Discurso durante a 119ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Análise do resultado das eleições no País. Agradecimento ao povo do Acre pela sua reeleição e balanço do seu primeiro mandato no Senado Federal. Registro do crescimento da bancada feminina no Congresso Nacional. (Como Líder)

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Análise do resultado das eleições no País. Agradecimento ao povo do Acre pela sua reeleição e balanço do seu primeiro mandato no Senado Federal. Registro do crescimento da bancada feminina no Congresso Nacional. (Como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 01/11/2002 - Página 18929
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, POPULAÇÃO, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO ACRE (AC), REELEIÇÃO, ORADOR, SENADO, ANALISE, CAMPANHA ELEITORAL, BENEFICIO, DESENVOLVIMENTO CULTURAL, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, REGIÃO.
  • SAUDAÇÃO, CRESCIMENTO, MULHER, BANCADA, CONGRESSO NACIONAL.
  • ANALISE, RESULTADO, ELEIÇÕES, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, VITORIA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • EXPECTATIVA, GOVERNO FEDERAL, CANDIDATO ELEITO, REALIZAÇÃO, COMPROMISSO, BENEFICIO, POPULAÇÃO, PAIS.

A SRª. MARINA SILVA (Bloco/PT - AC. Como Líder. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Sr. Presidente. Procurarei ser breve, mas é a primeira vez que tenho a oportunidade de me manifestar no plenário da Casa, depois das eleições.

Gostaria de iniciar, agradecendo a Deus pela vitória nessa caminhada, tanto no Estado do Acre quanto no plano nacional, também ao povo acreano e ao povo brasileiro pela compreensão que tiveram do momento histórico que estamos vivendo e das necessidades de aprofundar as mudanças no Acre e de realizar as mudanças no Brasil.

De sorte, Sr. Presidente, que eu gostaria aqui de fazer um breve registro, que para mim é motivo de orgulho e de satisfação: em 1994, quando fui eleita Senadora, obtive 63 mil votos e, desta vez, na minha reeleição, obtive 157 mil votos. Isso significa que o houve uma compreensão por parte da sociedade acreana de que os temas ligados ao desenvolvimento sustentável, às ações de combate à pobreza e à defesa dos direitos humanos passaram a ter eco na ação política de uma Parlamentar do Acre. Isso para mim é motivo de satisfação.

Também fico feliz de que as ações do Governo do Estado, do Governador Jorge Viana, tenham sido reconhecidas com a maior votação dada ao Governador, no 1º turno. Isso significa também que as ações do desenvolvimento sustentável, de uma ação de governo voltada para os que não são, não sabem, não podem, não têm, começa a ter um eco na sociedade acreana.

Quando faço minhas campanhas, costumo não falar dos defeitos dos meus adversários, mas anunciar as minhas qualidades ou a dos meus aliados. Foi assim que fiz minha campanha, portanto, com todo respeito aos meus opositores. Acho que nenhum deles pode dizer que a Senadora Marina teve uma postura agressiva, em qualquer nível, em relação as suas candidaturas. Foi uma campanha de afirmação de um projeto de desenvolvimento que está primando pela realização do sonho sustentável do povo acreano nos aspectos sociais, culturais, ambientais, econômicos e, até mesmo, pela sustentabilidade política que começa a ser estabelecida no Acre, a qual, espero, também possa estabelecer-se no Brasil.

Registro, com satisfação, que pude ver o crescimento da bancada feminina no Congresso Nacional. Haverá, agora, 10 senadoras, dentre as quais 5 são do meu partido, o que para mim, também, é motivo de orgulho. Significa que, no Partido dos Trabalhadores, a participação e a presença das mulheres não é apenas nominal e instrumental. Mas, de fato, nas estruturas de mando e comando do partido, as mulheres têm uma força muito grande. Isso se expressou na eleição de 5 senadoras numa bancada de 14 senadores.

Portanto, para mim, também, é motivo de orgulho e é uma sinalização de que o trabalho das mulheres no Congresso Nacional, não apenas do meu Partido e dos Partidos aliados, mas de todos os outros, tem se constituído numa referência positiva para que outras mulheres também possam ingressar na vida pública.

Gostaria também de agradecer a Deus e ao povo brasileiro pela vitória do Lula. O que está acontecendo neste País é algo que ainda nem conseguimos dimensionar. Uma coisa é certa: estamos tendo uma oportunidade ímpar pelo que ela evoca de complexidade, do ponto de vista das expectativas da sociedade para o novo Governo, mas expectativas que não estão, apenas, relacionadas a resultados. Creio que a visão patrimonialista do Estado - o Estado provedor, a figura messiânica do Presidente como sendo aquele que irá resolver todos os problemas da população - está sendo superada. Hoje, as pessoas querem ver um Estado que faz realizações com a sociedade, ao invés de fazê-las para a sociedade. Penso que foi esse o grande mérito da campanha de Lula ao sinalizar para a sociedade brasileira que ela pode buscar em suas entranhas o melhor que tem e colocar à disposição das instituições públicas, do setor produtivo, de todos os segmentos, pois agora teremos um manejador de competência. Para mim, o grande mérito de Lula é saber manejar competências. S. Exª teve essa capacidade à frente do maior sindicato da América Latina, na construção do maior Partido da América Latina e de uma frente que vem se formando há 13 anos e que agora é vitoriosa com a participação de vários segmentos, de vários partidos políticos. Isso é fundamental para o processo de governabilidade.

Vejo a manifestação, a mobilização das pessoas e constato que nos mais diferentes segmentos - do humilde funcionário ao intelectual que está formulando políticas públicas para o País - as pessoas estão se dispondo a dar o melhor de si, pois agora estão sendo instadas a oferecer o melhor.

O processo de transição está sendo, também, exemplar. S. Exª vai facilitar o novo momento que se estabelece, que, para mim, é criador de uma nova concepção de Estado. Falo de um Estado que se dispõe a manejar as várias competências, a estabelecer parcerias com a sociedade. É o que a sociedade brasileira espera do Governo Lula e é ao que me disponho. Falo sobre a questão com muita tranqüilidade, Sr. Presidente, porque durante meus 8 anos de mandato no Senado tenho feito oposição ao Governo. Faço uma oposição propositiva, afirmativa. Agi assim desde os primeiros dias de meu mandato. Quando assumi, o Presidente Fernando Henrique Cardoso convidou-me para uma reunião no Estado do Amazonas com várias entidades não-governamentais. Creio ter sido a única parlamentar presente, uma parlamentar da Oposição. Sua Excelência lançou, naquela oportunidade, a proposta de criação do Banco do Povo. Fui a primeira a sair defendendo tal proposta. Infelizmente, ela não obteve sucesso por parte do Governo Federal. No entanto, alguns Governos e Prefeituras do PT a assumiram. Hoje, constitui-se um sucesso significativo a implementação do Banco do Povo no Estado do Rio Grande do Sul e de Belém. Estou citando esse exemplo para dizer que, graças a Deus, da parte de vários segmentos do Partido dos Trabalhadores temos tido uma ação afirmativa, propositiva.

Lembro-me da crise dos extrativistas, ocasião em que não havia preço para a borracha. A proposta de criação de um subsídio para a borracha foi apresentada por mim ao Presidente Fernando Henrique Cardoso, que a acolheu e encaminhou ao Congresso. A proposta foi aprovada. A criação do Programa Amazônia Solidária, que hoje está implementado, foi uma contribuição do meu mandato. A criação da primeira linha de crédito para os extrativistas também foi uma contribuição do meu mandato ao Governo federal.

É claro que para que haja colaboração é preciso aceitação. Nesse sentido, tanto o Senador Tião Viana quanto o Governador Jorge Viana e eu temos sempre registrado uma parceria entre o Acre e o Governo Federal em vários aspectos. Nem por isso, tive de fazer um discurso fácil; sempre defendi as minhas idéias nas votações e a minha visão crítica em relação à problemática social e ambiental do País. Também nunca me furtei de apresentar sugestões e propostas - muitas delas acolhidas -, que hoje, se Deus quiser, serão aprofundadas no futuro Governo Lula.

Faço este registro, porque a sinalização do Senador Jucá de que será uma oposição afirmativa, propositiva, de colaboração, mas autônoma, não é um mérito apenas do PSDB. Tive a oportunidade de vivenciar isso e sei que é o melhor caminho e a melhor forma de contribuição ao País.

O novo Governo Lula com certeza terá a oportunidade de fazer algo que para mim é fundamental na relação entre os representantes e os representados, já que somos eleitos para representar e não para substituir as pessoas.

O Congresso Nacional deverá estar bastante atento para o fato de que a sociedade brasileira almeja para o País o crescimento econômico, uma política da geração de emprego, uma política que possa fazer frente às desigualdades sociais. E é isso que o Congresso Nacional tem que decodificar dessas eleições, tanto nos Estados quanto na Federação. Então, como representantes que não substituem os representados, teremos que aqui votar em sintonia com as exigências e as necessidades daqueles que representamos.

Muito obrigada, Sr. Presidente.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/11/2002 - Página 18929