Pronunciamento de Tasso Jereissati em 20/02/2003
Discurso durante a 3ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Transcrição de artigo do jornalista Zuenir Ventura, publicado no jornal O Globo, de 12 de fevereiro último, intitulado "Ignorância Zero".
- Autor
- Tasso Jereissati (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
- Nome completo: Tasso Ribeiro Jereissati
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
- Transcrição de artigo do jornalista Zuenir Ventura, publicado no jornal O Globo, de 12 de fevereiro último, intitulado "Ignorância Zero".
- Publicação
- Publicação no DSF de 21/02/2003 - Página 1832
- Assunto
- Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
- Indexação
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- SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, PUBLICAÇÃO, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CRITICA, DECLARAÇÃO, FRANCISCO GRAZIANO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO EXTRAORDINARIO DE SEGURANÇA ALIMENTAR E COMBATE A FOME, SEGURANÇA, NATUREZA ALIMENTAR, ALEGAÇÕES, RESPONSABILIDADE, VIOLENCIA, CIDADE, REGIÃO SUDESTE, POPULAÇÃO, ORIGEM, REGIÃO NORDESTE.
O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, solicito a transcrição nos anais do Senado, do artigo de autoria do jornalista Zuenir Ventura, publicado no Jornal O Globo do dia 12 de fevereiro de 2003, intitulado “IGNORÂNCIA ZERO”, onde o autor analisa declaração do Ministro da Segurança Alimentar, atribuindo aos nordestinos a responsabilidade pela violência nos grandes centros urbanos do Sudeste.
Obrigado.
IGNORÂNCIA ZERO
Uma onda de justa indignação, partindo de leitores e jornalistas, foi a primeira reação que as declarações do ministro Francisco Graziano provocaram. Afinal, há muito não se via tanto preconceito explícito e um certo racismo implícito: "se eles (os nordestinos) continuarem vindo pra cá, nós vamos ter de continuar andando de carro blindado". Não importa que em seguida ele tenha se desculpado pelo absurdo. O reconhecimento da ofensa não conseguiu abolir o fato de que, por ter sido um ato falho, o que disse antes da correção é o que estava enraizado em sua cabeça.
O mais grave, porém, se é que se pode estabelecer uma escala de gravidade em meio a tanta trapalhada, é a revelação involuntária da ignorância de Graziano em relação ao problema. Se o ministro da Segurança Alimentar entende de fome como entende de violência e miséria, os famélicos de nossa terra estão perdidos e mal pagos. Achar que todo bandido é social, atribuir mecanicamente as raízes da violência à miséria, é no mínimo uma inaceitável injustiça com os miseráveis. Além de já não ter nada, são agora responsabilizados pela criminalidade.
O ministro poderia ter lido o trabalho "Pobreza não gera violência", de José Noronha, Alba Zaluar e Ceres Albuquerque, publicado com grande repercussão em 1995 na revista "Ciência Hoje". Ali, fica demonstrado que a relação entre violência e migração, sobretudo do Nordeste para as áreas metropolitanas, "não tem qualquer fundamento científico, simplesmente não existe".
Para chegar a essa conclusão, os autores fizeram um levantamento exaustivo dos dados dos censos de 1980 e 1991 (atualizados agora por Noronha com as informações de 2000), comparando taxas de aumento populacional e de mortalidade por homicídio. "Não há nenhuma correlação de crescimento migratório entre 1980 e 2000 com mortes por agressões em nossas áreas metropolitanas", eles dizem.
Mas se o ministro não tiver tempo de ler o trabalho, nem o último relatório mundial sobre violência e saúde, da Organização Mundial da Saúde, recomenda-se que preste atenção no noticiário policial. Analisando as matérias sobre seqüestros, grandes assaltos e crimes hediondos, ele vai se surpreender por não encontrar a presença entre os bandidos de um mendigo sequer. Vai ver, ficaram todos no Nordeste.
12/02/2003 - Jornal O GLOBO