Discurso durante a 100ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Lançamento da candidatura de S.Exa. à presidência nacional do PMDB. Comemoração, amanhã, do Dia do Soldado. Homenagem a Duque de Caxias.

Autor
Maguito Vilela (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Luiz Alberto Maguito Vilela
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. HOMENAGEM.:
  • Lançamento da candidatura de S.Exa. à presidência nacional do PMDB. Comemoração, amanhã, do Dia do Soldado. Homenagem a Duque de Caxias.
Publicação
Republicação no DSF de 20/09/2001 - Página 22404
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. HOMENAGEM.
Indexação
  • REGISTRO, CANDIDATURA, ORADOR, PRESIDENCIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), DEFESA, RENOVAÇÃO, INTEGRAÇÃO, POPULAÇÃO, INDEPENDENCIA, GOVERNO FEDERAL, APRESENTAÇÃO, CANDIDATO, ELEIÇÃO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, OPOSIÇÃO, LIBERALISMO, ECONOMIA, COMBATE, INJUSTIÇA, MISERIA.
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, SOLDADO, ELOGIO, ATUAÇÃO, FORÇAS ARMADAS, BRASIL.
  • REGISTRO, APROVAÇÃO, SENADO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, INCLUSÃO, LUIS ALVES DE LIMA E SILVA, PATRONO, EXERCITO, RELAÇÃO, VULTO HISTORICO, BRASIL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho hoje comunicar oficialmente ao Senado Federal a minha candidatura ao posto de Presidente Nacional do PMDB.

            Aceitei esse desafio depois de ter o meu nome lançado por uma parcela representativa do nosso Partido, que sonha com uma legenda forte, capaz de caminhar com as suas próprias forças.

            A proposta que fundamenta a minha candidatura à Presidência do PMDB baseia-se, sobretudo, nos valores democráticos e na luta para reaproximar o Partido do cotidiano das ruas.

            O meu objetivo é renovar o Partido, retirando-o da desmoralizante condição de apêndice do Governo Federal. Nada temos em comum com um Governo que errou na definição das suas prioridades, continuou errando na execução de suas políticas e insiste em perpetuar seus desacertos, como se não existissem alternativas.

            Chegou a hora de tornar o PMDB independente e sintonizado com a sociedade brasileira. Sem qualquer tipo de submissão. Livre do equívoco de participar de um Governo frio e insensível diante das carências do povo brasileiro. E, por isso mesmo, um Governo marcado por índices recordes de rejeição.

            A impopularidade do Governo Fernando Henrique não é uma invenção de adversários políticos. É uma realidade que salta da credibilidade das pesquisas publicadas pela imprensa nacional.

            O PMDB precisa caminhar de cabeça erguida. Esse é um imperativo que vem das bases - e a voz das bases tem de ser ouvida na definição dos rumos do Partido. São as bases que dizem não aos arranjos e conchavos realizados na estreiteza das relações entre o Governo e o Congresso Nacional, que nada representam dentro da amplitude social do País. São as bases que querem o rompimento com o Governo Federal e um candidato próprio à Presidência da República.

            A minha candidatura à Presidência do Partido representa a certeza de que as bases serão ouvidas e terão a sua vontade realizada.

            O caminho que vai do Congresso ao Palácio do Planalto é curto e fácil, mas não é o melhor caminho para o Brasil. O PMDB não pode mais aceitar o rótulo de Partido de elite, que barganha e faz acordos espúrios. A maioria do PMDB compreende que as vitórias e os espaços conquistados nas negociações de cúpula não têm ressonância no mundo real e estão levando o Partido a se desgastar na sua base popular.

            É inaceitável que o Presidente da República, que integra um outro partido, queira influir nos rumos do PMDB. É ponto de honra da minha plataforma não aceitar mais, em nenhuma hipótese, a ingerência de políticos de outras legendas nos assuntos internos do nosso Partido. Defendo a independência, a autonomia e a soberania do PMDB.

            Minha proposta é fazer o PMDB retornar às suas origens. Sem descaracterizar-se. Sem dissociar-se dos interesses maiores da Nação. Resgatar as raízes, firmando posição em favor da retomada do desenvolvimento com justiça social e do fortalecimento da democracia e, automaticamente, da cidadania.

            Defendo um PMDB livre, contrário ao projeto neoliberal, que liquida o patrimônio nacional, sufoca os trabalhadores, relega a agricultura ao abandono, persegue os aposentados e empobrece a classe média. Um PMDB em que todas as decisões venham a ser produzidas pela audiência das bases e não um partido onde apenas quatro ou cinco resolvem tudo.

            Esse modelo de político e de partido envelheceu.

            Queremos um partido atento a sua própria história, que não tenha de envergonhar-se de suas posições. O que as nossas bases desejam é que o compromisso com a defesa dos pobres e dos humildes não seja substituído pelo usufruto de privilégios e benesses do poder.

            O projeto para o Brasil que o PMDB precisa assumir não combina com o Governo Fernando Henrique Cardoso. E muito menos com o receituário do FMI. Ao aceitar as rédeas do capital internacional, o Governo Federal transformou o Brasil no pior modelo de distribuição de renda do mundo.

            Vejam só: hoje, no Brasil, são mais de 50 milhões vivendo abaixo da linha de pobreza, conforme os números insuspeitos da Fundação Getúlio Vargas. Essa parcela de excluídos representa 30% da população brasileira. São seres humanos, nossos irmãos, que vivem com uma renda per capita de menos de R$80,00 por mês e não consomem o mínimo de calorias estabelecido pela Organização Mundial de Saúde.

            A crise brasileira foi agravada pelas escolhas erradas do Governo Federal. Todos os indicadores confirmam a situação desconfortável do País e o aprofundamento das desigualdades. O Brasil, de 1995 para cá, tornou-se dependente do capital estrangeiro e muito mais suscetível a crises.

            Não é para justificar esse estado de coisas que o PMDB nasceu e construiu a sua verdadeira história. O Partido da redemocratização precisa voltar a ser o Partido da ética e da coerência, da democracia interna, do respeito às bases, da solidariedade humana, o Partido que tem um projeto realmente para o Brasil. Indo mais além, pode e deve desfraldar a bandeira da modernização das práticas políticas, a partir da sua própria modernização.

            O eixo da proposta que sustenta a minha candidatura a Presidente Nacional do PMDB é também a adequação da estrutura interna do Partido às novas exigências da sociedade brasileira. Um Partido forte, independente, capaz de construir as transformações reclamadas pela sociedade, esse é o perfil do PMDB que queremos. É fundamental que o Partido tenha uma postura de independência em relação ao Governo Federal e tenha candidato próprio à Presidência da República, principalmente por ser um Partido que tem dois nomes como Pedro Simon e Itamar Franco, dois dos melhores políticos que este País já teve em toda a sua história. Homens honestos, nacionalistas, corretos, homens já testados nas urnas, homens que já provaram a este País e a este povo que têm condições de governar com seriedade, com transparência, com honestidade e com competência o nosso País.

            É fundamental que o Partido tenha uma postura de independência em relação ao Governo Federal. O jogo da verdade dentro do PMDB passa pela candidatura própria à Presidência e pela saída do Governo Federal. Que ninguém se engane: é isso que as bases querem e é isso que será decidido na Convenção Nacional do próximo dia 09 de setembro.

            Minha trajetória política começou pelo exercício do mandato de Vereador e se desdobrou pelas funções de Deputado Estadual, Deputado Federal Constituinte, Vice-Governador, Governador e Senador da República. Ao longo dessa carreira, nunca tive apegos a cargos e sempre me pautei pela humildade, ética, honestidade e idealismo. Nunca mudei. Sempre fui o mesmo homem e o mesmo político. É com esse espírito que postularei a honra de dirigir o maior Partido do Brasil, fazendo-o digno da esperança do povo brasileiro.

            O clamor das bases não aceita mais que o PMDB continue reduzido a moeda de troca, garantindo os interesses de um pequeno grupo dentro do Governo Federal. A nossa sigla é preciosa demais para ser negociada no balcão do clientelismo de elite do Palácio do Planalto. A reversão desse cenário é o compromisso número um da minha candidatura a Presidente Nacional do PMDB. As manifestações que chegam de todos os Estados confirmam a certeza de que não há outro caminho a trilhar, senão o do retorno às bandeiras populares, à democracia interna e à identificação radical com os interesses do povo brasileiro.

            O PMDB não pode mais aceitar o papel de coadjuvante de um Governo antinacional, de um Governo que já demonstrou a sua incompetência.

            Humilhação, não. Submissão, não. Vergonha, não. Corrupção, não.

            Dignidade, sim. Coragem, sim. Ética, sim. Rompimento, sim. Candidatura própria, sim.

            Vamos em frente com o PMDB forte, com o PMDB independente.

            Se fomos capazes de, até hoje, eleger o maior número de senadores, prefeitos, vereadores, a segunda maior bancada federal, centenas e centenas de deputados estaduais Brasil afora, seremos, sem sombra de dúvida, capazes de eleger o próximo Presidente da República.

            Minha candidatura, portanto, tem muito a ver com a brasilidade. O não-lançamento de uma candidatura própria à Presidência da República é um mau exemplo que o PMDB dará aos diretórios regionais e aos diretórios municipais. O PMDB não pode continuar na condição de estandarte; ele tem que ser a bandeira. A falta de uma candidatura própria nos atrofiará a todos. O PMDB, sem dúvida alguma, buscará o pódio, porque nós, do Partido, entendemos que o castigo dos bons é serem governados pelos maus.

            Portanto, no dia 9 de setembro, o PMDB definirá os seus rumos, e conto naturalmente com o apoio dos verdadeiros peemedebistas, os peemedebistas históricos, que muito contribuíram e que haverão de contribuir mais ainda para a grandeza do Brasil.

            Um outro assunto, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, traz-me à tribuna hoje. O Brasil comemora na data de 25 de agosto, o Dia do Soldado, reverenciando com muita justiça aqueles que servem à Pátria e perpetuam o ideal do Patrono do Exército Brasileiro, o lendário Luiz Alves de Lima, Duque de Caxias.

            Trata-se de uma data muito cara e significativa a toda a sociedade brasileira, que reconhece o grande papel desempenhado pelos homens e mulheres que compõem as nossas gloriosas Forças Armadas.

            Nunca será demais ressaltar a dimensão do trabalho que as instituições militares prestaram, prestam e, sem dúvida, continuarão prestando ao Brasil.

            A contribuição ao país é notável em todos os momentos da construção da Nação brasileira, a partir do Grito da Independência, passando pelo período do Império, pela Proclamação da República, culminando com a consolidação do regime republicano.

            Em todas as fases da História brasileira, as instituições militares firmaram um perfil de equilíbrio, no papel de instâncias moderadoras, sempre buscando a unidade nacional e impedindo a fragmentação territorial e social do País. As ações foram muitas e, no balanço geral, apresentam-se como altamente enriquecedoras para o conjunto da sociedade brasileira.

            Mais do que defender o País, assegurar os poderes constitucionais e garantir a lei e a ordem, as Forças Armadas e, em especial, o Exército Brasileiro, comportam-se hoje de forma profissional, não se vinculando a questões políticas e atuando dentro do seu universo institucional.

            A experiência do Movimento de 64, que quebrou a ordem democrática e resultou na implantação de um regime ditatorial no Brasil, serviu para uma autocrítica da instituição. Modernamente, o Exército não tem mais veleidades políticas e reserva-se ao seu papel de guardião da pátria.

            Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, a referência que hoje aqui faço ao Dia do Soldado, destacando o papel dos homens e mulheres que engrossam as fileiras do nosso glorioso Exército Brasileiro, tem para mim também um profundo caráter sentimental.

            Ainda trago viva na memória a minha passagem como soldado no Batalhão da Guarda Presidencial, o tradicional BGP, em Brasília, onde usei com muito orgulho as divisas da Primeira Companhia, a Vanguardeira.

            Bons e inesquecíveis tempos aqueles, quando pude conviver com homens da grandeza do General Ademar da Costa Machado; o Tenente-Coronel Manoel de Jesus e Silva, hoje General da Reserva; o Capitão Antônio Lorenzo Filho, hoje Coronel da Reserva; o Sargento José de Souza e tantos outros dignos e honrados oficiais e praças, meus amigos e irmãos brasileiros da melhor qualidade.

            Emociona-me a lembrança desta memorável etapa da minha vida passada nas fileiras do Batalhão da Guarda Presidencial. Lá pudemos receber ensinamentos valiosos, lições de disciplina e amor ao Brasil, noções fundamentais de humanismo e respeito ao bem comum.

            Fui um soldado dedicado e cioso das missões a mim confiadas. Aprendi muito no dia-a-dia dos treinamentos e no trabalho na caserna. Trago comigo, como patrimônio adquirido naquele tempo, os conceitos essenciais da humildade, da serenidade, da firmeza de atitudes, da lealdade e, sobretudo, da honestidade.

            Como integrante do Exército, senti uma das maiores emoções da minha vida ao receber o Diploma e a Barreta de Praça Mais Distinta, honrarias que premiam aqueles soldados que mais se empenham e mais se destacam na instrução, pela disciplina e pelo mérito intelectual nos meses de serviço militar em cada batalhão do Exército Brasileiro.

            Lembro-me da minha alegria na cerimônia de entrega das distinções, presidida pelo então comandante do BGP, o General Manoel de Jesus e Silva. Foi um momento que me tocou o fundo da alma e que se tornou numa das passagens de maior orgulho de minha trajetória de vida.

            Conclui o serviço militar em 1970, mas essa experiência, repito, para sempre ficará marcada na memória.

            Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, ao homenagear na tribuna do Senado da República os soldados do Exército Brasileiro, deixo aqui o meu reconhecimento e o meu aplauso às Forças Armadas.

            Desde a Batalha de Guararapes, em 1648, que marcou a formação da primeira força de defesa do território nacional, cuja organização resultou na expulsão dos holandeses do litoral pernambucano.

            No Dia do Soldado e ao relembrar a figura do Duque de Caxias, honra-me também registrar, que conseguimos, através do Projeto de Lei do Senado nº 82, de 2001, de minha autoria, já aprovado por esta Casa, inscrever o nome de Caxias no Livro dos Heróis da Pátria.

            Gostaria, também, de assinalar a honrosa participação de Goiás, o meu Estado, nos eventos militares do Brasil. Enfatizo, nesta oportunidade, a pessoa do Marechal Xavier Curado, goiano de grande envergadura moral, cujos atos à frente do comando de tropas fiéis ao Império, soube impor a sua autoridade e provar o seu amor ao País. Um soldado que subiu aos mais altos escalões da tropa.

            Quando a Força Expedicionária Brasileira foi lutar nos campos da Itália contra o nazi-fascismo, jovens goianos também a ela foram incorporados. Muitos deles deram a sua vida em defesa dos ideais da democracia, merecendo eternamente a nossa gratidão.

            Concluo as minhas palavras manifestando mais uma vez o meu respeito e a minha admiração aos valorosos homens e mulheres que integram as nossas Forças Armadas.

            Parabéns soldados do Exército Brasileiro.

            Muito obrigado.


            Modelo17/18/2411:28



Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/09/2001 - Página 22404