Discurso durante a 61ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Elogios à Rede Globo de Televisão pela abordagem do problema social do consumo de drogas na novela "O Clone".

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DROGA.:
  • Elogios à Rede Globo de Televisão pela abordagem do problema social do consumo de drogas na novela "O Clone".
Aparteantes
Chico Sartori, Gilvam Borges.
Publicação
Publicação no DSF de 16/05/2002 - Página 8125
Assunto
Outros > DROGA.
Indexação
  • ELOGIO, PROGRAMA, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ABRANGENCIA, PROBLEMA, DEPENDENCIA QUIMICA, CONSUMO, DROGA.
  • DEFESA, IMPORTANCIA, COMBATE, PREVENÇÃO, UTILIZAÇÃO, TRAFICO, DROGA, PAIS.

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, freqüentemente lemos críticas ou ouvimos queixas sobre a má qualidade da programação televisiva em nosso País. Pais, educadores, psicólogos, sociólogos, sacerdotes, pastores e formadores de opinião em geral alertam para o perigo que correm crianças e adolescentes expostos a doses maciças de linguagem grosseira, baixarias sexuais e violência gratuita.

De alguns anos para cá, a degradação do conteúdo da programação vem realçando as profundas desigualdades que caracterizam a pirâmide social brasileira. Com a migração das classes altas e médias para os canais pagos de TV por assinatura, ficaram os pobres condenados a programas com escasso ou nulo teor educativo e cultural, a um gênero de entretenimento que apela para os mais deploráveis instintos humanos.

Mas, felizmente, surgem, às vezes, brilhantes e honrosas exceções nesse panorama. A mais importante delas, na atualidade, desenrola-se como trama paralela da novela “O Clone”, da laureada dramaturga Gloria Perez, transmitida de segunda a sábado pela Rede Globo de Televisão.

            Não conheço ninguém que tenha deixado de se emocionar profundamente com a tragédia dos personagens envolvidos com a narcodependência. A crise de abstinência da personagem Mel, interpretada pela jovem atriz mineira Débora Falabela, levada ao ar há duas semanas, merece um lugar entre as mais fortes cenas da teledramaturgia brasileira de todos os tempos.

Da mesma forma, as confissões psicanalíticas de Lobato, vivido pelo veterano Osmar Prado, iluminam com implacável sinceridade a tortura física e moral que se apossa do dependente químico e, pouco a pouco, destrói seus vínculos afetivos, profissionais e comunitários com a família, os amigos, o trabalho e a sociedade.

Para reforçar a veracidade da trama, Glória Perez entrelaça tais cenas com depoimentos de dependentes químicos e seus familiares, expondo em dolorosos detalhes o inferno real produzido pelos paraísos artificiais da droga.

Vale lembrar que esta não é a primeira vez que Glória utiliza a ficção para nos obrigar a encarar algumas das verdades mais tristes do cotidiano. Em 1995, ao final de cada capítulo da novela “Explode, coração!”, eram mostradas fotos de crianças desaparecidas em todo o Brasil. Recordo que muitas foram reencontradas e devolvidas aos seus pais graças a esse verdadeiro serviço de utilidade pública.

É reconfortante, Sr. Presidente, quando encontramos na vida pessoas como Glória Perez, que sabem extrair da desgraça pessoal uma força inaudita para transformar a realidade social em um sentido mais humano, fraterno e solidário.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é igualmente reconfortante quando constatamos que, longe das câmaras e dos refletores, no ambiente imediato do nosso bairro, da nossa cidade, dos nossos municípios, cidadãos e autoridades resolvem dar-se as mãos para ajudar a combater e prevenir o flagelo das drogas.

Bem perto daqui, no generoso solo goiano, que represento nesta Casa, uma parcela significativa de prefeituras, por intermédio de suas secretarias de saúde, em parceria com igrejas, clubes de serviços e outras associações voluntárias, vem patrocinando fóruns de debates e soluções do problema. Nos postos municipais de saúde, abrem-se unidades para tratamento e aconselhamento dos dependentes químicos, bem como para assistência psicossocial às suas famílias.

É extraordinário, minhas senhoras e meus senhores Senadores, como a compaixão e o amor ao próximo, uma vez configurados em solidariedade concreta, podem mudar a vida, fortalecer a auto-estima, alterar a maneira de ver o mundo de pessoas a quem a droga e o vício haviam privado de tudo - principalmente do precioso dom da esperança.

Estou sinceramente convicto de que a guerra contra o narcotráfico deve mobilizar não apenas os recursos policiais na sua repressão. Para sermos vitoriosos, precisamos atentar para o caldo de cultura que torna a droga necessária para uma parcela assustadoramente grande de jovens e adultos das mais diversas camadas sociais.

O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Senador Mauro Miranda, V. Exª me permite um aparte?

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - GO) - Concedo o aparte, com prazer, a V. Exª.

O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Senador Mauro Miranda, com todo o respeito que esta Casa tem por V. Exª...

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Valadares) - Senador Gilvam Borges, V. Exª pode apartear o orador sentado.

O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Sr. Presidente, fico mais tranqüilo. Em primeiro lugar, Senador Mauro Miranda, quero congratular-me com V. Exª e dizer que o tema que aborda nesta tarde é realmente complexo, porque a influência dos meios de comunicação é determinante no comportamento da sociedade de um modo geral. O homem, apesar da sua emancipação, da sua capacidade de discernir e de fazer cultura, ainda é frágil quando se trata da avaliação da sua própria existência e das dificuldades do dia-a-dia. E nos temos questionado a respeito desse problema que aflige todo o planeta. Há séculos que organizações se mobilizam na busca do combate efetivo às drogas, as quais não só dilaceram, como também desintegram e provocam o caos. São as drogas - e não só a que é ingerida, como o álcool, mas qualquer tipo de droga - que realmente contribuem para a violência que vem proliferando pelo País afora. Senador Mauro Miranda, admiro V. Exª pelos temas que sempre aborda. E discutir a questão da droga na sociedade é algo inédito. A dramaturga Glória Perez, de forma hábil e inteligente, consegue inserir em suas peças de novela um tema de fundamental importância. Portanto, não só é oportuno, mas também importante a forma como V. Exª traz a esta Casa o questionamento das programações televisivas e radiofônicas. O Estado e a sociedade em geral têm a responsabilidade de avaliar o quão perniciosas podem ser as programações dos veículos de comunicação em nosso País e, por que não dizer, no mundo. Portanto, congratulo-me com V. Exª. Esse é realmente um tema complexo. Para encerrar meu aparte, se V. Exª assim o permitir, devo dizer que o problema está entre o equilíbrio emocional e a busca da felicidade por parte do homem que entra em uma crise existencial. Nem sempre aquele que detém o poder econômico e que possui bens materiais, um bom emprego e pão à mesa é feliz. Isso está provado pelos dados estatísticos. Sendo assim, penso que é preciso investir maciçamente na harmonia espiritual, para que cumpramos o nosso destino na terra e sejamos felizes. Parabenizo V. Exª, Senador Mauro Miranda, por estar na tribuna, na tarde de hoje, abordando um tema relevante: a droga, que, sem sombra de dúvida, é um elemento destrutivo e que corrói os tecidos sociais.

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - GO) - Agradeço a V. Exª, nobre Senador Gilvam Borges. Esta Casa também o admira pela franqueza de suas palavras e pela sinceridade com que fala a todos nós Senadores. Agradeço muito o seu testemunho e o seu aval ao trabalho dessa grande escritora Glória Perez, que tem procurado mostrar, por intermédio da novela O Clone, a sua preocupação com as drogas.

O Sr. Chico Sartori (Bloco/PSDB - RO) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - GO) - Ouço V. Exª com todo o prazer.

O Sr. Chico Sartori (Bloco/PSDB - RO) - Nobre Senador Mauro Miranda, também gostaria de me congratular com V. Exª pelo que diz em relação à televisão brasileira. Muitas coisas boas poderiam ser ensinadas por intermédio da televisão aos brasileiros. No entanto, assistimos a cenas que nos surpreendem, inclusive pela maneira como são transmitidas. Penso que vem daí a razão pela qual as nossas crianças entram tão cedo, hoje, no mundo da droga, no mundo do crime. Inclusive, a própria desobediência aos pais é aprendida por meio da televisão. É por isso também que, quando os pais chamam a atenção dos filhos, muitos dizem: “Esse velho é gagá. Isso é coisa de antigamente”. Antigamente era mesmo diferente; não havia tudo isso. Nesse sentido, o seu pronunciamento é muito importante. Admiro V. Exª pelo seu comportamento no Congresso Nacional. E, hoje, eu o admiro muito mais ainda por trazer a debate esse tema. Agradeço o aparte que V. Exª me concedeu, Senador Mauro Miranda.

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - GO) - Eu é que agradeço o seu testemunho e a palavra de estímulo para que todos façamos um trabalho muito melhor, a fim de que a nossa sociedade se torne mais justa, mais equilibrada e mais feliz. Para tanto, é fundamental que o Congresso Nacional, as forças políticas e a sociedade como um todo mostrem àqueles que detêm o poder da mídia na mão o quanto é importante colaborar de uma forma decisiva e muito forte para a melhoria da qualidade de vida, chamando a atenção para os males que existem e procurando as soluções para tentar extirpá-los.

            Nessa busca, certamente nos defrontaremos com a face horrorosa dos antivalores do individualismo materialista e cronista do culto à violência, do desrespeito à lei, da desmoralização da família.

A resposta a esse egoísmo, a esse isolamento, a essa falsa ética do “cada um por si e Deus por todos” está na força que nos faz dizer “não” à droga, ao mesmo tempo que nos impulsiona a dizer “sim” à vida, à união e à participação.

Eram essas as minhas palavras, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/05/2002 - Página 8125