Discurso durante a 146ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Questionamentos à execução dos planos nacionais de segurança pública lançados pelo governo federal. Falta de consenso para apreciação de matérias que regulem sobre segurança pública no Congresso Nacional.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Questionamentos à execução dos planos nacionais de segurança pública lançados pelo governo federal. Falta de consenso para apreciação de matérias que regulem sobre segurança pública no Congresso Nacional.
Publicação
Publicação no DSF de 01/11/2001 - Página 26947
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • COMENTARIO, GUERRA, TERRORISMO, DESVIO, ATENÇÃO, PROBLEMA, VIOLENCIA, CRISE, SEGURANÇA PUBLICA, BRASIL, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, FALTA, PROVIDENCIA, SOLUÇÃO, SITUAÇÃO.
  • NECESSIDADE, DEFINIÇÃO, POLITICA, SEGURANÇA PUBLICA, AUMENTO, RECURSOS, MELHORIA, ORGANIZAÇÃO, OBJETIVO, COMBATE, CRIME.
  • REGISTRO, DESENVOLVIMENTO, TRABALHO, CONGRESSO NACIONAL, MELHORIA, SEGURANÇA PUBLICA, DEFESA, IGUALDADE, ACESSO, SEGURANÇA, POPULAÇÃO, REPUDIO, DISCRIMINAÇÃO.
  • ELOGIO, POPULAÇÃO, ESTADO DE GOIAS (GO), CRIATIVIDADE, ORGANIZAÇÃO, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, COMUNIDADE, VIGILANCIA, COMBATE, CRIME.

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é provável que a concentração quase absoluta da mídia nos ataques terroristas aos Estados Unidos e nos seus inúmeros e graves desdobramentos internacionais tenha tirado momentaneamente de foco os problemas mais crônicos da vida brasileira.

Um dos maiores, se não o maior, sem dúvida, é o da segurança pública, diante de uma escalada de violência e criminalidade onipresente e desenfreada.

Os Poderes Públicos parecem paralisados em sua capacidade de decisão e ação efetiva.

É certo que, no curto espaço de um ano, o Executivo Federal apresentou dois planos nacionais de segurança pública. No entanto, considero problemático até chamar esses documentos de planos. A mais superficial das análises revela que ambos não passam de esperançosas listas de intenções montadas às pressas em reação a acontecimentos trágicos que, amplamente noticiados nos meios de comunicação, mobilizaram a indignação da opinião pública nacional: primeiro, foi o bárbaro assassinato de uma jovem professora em um ônibus seqüestrado no Rio de Janeiro; depois, vieram as incendiárias rebeliões nos presídios paulistas.

Ora, para ser digno desse título, um plano, além da meticulosa e clara definição de objetivos, precisa fixar metas quantificáveis; alocar adequados recursos financeiros, materiais, organizacionais e humanos; especificar mecanismos para o permanente acompanhamento de resultados e a oportuna correção de rumos. Infelizmente, nenhuma dessas condições foi preenchida, e o País continua sem um norte para equacionar a questão da segurança pública.

Essa perplexidade se estende ao Legislativo. Há seis longos anos, a Câmara debate um amplo conjunto de propostas de emendas à Constituição no âmbito de uma Comissão Especial de Segurança Pública, presidida pelo Deputado carioca e Delegado da Polícia Federal Aldir Cabral, do PFL, e relatada pelo seu colega do PMDB do Distrito Federal, o Coronel da Polícia Militar Alberto Fraga.

Até chegar à atual etapa de votação de destaques, o relatório de Fraga sofreu um verdadeiro fogo de barragem de pressões corporativas. Oficiais e praças policiais militares, delegados federais e das polícias civis, escrivães, agentes, investigadores, peritos, advogados criminalistas e até bombeiros, todos acorreram aos Deputados da Comissão para defender ou ampliar vantagens profissionais e cristalizá-las no texto da nossa Lei Maior.

Sem dúvida, Sr. Presidente, nada mais democrático que esse exercício transparente da defesa de interesses legítimos por parte de corporações, todas igualmente respeitáveis e merecedoras do nosso apreço.

O grande perigo, porém, é o da disputa entre as partes comprometer a eficácia do todo e obscurecer a visão de conjunto em um desafio que exige respostas sistêmicas. O povo, cada vez mais inseguro e alarmado com a onda de assaltos, assassinatos, estupros e seqüestros-relâmpagos, não compreende nem aceita que categorias de profissionais pagos para zelar pela tranqüilidade coletiva invistam suas energias exclusivamente na salvaguarda de prerrogativas e privilégios, enquanto o crime avança sem parar e as polícias civis e militares mantêm-se incapazes de compartilhar suas bases de dados.

Devemos ficar alertas para evitar e neutralizar articulações que comprometam o bem comum quando chegar a vez, Sr. Presidente, de o Senado apreciar essas PECs da Segurança Pública.

Eu, particularmente, que me tenho dedicado, aqui, nesta Casa, à causa da democratização e humanização do espaço urbano, como Relator do Estatuto da Cidade e autor da emenda constitucional da moradia, sinto-me pesaroso e inconformado com a proliferação de muralhas, grades e cercas eletrificadas nos bairros e nas cidades de todo o Brasil. Temendo pela sua vida e pela integridade de sua família, o cidadão se transforma em prisioneiro do próprio lar.

Diante da omissão governamental e da inércia parlamentar no combate à criminalidade, o povo, sempre sábio, atuante e determinado, parte para soluções informais na tentativa de minimizar o seu desespero.

Um exemplo impressionante desse poder criativo da comunidade nos vem de Goiás, meu Estado. Na Capital e nos Municípios da Grande Goiânia, grupos formados por jovens trabalhadores idealistas e por experientes policiais, alguns aposentados e a grande maioria atuando nas horas de folga, estão-se organizando para prestar à população um inovador serviço de vigilância em motocicletas.

Com sacrifício, esses profissionais investem na montagem de pequenas centrais telefônicas, cada qual em um bairro, e estão sempre prontos a atender chamados dos moradores, que, em troca de R$10,00 mensais por residência, são transportados e acompanhados, com toda a segurança, pelas ruas mais desertas e nos horários mais perigosos.

A iniciativa, coordenada pelo Sindivigimotos, já é um absoluto sucesso em bairros goianienses como o Jardim Nova Esperança, Jardim Curitiba, Novo Mundo, Finsocial, Campinas, Fama e Parque Tremendão, estendendo-se a Municípios adjacentes, como Aparecida de Goiânia, Senador Canedo e Goianira.

A credibilidade conquistada pelos vigimotoqueiros é tamanha, que até mesmo os policiais que constituem a maioria dos moradores do conjunto habitacional Parque Atheneu, na Capital, confiam a segurança de suas próprias famílias e de seus imóveis aos associados do Sindivigimotos, podendo sair tranqüilos para o seu trabalho perigoso e difícil.

O Presidente da entidade, Sr. Marcos Luiz Moreira, esclarece que, mesmo ainda sem contar com a devida regulamentação da Prefeitura de Goiânia e do Governo do Estado, o serviço obedece a um contrato dentro de rigorosos padrões de qualidade. Isso inclui cursos obrigatórios para o associado, nos mesmos moldes daqueles que são ministrados aos vigilantes de empresas de segurança patrimonial.

Aliás, aproveito o ensejo para reivindicar à Prefeitura de Goiânia e às Prefeituras de todas as outras cidades por este Brasil afora, onde já existe esse tipo de serviço, para que abram um guichê, a fim de regulamentar as atividades desses profissionais devotados e sérios que não querem, muito menos merecem, a informalidade.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pergunto: quem, em sã consciência, terá coragem de condenar os motovigilantes e seus usuários? Ninguém, pois essa iniciativa comunitária é a única solução frente ao completo desamparo a que as autoridades - sejam elas federais, estaduais ou municipais - relegam ao povo na área da segurança pública.

Afinal, a Constituição da República atribui a todos - começando, é claro, pelos três níveis de Governo - o dever de zelar pela segurança.

A comunidade faz o que pode e ainda dá uma lição de eficiência e seriedade àqueles que não cumprem seu dever!

Diante do que foi aqui relatado e exemplificado, restam apenas dois caminhos aos governantes e a nós, parlamentares: assumir, de uma vez por todas, o quinhão de responsabilidade perante a crise na segurança pública em todo o País ou, na mais realista das hipóteses, apoiar firmemente iniciativas que combatam os crescentes índices de criminalidade, entre elas o serviço de vigilância em motocicletas.

Agindo em qualquer uma dessas direções, estaremos automaticamente nos livrando da pecha de omissão pública, que é constantemente imputada à classe política pela sociedade em geral.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/11/2001 - Página 26947