Discurso durante a 49ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio à matéria veiculada em programa do PT do Distrito Federal relativa ao seu afastamento do governo do Piauí.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL. ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO MUNICIPAL.:
  • Repúdio à matéria veiculada em programa do PT do Distrito Federal relativa ao seu afastamento do governo do Piauí.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Ney Suassuna, Ramez Tebet.
Publicação
Publicação no DSF de 07/05/2003 - Página 9595
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL. ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO MUNICIPAL.
Indexação
  • COMENTARIO, ATIVIDADE POLITICA, ORADOR, CAMPANHA ELEITORAL, VITORIA, ELEIÇÃO, GOVERNADOR, ESTADO DO PIAUI (PI), SENADOR.
  • ESCLARECIMENTOS, PROCESSO JUDICIAL, CASSAÇÃO, ORADOR, EX GOVERNADOR, ESTADO DO PIAUI (PI), VITORIA, DEMOCRACIA, ELEIÇÃO, SENADO.
  • SOLICITAÇÃO, RECURSOS, GOVERNO FEDERAL, MINISTERIO DA SAUDE (MS), MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), FUNCIONAMENTO, HOSPITAL ESCOLA, UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUI (UFPI), BENEFICIO, SAUDE PUBLICA, ESTADO DO PIAUI (PI), REGIÃO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Eduardo Siqueira Campos, Senador pelo Tocantins, Srªs e Srs. Senadores, brasileiros e brasileiras que nos assistem, aqui ou pela TV Senado, minhas primeiras palavras são de agradecimento. Entendo que a gratidão é a mãe de todas as virtudes. Portanto, agradeço a esse grande Líder do Partido dos Trabalhadores, Senador Tião Viana, de perspectivas invejáveis na política do seu Estado e do Brasil.

Derrotado como candidato a Governador do Distrito Federal por duas vezes, e com a minha participação, na primeira vez, o Senador Cristovam Buarque apoiou o candidato que eu derrotei e foi no Piauí fazer campanha. E, como é do meu feitio, vim a Brasília fazer campanha pelo candidato do PMDB, o extraordinário homem público, empreendedor que revive Juscelino Kubitschek, Joaquim Roriz.

Da primeira vez, vim porque o Cristovam Buarque foi lá. Ele tinha pouco conhecimento de que a segunda maior colônia de brasileiros que construiu Brasília é a dos piauienses - a dos mineiros é a maior. E ele ganhou no primeiro turno e perdeu depois. Perdeu com o nosso apoio e o dos piauienses. Nós escolhemos o trabalho de Roriz, o progresso, a generosidade de acolher os nordestinos.

E, reeleito Governador do Estado do Piauí, enfrentei um processo judicial. As primeiras eleições saíram da minha cidade, Parnaíba, a maior cidade do Piauí. Consegui 93,84% dos votos na minha cidade. Foi a maior votação dada a um cidadão em pleitos semelhantes. Juscelino Kubitschek teve em Diamantina e Ronaldo Cunha Lima, na Paraíba, teve votação inferior. O meu Partido disse que esta foi a maior votação de um candidato a Governador na sua cidade: 93,84% dos votos - um candidato do PFL, um do Partido do Collor e outro do PT. Naquela primeira vez, o candidato da situação que foi derrotado por mim - da maior oligarquia da história do Piauí - tinha 145 prefeitos. Nós só tínhamos três Prefeitos. Vencemos a oligarquia e os poderosos que mandaram em Brasília e no Piauí por 50 anos. De 10 jornais, eles tinham nove e eu tinha um pequeno; de 57 emissoras, eles tinham 54 e eu, três; de cinco redes de televisão, eles tinham todas as cinco e nós, nenhuma, e ganhamos as eleições para Governador.

Esse esquema foi fortalecido pela nossa pujança, porque nós, do PMDB, aqui estamos e representamos o nosso Estado, com a coragem de Ulysses Guimarães, de Teotonio Vilela, de Tancredo Neves. Defendíamos a candidatura própria do PMDB, o maior partido deste País, pela beleza da sua histórica democratização, o que o Planalto não queria, não desejava e não deixou acontecer. O nosso Partido tinha excelentes, extraordinários, os melhores nomes: Pedro Simon, Senador símbolo das virtudes, que se iguala a Rui Barbosa; e o nosso ex-Governador de Minas Gerais, Itamar Franco. S. Exª chegou à conclusão de que eu seria o melhor companheiro para ele, com grande apoio dos Governadores do Nordeste, do PMDB, e me convidou para ser Vice-Presidente na sua chapa. Ele foi ao Piauí, e recebi ordens de não recepcioná-lo. Eu, como homem do Piauí, estava lá. S. Exª recebeu um título de cidadão, e eu o condecorei com a maior comenda. Por coincidência, havia uma reunião de vereadores, onde Itamar Franco anunciou a sua intenção de ser candidato e participar de nossa chapa. Paes de Andrade quis anunciar, mas não deixei.

Os derrotados, como esse candidato a Governador deste Distrito Federal, iniciaram um processo no Estado do Piauí. O resultado foi 6 a 1. E, nas vésperas, na calada da noite, essa Justiça brasileira fez conosco pior do que Pilatos, que lavou as mãos. Essa Justiça sujou as mãos e, no processo mais imoral, afastou-nos do Governo. Ramez Tebet acompanhou e tentou nos defender. Foi tão imoral que recorremos. Evandro Lins e Silva, o maior dos brasileiros, fora nos defender. Não adiantou, pois não houve direito de defesa. Era ordem do Governo Central que o PMDB ficasse submisso. Mas sou homem do Piauí, e Cristo me deu forças. Aprendi de Cristo que “os humilhados serão os exaltados e os exaltados serão humilhados”.

Sozinho, contra o PMDB nacional e do Estado, o PT sem nenhuma Prefeitura em 224 cidades do Piauí - das quais Deus me permitiu criar 76. São 224 cidades, e o PT não tinha Prefeito em nenhuma cidade, e nós vencemos as eleições.

Em política e na democracia, ensinei ao povo do Piauí que o povo é o poder, que é o povo quem julga. Não adiantam as opiniões de um candidato fracassado, frustrado, derrotado, do Distrito Federal. O povo é o poder. Aprendi na infância: “Não chores, meu filho; Não chores, que a vida é luta renhida: viver é lutar. A vida é combate, que os fracos abate, que os fortes, os bravos só pode exaltar”. Forte e bravo é o povo do Piauí.

Eu conhecia o povo do Piauí. Tivemos um interventor, João José da Cunha Fidié, de Portugal, que ia criar e fazer do Norte do País um País aliado à Portugal. Nós expulsamos esse português interventor em batalha sangrenta. Entendi que, numa batalha democrática, nós expulsaríamos o interventor americano. E como foi fácil! Minhas expectativas falharam. Pensei que haveria segundo turno, mas o povo do Piauí é forte e nos traz até aqui.

Aqui representamos com altivez esse povo, a quem agradecemos pelo apoio, primeiro, por nos terem trazido a esta Casa, dignificada por tantos piauienses, como Petrônio Portella, e sobretudo por termos conseguido derrotar duas vezes essas lideranças fracas do PT no Distrito Federal.

Estava inscrito e agradeço ao grande Líder Tião Viana, orgulho do Partido dos Trabalhadores. Sonhei em ser médico. Entendo que a Medicina é a mais humana das ciências, e o médico, o grande benfeitor da humanidade. Hoje sou Senador do Brasil e um médico. Todos levamos a nossa formação profissional para onde vamos - o advogado, o jornalista. Sou médico, e o médico busca a etiologia, a causa, o diagnóstico, para fazer o tratamento, e o diagnóstico já está feito: este País está doente, e muito doente. A principal doença é o desemprego. É contra Deus: “comerás o pão com o suor do teu rosto”; contra o apóstolo Paulo, que disse que quem não trabalha não merece ganhar para comer. Em conseqüência disso, vêm a violência e a insegurança.

O maior estudioso de política no mundo Norberto Bobbio, senador vitalício do Renascimento, na Itália diz que o mínimo que um governo tem a dar a seu povo é a segurança - segurança à vida, à liberdade e à propriedade.

Estamos no caos, porque não temos isso. O diagnóstico é feito por meio das pesquisas, que mostram que o terceiro grande mal é a saúde, conseqüência do desemprego e da violência. A saúde, conforme reza a Organização Mundial de Saúde, não é apenas ausência de doença ou enfermidade, mas o mais completo bem-estar físico, mental e social. Temos de combater o pauperismo.

E a saúde? A saúde vai muito mal - as pesquisas dizem. Como médico, digo que vai muito bem. O País avançou, sendo um dos países de Primeiro Mundo em ciências e técnicas da saúde. Está muito bem para quem tem dinheiro e pode pagar um plano de saúde, pois quem espera a saúde do governo está arrasado. E quero melhorar as coisas para o PT - Senador Tião Viana, atentai bem. Senador Eduardo Suplicy, o Piauí já ajudou muito o governo com Guariba, Acauã, fazendo marketing de bondade.

Quero dizer aos que me acusaram, aos que me afastaram - quatro itens -, que estamos aqui de cabeça altiva. Um era uma luz santa: eu pagava a luz dos pobres - quem gastava menos de 30 quilowatts. Orgulho-me também de ter dado sopa aos pobrezinhos: o primeiro restaurante popular foi construído no Piauí - a minha mulher Adalgisa, que me acompanha, tirou o batalhão de polícia e fez o primeiro restaurante popular. Garotinho e Mário Covas foram lá ver esse restaurante e se inspiraram nele. Não foi o PT não: o primeiro restaurante popular foi aberto em fevereiro de 1995 no Piauí.

Quanto a anistiar contas de água: anistiei mesmo, mas não foi por isso que ganhei não. A anistia que concedi é semelhante àquela que é concedida ao rico, que tira no banco o que precisa, não paga e depois parcela a sua dívida em dez anos. Eu fiz isso para os pobres do Piauí, parcelei as contas em dez anos - aqueles R$200,00 ou R$300,00, que são pouco para nós, representam muito para eles. Anistiei indistintamente.

Foi dito também que o governador doou remédios e, por isso, ele ganhou. Dei. Como médico, sempre dei e dei porque, na ditadura, criou-se um grande instrumento de saúde: os medicamentos da Ceme. O governo passado, equivocado, fechou o acesso dos pobres aos medicamentos, pois a Ceme fortalecia dezenas de laboratórios médicos nacionais, comprando ou fabricando, além de distribuir remédios que chegavam a todos os pobres. Dei mesmo remédio para os pobres - acho que dei até pouco! E foi o governo que tirou os remédios dos pobres que me cassou, mas o povo cassou os cassadores. Essa é a verdade, pois estamos aqui.

Interpus recurso que não foi julgado. O Supremo não julgou. Sempre confiei no povo. Eu dizia que o povo é o poder, e ensinei o povo do Piauí a cantar “Lula lá, Mão Santa cá”. Essa é a verdade. Tião Viana, o que me fez subir à tribuna não foi o desejo de me defender, pois já fui defendido pelo bravo povo do Piauí - eles fizeram a minha defesa e fizeram justiça. A voz do povo é a voz de Deus. Na democracia, é o povo. No entanto, Senador Tião, queria ler a seguinte carta e queria o seu auxílio, acreditando que V. Exª é a estrela do PT.

No Piauí tem um ambulatório de um hospital universitário começado em 1989, portanto há quatorze anos. Vários lutaram por ele. Quero vos dizer que venho aqui trazer um apelo ao PTB, ao PT de Lula, de Tião Viana, de Paim e de Mercadante relativamente a um hospital iniciado em 1989 - R$ 22 milhões investidos, 18.000 m² de área construída, quarenta ambulatórios. Esse hospital está parado porque não tem verba para custeio. A Universidade Federal, que existe há muitos anos, parasita os hospitais do Estado do Piauí.

O Piauí, na sua grandeza política e científica, é um dos mais avançados centros da medicina deste Brasil por uma razão: na ditadura, Vargas saiu indicando tenentes como interventores em todos os Estados brasileiros, mas o Piauí, diferentemente - o Piauí que me julgou e que represento -, não aceitou um militar, aceitou o médico Leônidas de Castro Mello, que, no Governo Vargas, implantou um majestoso centro hospitalar.

Enquanto a Universidade Federal parasita essas instituições, o Governo Federal está tonto, não consegue R$60 mil para o custeio daquele hospital, que é o maior centro médico da Região Norte.

Concedo aparte ao Senador do meu partido, Ramez Tebet.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Senador Mão Santa, quero me solidarizar com V. Exª, a quem admiro. V. Exª foi injustiçado, sim, por alguns, mas foi recompensado por seu povo, que V. Exª tão bem representa. V. Exª demonstra, no exercício do mandato que o Piauí lhe confiou, um acendrado amor a um dos menores Estados da Federação. Ao longo de todo o seu pronunciamento de hoje, ouvi quantas vezes - e com a boca cheia, com o coração naturalmente repleto de emoção - V. Exª proferiu o nome de seu Estado nesta Casa. Sua atuação tem se pautado pela compreensão dos problemas, pelo espírito humanitário que o caracteriza - esse espírito humanitário pude observar, como ministro, quando estive no Piauí; vi a alegria do povo com V. Exª. Hoje, seu discurso aborda temas sociais, começa dizendo que o desemprego é a razão de todos os outros males que existem em nosso País. Acabamos de passar por outro Primeiro de Maio. Antes pedia-se salário neste País, hoje se pede emprego. É o que V.Exª está a reclamar em nome da sua gente, em nome do povo brasileiro: mais emprego, mais saúde, melhor educação. V.Exª está de parabéns. Tenha a minha solidariedade pelas injustiças que sofreu recentemente. O Senador Tião Viana, com o espírito clarividente que tem, manifestou esse sentimento a que V. Exª se referiu, que é o sentimento da gratidão - sentimento que, no meu entender, também é a memória da alma. Mas a imagem já foi para o Brasil inteiro. Não poderia ter sido veiculado um programa citando o nosso Mão Santa. Não podia. Mão Santa é esse homem que está na tribuna; esse homem de coração humanitário; esse homem justo; esse homem que governou bem o Estado do Piauí; esse homem que, aqui, na Casa da Federação brasileira, luta pelos interesses do povo que o elegeu. Os meus cumprimentos a V.Exª.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu agradeço o aparte do Senador Ramez Tebet e passo a palavra ao Senador Ney Suassuna.

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Siqueira Campos. Fazendo soar a campainha.) - A Mesa esclarece a V.Exª que o seu tempo já se esgotou há quatro minutos. Gostaria de pedir aos aparteantes que colaborem com a Mesa e sejam breves em seus apartes, porque entraremos, logo a seguir, na Ordem do Dia.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Gostaria apenas, em nome do nosso partido, o PMDB, de prestar a V. Exª a nossa solidariedade e dizer que nós também ficamos chocados. Acreditamos, porém, que o Líder Tião Viana já deu uma explicação cavalheiresca neste plenário, explicação que, com toda a certeza, deve ter dado a V. Exª um pouco de satisfação, embora a dor da injustiça tenha magoado V.Exª. Reitero a nossa solidariedade, a solidariedade do PMDB.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço ao Senador Ney Suassuna o aparte e ao Sr. Presidente, a tolerância.

Concedo o aparte ao Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Mão Santa, de Brasília não podemos acompanhar todos os acontecimentos ocorridos no Piauí, onde uma decisão da Justiça encerrou o seu mandato de Governador antes do previsto. Mas não há dúvida de que o povo do Piauí lhe conferiu toda a legitimidade do mandato de Senador que vem exercendo com grande afinco, trazendo contribuições que têm levado todos nós a respeitá-lo. Na reta final das últimas eleições, V. Exª posicionou-se favorável à escolha do Governador Wellington Dias, bem como, no segundo turno, à escolha do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por essa razão, V. Exª também tem tido o respeito de nosso Partido no Piauí e no Brasil. Com respeito às formulações feitas por V. Exª, se avaliar como adequado que eu assine o ofício de V. Exª ao Ministro da Saúde em que pede ajuda para o hospital de Teresina, V. Exª poderá contar com o meu apoio. Meus cumprimentos a V. Exª.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço ao Senador Suplicy e incorporo suas palavras ao meu pronunciamento. Quero dizer que não foi no segundo turno que votei no Lula, mas no primeiro, e já na Convenção do PMDB votei nos dissidentes, no Requião.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Obrigado pelo esclarecimento.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Então, votamos no primeiro e no segundo turnos e queremos ser o Cireneu do Governador do PT, no Piauí, aquele que ajudou Cristo a carregar a cruz.

Agradeço ao Senador Tião Viana, Líder desse grandioso Partido, a sua bondade e a sua sensibilidade médica. Peço a S. Exª que nos encaminhe aos Ministros da Saúde e da Educação, porque esse é um hospital universitário, que, além de ajudar a população pobre, tem a competência de ensinar os estudantes da área de saúde.

Estas são as nossas palavras e termino com as de Deus e seu Filho, que diz: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/05/2003 - Página 9595