Discurso durante a 87ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise do Governo Lula. O Governo deve estar atento a dados do IBGE para reverter a dívida social do País.

Autor
Íris de Araújo (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Íris de Araújo Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA SOCIAL.:
  • Análise do Governo Lula. O Governo deve estar atento a dados do IBGE para reverter a dívida social do País.
Publicação
Publicação no DSF de 01/07/2003 - Página 16670
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, DIFICULDADE, SITUAÇÃO, BRASIL, PERIODO, INICIO, GESTÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, RESULTADO, GOVERNO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, GRAVIDADE, CONTEXTO, POLITICA INTERNACIONAL, GUERRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • ANALISE, ESFORÇO, GOVERNO FEDERAL, ESPECIFICAÇÃO, ANTONIO PALOCCI, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), CONTROLE, FINANÇAS PUBLICAS, COMBATE, INFLAÇÃO, POSSIBILIDADE, REDUÇÃO, TAXAS, JUROS, EXPECTATIVA, RECUPERAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, PROMOÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, ELOGIO, POLITICA AGRICOLA, CONTRIBUIÇÃO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), CRIAÇÃO, EMPREGO.
  • DEFESA, AUMENTO, EMPENHO, GOVERNO FEDERAL, FUNCIONAMENTO, PROGRAMA, POLITICA SOCIAL, APRESENTAÇÃO, INFORMAÇÕES, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), GRAVIDADE, DESIGUALDADE SOCIAL, CONCENTRAÇÃO DE RENDA, BRASIL, EXPECTATIVA, PROVIDENCIA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMBATE, MISERIA, FOME.

           A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sra Presidente, Srªs e Srs. Senadores, numa segunda-feira, dia sempre sonolento para todos, para meu gáudio, assistimos a uma sessão extremamente interessante neste plenário. Senadores desfilaram por esta tribuna expondo suas opiniões, sugestões e críticas sobre o caminho que deve tomar este País pelas mãos do Presidente Lula.

Se eu fosse contar quantas vezes o nome do Presidente Lula foi citado deste púlpito, teria dificuldades em dizer o número, porque foram várias vezes. Confesso que eu também, no meu pronunciamento, irei citá-lo algumas vezes, o que é natural, porque enxergamos no Presidente a esperança da transformação deste País. O Presidente Lula saiu do seio do povo, da base. Alguns criticam o fato de Sua Excelência não ter uma formação acadêmica, mas talvez esse seja seu maior trunfo.

Se o Presidente Lula não teve aquela tradicional formação acadêmica, adquirida no banco das universidades, Sua Excelência obteve experiência durante o longo tempo em que percorreu este País, ao lado do povo, lutando e falando por ele. Isso o credencia e, ao mesmo tempo, confere a Sua Excelência uma responsabilidade que considero enorme e que - imagino - deve estar pesando sobre as suas costas: a grande esperança do povo brasileiro.

Sou uma Senadora que, desde o princípio, manifestei o meu temperamento: sou propositiva e vejo o que se passa à minha volta com olhos às vezes complacentes ou até muito misericordiosos.

Srªs e Srs. Senadores, como Lula, conheço muito as bases, conheço de perto o sentimento do meu povo. Não estou dizendo isso como se os outros Senadores não conhecessem os anseios da população - S. Exªs talvez conheçam muito mais do que eu.

Mas hoje, Sr. Presidente, abordarei, no meu pronunciamento, duas situações. Reconheço o que de bom já foi feito, o que de bom já ocorreu em seis meses e, ao mesmo tempo, com a responsabilidade que me cabe como Senadora, como representante não apenas do povo do Estado de Goiás, mas do povo brasileiro, até pela quantidade de e-mails que venho recebendo, graças a Deus - sinal de que meus pronunciamentos têm sido entendidos -, falarei sobre o que precisa ser feito - como disse recentemente o nobre Senador Mão Santa.

V. Exª, Senador Mão Santa, com sua experiência, capacidade e agilidade de raciocínio, tem o condão de transformar as sessões, que dificilmente são mornas com a presença de V. Exª. E é importante que assim seja, pois devemos estar alerta para o que ocorre à nossa volta.

Passo a ler o meu discurso, Sr. Presidente:

O ex-Governador do Distrito Federal, Professor Cristovam Buarque, hoje Ministro da Educação, é um otimista e define o atual momento brasileiro como uma conjuntura de criatividade nacional. Segundo S. Exª, com os resultados das últimas eleições, o País saiu do medo e passou a encarar a esperança. Afirma que, agora, depois de seis meses de Governo, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva já transformou a esperança em confiança e que, até o final do seu mandato, o Brasil que será entregue aos brasileiros deverá ser bem diferente daquele que recebeu no momento de sua posse.

Entendo que o Ministro Cristovam Buarque busca avaliar que o grande salto da confiança para realização da esperança virá na hora certa. Mas o momento é de apreensões, e a área econômica está sendo alvo de contestações que se intensificaram bastante nos últimos dias. O Ministro da Fazenda, Antonio Palocci, tem recebido críticas candentes e cotidianas de setores da imprensa e da ala mais radical do seu Partido. Como se não bastasse, o coro dos protestos ganhou novas adesões, e as duas últimas semanas foram pesadas para o Presidente Lula e para o Ministro Palocci.

Economistas de várias tendências, muitos inclusive pertencentes ao próprio Partido dos Trabalhadores (PT), vêm questionando os fundamentos macroeconômicos que estão sendo aplicados à economia brasileira, notadamente os que influenciam diretamente a manutenção dos juros elevados e os que submetem empresas, comércio e consumidores a grandes sacrifícios para garantir o nível de superávit primário acordado previamente com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Esses economistas argumentam que a política econômica do Governo é equivocada e estaria levando o País rapidamente a uma recessão. Estaria ainda agravando o desemprego, inibindo o dinamismo da indústria, sufocando o comércio, os agentes econômicos e os consumidores, impedindo a retomada do crescimento econômico e aprofundando ainda mais nossa submissão diante do capital especulativo internacional.

Segundo eles, para corrigir essas distorções, sete medidas deveriam ser tomadas urgentemente:1 - controle de capitais externos e do cambito em nível real às exportações; 2 - redução do superávit primário enquanto persistir o crescente desemprego; 3 - ampliação dos gastos públicos, preferencialmente em educação, saúde, segurança, assistência e habitação; 4 - redução da taxa básica de juros; 5 - investimentos públicos e privados em infra-estrutura, energia, logística e saneamento; 6 - manutenção dos incentivos às exportações; 7 - política de renda pactuada para controle da inflação.

Apesar de todas essas contestações, é importante ressaltar que, em momento algum, as autoridades econômicas do Governo declararam qualquer posicionamento favorável à manutenção da atual taxa de juros, que teve recentemente um tímido recuo de 0,5. Justiça seja feita, em diversas ocasiões, o Ministro Palocci tem tido a preocupação de explicar detalhadamente os motivos principais que o levaram a prescrever esse remédio amargo para a economia brasileira.

Se não me engano, entre eles, estava a grave situação da economia como um todo, que ficou mais visível nos últimos dois anos do mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo o Ministro, durante esse período, o Brasil quase quebrou. Lembra que, em outubro do ano passado, um dos meses mais críticos, a dívida brasileira equivalia a 62,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e hoje, graças aos resultados dos ajustes que foram feitos pelo atual Governo, baixou para 52,5%. Por sua vez, entre os meses de novembro e fevereiro passados, a inflação anualizada chegou a cerca de 40%. Entretanto, para os próximos 12 meses, o Governo espera contar com uma inflação pouco acima de 8% - e isso detalhou muito bem a Senadora Ideli Salvatti, que me antecedeu, em seu pronunciamento.

No que se refere à agricultura, as safras batem recordes, a produtividade está em alta e o uso de tecnologias de ponta está sendo cada vez mais comum. Hoje, o setor do agronegócio responde por 27% do Produto Interno Bruto (PIB) e por 37% dos empregos.

Em verdade, em apenas seis meses, muita gente e muitos formadores de opinião já se esqueceram de que o Presidente Lula recebeu um País economicamente à beira do colapso.

No apagar das luzes do Governo anterior, a economia viveu realmente momentos de grandes turbulências. Risco Brasil nas alturas, credibilidade externa abalada, queda importante no volume dos investimentos externos, prejuízos enormes com o agravamento da crise Argentina, descontrole das contas públicas, aumento da taxa inflacionária, desemprego em alta, abalo de grandes proporções nas estruturas do Mercado Comum do Cone Sul, o Mercosul, ameaça de guerra no Iraque, sem falar da crise econômica nas economias centrais da Europa e do anúncio de recessão na economia americana. Evidentemente, todos esses ingredientes altamente perigosos estavam à espera de Lula.

Logo que assumiu, o Presidente e sua equipe econômica trataram de reverter a grave situação que estava prestes a implodir toda a base de sustentação econômica do País. A partir daí, entre várias providências que foram tomadas, o controle das contas públicas e da inflação, e o cumprimento das metas acordadas com Fundo Monetário Internacional (FMI) estavam entre as primeiras prioridades.

Hoje, seis meses depois, apesar das enormes dificuldades que ainda vemos pela frente, não podemos desconhecer que o Ministro Palocci está conseguindo atravessar o vendaval e, brevemente - esperamos e rezamos para que isso ocorra -, poderá atracar o barco Brasil em águas menos agitadas. Pelo menos já estamos sentindo os ventos de “terra à vista”, como diziam os antigos navegadores depois de haverem enfrentado longos meses em mares revoltos.

Darei o aparte dentro de minutos, Senador Mão Santa.

O que a Nação espera, evidentemente, é a retomada do crescimento econômico, que possa definitivamente colocar freio à terrível taxa de desemprego que leva agonia e desespero aos lares de milhares de brasileiros. Dar um fôlego ao processo produtivo, com juros mais baixos e incentivos ao setor industrial, torna-se uma tarefa urgentíssima. Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, são inadiáveis medidas concretas para acudir os que não têm trabalho e lançar um conjunto de iniciativas capazes de minimizar os efeitos colaterais do medicamento que vem sendo aplicado no Brasil.

Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ninguém pode duvidar de que a credibilidade externa do Brasil melhorou significativamente desde a posse do Presidente Lula. O mesmo podemos dizer da retomada dos investimentos externos; da confiança restabelecida com o FMI; da vitória contra a volta da inflação; do reequilíbrio do Mercosul; da administração criteriosa de nossas contas internas e externas; da retomada do diálogo comercial com a América do Sul, notadamente com a Argentina; dos encontros com os americanos sobre a organização da Área de Livre Comércio das Américas (Alca); e de um maior relacionamento com a União Européia e com países chaves, como a Rússia, a China, a Índia e a África do Sul, que são parceiros fundamentais para o aumento das nossas exportações.

As críticas e os protestos, Srª. Presidente, são absolutamente próprios dos regimes democráticos e fundamentais para a correção de rumos. Mas somos obrigados a reconhecer que existiam poucas alternativas além da que está sendo aplicada neste momento. É uma realidade da qual não podemos fugir apenas com discursos ou com críticas, muitas vezes exigentes e demasiadamente exageradas em face da realidade nacional. Aliás, como diz o próprio Ministro Palocci, ninguém, mas ninguém mesmo, gosta de conviver com taxa básica de juros de 26% ao ano, muito menos a economia.

Por isso e pelos resultados favoráveis que vêm sendo divulgados, acreditamos que o momento dos juros altos está chegando ao fim. Aliás, esse mesmo entendimento já faz parte da agenda do próprio responsável pela condução da política econômica. Todavia, é preciso ter cautela, para não comprometer a ordem que está sendo colocada na casa e invialibilizar a plataforma que está sendo construída para permitir que o País possa crescer de maneira sustentável.

Estou observando o meu tempo e deixarei de lado uma parte do discurso para terminar com outra que acho importantíssima: o “calcanhar de Aquiles”.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Íris de Araújo, permite-me V. Exª um aparte?

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO) - Gostaria, Senador Mão Santa, de mencionar a minha visão do “calcanhar de Aquiles” do Governo, após o que eu ouviria V. Exª com muito prazer, porque tenho certeza de que o aparte de V. Exª complementará o que estou acabando de dizer.

Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o “calcanhar de Aquiles” do Brasil continua sendo a inadmissível dívida social que nos envergonha e que inviabiliza totalmente os nossos desejos de vir a ocupar posição de grandeza entre as nações mais modernas de nossa era. Na verdade, essa é a maior fraqueza brasileira, o maior obstáculo que nos impede de sair do chamado mundo subdesenvolvido e galgar a posição que nos cabe no cenário internacional, como a primeira Nação plenamente desenvolvida dos trópicos.

Em todo o mundo, o nosso País talvez seja o único que conseguiu, de maneira extremamente contraditória, integrar-se totalmente ao Ocidente e à sua cultura, aos costumes ocidentais e às práticas ocidentais diárias, porém carregando atrás de si uma vergonhosa miséria, uma exclusão social de níveis comparáveis aos países mais miseráveis do planeta.

Assim, ao mesmo tempo em que fabricamos aviões dotados de alta tecnologia, desenvolvemos pesquisas que já estão bastante avançadas na área de satélites, elevamos a agricultura brasileira aos mais altos patamares de produtividade e desenvolvimento tecnológico, fabricamos componentes sofisticados de computadores, dominamos as tecnologias mais avançadas do mundo em matéria de medicina de controle, notadamente no campo das doenças cardíacas, Aids e vários tipos de câncer, que continuam sendo os maiores causadores de óbitos em nosso País, vivemos ao lado de favelas infectas e de cortiços repugnantes, verdadeiras aberrações urbanas que hoje fazem parte da paisagem de qualquer metrópole do Terceiro Mundo.

Em relação ao avanço social do País, as notícias não são nada boas e, nesse quesito, o Governo Lula não tem realmente muito a comemorar. Ao contrário, daqui para frente, terá que assumir uma posição de maior firmeza em relação, por exemplo, ao tão badalado Programa Fome Zero que, até agora, ainda não conseguiu apresentar nenhum resultado concreto.

Como se não bastassem os diversos protestos contra a política econômica e as manifestações contra a reforma da Previdência Social, o Brasil precisa se preocupar especialmente com o último relatório do IBGE. O documento expõe de maneira fria e imparcial o quadro lamentável de nossa situação social, tema que é inclusive uma das maiores bandeiras do atual Governo.

Mais da metade da população economicamente ativa do País, 54,3%, não contribui para a Previdência Social. A renda dos 10% mais ricos representa 18 vezes a dos 40% mais pobres. A soma dos rendimentos dos muito ricos, ou seja, apenas 1% da população, equivale à soma dos 50% mais pobres.

Acredito que o estado de indigência e de pobreza que vitima cerca de 85 milhões de brasileiros deve tocar profundamente - como toca o nosso coração -o coração dos atuais dirigentes do Brasil. Além do choque dos números divulgados pelo IBGE, o Presidente Lula, nascido no agreste pernambucano, oriundo de família de camponeses muito pobres, conhece muito bem o drama da miséria, porque conviveu diretamente com a dor da fome. Por isso, continuo acreditando que o Programa Fome Zero dará certo e mostrará o resultado que o Brasil e o mundo esperam.

Uma vez que o nobre Senador Mão Santa não pôde apartear-me, gostaria de terminar lembrando algumas palavras ditas no início do seu discurso: “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. É preciso começar, fazendo!

Era o que tinha a dizer.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DA SRª SENADORA IRIS DE ARAÚJO.

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A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o ex-Governador do Distrito Federal, Professor Cristovam Buarque, hoje Ministro da Educação, é um otimista e define o atual momento brasileiro como uma conjuntura de criatividade nacional. Segundo ele, com os resultados das últimas eleições, o País saiu do medo e passou a encarar a esperança. Afirma que, agora, depois de seis meses de governo, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva já transformou a esperança em confiança e que, até o final do seu mandato, o Brasil que será entregue aos brasileiros deverá ser bem diferente daquele que recebeu no momento de sua posse.

Entendo que o Ministro Cristovam Buarque busca avaliar que o grande salto da confiança para realização da esperança virá na hora certa. Mas o momento é de apreensões e a área econômica está sendo alvo de contestações que se intensificaram bastante nos últimos dias. O Ministro da Fazenda, Antonio Palocci, tem recebido críticas candentes e cotidianas de setores da imprensa e da ala mais radical do seu Partido. Como se não bastasse, o coro dos protestos ganhou novas adesões, e as duas últimas semanas foram pesadas para o Presidente Lula e para o Ministro Palocci.

Economistas de várias tendências, muitos inclusive pertencentes ao próprio Partido dos Trabalhadores (PT), vêm questionando os fundamentos macroeconômicos que estão sendo aplicados à economia brasileira, notadamente os que influenciam diretamente a manutenção dos juros elevados e os que submetem empresas, comércio e consumidores a grandes sacrifícios para garantir o nível de superávit primário acordado previamente com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Estes economistas argumentam que a política econômica do Governo é equivocada e estaria levando o País rapidamente a uma recessão. Estaria ainda agravando o desemprego, inibindo o dinamismo da indústria, sufocando o comércio, os agentes econômicos e os consumidores, impedindo a retomada do crescimento econômico e aprofundando ainda mais nossa submissão face ao capital especulativo internacional.

Segundo eles, para corrigir essas distorções, sete medidas deveriam ser tomadas urgentemente: 1 - controle de capitais externos e do câmbio em nível real às exportações; 2 - redução do superávit primário enquanto persistir o crescente desemprego; 3 - ampliação dos gastos públicos, preferencialmente em educação, saúde, segurança, assistência e habitação; 4 - redução da taxa básica de juros; 5 - investimentos públicos e privados em infra-estrutura, energia e logística e saneamento; 6 - manutenção dos incentivos às exportações; 7 - política de renda pactuada para controle da inflação.

Apesar de todas estas contestações, é importante ressaltar que, em momento algum, as autoridades econômicas do Governo declararam qualquer posicionamento favorável à manutenção da atual taxa de juros, que teve recentemente um tímido recuo de zero vírgula cinco ponto. Justiça seja feita, em diversas ocasiões, o Ministro Palocci tem tido a preocupação de explicar detalhadamente os motivos principais que o levaram a prescrever esse remédio amargo à economia brasileira.

Se não me engano, entre eles, estava a grave situação da economia como um todo, que ficou mais visível nos últimos dois anos do mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo o Ministro, durante esse período, o Brasil quase quebrou. Lembra que, em outubro do ano passado, um dos meses mais críticos, a dívida brasileira equivalia a 62,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e hoje, graças aos resultados dos ajustes que foram feitos pelo atual Governo, baixou para 52,5%. Por sua vez, entre os meses de novembro e fevereiro passados, a inflação anualizada chegou a cerca de 40%. Entretanto, para os próximos 12 meses, o Governo espera contar com uma inflação pouco acima de 8%. Mais ainda, o Governo afirma que conseguiu reduzir o déficit em transações correntes para 4 bilhões de dólares ao ano, contra os 33 bilhões de dólares registrados cinco anos atrás.

No que se refere à agricultura, as safras batem recordes, a produtividade está em alta e o uso de tecnologias de ponta está sendo cada vez mais comum. Hoje, o setor do agronegócio responde por 27% do Produto Interno Bruto (PIB), e por 37% dos empregos.

Em verdade, em apenas seis meses, muita gente e muitos formadores de opinião já se esqueceram de que o Presidente Lula recebeu um País economicamente à beira do colapso.

No apagar das luzes do Governo anterior, a economia brasileira viveu realmente momentos de grandes turbulências. Risco Brasil nas alturas, credibilidade externa abalada, queda importante no volume dos investimentos externos, prejuízos enormes com o agravamento da crise Argentina, descontrole das contas públicas, aumento da taxa inflacionária, desemprego em alta, abalo de grandes proporções nas estruturas do Mercado Comum do Cone Sul, o Mercosul, ameaça de guerra no Iraque, sem falar da crise econômica nas economias centrais da Europa, e do anúncio de recessão na economia americana. Evidentemente, todos esses ingredientes altamente perigosos estavam à espera de Lula.

Logo que assumiu, o Presidente e sua equipe econômica trataram de reverter a grave situação que estava prestes a implodir toda a base de sustentação econômica do País. A partir daí, entre várias providências que foram tomadas, o controle das contas públicas e da inflação, e o cumprimento das metas acordadas com o Fundo Monetário Internacional (FMI) estavam entre as primeiras prioridades.

Hoje, seis meses depois, apesar das enormes dificuldades que ainda vemos pela frente, não podemos desconhecer que o Ministro Palocci está conseguindo atravessar o vendaval e, brevemente, poderá atracar o barco Brasil em águas menos agitadas. Pelo menos já estamos sentindo os ventos de “terra à vista”, como diziam os antigos navegadores depois de haverem enfrentado longos meses em mares revoltos. O que a Nação espera, evidentemente, é a retomada do crescimento econômico, que possa definitivamente colocar freio à terrível taxa de desemprego que leva agonia e desespero aos lares de milhares de brasileiros. Dar um fôlego ao processo produtivo, com juros mais baixos e incentivos ao setor industrial, torna-se uma tarefa urgentíssima. São inadiáveis medidas concretas para acudir os que não têm trabalho e lançar um conjunto de iniciativas capazes de minimizar os efeitos colaterais do medicamento que vem sendo aplicado ao Brasil.

Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Senadores, ninguém pode duvidar de que a credibilidade externa do Brasil melhorou significativamente desde a posse do Presidente Lula. O mesmo podemos dizer da retomada dos investimentos externos; da confiança restabelecida com o FMI; da vitória contra a volta da inflação; do reequilíbrio do Mercosul; da administração criteriosa de nossas contas internas e externas; da retomada do diálogo comercial com a América do Sul, notadamente com a Argentina; dos encontros com os americanos sobre a organização da Área de Livre Comércio das Américas (Alca); e de um maior relacionamento com a União Européia e com países-chaves como a Rússia, a China, a Índia e a África do Sul, que são parceiros fundamentais para o aumento das nossas exportações.

As críticas e os protestos, Senhor Presidente, são absolutamente próprios dos regimes democráticos e fundamentais para a correção de rumos. Mas somos obrigados a reconhecer que existiam poucas alternativas além da que está sendo aplicada neste momento. É uma realidade da qual não podemos fugir apenas com discursos ou com críticas, muitas vezes exigentes e demasiadamente exageradas em face da realidade nacional. Aliás, como diz o próprio Ministro Palocci, ninguém gosta de conviver com taxa básica de juros de 26% ao ano, muito menos a economia.

Por isso, e pelos resultados favoráveis que vêm sendo divulgados, acreditamos que o momento dos juros altos está chegando ao fim. Aliás, esse mesmo entendimento já faz parte da agenda do próprio responsável pela condução da política econômica. Todavia, é preciso ter cautela, para não comprometer a ordem que está sendo colocada na casa e inviabilizar a plataforma que está sendo construída para permitir que o País possa crescer de maneira sustentável.

Apesar de o País estar mergulhado em uma grave crise econômica, e os resultados sociais divulgados há pouco pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) serem pouco animadores, o Presidente Lula, de acordo com os institutos de pesquisas, continua com altos índices de popularidade.

Além disso, no cenário internacional, não podemos negar que o Presidente tem conseguido importantes avanços. Com desenvoltura e com competência, chamou a atenção dos plenários nos vários encontros internacionais importantes a que compareceu. Nos países que visitou até agora na América Latina, sua presença foi igualmente marcante. Na Europa, ele vem se colocando como porta-voz natural dos chamados países de economias emergentes. Na Casa Branca, com o Presidente George W. Bush, as discussões avançaram a respeito da polêmica implantação da Alca.

A grande estratégia internacional do Presidente Lula é, inegavelmente, firmar uma posição de liderança do Brasil na América do Sul, na América Latina e no chamado Terceiro Mundo; reforçar os laços entre todos países que abrangem; aproximar-se mais da Rússia, da China, da Índia e da África do Sul; fortalecer e expandir as fronteiras do Mercosul; e estabelecer um bom relacionamento com os Estados Unidos e com a União Européia.

Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Senadores, o “Calcanhar de Aquiles” do Brasil continua sendo a inadmissível dívida social que nos envergonha, e que inviabiliza totalmente os nossos desejos de vir a ocupar posição de grandeza entre as nações mais modernas de nossa era. Na verdade, essa é a maior fraqueza brasileira, o maior obstáculo que nos impede de sair do chamado mundo subdesenvolvido e galgar a posição que nos cabe no cenário internacional, como a primeira nação plenamente desenvolvida nos trópicos.

Em todo o mundo, o nosso País talvez seja o único que conseguiu, de maneira extremamente contraditória, integrar-se totalmente ao Ocidente e à sua cultura, aos costumes ocidentais e às práticas ocidentais diárias, porém carregando atrás de si uma vergonhosa miséria, uma exclusão social de níveis comparáveis aos países mais miseráveis do planeta.

Assim, ao mesmo tempo em que fabricamos aviões dotados de alta tecnologia, desenvolvemos pesquisas que já estão bastante avançadas na área de satélites, elevamos a agricultura brasileira aos mais altos patamares de produtividade e desenvolvimento tecnológico, fabricamos componentes sofisticados de computadores, dominamos as tecnologias mais avançadas do mundo em matéria de medicina de controle, notadamente no campo das doenças cardíacas, aids e vários tipos de câncer, que continuam sendo os maiores causadores de óbitos em nosso País, vivemos ao lado de favelas infectas e de cortiços repugnantes, verdadeiras aberrações urbanas que hoje fazem parte da paisagem de qualquer metrópole do Terceiro Mundo.

Em relação ao avanço social do País, as notícias não são nada boas e neste quesito o Governo Lula não tem realmente muito a comemorar. Pelo contrário, daqui para frente, vai ter de assumir posição de maior firmeza em relação, por exemplo, ao tão badalado programa “Fome Zero”, que, até agora, ainda não conseguiu apresentar nenhum resultado concreto.

Como se não bastassem os diversos protestos contra a política econômica e as manifestações contra a reforma da Previdência Social, o País precisa se preocupar especialmente com o último Relatório do IBGE. O documento expõe de maneira fria e imparcial o quadro lamentável de nossa situação social, tema que é inclusive uma das maiores bandeiras do atual Governo.

Mais da metade da população economicamente ativa do País, 54,3%, não contribui para a Previdência Social. A renda dos 10% mais ricos representa dezoito vezes a dos 40% mais pobres. A soma dos rendimentos dos muito ricos, ou seja, apenas 1% da população, equivale à dos 50% mais pobres.

Acredito que o estado de indigência e de pobreza que vitima cerca de 85 milhões de brasileiros deve tocar profundamente o coração dos atuais dirigentes do Brasil. Além do choque dos números divulgados pelo IBGE, o Presidente Lula, nascido no agreste pernambucano, oriundo de família de camponeses muito pobres, conhece muito bem o drama da miséria, porque conviveu diretamente com a dor da fome. Por isso, continuo acreditando que o Programa Fome Zero dará certo e mostrará o resultado que o Brasil e o mundo esperam. Mas é preciso começar, fazendo!

Era o que tinha a dizer!

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/07/2003 - Página 16670