respeitar o Fundo Monetário Internacional, poderei respeitar a dívida externa e os compromissos que temos; mas sempre colocarei na balança, sempre terei, diante dos meus olhos, a fome e a miséria do povo brasileiro e as injustiças que estão aí, para as quais temos a obrigação de dar resposta. Para isso, debateremos até mesmo com as entidades internacionais, em vez de tomarmos a mesma posição do nosso Ministro da Fazenda, que é o mais fiel escudeiro do Banco Mundial e do Fundo Monetário - ele que, a esta altura, teria autoridade até para dizer ao Fundo Monetário e ao Banco Mundial: “Alguém já deu lucro tão grande para vocês quanto o Brasil, nesses dez anos em que estou no comando da economia? Considerando o mundo inteiro, sou o homem que mais deu lucro ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial nesses dez anos, dois como Ministro do Itamar e oito como representante do Fernando Henrique”. Ele poderia dizer: “Vamos dialogar. Está certo que vocês não me darão os 4% que os americanos têm para rolar a sua dívida, mas a taxa não precisa ser de 20%, roubando-me a imensa maioria do Orçamento, ou seja, R$120 bilhões num orçamento de R$300 bilhões! Não me sobram R$40 bilhões para investir e não me sobram R$6 bilhões para investimentos diretos!”

Sr. Presidente, isso tem que ser mostrado e debatido com o povo brasileiro. Se tiver que pagar, pague-se; mas que se grite, proteste-se, analise-se a situação! E o povo brasileiro ficará sabendo que, se depender do Governo, ele tentará fazer algo diferente. Não podemos aceitar tudo passivamente, pacatamente. O Papa não está aceitando! O Papa disse ao Bush que não pode continuar assim, que as nações mais pobres não podem continuar vivendo a miséria e a fome, à custa do lucro das grandes organizações! O Papa disse isso ao Bush há um mês, na visita que este lhe fez.

            E vou adiante: para mim, ganhar não é o importante. Não cederei uma vírgula. Os companheiros disseram-me:

            -- Senador, V. Exª precisa de uma equipe de imprensa para publicar suas notícias!

            -- Não tenho.

            -- Senador, V. Exª tem avião à sua disposição, um jatinho para lá e para cá para fazer suas viagens?

            -- Tenho avião de carreira.

            -- Senador, V. Exª tem que montar um comitê para existir.

            -- Não quero.

            Estou no porão, no meu Gabinete, com minha gente, com minhas cotas de passagens, agindo assim. Se é para eu mudar para chegar lá, prefiro não chegar lá. Ou chego como eu sou, ou não chego, porque é exatamente na campanha que começa a corrupção de um governo!

O SR. PRESIDENTE (Luiz Otávio) - Senador Pedro Simon, pediria a V. Exª que encerrasse o seu pronunciamento. Ainda há dois Senadores inscritos.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Sr. Presidente, já encerro, pelo amor de Deus! Primeiramente porque estou aqui devido à gentileza de V. Exª, que me cedeu o seu lugar. Agradeço e peço desculpas pelo exagero e pela maneira de ter falado, uma espécie de desabafo. Contudo, posso dizer a V. Exªs, com muita sinceridade, que saio da tribuna bem mais tranqüilo do que subi.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/08/2001 - Página 16381