Discurso durante a 34ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação de S.Exa. com o andamento da guerra no Oriente Médio, sobretudo pelo número de jornalistas mortos. (Como Líder)

Autor
Hélio Costa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MG)
Nome completo: Hélio Calixto da Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. IMPRENSA.:
  • Preocupação de S.Exa. com o andamento da guerra no Oriente Médio, sobretudo pelo número de jornalistas mortos. (Como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 09/04/2003 - Página 6586
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. IMPRENSA.
Indexação
  • MANIFESTAÇÃO, APREENSÃO, GUERRA, ORIENTE MEDIO, REPUDIO, ATENTADO, AUTORIA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), LOCAL, HOSPEDAGEM, IMPRENSA, MORTE, JORNALISTA.
  • CRITICA, IMPRENSA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), MANIPULAÇÃO, INFORMAÇÕES, OMISSÃO, VIOLENCIA, GRAVIDADE, CONFLITO, ORIENTE MEDIO, OPINIÃO PUBLICA, MANIFESTAÇÃO, SOLIDARIEDADE, JORNALISTA, VITIMA, GUERRA.

O SR. HÉLIO COSTA (PMDB - MG. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero expressar minha preocupação com o andamento da guerra no Oriente Médio, especificamente no Iraque, não apenas como Senador da República, mas sobretudo como velho jornalista que participou da cobertura de três delas.

Nas últimas horas, conforme todos vimos pela imprensa e, sobretudo, em detalhes pela Internet, um tanque americano mirou seu canhão contra o Palestine Hotel, no centro de Bagdá, matando três jornalistas. Já chega a doze o número de jornalistas mortos em menos de um mês, no conflito no Iraque.

Sr. Presidente, não tenho nenhum outro exemplo de tantas mortes de jornalistas em teatro de guerra, em tão pouco tempo. Nem no Vietnã aconteceu de, em menos de vinte dias, doze jornalistas morrerem, vítimas do fogo inimigo ou do fogo amigo, mas vítimas da guerra. Lamentavelmente, isso ocorre de forma, no mínimo, desabusada - eu diria -, porque, tendo participado de coberturas de teatro de guerra, é comum a concentração de todos os jornalistas em um hotel. Ainda recentemente, no ano passado, durante uma viagem a Israel que fiz representando a Câmara dos Deputados, ficamos hospedados no Hotel Jerusalém, onde ficavam todos os correspondentes de guerra do mundo. Essa já é uma forma de proteção usada pelo jornalista para que os dois lados da guerra saibam que, ali naquele hotel, estão os jornalistas que cobrem o conflito. Pois bem, na Guerra do Iraque, em Bagdá, os jornalistas estão todos hospedados no Palestine Hotel. Todos sabem que, naquele hotel, estão concentrados os jornalistas que fazem a cobertura. No entanto, foi exatamente contra esse hotel que se disparou um canhão de um tanque americano, sem nenhuma advertência.

Solicitada uma explicação ao comando militar, vem a informação mais inacreditável ainda: revidaram fogo inimigo. Ou seja, alguém, da janela do hotel, pode ter disparado alguma arma que entenderam como grande ameaça contra um tanque que possui um canhão poderosíssimo. E, infelizmente, o número de jornalistas mortos no conflito chegou a doze.

Já deixamos de entender, pela lógica dos acontecimentos, o que ocorre neste momento no Iraque. O apelo que o mundo faz é no sentido de que a guerra termine o mais depressa possível, poupando as vidas à mercê de situação tão lamentável. E é evidente que as maiores vítimas são as crianças e os velhos, aqueles que, não tendo como fugir do teatro de guerra, têm que permanecer. Ou, se tentam partir, são colhidos no fogo cruzado. É a situação assistida pelo mundo.

Na semana passada, na reunião da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal, que ouviu os Embaixadores dos Estados Unidos e da Inglaterra, fiz a observação de que a imprensa americana, notadamente, está fugindo a uma tradição testemunhada por mim durante os anos que vivi naquele país como jornalista, como correspondente.

A imprensa que se preza por dizer a verdade, por mostrar rigorosamente os fatos e por se ater a eles, nessa guerra do Iraque, está fugindo a essa obsessão com a verdade. Lamentavelmente, todos cobram que o povo americano não está vendo as cenas graves da guerra, mas apenas o seu sucesso. Tenho filhos que vivem nos Estados Unidos, que são cidadãos americanos, pois nasceram naquele país - um é médico, o outro, engenheiro -, e que lamentam também. A TV americana não está mostrando as cenas dramáticas e graves da guerra. São essas cenas que, na verdade, comovem as pessoas e que fazem a guerra terminar mais depressa, porque, quando vêem o sofrimento das pessoas e a tragédia que envolve um conflito dessas proporções, todos são movidos pelo desejo de vê-lo terminado.

Mas, infelizmente, não podemos antever o fim desse conflito. São tantas as manifestações de ordem econômica sobre o que se fará no Iraque depois da guerra, sobre a maneira como aquele país será administrado, sobre se terá um governo civil ou militar, sobre a influência ou não da ONU, sobre se os Estados Unidos indicarão um coordenador das ações administrativas no Iraque, mas o fato é que nada disso é muito relevante, quando vemos na televisão as cenas horripilantes e dolorosas da guerra: uma mãe procurando um filho, membros de uma família que se encontram no meio daquela tragédia imensa. Todos esses fatos levam-nos a pensar, cada vez mais, no que se pode fazer para que essa guerra termine o mais depressa possível.

Sr. Presidente, manifesto a preocupação como jornalista que passou anos e anos cobrindo acontecimentos internacionais, viajando o mundo inteiro, estando nas mais diversas situações de conflito internacional, no Líbano, em El Salvador, na Nicarágua, na Guatemala. Em todas essas ocasiões, em todos esses cenários de guerra, sempre nos deparamos com um fato absolutamente coerente em todas as situações: em qualquer guerra, em todas as guerras, a primeira vítima é sempre a verdade. Por essa razão que, como jornalista, lamento que hoje, nesse instante, com poucos dias dessa guerra - sequer faz um mês que se anunciou o seu início -, doze jornalistas, inclusive americanos, ingleses, franceses e espanhóis, todos no cumprimento do seu trabalho profissional, procurando informar aos seus países e ao mundo inteiro pela televisão, pelo jornal e pelo rádio, infelizmente foram colhidos e acabaram perdendo a vida.

            Mas o incidente de ontem é um pouco mais do que perder a vida num fogo cruzado. O incidente de ontem não se caracteriza como uma ação de guerra na realidade, porque ação de guerra é quando se vê um inimigo de um lado, e se está do outro lado e é abatido. Ali não. Naquela situação, não. Um hotel no centro da cidade, caracterizado por ser um hotel dos jornalistas que estavam cobrindo os conflitos, foi bombardeado, friamente bombardeado.

Portanto, Sr, Presidente, fica aqui a minha posição, o meu apelo para que possamos encontrar esse caminho que nos leve a contribuir de alguma forma para que essa guerra chegue ao fim.

Registro a minha solidariedade aos meus companheiros jornalistas que passam nesse momento as agruras de um conflito inexplicável, de difícil entendimento. Vemos a figura de um ditador, que realmente mostra ser um homem sem princípios, que leva o seu país a essa situação, e o outro líder, que se propõe a invadir um país sem o aval da ONU. Tudo isso deixa-nos extremamente preocupados.

Lamentavelmente, esse dado estatístico não encontro em nenhum outro conflito, em nenhuma outra cobertura de conflitos pela imprensa: 12 jornalistas que perdem a vida no exercício de sua função.

Fica aqui a minha palavra, a minha lembrança pelos companheiros que perderam a vida no Iraque.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/04/2003 - Página 6586