Fala da Presidência durante a 26ª Sessão Especial, no Senado Federal

Entrega da Segunda Premiação do Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
CONCESSÃO HONORIFICA. FEMINISMO. POLITICA EXTERNA.:
  • Entrega da Segunda Premiação do Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz.
Publicação
Publicação no DSF de 28/03/2003 - Página 4928
Assunto
Outros > CONCESSÃO HONORIFICA. FEMINISMO. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • REGISTRO, MEMBROS, CONSELHO, SENADO, MULHER, CIDADANIA, LUTA, OPOSIÇÃO, DISCRIMINAÇÃO SEXUAL, CONCESSÃO HONORIFICA, LIDERANÇA, FEMINISMO.
  • IMPORTANCIA, AUMENTO, PARTICIPAÇÃO, MULHER, POLITICA, APOIO, APLICAÇÃO, LEGISLAÇÃO, COTA, CANDIDATURA, PARTIDO POLITICO.
  • DEFESA, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO SEXUAL, AMBITO, FAMILIA.
  • DEFESA, MOBILIZAÇÃO, SENADO, BRASILEIROS, OPOSIÇÃO, GUERRA, ORIENTE MEDIO, CRITICA, POLITICA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), DESRESPEITO, SOBERANIA, GOVERNO ESTRANGEIRO, APREENSÃO, AMEAÇA, SOBERANIA NACIONAL, REGIÃO AMAZONICA.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko) - Gostaríamos de iniciar saudando o Presidente do Senado, Senador José Sarney, que, em relação a questões de gênero, tem aquiescido prontamente em todos os momentos. Acredito ser S. Exª um dos grandes defensores da luta das mulheres e, com certeza, durante a sua presidência, vai continuar contribuindo e participando da forma como vem fazendo.

Srªs e Srs. Parlamentares, gostaria de saudar todas as mulheres da nossa Câmara Federal na pessoa da nossa guerreira Deputada Jandira Feghali, que dispensa apresentações.

Já foi falada a composição de nosso Conselho, mas, por uma questão de justiça, vou repetir.

O Conselho da Mulher-Cidadã Bertha Lutz compõe-se das Srªs Senadoras Roseana Sarney, Iris de Araújo, Lúcia Vânia, Patrícia Saboya Gomes e Serys Slhessarenko e dos Srs. Senadores Geraldo Mesquita, Magno Malta, Papaléo Paes e Augusto Botelho, sendo que eu, Senadora Serys Slhessarenko, sou a Presidente do referido Conselho e o Senador Geraldo Mesquita é o Vice-Presidente.

O Senador Geraldo Mesquita, inclusive, pediu-me que tornasse público que esteve presente até há pouco, mas como é o Relator da Comissão de Ética e está havendo uma reunião com depoimentos, neste momento, S. Exª precisou ausentar-se.

Também gostaria de dizer que este Conselho foi há pouco constituído, em um esforço bastante significativo do Presidente José Sarney, e instalado ainda neste mês. E a definição da seleção desses currículos já foi feita por este Conselho, de uma forma bastante magnânima, em uma participação extremamente tranqüila de todas as Srªs e Srs. Senadores.

Às demais Senadoras e Senadores aqui presentes e que não fazem parte do Conselho, um agradecimento muito especial, porque só vamos superar a discriminação, a marginalização, enfim, todos os problemas que a questão de gênero enfrenta, com a participação de todos.

Como chegamos a este momento? Já foi dito aqui, o Conselho do Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz instalou-se, pela primeira vez, em 2001, sob a Presidência da nossa ex-Senadora, hoje Ministra, Emilia Fernandes, uma das nossas agraciadas. E assim vamos construindo a nossa história.

A premiação de 2003 é a segunda realizada. Foram analisados 33 currículos e não foi nada fácil escolher algumas mulheres em um universo de tantas que dedicam sua vida em prol de atividades coletivas na luta da questão de gênero.

Tenho certeza de que Emilia Fernandes, Nair Jane de Castro Lima, Nazaré Gadelha, Raimunda Gomes da Silva e Sueli Carneiro, aqui representada por Maria Aparecida da Silva, porque, neste momento, a Srª Sueli Carneiro está em Dallas, participando de um compromisso que havia assumido há bastante tempo, são mulheres lutadoras das causas colocadas, especialmente com relação às suas categorias.

Embora apenas cinco mulheres estejam sendo premiadas, elas representam todas as mulheres brasileiras. Assim, quero que essa premiação seja recebida por todas as mulheres que estão na luta do dia-a-dia, desde aquelas que estão criando seus filhos com a maior dificuldade, aquelas que estão lutando para ter o pão para dar a seus filhos, aquelas que estão em um patamar melhor de vida econômica, mas que, mesmo assim, estão abraçando lutas para defender os interesses coletivos, as necessidades e as aspirações da sociedade brasileira como um todo e, especialmente, com relação à questão da mulher. Tenho certeza de que ao premiarmos cada uma das cinco companheiras aqui presentes, estaremos premiando também todas as mulheres brasileiras.

Nós, mulheres, temos que lutar contra a discriminação dentro da família e no trabalho, lutar contra a violência - não vamos oferecer dados porque o tempo urge - e lutar para ter espaço político. E queremos espaço político, sim. Queremos e estamos buscando espaço político; ele ainda é bastante restrito. Temos esta certeza e esta clareza: ele é muito restrito. Basta vermos aqui no Senado: são 81 cadeiras, somos 9 mulheres. Há pessoas que falam: “Mas já cresceu, aumentou bastante”. Saiu do muito pouco para o quase nada. Somos 52% da sociedade e queremos, sim, participação política, mas para isso precisamos participar, estar dentro dos partidos políticos, e lutar política e internamente em cada partido pela adoção efetiva da Lei de Cotas, já que na realidade ainda há muita discriminação.

Essas questões precisam ser superadas, mas isso só será possível quando conseguirmos que homens e mulheres, de forma consciente e conseqüente, compreendam que, para que haja justiça, a questão do gênero tem de ser considerada e superada a discriminação contra a mulher em todos os setores.

Não podemos continuar nos submetendo, dentro da família, a toda espécie e forma de discriminação. Às vezes, o homem é considerado espetacular nas relações sociais, mas, dentro da família, discrimina a mulher, a oprime e, muitas vezes, é violento. E a violência não é só física, mas também a palavra mal usada, a falta de apoio, enfim, qualquer tipo de agressão à mulher. Ou mudamos as relações dentro da família, ou jamais construiremos uma sociedade diferente.

Por isso, conclamo mais uma vez homens e mulheres para mudarmos nossas relações na família, no trabalho, com nossos companheiros, com nossos amigos e, fundamentalmente, na política. Nós, mulheres, sabemos desenvolver políticas públicas, sim, e de forma politicamente correta para a maioria da sociedade. Nós que gestamos a vida, com certeza, queremos preservá-la mais do que ninguém ou tanto quanto todos. E, para preservar a vida, precisamos mudar as políticas públicas. Por isso, precisamos chegar ao poder político de igual para igual com os companheiros homens. Não queremos nem mais nem menos, queremos apenas ser iguais.

E, já encerrando, pois falei um pouco demais, gostaria de falar um pouco sobre a questão da guerra, tão insana e tão infame. Acreditamos até o último minuto que essa guerra, fruto e produto de uma mente doentia que desrespeitou e vem desrespeitando a humanidade inteira, não ia acontecer. O planeta inteiro está sendo desrespeitado pelo Presidente George W. Bush. E isso pode ter conseqüências para todos. Portanto, temos que continuar nos posicionando firmemente.

E essa tem sido a posição adotada, neste Senado da República, por uma grande parte das Srªs e dos Srs. Senadores, principalmente pelo nosso Presidente, Senador José Sarney. A postura que S. Exª vem assumindo, os discursos que vem fazendo neste plenário são dignos de serem lidos e devem ser divulgados a todos os brasileiros e a todos os Parlamentos do mundo, porque são muito firmes e muito determinados contra a guerra e pela paz.

Nós, mulheres, somos indistintamente contra a guerra, porque são os nossos filhos, os nossos netos, os nossos descendentes, aqueles que saíram de dentro de nós que estão correndo risco de vida, e não só agora, com esta guerra, mas no futuro, com as conseqüências que dela podem advir.

E não podemos ficar tranqüilos, porque ao declarar guerra ao Iraque como se fosse o dono do mundo, o Presidente dos Estados Unidos está mandando um recado para todos nós. Temos um problema muito sério pela frente: a nossa Amazônia.

Está sendo ensinado nos bancos escolares americanos que a Amazônia é dos americanos, que devem defendê-la de nós, brasileiros. Mas a nossa parte é nossa, e não vamos abrir mão dela.

Essa guerra tem um recado para nós também. Depois que o Presidente George Bush obter o combustível fóssil, assegurar a disputa do dólar com o euro e atender os interesses da indústria bélica, S. Exª poderá voltar-se para o Brasil e dizer: “A Amazônia é nossa”. E poderá virar seus mísseis para cá, ordenando-nos: “Fiquem calados e quietos, porque a Amazônia é americana”. E o que iremos fazer? Temos que nos levantar já, de todas as formas, contra essa guerra e pela paz. Nós, mulheres, que gestamos a vida, queremos continuar preservando a vida, com certeza.

Encerrando, quero fazer uma homenagem, em nome de Cristina Escher, esposa do juiz assassinado em São Paulo - e, agora, outro juiz foi assassinado no Espírito Santo - a todas as vítimas do crime organizado. Cristina Escher perdeu o marido de forma vil, covarde, infame, assassinado pelos bandidos do crime organizado. Não podemos perder essa guerra. A sociedade organizada tem que ser vitoriosa na luta contra o crime organizado. Temos que desorganizá-los. Com certeza, também vamos obter esta vitória.

E nós, mulheres, temos que continuar buscando, de forma convicta e determinada, uma sociedade melhor, justa, igualitária, uma sociedade em que o bem, a solidariedade e a fraternidade sejam os grandes valores.

Muito obrigada e um abraço carinhoso a todos e a todas.

(Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/03/2003 - Página 4928