Pronunciamento de Carlos Bezerra em 20/11/2001
Discurso durante a 158ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Defesa da implantação de política de desenvolvimento do setor florestal.
- Autor
- Carlos Bezerra (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MT)
- Nome completo: Carlos Gomes Bezerra
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
- Defesa da implantação de política de desenvolvimento do setor florestal.
- Publicação
- Publicação no DSF de 21/11/2001 - Página 28956
- Assunto
- Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
- Indexação
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- NECESSIDADE, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, FLORESTA, BRASIL, BENEFICIO, CRESCIMENTO ECONOMICO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, UTILIZAÇÃO, TECNOLOGIA, PROTEÇÃO, MEIO AMBIENTE, INCORPORAÇÃO, VALOR, BENEFICIAMENTO, MATERIA-PRIMA.
- ELOGIO, BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), PROJETO, MANEJO ECOLOGICO, DESENVOLVIMENTO FLORESTAL, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), POSSIBILIDADE, ESTABELECIMENTO, MODELO, SETOR FLORESTAL, CRIAÇÃO, EMPREGO, REFLORESTAMENTO, INDUSTRIALIZAÇÃO, MADEIRA.
SENADO FEDERAL SF -
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O SR. CARLOS BEZERRA (PMDB - MT) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, há muito tempo se faz necessário um esforço concentrado no sentido de se definir uma política de desenvolvimento do setor florestal em nosso País.
O Brasil detém, especialmente nas regiões Norte e Centro-Oeste, um espetacular patrimônio florestal, o qual, com os recursos da ciência moderna, pode perfeitamente ser objeto de exploração sustentável, rendendo valiosos recursos para a Nação, contribuindo para a melhoria de nosso balanço de pagamentos e estimulando a fixação do homem no campo, tudo sem acarretar prejuízo ao equilíbrio do meio ambiente.
Em particular para o meu Estado do Mato Grosso - que tem cerca de metade do seu território coberto pela Floresta Amazônica e outros 40% ocupados por vegetação típica do cerrado -, o desenvolvimento do setor florestal constitui questão de transcendental relevância, na medida em que essa atividade representa notável oportunidade de progresso econômico e social para nossa terra e nossa gente.
Vale ressaltar, Sras. e Srs. Senadores, que, quando nos referimos a um maior desenvolvimento do setor florestal, o que temos em mente é a exploração moderna, sustentável e economicamente compensadora dessa atividade. Importa, sobretudo, agregar valor à madeira extraída de nossas matas, de forma que não entreguemos nossas riquezas a preços irrisórios mas, ao contrário, possamos oferecer ao mercado interno e, particularmente, ao externo mercadoria já elaborada, já valorizada pela ação criativa da mão-de-obra brasileira.
Nesse particular, deve-se mencionar que a tendência observada no mercado mundial é de rápida expansão do comércio dos produtos de madeira processada com alto valor agregado em detrimento do processamento primário de produtos de madeira. Enquanto o comércio mundial de produtos primários de madeira evoluiu de cerca de 107 bilhões de dólares para 140 bilhões de dólares entre 1991 e 1998 - evolução inferior a 31% -, o de produtos de alto valor agregado - como móveis, por exemplo - experimentou aumento, no mesmo período, de 16 bilhões de dólares para 40 bilhões de dólares, representando incremento de 150%.
No caso específico de madeira tropical, entre 1991 e 1998, essa expansão do comércio dos produtos de madeira processada em detrimento dos produtos primários é ainda mais significativa: enquanto o comércio mundial de produtos primários de madeira tropical decresceu de 13 bilhões de dólares para 10 bilhões de dólares - decréscimo de 23% -, o de produtos de maior valor agregado passou de 1 bilhão de dólares para 3 bilhões e 800 milhões de dólares, num acréscimo de nada menos que 280%.
Valho-me desses números, Sr. Presidente, para enfatizar o fato de que, a par da necessidade de dar aproveitamento econômico a nossas riquezas florestais, existe a necessidade de dar aproveitamento inteligente a essas riquezas. Nosso patrimônio florestal é vastíssimo, por isso mesmo cumpre explorá-lo bem, conscienciosamente, de forma a preservá-lo para as gerações futuras e a obter de sua comercialização o maior rendimento possível.
É nesse contexto - de avanço na definição de uma política de desenvolvimento florestal que sirva aos interesses do Brasil - que venho à tribuna saudar o apoio pioneiramente concedido pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) a um projeto de manejo sustentável de floresta nativa em andamento no meu Estado do Mato Grosso.
Com efeito, o financiamento de 9 milhões de reais concedido à empresa Guavirá Industrial e Agroflorestal é o primeiro destinado pelo banco estatal a um empreendimento dessa natureza, representando, portanto, um marco nas discussões de políticas para o setor florestal, especialmente em relação às florestas das regiões Centro-Oeste e Norte.
Os recursos serão investidos na expansão da capacidade produtiva, na geração de energia elétrica, na manutenção de florestas e no reflorestamento. O investimento total da empresa é de 16 milhões e meio de reais, a serem aplicados na instalação de uma serraria integrada com processamento secundário, em um programa florestal e em projetos sociais em São José do Rio Claro, no Mato Grosso. Com isso, a Guavirá terá sua capacidade de produção ampliada para 66 mil e 500 metros cúbicos de serrados ao ano e passará a fabricar produtos de madeira com maior valor agregado.
Trata-se de projeto com o qual não poderíamos deixar de nos congratular, pois sua implantação, além de promover o desenvolvimento regional e reduzir o êxodo para as cidades, já criou cem empregos diretos. Após sua conclusão, serão mais 50 empregos diretos e cem indiretos, a serem acrescidos aos 200 diretos e 300 indiretos que a Guavirá mantém atualmente.
Segundo avaliação do próprio BNDES, o empreendimento levado à frente pela Guavirá reúne méritos aptos a torná-lo modelar. Entre esses méritos, deve-se destacar que o projeto;
- representa exploração sustentada da floresta nativa, podendo a Guavirá vir a transformar-se numa empresa-referência para o aproveitamento econômico de florestas tropicais;
- constitui um novo patamar tecnológico a servir de paradigma para outras indústrias instaladas na região;
- inclui uma estratégia voltada para a atuação nos mercados nacional e internacional de produtos de maior valor agregado;
- contribui para o aumento das exportações brasileiras;
- envolve reflorestamento de áreas devastadas e geração própria de energia elétrica com aproveitamento de resíduos de madeira;
- está sediado em região pouco desenvolvida, implicando, portanto, melhorias de cunho social e aumento de renda para a população;
- cria grande número de empregos em área rural.
Entre as exigências feitas pelo BNDES à Guavirá está a apresentação de um programa de desenvolvimento de plantio de espécies nativas visando ao aproveitamento econômico, bem como a apresentação da “Certificação de cadeia de custódia”, a ser realizada por empresa de credibilidade internacional, a qual assegura que a madeira usada é obtida por meio de manejo florestal sustentável.
Constituída em 1986, a Guavirá Industrial e Agroflorestal atua no mercado de madeiras tropicais para a construção civil e indústria moveleira. Seu projeto de expansão deverá estar concluído no terceiro trimestre do próximo ano e, com a nova serraria nele prevista, a empresa irá aumentar a utilização de madeiras para obter produtos com maior valor agregado. Já os investimentos a serem realizados na instalação de oito estufas - que irão substituir o processo de secagem ao ar livre - permitirão a redução do tempo médio de secagem da madeira de 3 meses para 5 dias. O custo de energia elétrica também será diminuído mediante o aproveitamento dos resíduos de madeira gerados no processo para a produção do vapor a ser utilizado nas estufas.
A madeira que abastece a serraria da Guavirá é oriunda de sua reserva florestal nativa, localizada no Município de Nova Maringá, a apenas 120 quilômetros da unidade industrial. Essa área florestal abrange mais de 78 mil hectares, a maior parte com cobertura de mata nativa da região de transição entre o cerrado e a floresta amazônica. Desde 1997 a empresa vem executando um projeto de manejo florestal sustentado, analisado e aprovado pelo Ibama, em uma área de 58 mil hectares.
Além da manutenção florestal, o reflorestamento previsto no novo projeto, que também será feito em áreas já degradadas, abrangerá cerca de 450 hectares por ano, no período de 2001 a 2003, para o plantio de teca, árvore do Oriente já adaptada ao cerrado. A meta da empresa é ter 5 mil hectares plantados com teca. Nos próximos anos, a Guavirá consolidará sua participação no mercado externo. Do total do seu faturamento no ano passado, as exportações representaram 32%, índice que deverá subir para 65% em 2001.
O apoio concedido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ao projeto de manejo sustentável de floresta nativa conduzido pela Guavirá Industrial e Agroflorestal merece todo o meu apoio e louvor. Trata-se, de fato, de um marco nas discussões de políticas de desenvolvimento do setor florestal.
Como já tive oportunidade de afirmar, o fortalecimento do setor florestal interessa muito de perto ao Estado do Mato Grosso e ao País como um todo, haja vista seu potencial na geração de empregos, contribuindo, assim, para evitar o êxodo rural. É chegado o momento de começarmos a explorar de maneira sustentável e rentável o fabuloso patrimônio florestal do Brasil. Minha expectativa é que ao projeto da Guavirá sucedam-se muitos outros a merecer o apoio governamental para o desenvolvimento desse setor.
Era o que tinha a dizer. Muito obrigado.
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