Discurso durante a 162ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Insatisfação pela redução do número de votantes nas próximas prévias do PMDB para escolha de candidato à Presidência da República.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Insatisfação pela redução do número de votantes nas próximas prévias do PMDB para escolha de candidato à Presidência da República.
Aparteantes
Juvêncio da Fonseca.
Publicação
Publicação no DSF de 27/11/2001 - Página 29555
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, DECISÃO, COMISSÃO EXECUTIVA NACIONAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), RESTRIÇÃO, VOTAÇÃO, MEMBROS, ESCOLHA, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, PREJUIZO, DEMOCRACIA, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA.
  • DENUNCIA, ATUAÇÃO, DIREÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), FAVORECIMENTO, GOVERNO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OPOSIÇÃO, CANDIDATURA, ITAMAR FRANCO, PEDRO SIMON, CANDIDATO, ELEIÇÕES.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Executiva Nacional do PMDB, na semana passada, perpetrou um ato tristemente inusitado para o Partido que nasceu, há quase 40 anos, sob o signo da luta contra a ditadura, contra as manobras de restrição do sufrágio popular e pela integral redemocraticação do nosso País.

            Uma articulação de bastidores, executada pela corrente que se recusa a ouvir o clamor das bases partidárias em favor da candidatura própria à Presidência da República, transformou as prévias do próximo dia 20 de janeiro em um jogo de cartas marcas em circuito fechado, reduzindo o número de votantes para cerca de quatro mil, e, assim, marginalizando mais de 100 mil militantes peemedebistas.

            Como bem observou o nobre Colega e companheiro Maguito Vilela, é muito mais fácil tentar pressionar, constranger e aliciar quatro mil pessoas do que manipular um universo de 150 mil.

            Tudo isso, Sr. Presidente, para tumultuar, antecipadamente, as pré-candidaturas Itamar Franco e Pedro Simon à Presidência da República, apoiadas com ardor pela maioria da militância em todo o País, mas temidas pela cúpula partidária intimamente aliada ao Palácio do Planalto.

            Acredito que o nosso valoroso Senador Pedro Simon, pré-candidato do PMDB à Presidência da República, concorda com tamanha censura democrática. Afinal, como ex-Governador do Rio Grande do Sul, brilhante Parlamentar e um dos maiores ícones do Partido em toda a sua história, Pedro Simon, tenho certeza, também gostaria de ver o seu nome respaldado pelo maior número possível de militantes em todo o País.

            Se é verdade que podemos aquilatar a estrutura de um homem pelos inimigos que ele tem, ainda assim, indago-me dos motivos profundos de tanto pavor ao Governador de Minas Gerais e ex-Presidente da República, Itamar Franco, e ao grande companheiro e amigo, Senador Pedro Simon.

            Por que temer Itamar Franco, que teve a coragem de apostar no Plano Real, reduzindo drasticamente a hiperinflação, resgatando o trabalhador brasileiro do pesadelo da indexação e das remarcações diárias de preço? O que há para recear no ex-Presidente que, diante da única acusação de corrupção ao seu Governo, lançada contra um dos mais próximos colaboradores, decretou a suspensão desse funcionário durante as investigações, para reintegrá-lo depois de comprovada absoluta improcedência das denúncias?

            Qual a razão do desconforto provocado em políticos importantes e seus aliados no colunismo chapa-branca pelo governante que assumiu uma luta pioneira contra os cartéis multinacionais da indústria farmacêutica e em defesa dos idosos, aposentados e desempregados sem recursos para pagar os altos preços dos remédios?

            O que pode haver de tão errado com o Governador mineiro que, desafiando um programa de privatização do setor elétrico, açodadamente concebido apenas para fazer caixa mediante a queima do patrimônio público, assumiu a defesa intransigente da Cemig e provou estar certo tão logo surgiram os primeiros sinais da crise de abastecimento energético?

            A quem interessa cortar a ascensão de um nome tradicionalmente identificado com a defesa e o fortalecimento da empresa nacional - micro, pequena, média ou grande -, quando sabemos que ele é no nosso grande trunfo no esforço de integrar o Brasil soberana e vitoriosamente ao processo de globalização?

            Pedro Simon tem dito que o PMDB luta pela dignidade do povo, pela redistribuição da renda, pela estabilidade econômica, pela elevação do emprego, pela retomada do desenvolvimento, pelo resgate social, da agricultura, do transporte e da energia. S. Exª diz que, se chegar à Presidência da República, será o fim da impunidade. O exemplo virá de cima.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estou convicto de que da maneira pela qual o PMDB responder a essas questões candentes da hora dependerá sua credibilidade para conduzir o País na rota da retomada do crescimento econômico, do desenvolvimento humano e da soberania altiva. Tenho certeza de que a sociedade continuará confiando em nossa legenda apenas enquanto formos capazes de provar que estamos à altura de prosseguir com nossa velha luta pela redemocratização política no novo patamar do combate à exclusão social.

            Quando nossa democracia interna e nossa tradição pluralista são pisoteadas, quando a vontade da maioria é sufocada por manobras de gabinete, vemo-nos na iminência de perder nossos vínculos com as reivindicações populares e as bases municipais, estaduais, comunitárias, sindicais e intelectuais que dão vida e substância ao nosso programa.

            O Sr. Juvêncio da Fonseca (PMDB - MS) - V. Exª me concede um aparte?

            O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - GO) - Concedo um aparte a V. Exª com muito prazer.

            O Sr. Juvêncio da Fonseca (PMDB - MS) - Senador Mauro Miranda, aplaudo V. Exª pelo sentimento peemedebista, pela vontade de que esse Partido realmente seja unido nacionalmente para que possamos construir essa unidade com entendimento e com solidariedade para que atravessemos as eleições do próximo ano com uma presença muito forte nacionalmente. Aplaudo V. Exª também na questão da restrição tão pequena do colégio eleitoral para a prévia. Quero dizer a V. Exª que eu chagaria até a inclusão dos vereadores neste colégio eleitoral das prévias. Temos mais ou menos 7 mil vereadores no País todo, mais 4 mil, são 11 mil, o que seria todo o elenco de eleitores desta prévia, representando de maneira expressiva os peemedebistas que estão na militância do PMDB. Seriam praticamente 11 mil votos, porque militantes mesmo, aqueles inscritos no PMDB, temos seis milhões. A pretensão dos 100 mil é válida também, mas já seria uma legitimidade chegarmos aos 11 mil, incluindo os vereadores. Acredito que o Conselho Político Nacional do PMDB haverá de analisar com carinho essa questão. Não estou de um lado nem em outro nesta luta dentro do PMDB; estou a favor do Partido. Não tenho essa desilusão com o PMDB, como V. Exª está colocando, de racha, de dificuldade, de que não iremos às eleições com um candidato próprio. Vamos às eleições com um candidato próprio. Tenho absoluta certeza disso e - ou com o Itamar Franco, ou com o Pedro Simon, ou com uma terceira pessoa, o que acho difícil -, temos duas grandes e respeitáveis lideranças que temos no PMDB, e temos de seguir, sim, aquele que for eleito nas prévias como candidato do PMDB. Entusiasmo-me muito com este Partido que fez a redemocratização do País. Se avaliarmos a força do PMDB em âmbito nacional, perceberemos que regionalmente é o Partido mais forte no Brasil. Temos condições de eleger no mínimo dezesseis candidatos a Governador de Estado. Não há por que ficarmos lamentando a possibilidade de restringir o colégio eleitoral das prévias para, em vez de cem mil, quatro ou onze mil. O PMDB é forte. Temos de mudar a linguagem e convergi-la para o fortalecimento do PMDB. Cada vez que dizemos que o PMDB está enfraquecido ou rachado, que não vai a lugar algum, que é armadilha, fazemos um desserviço ao PMDB. Estaremos colaborando com o nosso Partido e com a Nação se exaltarmos o PMDB nessa grande luta não só visando ao restabelecimento da democracia - que já foi feita -, mas também à busca de soluções econômicas e sociais para o desenvolvimento do País. Essa é uma bandeira forte que tem o PMDB, que é capaz de conquistar a população. Talvez não tenhamos, no plano nacional, um grande líder que possa fazer a unidade do Partido. Mas, com os nossos líderes atuais, com mais ou menos força, temos de fortalecer o PMDB com mensagens positivas, de otimismo, de luta, dando-nos todos as mãos, sem abrir cada vez mais o fosso entre uma ala e outra ou entre pessoas. Não prestamos, assim, um grande serviço ao PMDB e à democracia. Aplaudo V. Exª pelo pronunciamento e por sua preocupação com um PMDB forte e unido, mas fica o meu ponto de vista a respeito do assunto. Muito obrigado.

            O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - GO) - Senador Juvêncio, agradeço profundamente o seu aparte. V. Exª é um líder inconteste no seu Mato Grosso do Sul, um dos melhores prefeitos que Campo Grande já teve e um Senador que representa muito bem aquele Estado.

            As preocupações de V. Exª são as minhas. Como V. Exª, também tenho o entusiasmo por esse Partido que começou das bases, que lutou contra a ditadura, que fez tanta transformação neste País, mas que lamenta profundamente alguns retrocessos nesse encaminhamento da disputa à Presidência da República.

            Precisamos falar, sim, para que venham votar conosco nessa prévia todos os vereadores do PMDB, todos os vice-prefeitos e prefeitos, para que praticamente façamos, nessa prévia, uma pré-campanha à Presidência da República. Escolheremos um nome. Como V. Exª, também tenho certeza de que o nosso PMDB terá um candidato à Presidência da República com capacidade e garra para ganhar as eleições e para buscar a redemocratização social do País.

            Agradeço a V. Exª pelo aparte, que vem somente se somar ao meu. Tenho o mesmo entusiasmo que V. Exª por esta unidade, por este patrimônio imenso de todos os brasileiros: o PMDB. Por isso, luto com todas as forças a fim de que tenhamos um candidato à Presidência da República competitivo e que ajude a transformar este nosso País.

            Hoje, mais que nunca, o PMDB, o partido da democracia, precisa dignificar a nossa tradição histórica e honrar o nosso passado, para desenhar o papel que lhe cabe na construção do futuro, e o respeito mútuo no diálogo interno é condição prioritária para tanto. Se Deus quiser, breve teremos um candidato à Presidência da República com unidade de todas as forças, numa eleição e numa discussão democrática entre os membros do nosso Partido.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


            Modelo16/21/249:34



Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/11/2001 - Página 29555