Discurso durante a 56ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao programa de desenvolvimento para região amazônica, lançado pelo Governo Lula.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Críticas ao programa de desenvolvimento para região amazônica, lançado pelo Governo Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 16/05/2003 - Página 11387
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, EXCESSO, PROPAGANDA, VISITA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REGIÃO AMAZONICA, AUSENCIA, LANÇAMENTO, PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO.
  • CRITICA, FALTA, REALIZAÇÃO, GOVERNO, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, ASSINATURA, PROTOCOLO.

            MENOS MARKETING, MAIS AÇÃO

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, na semana passada, referi-me neste plenário ao anúncio do lançamento, pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de um programa desenvolvimentista para a região amazônica. Seria na sexta-feira, mas, a julgar pelo que houve ali, tudo não passou de uma visita do chefe do Governo àquela área.

Pelo que veicularam aqui alguns nobres representantes da base política de apoio ao Governo, concluo que o Presidente, na verdade, ficou na intenção, pedindo um calendário e um plano para elaboração de um programa de desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Conforta constatar que, se é assim e se o futuro plano de desenvolvimento tiver seus fundamentos em experiências anteriores, isto é, ocorridas ao longo do período do Governo Fernando Henrique Cardoso, é possível que, dessas intenções, por enquanto muito mais uma estratégia de marketing, resulte de fato um programa fadado ao êxito. Estamos torcendo para isso.

Não somos, absolutamente, contrários a qualquer plano em favor da Amazônia, que, sem dúvida, favorece o próprio Brasil.

Só que, por enquanto, estamos na base do palavreado, algo como “construir um modelo de desenvolvimento diferente, diversificado e múltiplo”. Não são, por acaso, estereótipos, por meio dos quais, volta e meia, o atual Governo procura apregoar intentos?

Já seria tempo de o Presidente, em quem confio, se lançar mais decisivamente à ação, deixando de lado a onda marqueteira, que não vai além do ponto onde o vento encosta a folha seca. Pode ser que a onda marqueteira seja a quarta onda  ou a quinta onda. Mas não vai passar disso. Pura onda.

Já não teria chegado o momento de o Governo anunciar ações concretas?

Ainda há pouco, na segunda-feira, o nobre Senador Mão Santa alertou o Ministro dos Transportes quanto à precariedade das rodovias, que, do começo do ano para cá, se tornaram praticamente intransitáveis em quase todo o País. O ilustre Senador piauiense assinalou que “a fome que o Piauí tem hoje é de desenvolvimento, de obras concretas”. Ele acrescentou que seu Estado está cansado de servir de marketing para a generosidade do Governo, como corre em Guaribas e em Acauã, onde se iniciou o chamado Fome Zero.

Se não bastasse esse brado, outro piauiense, o Senador Alberto Silva, em aparte, prometeu consultar seu partido, o PMDB, para solicitar uma audiência ao Presidente da República e cobrar a recuperação das estradas.

Volto à Amazônia. E vejo que, na sua visita do final da semana, ao Acre, o Presidente Lula seguiu à risca o modelo do mais moderno marketing. Sempre se diz que, para protelar alguma coisa, por não se ter nada de concreto, basta inventar uma reunião ou assinar meia dúzia de protocolos de intenções.

Protocolos assim não faltaram. Foram assinados três deles, denominados “acordos de cooperação”, firmados com os governadores dos Estados do Acre, do Amazonas, do Amapá, de Rondônia e de Roraima.

Não conhecemos o texto desses acordos - e até gostaríamos de conhecê-los, para uma análise mais profunda -, mas, a julgar pelo que foi divulgado, não faltaram intenções, como a criação na Amazônia de assentamentos florestais, de um modelo de reforma agrária específico para a região, visando preservar o meio ambiente e explorar racionalmente os recursos naturais típicos dos Estados.

Não faltou também algo como a transformação(?) do Banco da Amazônia num instrumento de apoio ao desenvolvimento regional, como se não fosse essa a sua missão...

Mais um protocolo: para criar o Programa de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia.

O atual Governo vem sendo um excelente aprendiz de marketing, lançando, a toda hora, frases e frases ao vento, para que fiquem a devanear ao léu.

Uma frase é uma frase e pode até agradar, mas seus efeitos não duram mais do que o tempo de vida do ar posto artificialmente.

Nessa semana, a frase, lá no Norte, foi: “É o fim da era do país pensado a partir de Brasília”. Que tal pensar menos e realizar mais?

Até quando vamos continuar assistindo a tanto marketing?

Temos algumas verdades sobre a Amazônia, que sabemos ser uma região estratégica para o Brasil. Por isso, o Presidente Fernando Henrique Cardoso, que entendeu bem essa realidade, cuidou de implantar naquela área uma infra-estrutura capaz de, aí sim, servir de suporte para projetos e programas de desenvolvimento. Cito, por exemplo, o Sistema SIVAM, de alcance indiscutível como projeto de significação para a Amazônia e o Brasil - estratégico e necessário.

É uma pena que o atual Governo não aproveite bem, de uma vez para sempre, essa boa infra-estrutura herdada do período FHC, em vez de ficar ao vento, na suposição de que as bolhas sejam permanentes e o marketing duradouro.

Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/05/2003 - Página 11387