Discurso durante a 153ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem póstuma a Bernardo Sayão pelo transcurso do centésimo ano de seu nascimento.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem póstuma a Bernardo Sayão pelo transcurso do centésimo ano de seu nascimento.
Publicação
Publicação no DSF de 13/11/2001 - Página 28399
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, BERNARDO SAYÃO (TO), AGRONOMO, ENGENHEIRO, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), EX VICE GOVERNADOR, ESTADO DE GOIAS (GO), IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, CONSTRUÇÃO, CAPITAL FEDERAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr.ªs e Srs. Senadores, que me perdoem todos aqueles cultores das teorias sobre a irrelevância do indivíduo na História, mas não consigo conceber o Brasil moderno e, sobretudo, a pujança atual do Centro-Oeste, sem a coragem, a genialidade, a liderança, a energia e o pioneirismo de um homem como Bernardo Sayão.

            Constitui imperdoável injustiça esquecermo-nos de incluí-lo no panteão cívico onde já cultuamos a iniciativa de Juscelino Kubitschek, a visão de Lúcio Costa e a genialidade de Oscar Niemeyer.

            Afinal, foi Bernardo Sayão quem deu um impulso decisivo à concretização da epopéia dos bandeirantes, à sensibilidade de estadista de José Bonifácio e ao sonho de Dom Bosco, integrando a nova capital ao restante do País, demarcando os espaços de Brasília, construindo sua primeira pista de pouso e comandando a construção da Rodovia Belém/Brasília.

            Decididamente, esse carioca da gema, que faria cem anos no próximo dia 18 de junho, não nasceu para encaixar-se na conhecida descrição do cronista colonial Frei Vicente do Salvador, para quem os brasileiros estariam fadados a viver como caranguejos, agarrados ao litoral.

            Bernardo Sayão iniciou sua trajetória pessoal rumo ao Oeste formando-se em Agronomia na Escola Superior de Agronomia e Veterinária de Belo Horizonte, em 1923. E já em sua primeira viagem à então novíssima Goiânia - capital do meu Estado - no ano de 1939, certificou-se de que o Estado de Goiás necessitava tão-somente de boas estradas para garantir seu progresso e a circulação de suas riquezas agropecuárias e minerais.

            Assim, alistou-se de primeira hora na “Marcha para o Oeste”, lançada em 1941 pelo então Presidente Getúlio Vargas, com base em uma estratégia de colonização agrícola, assumiu a administração da Colônia Agrícola Nacional de Goiás (Cang). Graças à sua imensa capacidade gerencial e inovadora, daí surgiriam as importantes cidades de Ceres e de Rialma.

            Sempre fiel à filosofia de interligar populações e fazer escoar os frutos de seu labor, Sayão providenciou a imediata construção de uma rodovia de 142 quilômetros, partindo de Anápolis em direção à colônia - portanto a Ceres e a Rialma. A estrada ficou pronta em 1944. Depois, foi avançando rumo ao norte para servir às roças dos lavradores contemplados com lotes.

            Bernardo Sayão não tardaria, infelizmente, a provar do fel destilado pela inveja e pelo ressentimento de políticos e burocratas mesquinhos. Em 1950, sofreu um processo administrativo e acabou exonerado do cargo de administrador da colônia. Tudo porque não se conformava com a rigidez e morosidade das rubricas e dos trâmites oficiais. Na sua ânsia de queimar etapas e atingir resultados concretos, determinou a compra de ações da Usina Hidrelétrica de São Patrício, que tantos benefícios traria ao Norte e ao Centro-Oeste brasileiros. Da mesma forma, autorizou a aquisição de uma lancha para aproveitar a navegabilidade do Tocantins e encurtar o tempo de viagem até Belém.

            Acabou vendendo seus bens para pagar dívidas que não eram suas, o que o levou, indignado, a questionar: “É crime querer o progresso e o desenvolvimento de uma região tão importante como esta?”

            Sim, Srªs e Srs. Senadores, Bernardo Sayão incorreu no mesmo “crime” de que foram acusados homens do quilate de um Barão de Mauá, um Delmiro Gouveia, um Juscelino Kubitschek, um Celso Furtado, que nunca se conformaram ao subdesenvolvimento como destino prescrito pelas elites retrógradas e impatrióticas de sempre!

            O povo, no entanto, sabe distinguir seus amigos e benfeitores. Por isso, em 1954, Sayão voltaria triunfante à vida pública, eleito, por ampla votação, Vice-Governador de Goiás, sob a legenda do PSD.

            Esse sucesso eleitoral persuadiu Juscelino Kubitschek de que Bernardo Sayão era o homem talhado para a missão aparentemente impossível de transferir a capital para o Planalto Central, materializando, assim, um projeto nacional mais antigo que a República: o de possibilitar a ampla e definitiva integração geopolítica, econômica e social de nosso País-continente.

            Convidado por Juscelino, em setembro de 1956, para dirigir a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), já no Natal daquele ano abriria a primeira avenida da Cidade Livre, hoje o Núcleo Bandeirante da nossa querida Brasília.

            Sayão tinha sempre em mente sua promessa solene feita ao Presidente por ocasião da missa inaugural da construção: “Dentro de três anos, eu lhe darei a nova capital”. Desdobrava-se ao infinito, dinâmico, incansável, absolutamente contagiante em sua disposição para o trabalho, sempre a cumprir tarefas importantes. A primeira delas consistiu na abertura de dois campos de pouso para aviões pequenos (um na Fazenda do Gama, próximo ao Catetinho; o outro, batizado Vera Cruz, na área entre o Setor de Indústrias e Abastecimento, a futura estação ferroviária e o Cruzeiro). Neste último, em 02 de outubro de 1956, pousaram Juscelino Kubitschek e sua comitiva.

            Em março do ano seguinte, Sayão assumiu a supervisão das obras do Plano Piloto, projetado por Lúcio Costa.

            Mas o coroamento de sua missão chegou em maio de 1958, quando recebeu a incumbência de construir a rodovia que ligaria o Planalto Central a Belém. Na ocasião, afirmou peremptório: “Já posso morrer sossegado... consegui o que queria.”

            A Belém-Brasília, vista pelo próprio Sayão como a “Espinha Dorsal” daquele heróico projeto de integração e desenvolvimento, teria cerca de 2.200 quilômetros, atravessando uma floresta amazônica que muitos ainda consideravam o Inferno Verde, impenetrável à ocupação humana. Três Estados (hoje quatro, com a criação de Tocantins pela Constituição de 1988) viriam a ser por ela cortados: Pará (com 483 quilômetros); Maranhão (com 258 quilômetros) e Goiás (com 1.446 quilômetros).

            Bernardo Sayão liderava 3.400 trabalhadores, divididos em duas forças-tarefas, partindo do Planalto Central e de Belém, respectivamente. Passava meses a fio na floresta, compartilhando o duro cotidiano dos seus operários. Seu alento e sua energia provinham da íntima convicção de estar levando o desenvolvimento aos mais longínquos rincões de nossa Pátria.

            O momento tão ansiosamente esperado, o encontro de duas frentes estava previsto para o dia 31 de janeiro de 1959. Porém, o destino não quis que esse bandeirante do séc. XX assistisse à conclusão de sua grande obra. No dia 15 de janeiro, faltando 16 dias e 50 quilômetros para o encontro das frentes, uma árvore gigantesca, abalada pela movimentação de terra, esmagou a barraca onde Sayão trabalhava.

            Gravemente ferido no crânio e na perna esquerda, morreria naquele mesmo dia. Seu corpo foi trazido para Brasília, onde inaugurou o cemitério que ajudara a demarcar pouco tempo antes.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Senador Leomar Quintanilha, ilustre representante do Estado de Tocantins, hoje, passados quase 43 anos de sua morte, a herança de Bernardo Sayão aí está para calar os eternos céticos, os viciados em fracassomania, as cassandras do derrotismo, que, à época, zombavam de sua confiança visionária, dizendo que ele “abria estradas para onças”.

            Reafirmo minha convicção, expressa logo no início desta fala, de que o Centro-Oeste não seria a região que hoje mais cresce no País sem a chama da utopia concreta que guiou Bernardo Sayão a rasgar novos horizontes para o progresso brasileiro.

            Homenagear sua memória é um dever de gratidão para todos nós, goianos por nascimento ou adoção. É também um estimulante para a auto-estima nacional, hoje tão carente de modelos de ética pública, de confiança inabalável nos destinos do Brasil e de unidade indissolúvel entre pensamento e ação.

            Que a vida e a obra de Bernardo Sayão possam sempre iluminar e energizar a todos nós, brasileiros de presentes e futuras gerações, para que jamais faltemos ao nosso encontro marcado com o desenvolvimento socioeconômico, a grandeza e o futuro do nosso País.

            Muito obrigado.


            Modelo16/21/249:29



Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/11/2001 - Página 28399