Discurso durante a 91ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

REFUTAÇÕES AS DECLARAÇÕES DO SENADOR ROBERTO REQUIÃO, FEITAS NA NOITE DE ONTEM, NO PROGRAMA DO JORNALISTA BORIS CASOY.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. SENADO. POLITICA PARTIDARIA.:
  • REFUTAÇÕES AS DECLARAÇÕES DO SENADOR ROBERTO REQUIÃO, FEITAS NA NOITE DE ONTEM, NO PROGRAMA DO JORNALISTA BORIS CASOY.
Aparteantes
Carlos Bezerra, Paulo Hartung.
Publicação
Publicação no DSF de 14/08/2001 - Página 16450
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. SENADO. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • REPUDIO, DECLARAÇÃO, ROBERTO REQUIÃO, SENADOR, PROGRAMA, TELEVISÃO, ASSUNTO, CANDIDATURA, ORADOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, INJUSTIÇA, ACUSAÇÃO, ATUAÇÃO, SENADO.
  • DEFESA, RENUNCIA, JADER BARBALHO, SENADOR, PRESIDENCIA, SENADO, TENTATIVA, CONSELHO, ETICA, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), ACUSAÇÃO, CORRUPÇÃO.
  • SUSPEIÇÃO, INEXATIDÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, REFERENCIA, POSIÇÃO, MAGUITO VILELA, SENADOR, POSSIBILIDADE, SAIDA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), MOTIVO, APOIO, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ITAMAR FRANCO, GOVERNADOR, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG).
  • CRITICA, ATUAÇÃO, IMPRENSA, TRATAMENTO, CANDIDATURA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ELEIÇÕES, INEXATIDÃO, POSSIBILIDADE, COLIGAÇÃO PARTIDARIA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, OMISSÃO, DIVULGAÇÃO, CANDIDATO.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, volto a tratar desta tribuna de um assunto que abordei na sexta-feira passada.

Creio que, pelo fato de todos os jornais, rádio e televisão, nesse final de semana e hoje, vêm abordando esta matéria: o PMDB. E seria interessante eu voltar a falar, sob alguns ângulos diferentes, do que falei aqui na sexta-feira.

Eu disse na sexta-feira que, com muita modéstia, mas com muita convicção, meu nome está sendo discutido como candidato na convenção do PMDB à Presidência da República. Tive a honra de ter meu nome lançado por vários Estados: pelo Rio Grande do Sul, por Santa Catarina. Lá no Paraná, em Foz do Iguaçu, sob a Presidência do Senador Roberto Requião, o nome dele foi lançado como candidato a Governador e o meu à Presidência da República, numa convenção estadual. Vários Estados do Norte e do Nordeste vêm me honrando com suas indicações.

A convenção do PMDB é uma convenção normal. Temos a honra de ter como candidatos meu grande amigo e ex-Presidente Itamar Franco, um nome que honrou a Presidência da República e que é um dos grandes valores da política brasileira.

Inicialmente, eu dizia que, se ele fosse candidato do Presidente à Presidência da República, eu não concorreria contra ele. Mas, quando S. Exª, após se eleger Governador, saiu do PMDB, meu nome foi lançado, aceitei a candidatura e passei a andar pelo Brasil, e ele retornou ao MDB. Tanto ele como eu, falando reciprocamente, nos dissemos que concorreríamos juntos e que seria uma honra para nós trabalharmos juntos.

Mas vejo que as manchetes dos jornais são profundamente dolorosas com o PMDB, e tenho a obrigação de vir aqui mais uma vez analisá-las. Queixei-me de que a imprensa nacional não toma conhecimento da candidatura de Pedro Simon à Presidência da República. Ela não existe. Para os grandes jornais, rádio e televisão, ela não existe. Ou é tratada com deboche ou até com acinte. Assisti ao programa ontem do ilustre homem de televisão o Sr. Boris Casoy. Disse o jornalista e homem de televisão no programa que fez com o Senador Requião: “Senador Pedro Simon, seu colega, está se queixando de que ele está sendo tratado injustamente, esquecido por parte da grande imprensa, no que ele tem razão.”

Admiro muito o homem de televisão, Casoy, penso que ele tem coragem de debater, de discutir, de não buscar agradar a quem quer que seja. Ele faz um jornalismo brilhante, firme e resoluto. Foi uma honra para mim ter a simpatia do Casoy, como a do Hélio Fernandes, um homem lutador sofredor, muitas vezes injustiçado, mas que faz referências ao meu nome. Mas foi ali no programa do Boris Casoy que vi meu amigo Senador Roberto Requião falar, brilhante como sempre, competente, capaz. A tese que S. Exª defende, da fiscalização da urna, é irrefutavelmente certa. S. Exª prestou grande serviço ao País no momento em que buscou a fórmula que até o Tribunal Superior Eleitoral está aceitando - e o Senado já aceitou - que traz garantias de que o resultado das eleições funciona e pode ter revisão.

Mas meu amigo Senador Roberto Requião não poderia falar de mim da maneira como o fez: que o Pedro Simon está sendo iludido por essa gente na candidatura a Presidente - essa gente é o PMDB do Paraná, ou o PMDB de Santa Catarina, ou muita gente honrada e que respeito no PMDB -, que o Pedro Simon se encantou com a hipótese de ser Presidente. O Senador Requião me conhece e sabe que não é verdade, que já tive oportunidades de ser candidato a Presidente e não as aceitei e que, se estou nesta candidatura, é para debater, para discutir uma posição para o meu partido e para o meu País, para expor idéias que considero importantes. Não sou homem de me encantar, não o seria nessa idade, e o Senador Roberto Requião sabe disso. S. Exª mentiu no programa, porque disse o que não pensa. Duvido que S. Exª pense que tenho me encantado com essa candidatura.

Mas foi além. Disse que votei no Senador Jader Barbalho e que, com a vaidade de ser candidato a Presidente, tenho me calado, tenho me calado diante de muita coisa diante de muitas coisas. Peço aos Senadores desta Casa, aos telespectadores que estão me assistindo e ao Senador Roberto Requião que venham a esta tribuna dizer para o que me calei. O que aconteceu, o que foi votado nesta Casa e teve o meu silêncio? Quando foi que não disse o que pensava, o que creio ser verdadeiro? O Senador Roberto Requião não poderia ter tido tal atitude grosseira para comigo. Na minha vida, são 70 anos, por nunca me ter calado posso não ter chegado adiante. Por nunca me ter calado, por dizer o que penso, por tomar as posições que devia tomar, por seguir uma linha reta de ideologia, de conteúdo, tenho a autoridade de dizer o que estou dizendo.

Votei no Senador Jader Barbalho? Sim. S. Exª apresentou uma série de argumentações que me fizeram crer que tinha razão. Votamos na Bancada do MDB. Votei na convicção de que o Senador Jader Barbalho, durante a caminhada, não passaria. Quando poderia imaginar que a Bancada do PSDB, a mando do Presidente Fernando Henrique, fecharia com a candidatura do Senador Jader Barbalho. Não poderia imaginar que, enquanto o ex-Senador Antonio Carlos Magalhães e o PT buscavam uma candidatura para derrotar o Senador Jader Barbalho, o Presidente da República não deixaria. Sua Excelência estava estimulado para que o Senador Jader Barbalho fosse eleito. Também estava estimulado, depois que o Senador Jader Barbalho fosse eleito, a cassar o mandato do Senador Antonio Carlos Magalhães. Depois que o Senador Antonio Carlos Magalhães estava cassado, permitiu que o Banco Central publicasse o relatório. Por que o relatório não foi publicado antes? Por que só foi publicado depois? Por quê?

Aliás, nesse sentido, inter partes, foi publicado no jornal - e o Jader teria ficado muito magoado -, que eu teria dito que ele pode terminar na cadeia. Esse não é o meu estilo de falar e não fiz essa declaração. Agora, penso, com toda a sinceridade, que o meu amigo Jader deveria renunciar à Presidência do Senado. Permanecer como Senador, se defender na Comissão de Ética, se defender no Supremo Tribunal, provar - se ele puder, e Deus queira que possa, que não tenha culpa -, provar a sua inocência. Ótimo! Vamos bater palmas para ele! Mas ele deveria dar uma prova de grandeza e entender que já estamos no mês de agosto e o Senado não anda, e as coisas não andam, porque a manchete dos jornais traz exatamente o seu caso. Não se pode fazer uma sessão do Congresso porque o Vice-Presidente da Câmara diz que é ele que preside não estando presente o Presidente do Senado, e não o presidente em exercício do Senado.

Penso que o meu amigo Jader tem a obrigação, para com o seu Partido e para com o Senado Federal, de renunciar à Presidência do Senado. Isso não significa reconhecer a sua culpa. Ele pode continuar -- repito --, deve continuar na Comissão de Ética e lá no Supremo a se defender como Senador, mas que as condições para ele presidir no Senado são muito difíceis, são muito difíceis. E que não sabemos quando essa questão vai terminar, nós não sabemos. E o Senado não pode permanecer nessa situação por todo o tempo.

Mas eu continuo...

O Sr. Paulo Hartung (Bloco/PPS - ES) - Senador Pedro Simon, V. Exª me concede um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Claro.

O Sr. Paulo Hartung (Bloco/PPS - ES) - Não vou atrapalhar a linha de raciocínio muito coerente de V. Exª nesta tarde. Só queria registrar o meu apoio às palavras de V. Exª. Na questão do Presidente licenciado, V. Exª expressa-se com clareza. Penso que a investigação deve ocorrer, com toda isenção, com todo equilíbrio, mas eu, como V. Exª, acredito também que o Presidente licenciado não tem condições políticas e objetivas de continuar na Presidência do Senado. Por isso, queria parabenizá-lo. É muito mais fácil para mim estar dizendo isso do que para V. Exª. Então, penso que me cabe, neste momento, uma atitude solidária, de apoio.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado a V. Exª.

Mas continuo, abordando o comentário da imprensa de ontem e de hoje. Há uma idéia fixa da imprensa e de alguns comentaristas, brilhantes até, para dizer que existe a candidatura do Itamar à Presidência da República. Tal candidatura é antigovernamental, de rompimento com o Governo. 

A campainha está soando para salientar a presença do nosso Presidente, que recebemos com muita satisfação, não para advertir o orador que está aqui.

O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Foi um acidente, e houve-se muito bem V. Exª, que é muito inteligente.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado.

Se não for o Itamar, o PMDB joga com o apoio ao candidato do Fernando Henrique ou, se não tiver nenhuma chance, com algum candidato, que pode ser o Pedro Simon.

Quero esclarecer à imprensa que não acredito no que li nos jornais, isto é, que o Senador Maguito está dizendo que, se o Itamar sair do Partido, ele também sai. Eu não acredito. Ele é Presidente do nosso Partido e sabe - e tem dito isso, quando fala como Presidente do Partido - que no PMDB há unanimidade quanto à candidatura própria. Há, e ele sabe disso.

Nego-me a acreditar no que li nos jornais, ou seja, que o Senador Maguito teria dito que para onde for o Itamar ele irá junto. Se isso acontece com o Presidente do meu Partido, sinceramente não sei em quem eu posso acreditar. Ele deve fazer força, como tenho me esforçado, para que o Senador Itamar fique no PMDB e venha disputar a convenção. Agora, se ele quer seguir o canto de sereia do Dr. Brizola - tantos já foram -, que fale primeiro com o Senador Saturnino, com o Garotinho, com os ex-Governadores e ex-Prefeitos do Rio de Janeiro que já foram do PDT e tiveram de sair. Ele que estude a história do ex-Presidente da República João Goulart e as razões da queda dele para ver o papel de Brizola no Governo de João Goulart.

Não acredito que o Maguito tenha dito isso. Se há alguém do PMDB dentro do Governo, escamoteado ao lado do Governo, com a tese de que nosso Partido não terá candidatura própria, coitado desse cidadão; ele está enganando a si próprio. Andei pelo Brasil inteiro e percebi que esse é um sentimento natural de um partido que quer revigorar-se, que quer superar os equívocos, quer corrigir os erros que cometeu e apresentar uma proposta séria, um programa sério, uma idéia séria e uma candidatura própria à Presidência da República. Isso é unânime. O Governador Jarbas Vasconcelos, na reunião aqui em Brasília, disse que sempre foi favorável a uma candidatura com a continuação do acordo com o PSDB, mas percebeu que em suas bases, em Pernambuco, todos querem a candidatura própria. Por isso, também é favorável à candidatura própria. Disse o Sr. Jarbas Vasconcelos, com a dignidade que o caracteriza, que, na hora oportuna, devemos sair do Governo com a elegância e com a independência necessárias.

O PMDB vai sair do Governo, vai desembarcar do Governo. O Senhor Fernando Henrique já o chutou do Governo. Mais dia menos dia, isso acontecerá, e estamos nos preparando para sair do Governo. Na reunião em Brasília, os Ministros do PMDB, todos, disseram que devemos ter candidato próprio, e, tendo candidato próprio, devemos desembarcar do Governo. Os Ministros Eliseu Padilha e Ramez Tebet disseram que sairão do Governo no mesmo momento em que o PMDB lançar seu próprio candidato.

Não entendo as dúvidas do Itamar a respeito disso. Ele foi vítima de uma maldade muito grande na última convenção, fizeram com ele o que não podiam ter feito. Com isso, hoje ele está machucado, angustiado. Está cercado de pessoas que o querem como candidato. O PDT, o PL e outros tantos estão atrás dele, buscando a sua candidatura. Eu o respeito, mas que isto fique claro: o PMDB vai sair do Governo.

O Senador Requião foi maldoso quando disse que eu e outras pessoas estamos sendo enganados com a possibilidade de candidatura própria, de desembarcar do Governo, porque as Lideranças do PMDB querem permanecer no Governo. Podem até querer, mas sabem que não vão ficar.

Percebi em todas as reuniões de que tenho participado e durante a conversa com todas as Lideranças de todo o Brasil que há unanimidade: o PMDB sai do Governo, deixa os cargos, tem candidato próprio, apresenta uma plataforma e inicia a caminhada. Isso é unânime!

Não entendo como a imprensa publica, todos os dias, o seguinte: ou o candidato será o Itamar, que está lutando para ter candidatura própria, para sair do Governo, para ter independência, ou o PMDB vai nas costas do Senhor Fernando Henrique e desaparece como partido. Onde está isso? Quem diz isso? Qual maioria pode levar a isso?

O PMDB tem candidato próprio, vai sair do Governo, vai deixar os cargos e vai partir para essa caminhada. Se o Itamar ficar no Governo, conosco, e concorrer na convenção, será bom. Para mim, será uma honra concorrer com ele, pois, perdendo, perco para um grande cidadão e ganhando, farei a campanha. Perdendo, arregaçarei as mangas para trabalhar para ele; ganhando, trabalharei.

Se o Itamar sair, o PMDB terá candidato próprio. Se não aparecer outro, serei eu o candidato com bandeira própria de independência, de autoridade, de personalidade, e me afastarei do Governo.

O Sr. Carlos Bezerra (PMDB - MT) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Concedo a V. Exª o aparte pedido.

O Sr. Carlos Bezerra (PMDB - MT) - Senador Pedro Simon, parabenizo V. Exª pelo seu discurso. Efetivamente, a imprensa tem certa má vontade com o PMDB e procura, a todo instante, desqualificá-lo. Tal como V. Exª, eu também não estou entendendo mais nada. Parece-me que estamos desaprendendo a fazer política. Uma coisa hoje é inquestionável: no PMDB, ninguém consegue inverter a posição do Partido no sentido de não ter candidatura própria. Ninguém. Essa decisão hoje é sólida em todo o interior do Partido e em todas as unidades da federação. Pelo menos em algumas que eu conheço e por que já passei e congreguei. Ninguém conseguirá inverter isso. Então, a questão da candidatura própria é inarredável. Daí, também, por que não entendo a postura do Governador Itamar Franco, com relação à candidatura própria. Também avança inteiramente no Partido a questão da prévia para a escolha do candidato à Presidência da República, prévia na qual votarão todos os membros dos diretórios municipais e os membros do diretórios estaduais. Será uma prévia muito democrática. Então, essa celeuma toda que está ocorrendo, nobre Senador Pedro Simon, é devida a causas externas ao PMDB, estão promovendo essa desestabilização toda em setores significativos do Partido. Não entendo nada; se a candidatura própria está assegurada, se a prévia interna está praticamente assegurada...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Sim, e nós vamos deixar os cargos.

            O Sr. Carlos Bezerra (PMDB - MT) - Lógico! Agora não vamos fazer isso oportunisticamente. Nós ajudamos a eleger o Governo que aí está e o apoiamos e garantimos a governabilidade até agora. Não vamos bancar os espertos, os oportunistas, os irresponsáveis e desestabilizar o País. Vamos sair do Governo, sim, mas sem desestabilizá-lo definitivamente. Penso que o discurso de V. Exª está correto e é coerente. Sou membro da Executiva Nacional do Partido. Tenho conversado com os demais membros, que pensam do mesmo modo. No meu Estado essa posição é unânime, é a de todos os peemedebistas. Acredito que o Partido está no caminho certo. Espero que esse tumulto paralise, tenha fim e que a nossa Convenção de 9 de setembro seja a grande convenção da unidade do PMDB e da vitória nas eleições de 2002. Parabéns, Senador Pedro Simon.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Senador Carlos Bezerra, há muita gente insistindo com o Presidente Itamar Franco para levá-lo para outro partido. O PDT é o primeiro deles. Penso que, no fundo, o meu amigo Itamar Franco sente aquela ansiedade: “O que vai acontecer se eu ficar no PMDB? Poderei levar uma outra rasteira, como levei na outra oportunidade? Não seria melhor eu ir para o PDT, fazer um acordo com o Ciro Gomes e ter uma grande aliança de partidos de esquerda para combater o PT e as outras candidaturas?”

Acho respeitável essa posição. Eu não iria no barco do Dr. Leonel Brizola, com todo o carinho e respeito que lhe tenho. S. Exª é um homem de bem, digno, democrata, é um patriota que tem uma imensa biografia, mas eu sempre digo ao meu amigo Itamar Franco que é complicado, a biografia do Dr. Leonel Brizola não recomenda essa aliança. Essa aliança, sob a égide e as bênçãos do Dr. Leonel Brizola, não sei. O que sei é que deve estar zumbindo no ouvido do Sr. Itamar Franco a interrogação: ficar no PMDB, arriscando o perigo que a imprensa está dizendo que tem, ou ir para o outro lado e fazer a aliança que estão lhe apresentando?

É um direito seu. Se o Sr. Itamar Franco quiser sair, ir para o PDT e fazer essa aliança com o Sr. Ciro Gomes, temos de respeitar. Entretanto, que saia com grandeza, sem humilhar o PMDB ou dar mil outras razões. Diga apenas que quer sair e que vai para o PDT, porque lá tem mais condições, as propostas são melhores. Ele tem esse direito, mas que não venha com essa história de querer humilhar e espezinhar o PMDB, dizendo que está saindo do Partido porque continuar nele não dá. Eu garanto que dá.

            O PMDB - venho dizendo isso desde a morte do Dr. Tancredo Neves - está como que congelado. Lá se vão tantos anos à espera de acordar. Digo que chegou a hora de o PMDB acordar e ele vai acordar. O PMDB, que foi o grande líder que conduziu todo este País na luta pelo restabelecimento da democracia, que estancou na morte do Dr. Tancredo Neves, quando o Sr. José Sarney assumiu, vai acordar e entender a responsabilidade que tem, na segunda caminhada, tão importante quanto a primeira. Temos condições de traçar metas, rumos. Conduzimos a anistia, eleições diretas, a Assembléia Nacional Constituinte, o fim da censura à imprensa, o fim da tortura. Levantamos o Brasil inteiro com Teotônio Vilela, com Ulysses Guimarães, com Tancredo Neves e conseguimos a vitória. Agora nós entendemos que conseguimos apenas uma meia vitória, que não adianta ter democracia se ela não é social, se não há a distribuição da renda, se o País perde a sua autonomia, se tem uma política econômica voltada para fora, sem a independência e autonomia necessárias. O PMDB apresentará um programa sócio-econômico que se identifique com o povo e com a sociedade brasileira e fará essa caminhada. Se tivermos que lutar internamente contra alguns do PMDB, eles que venham, mas serão derrotados. Essa tese será vitoriosa, na Convenção do dia 9 de setembro - daqui a poucos dias - e na hora final.

Vejo meu amigo, Líder na Câmara, Geddel Vieira dizer que é mais fácil ter um candidato que tenha 20% do que um tem 5%. Penso que ele está certo. Ele fez uma referência simpática ao Dr. Itamar e antipática ao Pedro Simon. Eu não figuro nas pesquisas.

Sr. Presidente, está na hora de esta Casa fazer uma análise muito importante. Não conheço país algum do mundo em cujo processo de escolha, de afunilamento para a escolha de candidatos à Presidência, ocorra o que ocorre no Brasil. No Brasil, o afunilamento e o debate são feitos por quem a grande mídia quer. A grande mídia quer o Ciro Gomes. Há manchetes sobre Ciro Gomes nos jornais, nas rádios, na televisão e nas revistas, ou seja, em qualquer veículo de comunicação que quiser.

Eu sou um Senador da República; ele é ex-Governador, eu sou ex-Governador; ele é ex-Ministro, e eu sou ex-Ministro; ele quer ser candidato pelo PPS, e eu quero ser candidato pelo PMDB. Por que ele tem mil por cento de notícia e eu tenho zero? Por que ele sai vinte vezes no Jornal Nacional e eu não saio nenhuma?

É evidente que, na hora da pesquisa, o Pedro Simon não poderá comparecer. Se o cidadão ler o Jornal do Brasil, a Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo, se assistir ao Jornal Nacional, ao Jornal da Record e aos jornais das outras emissoras, se ler as revistas Época, IstoÉ e Veja, saberá apenas sobre Anthony Garotinho, Itamar Franco, Ciro Gomes e Lula. Eu respeito o Lula, porque é uma candidatura natural, que vem de longo período, e não há por que discutir a sua presença nas manchetes. Mas por que o Ciro Gomes, a quem quero bem - não tenho nada contra a sua pessoa -, tem cobertura total nas manchetes e eu tenho zero? O meu nome não figura na pesquisa nem o publicam. Se publicarem, eu vou obter zero.

Sr. Presidente, isso não me preocupa. Percebo tratar-se de uma fórmula da grande mídia - o que também é interessante -, porque o Ciro Gomes sai em todos os jornais, mas eu não saio em nenhum jornal.

Em relação a essas candidaturas, parece que houve uma pré-concepção, já que ocorre em todos os jornais, revistas e redes de televisão na mesma proporção: 10 para um; 9 para 8, zero para o Pedro Simon. Alguém pode até questionar o fato de eu me candidatar, pois não apareço nas pesquisas. Não me assusto com isso. Se vivêssemos um período antigo, em que não havia espaços gratuitos no rádio e na televisão, eu nem sairia de casa, porque não sou bobo. Porém, no momento em que começarem os espaços gratuitos de rádio e de televisão, e o PMDB tiver os seus sete, oito minutos para divulgar as suas idéias, aí será diferente.

Assim, Sr. Presidente, acredito que os convencionais do PMDB haverão de entender esse fato e analisar a questão. Não devem ser os donos dos grandes jornais e redes de televisão que vão escolher os candidatos dos partidos. O caso do Lula é natural, mas os outros casos vamos discutir.

Por isso, venho aqui dizer, mais uma vez, que é com honra que participarei da Convenção do PMDB, é com modéstia e profunda sinceridade que apresentarei a minha candidatura, com a convicção inabalável e paixão grande de que o meu Partido começará a sua nova caminhada.

Se quiser o destino, e se Deus determinar, que eu seja o condutor dessa caminhada, estou preparado para isso. Deus deu-me ânimo e fé, coragem e esperança de poder fazer o discurso da fé, da verdade e da justiça voltada para o povo brasileiro, para a gente mais simples, mais bonita e mais necessitada. Um partido e um país que têm a preocupação com todo o seu povo, principalmente com os mais necessitados, e não o debate, como vemos, de técnicos e de tecnocratas, o programa de A ou de B, cada qual se assessorando com uma equipe melhor de economistas no sentido de, pelas velhas promessas e ilusões, querer caminhar no rumo da sociedade.

Agradeço a tolerância de V. Exª e, se tiver de voltar, voltarei mais vezes; ainda que alguns comentaristas façam questão, como têm feito nesses dois dias, de debochar ainda mais da minha pessoa, eu voltarei, porque, graças a Deus, temos uma televisão que muitas pessoas assistem e vejo, a exemplo de Casoy, que muitas pessoas estão entendendo a injustiça que estão fazendo comigo e a justiça do meu pronunciamento e do meu protesto.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/08/2001 - Página 16450