Discurso durante a 111ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Solidariedade à nação norte-americana em virtude dos atentados ocorridos hoje naquele país. Necessidade de reflexão dos líderes mundiais acerca da caminhada da humanidade.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TERRORISMO. POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Solidariedade à nação norte-americana em virtude dos atentados ocorridos hoje naquele país. Necessidade de reflexão dos líderes mundiais acerca da caminhada da humanidade.
Aparteantes
José Alencar, Maguito Vilela, Marluce Pinto, Mauro Miranda.
Publicação
Publicação no DSF de 12/09/2001 - Página 21697
Assunto
Outros > TERRORISMO. POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • APREENSÃO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, ATENTADO, TERRORISTA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), EFEITO, DESTRUIÇÃO, CIDADE, MORTE, POPULAÇÃO.
  • COMPARAÇÃO, ATENTADO, TERRORISTA, FILME, SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, COMENTARIO, APURAÇÃO, RESPONSABILIDADE, POSSIBILIDADE, CONFLITO, AMBITO INTERNACIONAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não pude estar aqui no momento em que se votou o voto de solidariedade ao povo americano, requerimento que apresentei e que sei que outros também o fizeram.

            Venho aqui, neste momento, trazer a minha profunda mágoa. Assisti com lágrimas nos olhos, Sr. Presidente, numa angústia profunda, àquilo que parecia um filme de ficção, esses filmes modernos, onde as pessoas inventam coisas absurdas que podem acontecer - os gênios do mal -, e estavam acontecendo ali na nossa frente.

            Não imagino, não recordo, na história da humanidade, de um precedente igual a esse. Um dia tranqüilo, uma população civil pacífica, na cidade de Nova Iorque e na capital, em Washington, e, de repente, um tipo, em primeiro lugar, demonstrando uma capacidade diabólica de destruição, que é impressionante. Fazer o que fizeram, ali, na cara de todos nós, é algo realmente difícil de aceitar.

            Hoje foi um dia negro e trágico para a história da humanidade. Hoje foi o dia de um precedente de que não se tem conhecimento de nada igual, Sr. Presidente. Parecia que estávamos assistindo a um bombardeio da II Grande Guerra, da destruição de Londres, ou dos bombardeios de Berlim.

            É fácil imaginar a dor, a mágoa, o sentimento e a revolta do povo americano. Aliás, acho que esse sentimento, essa mágoa, essa revolta é de toda a humanidade. Duvido que tenha nação, grupo político, grupo religioso, por mais fanático que seja, que não esteja com uma profunda revolta no dia de hoje. Hoje é um dia de luto mundial; hoje é um dia em que todos os homens do mundo inteiro deveriam colocar cinzas na cabeça em sinal de penitência. Porque essa humanidade é a nossa humanidade. Esse mundo é o nosso mundo, é o mundo onde vivemos. E como dizia o Poeta Kalil Gibram: “uma folha não pode amarelecer se não tem a unanimidade da árvore”, a aceitação, a convivência de todos. De certa forma, esse mundo está assim porque cada um de nós não fez um pouco mais no sentido de alterar a dolorosa, a difícil convivência neste mundo em que estamos vivendo.

            Na reunião da África do Sul, onde se encontraram representantes do mundo todo para discutir o que foi o drama dos milhões de escravos negros e para fazer uma reparação, pelo menos moral, a humanidade estava tendo a visão do erro praticado e a preocupação de buscar o entendimento. Hoje acontece isso.

            Espero que se apurem os responsáveis. Tenho convicção de que o mundo, amanhã, não será mais o mesmo. Não sei o que vai acontecer. Ver desabar aqueles dois maiores prédios do mundo, praticamente o símbolo da realidade, do prestígio, do avanço da conquista do mundo de hoje, é algo que choca. É algo que nos faz perguntar o que fazer.

            O Presidente Bush, que tinha as suas propostas de defesa, deve estar agora mais apaixonado por elas. Eu era daqueles que questionavam: Para que tal preocupação hoje com a defesa, se praticamente os americanos são a unanimidade da força e do poder? Não há segundo lugar: não há Rússia, não há China... Eu não entendia por que o Presidente Bush quer pedir uma verba tão fantástica do orçamento a fim de se preparar para a defesa de possíveis ataques, os quais eu não compreendia de onde viriam.

            Interessante é salientar que, pelo que estou vendo, se as propostas do Presidente Bush com relação à defesa dos Estados Unidos já estivessem em vigor, já tivessem sido realizadas, não mudaria em nada o dia de hoje, porque o dia de hoje é a versão completamente diferente de tudo quanto se poderia imaginar. Não se sabe se há um novo tipo de explosivo que não deixa rastros, que os metais não conseguem detectar. Não se sabe o que é, mas isso aconteceu.

            Ao mesmo tempo em que trago minha voz de profunda solidariedade ao povo e ao Governo americanos, conclamo que nós todos, dos Parlamentos do mundo inteiro, discutamos e analisemos esses dias trágicos que vivemos, essas imensas dificuldades de nação com nação, de raça com raça, de igreja com igreja, de setores da sociedade; deveríamos promover uma campanha de paz e amor, porque o medo que tenho é de que venha a campanha de ressentimentos e de busca de dar o troco; troco que não tem como, porque a coisa foi tão cruel, foi tão absurda, foi tão revoltante e conquistou a unanimidade da repulsa da humanidade, que nem sei, juro que não sei; não consigo imaginar que grupo terrorista diabólico é esse, que não quer outra coisa senão um mundo anárquico, um mundo sem leis, nem nada. Não consigo entender, não consigo compreender essas coisas.

            E é dentro desse contexto que tenho medo de que se desencadeie um movimento iniciado nessas mágoas, e o Presidente Bush, uma pessoa meio apaixonada por essa questão da defesa, possa agora se sentir com o poder, com a autoridade de avançar naquilo que talvez termine por alterar profundamente os rumos da humanidade. Não tenho nenhuma dúvida, vendo aquelas imagens pela televisão, de que o mundo hoje viveu um momento diferente e amanhã começaremos uma nova história. Penso que deveríamos meditar, nos aprofundar, para cada um de nós dar a sua colaboração no sentido de que essa nova caminhada não seja aquilo que os comentaristas de televisão hoje já diziam: de que virá aí um novo movimento de radicalização, de extremismo, de vendeta até.

            É fácil de entender a revolta, a mágoa do povo norte-americano. É fácil de entender um povo, na sua hombridade, no seu prestígio, de repente se humilhar e ver o sofrimento e o massacre do seu povo. Mas é fácil de entender que, ao lado do contexto, essas lutas, esses ódios, essas lutas religiosas - o que é horrível, a essa altura, no terceiro milênio -, essas lutas de raça, lutas de território e lutas pura e especificamente de capital, em várias partes do mundo, será importante uma grande pregação mundial de amor, de fraternidade, de humanismo e de respeito entre os homens.

            Acho que este movimento deve ser feito: protesto, revolta, buscar-se os culpados, puni-los exemplarmente, não há dúvida nenhuma. Mas tentar uma fórmula, através da qual se desanuvie a humanidade, para que esses fatos realmente não marquem o início do imprevisível, mas marquem o fim da desgraça e da violência.

            O Sr. Mauro Miranda (PMDB - GO) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Com o maior prazer.

            O Sr. Mauro Miranda (PMDB - GO) - Senador Pedro Simon, eu gostaria de dizer que concordo plenamente com o discurso de V. Exª: primeiro, de solidariedade ao povo norte-americano; segundo, a proposição de que este momento é um ponto de reflexão forte na História da Humanidade, talvez um dos mais marcantes que possamos ter neste momento. Percebi que a grande potência está vulnerável, até por dentro. Deixo um abraço a todos os norte-americanos, a todos aqueles povos que moram na grande metrópole, Nova Iorque, e nos Estados Unidos inteiro, gente de todas as partes. A apreensão que cada um de nós vive - falo isso porque tenho dois familiares, inclusive um filho meu morando por lá também -, o drama das famílias brasileiras e, imagino, dos outros povos que moram nos Estados Unidos atinge os norte-americanos, mas atinge cada um de nós espalhados pelo mundo todo. Solidarizo-me com o discurso de V. Exª e o endosso. Nesse ponto de reflexão, devemos pensar, como disse V. Exª, na paz, na discussão interna, na revisão desses conceitos de globalização, de acúmulo de capital num país só, e de muito mais generosidade com a humanidade toda. Uma abraço a V. Exª e ao povo norte-americano todo por esse momento de dor tão forte que atinge a todos nós.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - O aparte de V. Exª enriqueceu profundamente o meu discurso.

            O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ouço V. Exª, Senador Maguito Vilela.

            O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Senador Pedro Simon, mais uma vez, V. Exª brilha da tribuna do Senado. Eu estava pensando hoje, depois desse atentado, sobre duas coisas que merecem a reflexão não apenas do povo norte-americano, mas de todo o mundo: o que há hoje de mais importante no mundo em termos de estratégia e segurança? É justamente o Pentágono. Não existe nada no mundo, em termos de inteligência, de segurança e estratégia, mais perfeito do que o Pentágono. E ele foi atingido no seu coração, no seu cérebro e na sua artéria. O que existe de mais importante hoje no mundo em termos de capitalismo e poder econômico? Nova Iorque. E justamente são as duas torres do World Trade Center, em Nova Iorque, que simbolizam o poder econômico e o capitalismo no mundo. Eu penso que isso chama a atenção do mundo. Primeiro, no sentido de que essa globalização é realmente selvagem para os países mais pobres, em desenvolvimento, mas ela é extraordinária para os países ricos e desenvolvidos. Temos de ficar atentos, por exemplo, para o que ocorreu na reunião do G-7, que alguns chamam de G-8. Foi mobilizado um aparato nunca antes visto no mundo para proteger os Presidentes dos maiores países do mundo. Aquele já foi um sinal. E quantos milhares de manifestantes lá estiveram? Não era qualquer manifestante. Eram profissionais liberais, ambientalistas, manifestantes do maior gabarito do mundo. Eram milhares e milhares. Na Irlanda do Norte crianças e seus pais estão sendo partícipes de cenas horríveis de bombas estourando, em função de um conflito entre protestantes e católicos.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Crianças que querem ir para a escola.

            O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Crianças buscando justamente a escola e os pais enfrentando tudo para verem suas crianças irem à escola. Trata-se de uma opção: ser católico ou protestante. Deveria haver respeito pela opção religiosa de cada um. E estamos assistindo ao conflito da Palestina. Ora, há quantos anos a ONU aprovou resoluções para que o Estado Palestino fosse reconhecido! O mundo inteiro apóia o fato de que os palestinos não podem ficar sem pátria, não podem! Os judeus já se instalaram. Os palestinos têm que se instalar. As resoluções da ONU até hoje não foram cumpridas. Tudo isso são sinais dos tempos. Conflitos de toda ordem! E agora parece que é o clímax, quando é atingido o principal centro de inteligência do mundo, o Pentágono; quando são atingidas as duas torres que simbolizam o poder econômico no mundo. Creio que isso merece uma reflexão profunda. Todos nós estamos sensibilizados. O mundo está de luto pelo que aconteceu nos Estados Unidos. Mais de dez mil pessoas perderam suas vidas estupidamente num ato que não se justifica em hipótese alguma. Manifesto a minha solidariedade ao povo americano, e chamo a atenção para todos esses conflitos que estão existindo no mundo, numa demonstração de que o mundo não está aceitando pacificamente a globalização que protege os ricos em detrimento dos pobres. Muito obrigado.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Considero muito importante a análise de V. Ex.ª, Senador Maguito Vilela. V. Ex.ª salienta uma série de fatos radicais que estão ocorrendo no mundo. De repente ocorre essa tragédia. É claro que tudo o que tem acontecido nunca nos levou a sonhar o que presenciamos no dia de hoje. Nunca! V. Ex.ª se referiu à Palestina, à Irlanda e à antiga Iugoslávia. No entanto, por mais análises que tenhamos feito, não imaginaríamos o que aconteceria hoje. Hoje, que, para mim, é o dia máximo da violência, do absurdo, da bestialidade da humanidade e que deveria ser não pautado pela bestialidade, mas pela tentativa de equilíbrio, bom-senso e amor.

            Diz uma parábola da Bíblia que um rico agricultor que estava produzindo demais, resolveu derrubar seus pequenos celeiros e construir um muito maior.

            Dizia ele:

Com esses celeiros armazenarei tantos grãos que eu poderei o resto da minha vida dizer a minha alma: descansa em paz, você não precisa mais trabalhar.

            E dizia Cristo:

Coitado! Mal sabe ele que nesta noite ele será chamado e morrerá ali e nada do que ele imagina acontecerá.

            De certo forma, na História da Humanidade, sentimos e vemos que a ganância, a procura do mais e do mais, a despreocupação com o humanismo, com o sentimento e com a solidariedade fazem com que esse ódio se transforme numa arma brutal.

            Por isso, eu acho que assim como vai haver um movimento pelo mundo afora de cobranças, haverá um movimento pelo mundo afora de culpa.

            Eu me considero culpado, pelo pouco do que eu não tenha feito para que aquilo não acontecesse. Eu acho que nós todos da humanidade, cada um com o seu quinhão, deixamos de fazer um pouco mais que poderíamos para que o drama não acontecesse.

            A Srª. Marluce Pinto (PMDB - RR) - Permite V. Exª um aparte?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Com muito prazer.

            A Srª Marluce Pinto (PMDB - RR) - Nobre Senador Pedro Simon, ouço V. Exª da tribuna comentando este episódio tão traumático para toda a humanidade e não me admiram as suas ponderações. Religioso e homem probo que já ocupou vários cargos nesta Nação V. Exª. continua sendo o mesmo Pedro Simon, economicamente falando, desde o início da sua vida pública. Portanto, não é de admirar vê-lo tão constrangido desta tribuna. Todos nós, sentimos muito, muitíssimo, pelas pessoas que hoje perderam suas vidas. Mas, nobre Senador, V. Exª, que é um homem de fé, haverá de convir que isso é como que um aviso. Muito já se comentou sobre a política e a economia dos sete maiores países do mundo que falam tanto em ajudar as nações pobres. Mas o que assistimos no dia-a-dia são os pobres sendo sacrificados, para que esses países fiquem cada vez mais ricos e mais poderosos. Sabemos dos recursos que entram no nosso País. Pagamos quase com vidas humanas os juros e a dívida externa. Se eles são tão fortes economicamente, poderiam relevar as dívidas dos países pobres, para que não houvessem tantas crianças, tantas pessoas passando fome, como ocorre em nosso País e na África. E os Estados Unidos com todo o seu poder econômico não pôde impedir a tragédia de hoje. Nobre Senador, isso é como que um aviso: eles necessitam se conscientizar de que, com a globalização, não devem querer ser mais poderosos do que já o são; devem olhar para os necessitados. V. Exª se culpa, porque poderia ter feito mais. Creio que V. Exª tem razão. Aqui mesmo, neste Senado, aprovamos inúmeros empréstimos, aprovamos o que nos chega às mãos, sabendo que são soluções paliativas que, cada vez mais, sacrificará o País e o povo passará mais fome. O povo brasileiro é muito pacato. Mas estamos vendo que lá fora não é diferente. As palavras de V. Exª serve de alerta para que não só os brasileiros, mas as outras nações tomem consciência disso e, a partir de manhã - como V. Exª falou - o mundo seja diferente. O mundo poderá ficar melhor ou tornar-se pior, se não tomarmos os acontecimentos de hoje como um aviso - quem sabe - da Providência Divina, para que as pessoas se humanizem mais. Em nosso País muitos homens ingressam na política tendo como objetivo o poder, a glória, e o fortalecimento econômico. A política não é isso. A obrigação de todo político é olhar para os mais fracos. Por isso, já que existe a globalização, esses países fortes devem, a partir de hoje, conscientizar-se e ajudar aqueles que estão passando fome.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Senadora Marluce Pinto, emociono-me com o aparte de V. Exª e concordo quando diz que o problema das desigualdades e dos ressentimentos provoca o que ocorreu hoje. Mas hoje transbordou. Afinal, estamos aqui assistindo a um fato sem precedentes na história da humanidade. Houve Pearl Harbour; mas era uma base militar, e os aviões americanos estavam se preparando para bombardear os japoneses. Foi um ato de traição. Mas hoje foi com uma população civil, uma população pacata, num dia normal. Isso me assusta.

            E o Presidente George W. Bush já vinha, no seu Governo, fazendo restrições a vários movimentos da humanidade, como, por exemplo, não ter assinado o tratado com relação ao controle do meio ambiente, dizendo que os americanos não cumpririam as restrições determinadas. Havia também a determinação de criar um novo processo de defesa contra inimigos, que eu não conseguia saber de onde vinham. Hoje estou entendendo. Quer dizer, ontem não imaginava de quem o Presidente Bush tinha medo: da Rússia? Da China? De quem? Hoje já vejo que eu estava enganado, que o perigo existe.

            O Presidente George W. Bush terá de mudar a forma como pretendia fazer a defesa americana, porque o que aconteceu mostra que os processos tradicionais de defesa, por mísseis e derrubada de mísseis, são muito pouco diante da diabólica e macabra ação não se sabe de quantos - devem ser muitos, porque o processo foi fantástico no seu terrorismo. Nisso eu creio.

            Tenho medo de que o Presidente Bush e a Nação americana, em sua revolta, que é justa; em sua mágoa, que é justa; no rancor, que é justo; no sofrimento, que é justo; pelo sangue que se derramou, partam apenas para o revide, o que até compreendo. Se fosse aqui, talvez pensasse em fazer o mesmo.

            Nessa hora trágica da humanidade, é preciso parar para pensar. Deve haver uma reunião da Assembléia Geral da ONU, com a presença de todos os Presidentes do mundo, numa assembléia extraordinária, para protestar, para pensar em uma maneira de evitar que fatos como esses aconteçam.

            O Sr. José Alencar (PMDB - MG) - Concede-me V. Exª um aparte?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ouço V. Exª com prazer.

            O Sr. José Alencar (PMDB - MG) - Eminente Senador Pedro Simon, solicitei este aparte para também levar a minha palavra de solidariedade ao povo americano neste momento. Congratulo-me com o pronunciamento de V. Exª, com o qual estamos de acordo. Foi uma brutalidade, uma covardia, porque, num ato de guerra, o objetivo é sempre militar. Admitamos que houvesse uma guerra não-declarada e que, ainda assim, esse adversário, esse inimigo quisesse começá-la e tivesse atingido uma instalação militar ou mesmo uma usina hidrelétrica, causando prejuízos materiais gigantescos, mas nunca atingindo um edifício, em que milhares de pessoas e de famílias estão trabalhando. Além das duas torres do World Trade Center, edifícios-símbolos da riqueza do setor de mercado de capital em Nova Iorque, nos Estados Unidos, atingiram também o Pentágono e, segundo informações que recebemos, utilizando aviões seqüestrados com passageiros. Vários outros aviões foram igualmente seqüestrados naquele momento. Trata-se de ato de terrorismo internacional da mais alta gravidade. Sentimos que esse episódio pode ter as mais variadas origens: o fundamentalismo e o radicalismo religioso, o radicalismo étnico, as diferenças sociais e a indiferença social que existe do ponto de vista global e em cada país, ou seja, nas relações entre os países e entre as pessoas de um mesmo país. No Brasil, estamos convivendo com essa indiferença social, trazida por essa onda de mercado que domina as ações até governamentais, como se o mercado substituísse tudo. Por exemplo, não precisamos construir nem consertar estradas ou usinas hidrelétricas; estamos privatizando-as. Como se, pela entrega daquelas tarefas próprias do Estado - ou que pelo menos eram, já não o são -, o mercado desse solução a elas. Essa indiferença social levou o mercado a cruzar os braços em relação à sorte das pessoas, do ponto de vista global e, também, regional em cada parte do mundo e em cada país. Nesse particular, acredito que esse lamentável episódio possa servir de alerta para os povos compreenderem que ao Estado compete responsabilidades maiores, e essas responsabilidades nascem com o sentimento de solidariedade. Longe de mim tachar o povo americano de não-solidário. O povo americano é solidário, bom, trabalhador, progressista, mas a verdade é que estamos vivendo uma era de indiferentismo, de descaso social. Nos governos, o Estado perdeu aquela sua responsabilidade, por exemplo, em questões que lhe são inerentes, como a educação, especialmente a básica, para oferecer igualdade de condições, de oportunidade a todos; o mesmo se verifica com a saúde, com o saneamento, com o transporte, com a energia, com as águas e a infra-estrutura, de modo geral. Estamos falando em termos regionais. Com relação ao globo, nunca, na história dos povos, houve maior transferência de renda, da produção e do trabalho, em benefício do Sistema Financeiro Internacional, ainda mais indiferente à sorte das pessoas. É claro que nada disso justifica um fato como o ocorrido nos Estados Unidos. Estamos todos revoltados com o que aconteceu e solidários ao povo americano. Não há um brasileiro que não esteja sentindo, na própria pele, na própria carne, no seu próprio coração, essa dor por que passa hoje a família americana. O mundo inteiro, como V. Exª falou muito bem, está de luto. É preciso que se faça alguma coisa, como, por exemplo, aproximarmos mais de Deus. Todos precisamos nos aproximar de Deus e nos lembrarmos daquilo que nos ensinam as páginas da Escritura Sagrada: o amor e a fraternidade. Episódios dessa natureza nos faz lembrar de um mineiro, uma das maiores expressões da literatura brasileira, o Dr. Alceu Amoroso Lima, Tristão de Athayde, que prega em suas crônicas, em seus artigos e livros, a fraternidade, o respeito ao próximo, a solidariedade humana, o sentimento cristão, o sentimento espiritual que transmite em sua obra literária. É preciso que nos despertemos porque é absolutamente inacreditável que um país como os Estados Unidos da América sofra um atentado dessa natureza, uma verdadeira invasão do espaço aéreo, com ataque a pontos estratégicos e de valor daquele país, como o Pentágono, onde está situado o órgão correspondente ao Ministério da Defesa dos Estados Unidos da América. Não existe nenhuma região mais protegida e de maior segurança que aquela. Da mesma forma o Capitólio, o Congresso americano, em Washington, que também foi atingido. Observem a vulnerabilidade, a insegurança em que vivemos. Podemos assinalar, em proporções infinitamente menores, a insegurança em que vivemos no Brasil: o crescimento do número de assaltos, de invasões, de seqüestros e assassinatos, provocados não sei por quê, por uma série de fatores. Mas tais fatores, ilustre e eminente Senador Pedro Simon, estão localizados especialmente na indiferença social, que não pode prevalecer. Por essa razão, trago minha participação ao pronunciamento de V. Exª, o pronunciamento de um cristão, de um homem de bem, de um homem que sofre como todos nós, como chefe de família, como cidadão, como pai e como nosso irmão no Senado da República.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Conforta-me muito as emocionantes palavras de V. Exª, que colocou as coisas em seus devidos lugares. Na verdade, faltam amor e respeito à humanidade. V. Exª trouxe uma figura fantástica, que é a de Alceu Amoroso Lima, cuja obra nos ensina o que é humanismo, o que é solidarismo, o que é olhar para o próximo e ver nele um irmão. Ele nos ensina como é melhor amar do que ser amado, como é mais importante termos condições de dar a alguém algo do que pedir e receber, como é importante termos condições de olhar, sorrir, ajudar a levantar uma pessoa, em vez de derrubá-la.

            V. Exª lembrou uma figura fantástica. Que bom que V. Exª tenha lembrado Alceu exatamente neste dia, quando, no mundo inteiro, em todos os Parlamentos, em todas as reuniões de empresários, de estudantes, de jovens, de mulheres, está havendo neste momento uma reflexão como esta, onde as pessoas estão se analisando e protestando pelo que aconteceu nos Estados Unidos. Que bom que podemos olhar, sofrer, sentir o coração transpassado, sentir dor por ver o que aconteceu, que temos a grandeza de olhar além e de podermos pensar no que fazer para que isso não se repita, não apenas pensando no que faremos quando os responsáveis forem pegos.

            V. Exª fala em nos voltarmos para Deus. Penso que é isso mesmo, embora tanta gente profira o nome de Deus em vão. Há pouco, falava o Senador por Goiás, Maguito Vilela, no que está acontecendo na Irlanda com as crianças. São cristãos e cristãos; uns católicos, outros não, mas do mesmo Cristo. Em nome do mesmo Cristo, uma briga incomensuravelmente ridícula.

            Penso que hoje é o dia da tragédia, a maior da história da humanidade. Espero que amanhã seja o dia de dar o primeiro passo para a reconstrução do novo mundo. Espero que amanhã, em vez de dar continuidade, de repetir esses acontecimentos, dando o troco na vindita, seja o dia do passo inicial da reconstrução do mundo novo.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


            Modelo15/20/246:35



Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/09/2001 - Página 21697