Discurso durante a 37ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Abordagem sobre a violência no Brasil.

Autor
Íris de Araújo (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Íris de Araújo Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Abordagem sobre a violência no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 15/04/2003 - Página 7704
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • COMENTARIO, GRAVIDADE, VIOLENCIA, BRASIL, COMPARAÇÃO, NUMERO, MORTE, VITIMA, ARMA DE FOGO, SUPERIORIDADE, PAIS ESTRANGEIRO, SITUAÇÃO, GUERRA.
  • ANALISE, MOTIVO, AGRAVAÇÃO, VIOLENCIA, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, AUMENTO, CONSUMO, DROGA, DESIGUALDADE SOCIAL, MISERIA, DESEMPREGO, DETERIORAÇÃO, VALOR, FAMILIA.
  • RECONHECIMENTO, IMPORTANCIA, RETOMADA, VALOR, ETICA, MORAL, FAMILIA, PAZ, SOCIEDADE, AUXILIO, PROGRAMA, COMBATE, FOME, DROGA, IMPUNIDADE, PAIS.

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, coincidentemente, o tema que abordarei agora diz respeito à violência. É um assunto de que temos tratado todos os dias, porque os fatos acontecem todos os dias. Mesmo que quiséssemos esquecê-los, não teríamos como fazê-lo, porque, a cada momento, a cada dia, sucedem-se, assombrosamente, fatos que nos entristecem e deixam-nos realmente pensativos.

Quando o Senador Garibaldi Alves Filho apresenta esse requerimento, reporto-me ao local do evento. Hoje, Senador Roberto Saturnino, o Rio de Janeiro é uma cidade sitiada e que perde o controle sobre o poder da cidadania. As balas “perdidas” atingem indiscriminadamente todos os bairros. Portanto, nós como agentes políticos temos que ter o pensamento seria e fortemente dirigido a tudo que está acontecendo, não só no Rio de Janeiro, mas também em todo o País.

A violência é o mal de todas as horas da sociedade brasileira e vai se tornando indomável, assustadora e brutal.

Sobre a questão, sobre suas peculiaridades e conseqüências, poderiam ser feitas diversas abordagens analíticas.

Poderíamos, por exemplo, lamentar a quase passividade com que contemplamos tamanha barbárie. A cada crime, a cada assassinato, a cada batalha de gangues, somos tomados de um sentimento de indignação. Chegamos, às vezes, a manifestar nossa inconformidade. Mas, infelizmente, nada mais que isso. É como se, qual a chuva, qual as árvores, a violência estivesse integrada à paisagem, num grau de penetração que já não admitisse intervenções.

Poderíamos tratar dos números que expressam a situação.

No Brasil, Srªs e Srs. Senadores, são cometidos 40 mil homicídios por ano.

Vejam bem: a cada ano, em nosso País, 40 mil pessoas são assassinadas. E observem que não estão incluídos nesse total os números da violência aparentemente não intencional: aquela do trânsito, por exemplo. Falo aqui unicamente dos homicídios perpetrados com as armas leves, tais como revólveres, facas e instrumentos contundentes.

Pois bem! Somente nesse caso, o de crimes praticados com armas leves, o Brasil perde 40 mil de seus filhos por ano. É um número aterrador. Maior que o de nações onde ocorrem conflitos armados, como a Colômbia e a Palestina.

E tão aterrador que talvez dispensasse outros dados estatísticos como o de que, em paralelo aos mortos, dezenas de milhares de feridos tornam-se física ou mentalmente incapacitados; ou o de que nosso País consome R$25 bilhões por ano (ou 2% de seu Produto Interno Bruto) somente com as despesas de saúde das vítimas da violência.

Por isso, mais que lamentar o fenômeno da violência ou caracterizar os seus contornos, cumpre-nos aqui identificar os fatores que lhe dão origem e, a partir daí, sem tardança, falar das providências necessárias.

Em primeiro lugar, não há como fugir ao fato de que grande parte da violência é fruto de nossas desigualdades sociais, - e nós sabemos disso, pois já foi cantado em prosa e verso muitas vezes - da convivência entre riqueza ostensiva e miséria degradante.

A miséria, todos nós sabemos, é a fonte permanente da revolta e do rancor e mais facilmente leva à contravenção e ao crime os deserdados da fortuna. Desse modo, o combate à fome haverá de ser sempre premissa básica para a construção de uma sociedade mais humana.

Assim, ao colocar a questão da fome como tema prioritário, o Brasil faz mais que atender aos apelos de sobrevivência de grande parte da população; dá, certamente, um passo decisivo no caminho da redução da violência.

Mas na miséria, também sabemos, não vamos encontrar a origem isolada de nossos desajustes sociais. E essa constatação é ainda mais cristalina quando observamos que muitos dos casos de violência, que tanto nos assombram, são protagonizados por pessoas de classes mais favorecidas.

É aqui, exatamente aqui, que encontramos outras causas. Vale a pena lembrar os últimos crimes de mortes de pais assassinados por filhos e vice-versa. Quando digo filhos e pais no plural, refiro-me ao fato de que um ou outro caso sai nas manchetes dos jornais e esses nós acompanhamos pari passu, às vezes até com curiosidade mórbida - diria - de tomar conhecimento do fato, de querer saber mais um pouco sobre ele e por que estará acontecendo. E os outros que acontecem no dia-a-dia por este País afora e que não ganham as manchetes nacionais?

As drogas, por exemplo. Na busca obstinada de dinheiro para garantir a aquisição, e mesmo nas alucinações decorrentes do consumo, está a explicação de muitos crimes. Portanto, ataquemos com vigor as drogas; ataquemos com vigor a impunidade.

O problema, porém, é que todas essas causas e providências, e volto a ressaltar a importância que lhes atribuo, não chegam ao âmago da questão.

Na verdade, Srªs e Srs. Senadores, só entenderemos completamente a gênese da violência que tenta dominar nossa sociedade se formos buscar suas causas na deterioração dos valores da família.

É na família, e em nenhuma outra entidade, que encontraremos os valores éticos, afetivos e humanos capazes de libertar-nos dessa onda de violência. Esses valores têm sido aviltados pela desagregação das estruturas familiares, pela pouca convivência entre pais e filhos, pela banalização da agressividade em programas de televisão, por uma cultura que resume a realização de ser humano à conquista de bens materiais, pelo gradativo abandono dos elementos espirituais e, enfim, pelo afastamento de Deus.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não nos enganemos. Na retomada dos valores da família, no carinhoso dia-a-dia dos lares, na correta assimilação de conceitos como amor, paz e harmonia, estará a chave de nosso sucesso no combate à violência.

Se tantas medidas efetivamente necessárias e urgentes - o combate à forme, às drogas e à impunidade - chegam ao corpo e à cabeça das pessoas, os valores da família, com toda a certeza, chegam ao coração.

Retomemos tais valores - é tudo o que lhes peço - em nossas casas, nas escolas de nossos filhos, em nossos ambientes de trabalho. nos programas de televisão que atingem todos os lares, na vida comunitária. Retomemos tais valores e, certamente, veremos o Brasil inserido entre as nações felizes e justas.

Eram essas as considerações que eu gostaria de tecer.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/04/2003 - Página 7704