Discurso durante a 106ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem póstuma ao cardiologista Dr. Christian Bernard, falecido em Chipre, ontem.

Autor
Carlos Patrocínio (S/PARTIDO - Sem Partido/TO)
Nome completo: Carlos do Patrocinio Silveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem póstuma ao cardiologista Dr. Christian Bernard, falecido em Chipre, ontem.
Aparteantes
Bernardo Cabral.
Publicação
Publicação no DSF de 04/09/2001 - Página 19641
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, CHRISTIAN BERNARD, MEDICO, CARDIOLOGIA, PIONEIRO, TRANSPLANTE DE ORGÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


           O SR. CARLOS PATROCÍNIO (Sem Partido - TO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, a Medicina vem evoluindo paulatinamente e assegurando às pessoas uma longevidade que ninguém, décadas atrás, supunha alcançaríamos um dia.

           Com a decodificação do genoma humano e os estudos que se seguirão, é bem provável que, nos próximos 30, 40 ou 50 anos, vejamos, corriqueiramente, pessoas atingirem 110, 120 anos, ainda com excelente qualidade de vida.

           Um dos milagres da Medicina, Sr. Presidente, foi o transplante cardíaco. O coração e o aparelho cardiocirculatório, sabemos perfeitamente, matam mais do que acidente e câncer juntos. Morre-se mais, no mundo inteiro, das complicações do aparelho cardiocirculatório, e no Brasil não é diferente.

           Gostaria de prestar hoje uma homenagem póstuma ao pioneiro dos transplantes de coração no mundo. Morreu ontem, na Ilha de Chipre, o pai dos transplantes cardíacos, o famoso Dr. Christiaan Barnard, aos 78 anos de idade.

           O Dr. Christiaan Barnard nasceu na África do Sul. No dia 3 de dezembro de 1967 fez o primeiro transplante cardíaco. No Hospital Groote Schuur, na Cidade do Cabo, transplantou o coração da jovem de 25 anos Denise Darvall, morta em um acidente automobilístico, no dentista Louis Washkansky. O paciente sobreviveu apenas 18 dias. Posteriormente, o Dr. Christiaan Barnard fez um outro transplante e o paciente teve uma sobrevida de 18 meses.

           Hoje, Sr. Presidente, há casos de pessoas transplantadas pelo Dr. Barnard que já completaram 25 anos com o coração novo. Esse grande avanço da tecnologia e da ciência foi seguido em vários países. No Brasil, o precursor, Dr. Eurícledes de Jesus Zerbini, de saudosa memória, tornou-se, por assim dizer, um dos cirurgiões mais importantes do mundo na área de transplante de coração e cirurgia cardiovascular.

            Hoje, essa medicina virou corriqueira, Sr. Presidente. No meu Estado, na minha cidade, Araguaína, recentemente fundamos uma Faculdade de Medicina e já estamos prontos para fazer transplantes cardíacos. Estamos adquirindo o aparelho de hemodinâmica, necessário, indispensável para que se possa proceder a cirurgia desse tipo. E já estamos implantando marcapassos. Os avanços na área de cirurgia cardiovascular devem-se, sobretudo, ao destemido Dr. Christiaan Barnard, a quem aprendi a admirar quando eu era ainda estudante de Medicina e quem acompanhei pari passu. Quando soube do seu passamento ontem, propus-me a trazer seus feitos ao Plenário desta Casa e homenagear este que está garantindo qualidade de vida para inúmeros cirurgiados em todo o Brasil e que foi o pai de disciplina que salva tantas vidas. Talvez tenha sido, nobres Senadores, o Congresso Nacional implementou uma lei de doação de órgãos, talvez devido à descoberta do Dr. Barnard, pois a doação de coração foi a mais discutida. Talvez pela astúcia, pela audácia, pela coragem e pelos conhecimentos profundos na área, o Dr. Barnard tenha instituído essa cirurgia no mundo e incentivado a elaboração da lei de transplantes de órgãos pelo Congresso Nacional.

            Embora ainda não tenhamos alcançado o sucesso que todos desejamos, já aumentou muito o número de doadores e de cirurgias no País, incluindo de coração, de rim, de fígado, de pâncreas ou de córnea. Quando ouço falar em um transplantado, lembro-me sempre, automaticamente, do Dr. Barnard.

            O Sr. Bernardo Cabral (PFL - AM) - V. Exª me concede um aparte?

            O SR. CARLOS PATROCÍNIO (Sem Partido - TO) - Concedo um aparte ao eminente Senador Bernardo Cabral, com muito prazer.

            O Sr. Bernardo Cabral (PFL - AM) - Senador Carlos Patrocínio, talvez seja coincidência V. Exª, que é médico, estar lembrando o feito de Christiaan Barnard e do nosso grande e saudoso Zerbini no instante em que preside a Casa outro médico. Não poderia haver instante melhor para se prestar homenagem ao cirurgião que se foi e ao brasileiro que perdemos. Apenas lamento não ter a mesma profissão de V. Exª para que o aparte pudesse enriquecer seu discurso. Mas dizem que o advogado é o cirurgião plástico do fato. Se assim o é, permita-me que me associe à sua manifestação, sobretudo rodeada de saudade da época em que V. Exª ainda era universitário e já admirava o pranteado Christiaan Barnard. Quero apenas cumprimentá-lo, Senador Carlos Patrocínio.

            O SR. CARLOS PATROCÍNIO (Sem Partido - TO) - Agradeço, eminente Senador Bernardo Cabral, a sua manifestação de apreço e de admiração por esse que foi o pai dos transplantes cardíacos em todo o mundo.

            Hoje, Sr. Presidente, tendo em vista as dificuldades para a coleta de órgãos, para o próprio transplante e o preço exacerbado desses procedimentos cirúrgicos, já estão começando a transplantar coração fabricado com materiais e equipamentos mais modernos. Recentemente tivemos um caso aqui que espero que alcance êxito.

            Filho de um pastor evangélico, o Dr. Barnard nasceu no dia 8 de novembro de 1922, na cidade de Beaufort West, no sudoeste da África do Sul. Começou sua carreira médica no mesmo hospital onde realizou o primeiro transplante 20 anos depois. Antes disso, especializou-se em cardiologia na cidade de Minnesota, nos Estados Unidos. Como todos sabemos, o Dr. Barnard era um homem muito assediado pelas mulheres. Chegou a se casar três vezes e deixou quatro filhos de dois casamentos.

            Portanto, Sr. Presidente, quando a Medicina evolui a tal ponto de prevermos que, nos primórdios desse novo século, a longevidade humana vai aumentando cada vez mais, estamos aqui prestando homenagem àqueles que estudaram, que tiveram a astúcia e a audácia de introduzir na ciência uma cirurgia de tal porte, que hoje passou a ser corriqueira.

            Assim, quero consignar nos Anais desta Casa as minhas condolências a todos os familiares e os cumprimentos do Senado Federal a este que foi um dos maiores luminares da Medicina do nosso tempo.

            Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

            Muito obrigado.


            Modelo17/18/248:26



Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/09/2001 - Página 19641