O SR. CARLOS PATROCÍNIO (Sem Partido - TO) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, colocar o Brasil entre o países de primeira linha do desenvolvimento científico e tecnológico não é algo impossível para nós brasileiros. A prova está nos resultados das recentes pesquisas na área biomédica que nossos cientistas vêm apresentando ao mundo. E não só na área biomédica, mas em outros relevantes domínios das ciências básicas e aplicadas.

            Hoje, Sr. Presidente, quero render homenagem ao grupo da Universidade de Brasília que acaba de divulgar alvissareiros resultados de seus estudos sobre o diagnóstico precoce do câncer.

            Sob o comando do Professor Doutor Augusto Tourinho, uma equipe de pesquisadores vem trabalhando há anos no desenvolvimento de método de identificação do câncer a partir das radiações de partículas contidas em um fluido magnético que é inoculado no organismo. Por serem radioativas, tais partículas permitem localizar as células afetadas pelo câncer, já que são por elas fagocitadas, ou seja, absorvidas.

            Tecnicidades à parte, a equipe do Professor Tourinho está desenvolvendo um trabalho da mais alta relevância, já que possibilita vislumbrar aplicações para o diagnóstico precoce e mesmo a cura de cânceres em fase inicial. Com isso, abre-se a possibilidade de salvar vidas de milhares de pessoas que hoje estão condenadas a tratamentos dolorosos sem garantia de cura, pois as técnicas disponíveis muitas vezes só permitem diagnóstico quando a doença está em estágio já avançado.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o resultado alcançado pelo grupo da UnB é tanto mais relevante quanto é precária a situação desses grupos nas instituições públicas brasileiras. Não fosse a abnegação quase sacerdotal dos pesquisadores de nossas universidades, em especial e majoritariamente pesquisadores das universidades públicas, o Brasil estaria ainda amargando a idade das trevas em matéria de pesquisa avançada e desenvolvimento científico e tecnológico.

            O caso da equipe da UnB é exemplo do que a mão-de-obra qualificada brasileira pode realizar. Ela é boa, excelente mesmo, a ponto de trabalhar a quatro mãos, em nível de igualdade, com as melhores equipes dos países do Primeiro Mundo. No caso que abordo, nossos pesquisadores trabalham em colaboração com colegas da Universidade de Paris VI - a renomada Universidade Pierre e Marie Curie.

            Trata-se de intercâmbio já corriqueiro no âmbito das universidades brasileiras, já que grande parte de nossos pesquisadores, além de terem se especializado em centros fora do Brasil, mantêm, a duras penas, constantes contatos com seus correspondentes nos melhores centros estrangeiros.

            O Doutor Tourinho, por ter-se doutorado na França, trouxe de lá as bases do trabalho de pesquisa que agora começa a dar frutos para si e brevemente, esperamos, para a toda a sociedade.

            Sua técnica, denominada "nanorradioterapia", promete tornar-se mais uma arma eficiente no combate a esta verdadeira pandemia que é o câncer no homem, e que vem aterrorizando a humanidade há incontáveis anos.

            Contudo, Sr. Presidente, há um aspecto triste nessa história de sucesso de brasileiros: a indigência de recursos em que cronicamente vive nossa pesquisa, sobretudo nas universidades públicas, em particular as federais.

            Se os governos passados acertadamente investiram na formação de recursos humanos, e o atual continua com a mesma linha, faltou-lhes, e ainda falta, a conseqüente decisão política de dotar tal pessoal dos meios de transformar sua qualificação em real produção nos laboratórios e centros de pesquisa nacionais.

            Se as agências públicas de fomento, sobretudo as federais, dispõem de verbas para bolsas de estudo e aperfeiçoamento, suas dotações para financiar pesquisa são irrisórias. Só mesmo o fato de que nossos pesquisadores desejam aplicar seus conhecimentos em benefício da comunidade que os ajudou a se formarem é que permite que surjam "Doutores Tourinhos" espalhados um pouco por todo o Brasil.

            Sr. Presidente, é muito importante que trabalhos como o da equipe da UnB sejam louvados e repercutam intensamente na sociedade em geral. Só assim se despertará o justo orgulho nacional pela marca Brasil no contexto da pesquisa mundial, e com ele fabricar o impulso que nos levará a galgar novos patamares de desenvolvimento científico e tecnológico.

            O trabalho que a equipe do Professor Tourinho desenvolve abre mais um canal de esperança para significativa parcela das pessoas afetadas por uma das doenças mais traiçoeiras de que já se teve notícia.

            Sr. Presidente, além de parabenizar o trabalho do Doutor Augusto Tourinho e de toda sua equipe, desejo augurar que sejam destinados, a eles e a todas as outras equipes de igual valor que labutam nas universidades brasileiras, os recursos necessários e suficientes para a consecução de seus relevantes objetivos sociais.

            Vivemos hoje num mundo em que ser uma nação forte significa dominar os sistemas de informação e deter os conhecimentos de alta tecnologia. Por isso devemos incluir entre nossas prioridades o incentivo e o apoio firme a todos quantos sejam capazes de gerar novos conhecimentos e dotar o Brasil de tecnologia moderna e avançada.

            Ao concluir, Sr. Presidente, não poderia, também, deixar de felicitar toda a comunidade da Universidade de Brasília, que vem se tornando dia a dia sinônimo de qualidade e excelência em ensino e pesquisa neste País.

            Se educação e saúde para todos são metas básicas para construir uma sociedade mais justa no Brasil, atuação em ciência e tecnologia avançadas são premissas indeclináveis de um desenvolvimento sustentado e continuado para nosso País.

            Era o que eu tinha a dizer. Muito obrigado, Sr. Presidente.

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