Discurso durante a 135ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do Dia Mundial da Alimentação.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • Comemoração do Dia Mundial da Alimentação.
Publicação
Publicação no DSF de 17/10/2001 - Página 24804
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, DIA INTERNACIONAL, ALIMENTAÇÃO, REPUDIO, MORTE, FOME, BRASIL, FALTA, INCENTIVO, AGRICULTURA, AUMENTO, CONCENTRAÇÃO DE RENDA, NECESSIDADE, APROVEITAMENTO, TECNOLOGIA, PRODUÇÃO AGRICOLA.
  • CRITICA, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DE GOIAS (GO), FALTA, COMBATE, FOME, INUTILIZAÇÃO, AGRICULTURA.
  • CRITICA, INVESTIMENTO, INDUSTRIA, ARMA, GLOBALIZAÇÃO, REDUÇÃO, EMPREGO, AUMENTO, FOME.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - GO) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, em 16 de outubro de 1945 foi criada a agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o que deu origem à comemoração do Dia Mundial da Alimentação.

            Em 1996, os representantes de 186 países reunidos em Roma, na Cúpula Mundial sobre Alimentação, estabeleceram o compromisso formal de garantir as condições econômicas, sociais e políticas necessárias para a segurança alimentar e para a erradicação da pobreza.

            A Organização das Nações Unidas, a ONU, escolheu o lema de "um milênio sem fome" na comemoração do Dia Mundial da Alimentação do ano 2000, para a mobilização dos governos, empresas, sociedade civil, associações de agricultores e associações civis na luta contra a fome e a desnutrição, tendo em vista a meta de alimentos para todos.

            Infelizmente, hoje ainda estamos muito longe de atingir esses objetivos, de realizar essas metas, as quais se aproximam mais de uma utopia, apesar de já existirem as condições objetivas para sua realização.

            Ocupo a tribuna do Senado Federal para tratar desse importante tema para o Brasil, para o mundo e, particularmente, para o meu Estado de Goiás, um Estado com especial vocação agrícola, verdadeiro celeiro do Brasil, capaz de contribuir decisivamente para acabar a fome em nosso País.

            Infelizmente as coisas não caminham na direção correta, não há muito o que comemorar no Dia Mundial da Alimentação, pois temos mais de 800 milhões de pessoas que passam fome no mundo. No Brasil são mais de 50 milhões de pobres que padecem de fome crônica.

            No meu Estado de Goiás, que por sua vocação agrícola deveria ser um fornecedor de alimento para todo o Brasil e ainda para exportação, infelizmente ainda existe muita fome, em decorrência da grande concentração de renda e da insensibilidade do Governo Estadual.

            O atual nível de desenvolvimento da ciência e da tecnologia já permitiria à humanidade desfrutar de uma vida em boas condições para todos os seres humanos, sem fome, sem privações, sem pobreza, sem indigência, independentemente da nacionalidade, da língua ou da raça.

            Não existe qualquer motivo, do ponto de vista técnico, para a existência de fome no planeta Terra, pois o desenvolvimento da agricultura, da genética, da biotecnologia, dos modernos processos de produção, armazenagem, transporte e distribuição de alimentos poderia poupar a humanidade da humilhação e da vergonha de ver um homem passando fome ou em estado de desnutrição.

            Existem, em nível mundial, recursos técnicos, financeiros, equipamentos e estruturas administrativas para resolver o problema da fome. Falta vontade política e determinação daqueles que detêm o poder político.

            Essa vontade política efetiva para solucionar o problema não existe em nível mundial, nem em nível nacional, nem muitas vezes em nível local, o que nos leva a entrar no Terceiro Milênio com mais de 50 milhões de pessoas passando fome no Brasil.

            A falta de apoio à agricultura, principalmente ao pequeno produtor agrícola, e a vergonhosa concentração da renda existente em nosso País, em que uma pequena minoria detém praticamente a totalidade da riqueza nacional, são fatores responsáveis pela existência desses milhões de patrícios nossos que levam uma vida miserável e inaceitável num país moderno.

            Não se trata de mera estatística, de números frios e impessoais: são crianças que padecem de fome crônica, comprometendo o Brasil do futuro; são homens, mulheres e idosos sem esperança de vida digna, pois sem que cada pessoa tenha o mínimo necessário para sua sobrevivência é impossível pensar num mundo de paz e prosperidade para todos.

            Com riqueza e pobreza extremas, colocadas lado a lado, teremos o aumento da intolerância, o ódio e a incompreensão entre países, entre povos, nações e classes sociais. Revoltas poderão surgir em decorrência da falta de esperança, da falta de um futuro melhor, pois o desalento pode ser o fermento das guerras.

            Assistimos hoje a mais uma guerra, uma guerra diferente, uma guerra assimétrica, uma guerra muito difícil de entender e de prever suas conseqüências em termos mundiais.

            Não pretendemos ser simplistas e tentar explicar fatos muito graves e complexos; no entanto, neste Dia Mundial da Alimentação, não podemos deixar de mencionar que apenas uma pequena percentagem do orçamento militar das grandes potências já seria suficiente para acabar com a fome em todo o mundo, o que já se seria uma grande contribuição não apenas para tornar a vida humana mais digna e mais justa, mas igualmente para eliminar um perigoso foco de instabilidade política em todo o mundo.

            Um mundo mais justo, mais digno, em que todo homem tenha a cada dia o alimento suficiente para a manutenção de sua vida e de sua família, certamente seria este um mundo em que existiriam as condições essenciais para a paz e para a prosperidade.

            A segurança alimentar é essencial para todos termos a consciência da importância do problema da fome e para que a comemoração do Dia Mundial da Alimentação não seja algo vazio, formal, sem conseqüências práticas para a solução de problemas tão graves.

            A globalização da economia tem contribuído para reduzir o número de empregos, pois a cada dia milhares de postos de trabalho são destruídos com as chamadas fusões, incorporações e a reengenharia administrativa. Certamente novos postos são criados, porém em menor quantidade e geralmente destinados a uma pequena parcela de pessoas com elevado grau de especialização, o que não resolve o problema da pobreza e da marginalização.

            O Brasil tem todas as condições objetivas para a erradicação do flagelo da fome; nenhum brasileiro deveria passar pela humilhação de não ter o mínimo necessário para sua alimentação e de sua família.

            Temos terras, temos recursos financeiros, temos tecnologia para acabar com esse problema vergonhoso e gerador de graves tensões sociais.

            Não posso admitir que o Estado de Goiás, verdadeiro celeiro agrícola, grande produtor de alimentos, ainda tenha muitos de seus filhos sofrendo com a desnutrição e a fome.

            Precisamos adotar providências práticas, medidas urgentes, inadiáveis, para a solução desse grave problema da fome.

            Não mais podemos tolerar essa grande concentração de renda e de riqueza que divide os brasileiros em cidadãos de primeira e de segunda classe, comprometendo nosso futuro como país, como nação e como espaço em que existe dignidade humana.

            Neste Dia Mundial da Alimentação, deixo aqui minha mensagem de indignação com a fome que ainda existe no Brasil e, particularmente, no meu Estado de Goiás, em decorrência da falta de vontade política de dirigentes insensíveis às causas mais importantes do nosso povo.

            Muito obrigado.


            Modelo16/21/248:32



Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/10/2001 - Página 24804