Discurso durante a 102ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Início, hoje, da IX Jornada Literária Nacional na cidade de Passo Fundo, Estado do Rio Grande do Sul. Alusão à quadragesima setima Feira do Livro de Porto Alegre, a realizar-se de 26 de outubro a 11 de novembro do corrente.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL.:
  • Início, hoje, da IX Jornada Literária Nacional na cidade de Passo Fundo, Estado do Rio Grande do Sul. Alusão à quadragesima setima Feira do Livro de Porto Alegre, a realizar-se de 26 de outubro a 11 de novembro do corrente.
Publicação
Publicação no DSF de 29/08/2001 - Página 18634
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • IMPORTANCIA, OCORRENCIA, SEMINARIO, CONFERENCIA, EXPOSIÇÃO, LITERATURA, DEBATE, ESCRITOR, PUBLICO, REALIZAÇÃO, MUNICIPIO, PASSO FUNDO (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), CONCESSÃO, PREMIO, OBRA LITERARIA.
  • ANALISE, NECESSIDADE, INCENTIVO, LEITURA, BRASIL.
  • ANUNCIO, FEIRA, LIVRO, MUNICIPIO, PORTO ALEGRE (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Parlamentares, inicialmente, agradeço ao querido amigo, Senador Roberto Saturnino, a gentileza de trocar a ordem de uso da palavra comigo.

            Faço questão de falar neste momento, porque está ocorrendo exatamente agora a inauguração de um acontecimento extraordinário na cidade de Passo Fundo. Quero destacar, nesta Casa, o significado da Jornada Literária Nacional, de caráter inédito no Brasil, na América e no mundo afora, que hoje, pela nona vez, inicia-se na cidade de Passo Fundo.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Parlamentares, terá início exatamente hoje, dia 28 de agosto, na cidade gaúcha de Passo Fundo, um dos maiores eventos literários da América Latina e um dos mais respeitados do mundo inteiro. Trata-se da Jornada Literária Nacional, já na sua nona edição, um acontecimento verdadeiramente fantástico, quase inacreditável num País onde tradicionalmente se lê pouco e onde se dá pouca atenção à educação e à cultura.

            Durante quatro dias, até sexta-feira, cerca de dez mil pessoas vão prestigiar mais de uma centena de renomados autores nacionais e estrangeiros, em mesas-redondas, seminários e palestras.

            Quem leu as páginas dedicadas à literatura pelos jornais brasileiros neste final de semana, já obteve informações sobre a Jornada Literária Nacional, porque, agora, finalmente, a mídia brasileira se rendeu à grandiosidade do evento. Todos os grandes veículos de comunicação do País dedicaram páginas inteiras a divulgá-lo, como esta que tenho nas mãos: “Prosa e verso, o circo literário do sul. Passo Fundo reúne escritores e leitores para um grande evento da literatura mundial”.

            No sábado passado, por exemplo, o Jornal do Brasil publicou uma grande reportagem sob o título “Literatura além da ponte aérea”, que diz que “cariocas e paulistas que quiserem ver de perto um dos maiores eventos literários da América Latina a partir de terça-feira devem se apressar e botar o pé na estrada”.

            Os hotéis de Passo Fundo, as pensões, as pousadas, as casas especialmente colocadas à disposição para receber hóspedes e convidados estão lotados já há algum tempo. Algumas inscrições de professores de vários pontos do País que desejavam participar não foram aceitas, porque não há mais vagas nos vários seminários que ocorrerão nesses dias.

            A verdade é que a Jornada Literária Nacional - que nasceu em 1981, durante uma conversa entre a professora Tânia Rosing e o escritor Josué Guimarães - deu à cidade de Passo Fundo não só notoriedade no Brasil, mas também fama internacional e acabou por inseri-la no circuito dos grandes acontecimentos literários da humanidade.

            Segundo a criadora Tânia Rosing, coordenadora das jornadas, tudo começou quando ela se lamentou da “mesmice das aulas”, da repetição, da canseira da mesmice das aulas de cultura e de literatura e disse que gostaria de fazer um evento, mas não acreditava que escritores de Porto Alegre fossem se abalar até Passo Fundo para participar dele. Então, o querido escritor Josué Guimarães se entusiasmou com a idéia e convenceu vários autores a participarem do primeiro encontro, que reuniu cerca de 750 pessoas. No ano seguinte, o número de participantes cresceu para 1.300 pessoas, já com a presença de grande número de escritores nacionais. Nunca mais a platéia deixou de crescer explosivamente.

            Entre os acontecimentos dessa Jornada Literária, destaca-se a concessão do prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura, o maior prêmio do gênero no Brasil, que dará R$100 mil ao autor do melhor romance publicado no ano passado. Concorrem ao prêmio dez autores brasileiros dos mais destacados e uma escritora de Moçambique.

            Esse troféu foi criado, segundo a Professora Tânia Rosing, porque "como é muito difícil para um escritor viver de seus livros, tentamos premiá-lo e com um valor à altura do trabalho que é a elaboração de um romance”.

            O primeiro ganhador do prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura foi o escritor gaúcho Sinval Medina, em 1999, com o livro Tratado da Altura das Estrelas (Editora da PUC - RS). Sinval Medina reconhece que, além do aspecto financeiro do prêmio, "há um efetivo aumento na divulgação da obra escolhida".

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Parlamentares, um dos aspectos mais singulares da Jornada Literária Nacional é que o foco do acontecimento não é a comercialização de livros, como nas muitas feiras de livros e bienais de literatura que ocorrem em muitas cidades do Brasil e do mundo.

            O objetivo mais imediato do evento de Passo Fundo é mesmo o encontro do público com os escritores, em debates, seminários e cursos de literatura, linguagem e leitura, tendo como meta mais fundamental a criação de leitores.

            A Jornada inicia quando os estudantes inscritos começam a ler e a discutir as obras dos escritores que, durante o evento, estarão em Passo Fundo. Antes eles tomam conhecimento dos livros, lêem, analisam, para depois participarem do debate e da conferência com os professores. Este ano, no mês de abril, teve início a pré-jornada, com uma caravana integrada por professores que percorreram mais de 50 Municípios do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, falando sobre autores e organizando grupos de leitura e discussão antecipada de livros. É dessa forma que se assegura o sucesso do diálogo do público com os escritores durante todo o evento.

            Nascida no curso de Letras da Universidade de Passo Fundo (UPF), a Jornada Literária Nacional vem propiciando a formação de novos leitores, porque aposta na importância da leitura. Durante a Jornada, o que se quer provar aos jovens é que, mais do que um hábito, a leitura pode e deve ser um prazer.

            Este ano, por exemplo, a Jornada Literária Nacional pretende discutir a formação de leitores para as múltiplas linguagens do mundo atual. Ao mesmo tempo em que prepara professores que consigam entender os diferentes suportes, do papel à tela do computador, o evento quer que eles sejam capazes de conduzir, depois, seus alunos nesse processo.

            É claro que para realizar a Jornada Literária Nacional toda a cidade de Passo Fundo se mobiliza. A equipe organizadora reúne centenas de pessoas movidas pela paixão pela literatura, entusiasmadas, certas de que estão realizando um trabalho meritório.

            Como o tema deste ano é “2001: Uma Jornada na Galáxia de Gutenberg - Da prensa ao e-book”, a organização do evento conseguiu trazer para a cidade de Passo Fundo uma réplica do século XVII da prensa de Gutenberg, que pela primeira vez sai da Alemanha.

            Além da exposição da prensa, que ficará no Museu de Artes Visuais Ruth Schneider até 10 de setembro, haverá mostras sobre a evolução da escrita, e a vida e a obra de Gutenberg. Uma exposição, itinerante, de fotos e cartazes, vai recontar a história dos 20 anos da Jornada Literária Nacional. Da Colômbia vem uma mostra de livros em braile e, do Chile, uma de ilustrações de livros para crianças e adolescentes. Filmes, espetáculos de teatro, shows de música e dança e uma feira do livro completam o evento.

            Para receber os participantes da Jornada, foi montada, no campus da Universidade de Passo Fundo, uma estrutura especialmente imaginada para o evento. Sob uma grande lona de circo, cerca de 4.300 pessoas assistirão, durante as tardes e as noites, às principais mesas-redondas.

            O cartunista mineiro Caulos é o grande homenageado, este ano, da Jornada. Hoje, na abertura, estará presente o autor chileno Antonio Skármeta, que falará sobre “A literatura como construção e expressão da identidade dos povos”. Antonio Skármeta é mundialmente conhecido como o autor de O Carteiro e o Poeta. A outra estrela internacional é o canadense Alberto Manguel. Entre os brasileiros, estarão presentes, entre outros, Ruth Rocha, Ignácio de Loyola Brandão, Fernando Morais e Ziraldo.

            Encerrando os debates, na sexta-feira, Alberto Manguel, Antônio Torres e Emir Sader, entre outros, tratam da preservação da identidade cultural na globalização.

            A formação do leitor do futuro, dividido agora entre o livro tradicional e o livro eletrônico, e o choque entre o jornalismo tradicional e o que é praticado nos meios eletrônicos serão temas de mesas-redondas e seminários.

            Uma das grandes inovações deste ano é a 1ª Jornadinha Nacional de Literatura, que acontecerá em um conjunto de cinco grandes lonas: uma com capacidade para duas mil crianças (destinada a rodas de poesia, shows, peças de teatro e brincadeiras), e mais outras quatro, para 500 crianças.

            Identificadas por pulseira e bolsa com a cor de uma das lonas, as crianças terão encontros com escritores nas tendas menores. Nos dias 29 e 30, a Jornadinha é dedicada às crianças da pré-escola à 4ª série, e, no dia 31, às de 5ª a 8ª séries.

            A Jornada inclui ainda uma série de cursos, que vão ocupar os prédios da universidade durante as manhãs. São mais de 50 opções para os inscritos, como literatura, ensino de língua portuguesa e línguas estrangeiras, publicidade, jornalismo, cinema, teatro, música e dança.

            Até mesmo as pessoas que não conseguiram se inscrever na Jornada podem participar do “Conversas Paralelas” - uma inovação recente, que agenda encontros com escritores -, que vai ocupar também alguns prédios da cidade, como o Teatro Municipal e o Supermercado Zaffari & Bourbon.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a realização da Jornada Literária Nacional, em Passo Fundo, é um exemplo do que pode ser feito pelo povo brasileiro no campo da cultura, mesmo nas suas cidades menores. Boa organização, empenho, criatividade e visão são as virtudes necessárias para que nasça um encontro dessa grandeza.

            Fala-se que no Brasil a população lê pouco em comparação com a de outros países, mais evoluídos. É verdade, mas também é verdade que essa situação está mudando. Cresce rapidamente o número de feiras de livros por todo o País. As escolas brasileiras, cada vez mais, incentivam os jovens à leitura. A população brasileira, finalmente, está descobrindo que fora da educação não há salvação. E a educação, é claro, se faz pelos livros.

            Por isso, fiz questão de vir aqui, hoje, prestar minha homenagem aos que tornaram possível esse evento magnífico na cidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul.

            Quero lembrar ainda que estamos nos aproximando da realização da já tradicional Feira do Livro de Porto Alegre, cuja 47ª edição ocorre de 26 de outubro a 11 de novembro do corrente ano, tendo como homenageados o México, no cenário internacional, e o Estado de Minas Gerais, em âmbito nacional. A feira de Porto Alegre é também a maior da América Latina no seu gênero, ou seja, evento literário ao ar livre.

            Este ano, além de áreas dedicadas às literaturas infantil e internacional, a feira de Porto Alegre abrirá espaço à terceira idade, com uma programação especial. Os organizadores estão prometendo uma grande festa para a instalação de um monumento em bronze representando os poetas Carlos Drummond de Andrade e Mário Quintana, na Praça da Alfândega, no centro de Porto Alegre.

            A constatação de que o evento de Passo Fundo, uma cidade do interior, inicialmente encarado com pessimismo ou apenas com a expectativa de que seria apenas mais um congresso literário ou uma reunião de escritores, transformou-se em algo dessa natureza, Senador José Sarney, muito me emociona. Dez pessoas participam do evento diariamente. Na grande lona, 4.300 pessoas; e nos outros 60 eventos distribuídos pela cidade, um outro número de pessoas.

            É impressionante o número pessoas e de escritores, brasileiros e estrangeiros, que se encontram ali. E eles dizem que não têm conhecimento de um outro lugar no mundo em que uma cidade pare para viver a cultura, onde os jovens, os velhos, as pessoas letradas e aquelas que praticamente nem sabem ler participam, vibram e querem saber mais. Nunca mais essas pessoas serão as mesmas. As pessoas que participam de um evento como esse ou que aproveitam uma chance como essa - principalmente os jovens - haverão de ter outro porvir, pois saberão a importância da literatura e da leitura.

            Emociono-me com meus irmãos de Passo Fundo. Fico feliz em ver que aquele projeto que nasceu pequeno é hoje um evento muito importante. Lembro-me, no início do projeto, quando não se sabia se daria certo ou não, da emoção de Josué Guimarães ao fazer os primeiros convites aos seus colegas escritores de Porto Alegre para irem a Passo Fundo. Hoje, vemos o êxito extraordinário do projeto, que significa um ponto marcado na história da cultura brasileira.

            Enganam-se aqueles, Sr. Presidente, que consideram o povo brasileiro um “povinho” afeito a algumas coisas e esquecido do mais importante: a cultura, a dignidade e o patriotismo.

            Meus cumprimentos a Passo Fundo, à professora, à direção da Universidade, à Prefeitura e a todos aqueles que participam deste grande dia, dessa grande jornada.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


            Modelo15/20/245:31



Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/08/2001 - Página 18634