Discurso durante a 66ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Análise do Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Autor
Íris de Araújo (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Íris de Araújo Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. ECONOMIA NACIONAL.:
  • Análise do Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Publicação
Publicação no DSF de 30/05/2003 - Página 13711
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. ECONOMIA NACIONAL.
Indexação
  • AVALIAÇÃO, INICIO, GOVERNO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESTABILIDADE, ECONOMIA, VALORIZAÇÃO, REAL, CONTROLE, INFLAÇÃO, EXPECTATIVA, APROVEITAMENTO, OPORTUNIDADE, RETOMADA, CRESCIMENTO ECONOMICO, REDUÇÃO, JUROS, INCENTIVO, PRODUÇÃO.
  • COMENTARIO, DADOS, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), DESEMPREGO, RECESSÃO, COMERCIO, NECESSIDADE, PRIORIDADE, INVESTIMENTO, PRODUTO NACIONAL.

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, as oscilações da economia, no semestre final de 2002, alimentadas por preocupações desmedidas e infundadas a respeito da iminente vitória do operário Luiz Inácio Lula da Silva, mostraram-se desatinos, quando não meros artifícios eleitorais amplificados pelas forças que se opunham à ascensão de um projeto mais vigoroso no caminho das mudanças.

Esse projeto, Sr. Presidente, superando os efeitos nefastos das guerras e das oscilações negativas da economia global, gradativamente resgata nossa moeda, injusta e artificialmente desvalorizada. O dólar sobrevalorizado, esse inigualável desestabilizador, deu impulso à ciranda inflacionária, há muito contida às custas do esforço e da fiscalização dos brasileiros.

O que parece escandalizar é o fato de o novo governo ter optado pelo caminho da ortodoxia, lançando mão de terapias reconhecidamente clássicas, adotando um receituário de sabor amargo para, aos poucos, domar a mais cruel de todas as taxas: a inflação.

Sabemos, entretanto, que a desvalorização do real perante o dólar foi o incentivo principal para o crescimento da carestia e das dificuldades que levam desespero aos lares das famílias brasileiras. No olho do furacão, a iniciante equipe econômica lançou mão do artifício do juro para reprimir a demanda até que a moeda estrangeira cedesse em sua espiral ascendente.

Vivemos agora, poucos meses depois, um período de calmaria. As inquietudes dos homens do mercado financeiro foram aplacadas pela brisa de um projeto que se pretende contínuo e planejado. A queda do dólar alivia a pressão inflacionária. O vendaval não chega a atormentar como nos dias que precederam à posse do novo governo. Então, é o momento de aprofundar a rota - desta feita não mais na direção do sacrifício, mas de um atenuante que nos aponte a sonhada retomada do crescimento econômico com a conseqüente geração de emprego e renda.

É então chegada a hora, Srªs e Srs. Senadores, de se aplicar a segunda parte do plano. Faz-se imprescindível e urgente recolher a âncora dos juros nas alturas para desonerar a produção nacional, porque o Brasil quer trabalhar, crescer e se desenvolver.

Os efeitos colaterais do tratamento de choque intoxica o horizonte. A taxa de juros, ao reprimir o consumo, leva nossas empresas à agonia. Os números de nossa economia comprovam que é preciso, se não um cavalo-de-pau, ao menos um giro no timão. Dados do IBGE mostram que a ortodoxia, necessária porém recessiva, elevou o desemprego de 10,5% em dezembro para 12,4% em abril. A renda do brasileiro, na mesma rota, caiu 7,7% em relação a abril de 2002.

Incrédulos, técnicos do IBGE apresentaram resultado de um estudo em que revelam no comércio varejista o pior resultado registrado para o setor desde que a pesquisa foi iniciada, há dois anos. A queda, em março, foi de 11,31% se comparada ao mesmo mês de 2002. O resultado, opinam os especialistas, reflete o impacto negativo de fatores como juros altos e seu potencial de reduzir a demanda no mercado interno. A queda no volume de vendas do comércio também caiu 5,98% no primeiro trimestre do ano, ante igual período no ano passado. É sabido que o comércio é um dos grandes geradores de emprego no mercado de trabalho formal, o que torna esses números, por si sós, extremamente preocupantes.

No último dia 17, o jornal Estado de S.Paulo estampa nova triste notícia para nossa indústria, que aqui trago ao conhecimento de vossas excelências: “O cenário de juros altos, aliado à queda de renda do trabalhador, tem acentuado o recuo na demanda do mercado interno, e provocado desaceleração nos resultados de crescimento regional da produção industrial. Estes mesmo fatores já tinham impulsionado a queda de 3,4% na produção da indústria nacional, em março ante fevereiro, divulgado na semana passada pelo IBGE.”

Não bastassem esses, há outros sinais inquietantes, Sr. Presidente. O IGP-M, inflação no atacado medida pela Fundação Getúlio Vargas, mostra uma inversão benéfica, mas potencialmente catastrófica: dos 3,75% em dezembro despenca para a deflação em maio. É este um sintoma evidente da retração de nossa economia, de nossas forças produtivas, e de nosso Produto Interno Bruto.

Nesta quinta-feira, Sr. Presidente, o IBGE divulga os números de nosso Produto Interno Bruto. Alguns analistas, pessimistas ou realistas, projetam retração no primeiro trimestre de 2003.

Confesso-me uma neófita nos meandros acadêmicos da economia, aos quais deixo para os especialistas do Ministério da Fazenda. Mas obriga-me a minha origem e o meu histórico como cidadã ativa e presente no duro universo do povo amplificar a voz do trabalhador nos balcões de emprego, da dona de casa nas feiras livres, do produtor rural na fila da renegociação de seus débitos, do pequeno empresário assombrado pela concordata. Brasileiros que vivem a realidade econômica na sua forma mais cruel e que não compreendem como a política pode afetar tão diretamente sua expectativa de sobrevivência.

Trago aqui minha esperança que, tenho certeza, é a esperança do povo brasileiro, Sr. Presidente. Confiamos na equipe econômica do governo do Presidente Lula, na sua competência e visão, no seu desprendimento, sensibilidade e capacidade de prever novos vendavais. Mas gostaríamos de deixar aqui este alerta singelo e também a sugestão para que comecemos um processo gradativo de redução nas taxas de juros, tão fundamental para a retomada do nosso crescimento econômico, pelo bem de nossas empresas, pelo emprego de nossa gente e pelo futuro da nação dos brasileiros.

Este é um país com imensas potencialidades. Uma nação que possui um povo laborioso e trabalhador. Uma terra que produz frutos generosos. Está na hora, Srªs e Srs. Senadores, de acreditar no Brasil como resposta concreta aos nossos sonhos e aos nossos mais caros ideais.

Não viver apenas em função dos humores e das imposições de um mercado financeiro que mais parece um devorador virtual de nossas riquezas; não entrar como alienados no modismo da tal globalização que até agora só tem cumprido o propósito de tornar as nações ricas cada vez mais ricas e os países pobres cada vez mais pobres.

O que se necessita, de fato, de direito, de verdade, é nos voltarmos para o que temos de melhor: a produção nacional! O que se necessita é a determinação e a coragem de investir em nós mesmos, executando um projeto consistente de incentivos à mulher e ao homem trabalhador brasileiro para que, efetivamente, possamos dar aquele salto de qualidade que todos ansiamos; fazendo brotar da lavoura o alimento em abundância, investindo em nossa capacidade industrial, fomentando a pesquisa e criando mecanismos para o avanço tecnológico, colocando a educação em primeiro lugar, zelando pela saúde de nossos idosos, protegendo as nossas crianças do martírio das ruas, dando um basta à ousadia dos bandidos, à impunidade e à violência., plantando uma nova mentalidade na Nação brasileira, uma mentalidade de confiança, de fé, de determinação, de ousadia, de valentia, de esperança - de vitórias e de conquistas!

Era o que tinha dizer.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/05/2003 - Página 13711