O ESPETÁCULO CORRE O RISCO DE ADIAMENTO

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em tempo de muitas promessas, que o Governo ecoa a bandeiras despregadas, o grave risco é apregoar por apregoar, isto é, sem um sólido fundamento como base. É o caso do chamado espetáculo do desenvolvimento, que o Presidente garantiu com começo e data certos, o mês de julho, que já vai correndo solto.

No mínimo, está faltando implementar a infra-estrutura sobre o qual deve trilhar o tão decantado, e necessário, crescimento. Por exemplo, os juros permanecem em patamar elevado e, segundo estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, divulgado hoje, “os juros reais ameaçam o espetáculo do crescimento esperado pelo Governo.”

Seria preferível que o Presidente Lula tivesse sido mais comedido, sem prejuízo, porém, de se manter otimista. É que, na verdade, a diferença entre a taxa Selic e a inflação projetada - que resulta na taxa real de juros - supera o rendimento médio anual que, como analisa o jornal O Estado de S.Paulo, tiveram os setores produtivos brasileiros desde 1995.

Como exemplo, o estudo, realizado pelo professor Celso Funcia Lemme, da UFRJ, adverte que o juro real supera os 17%, enquanto o maior retorno anual, o do setor farmacêutico, foi de 14%. Portanto, crescimento zero.

Também seria muito bom que o Presidente pudesse se orientar por estudos sérios, como esse, antes de fazer os anúncios de que tanto gosta. Os juros elevados, que vigoram hoje no País, representam um desestímulo ao investimento produtivo.

Por isso, o professor Lemme vem ao encontro do que já sustentei neste plenário: os juros altos afastam qualquer perspectiva de retomada do desenvolvimento. Com o risco agregado de aprofundamento da recessão.

Repito, usando palavras do professor da UFRJ, “os juros inviabilizam qualquer espetáculo”, mesmo que seja o do Presidente. Infelizmente, é a verdade.

Prossigo no assunto, para aqui mencionar também o artigo do jornalista Joelmir Beting, para quem, “com a perda de 14,2% na renda e de 12,8% no emprego, temos que o espetáculo do crescimento do governo Lula, promessa de batismo renovada na semana passada, vai ter de explicar-se na altura do Natal por um índice de crescimento real por habitante igual a zero.”

Aquele jornalista, especializado em economia, alerta que o País não vai conseguir sair da “retranca suicida em que se meteu, por sua própria conta e risco. Pelo menos, enquanto o governo Lula deixar-se ficar, também ele, refém de uma política monetarista equivocada, feita de overdose de arrocho monetário, convertido em mal necessário.”

Joelmir Betting cita também a recente projeção do Banco Central para o PIB 2003, com “um raquítico desempenho de 1,5%”. E sentencia:

“O primeiro ano do Governo Lula está literalmente queimado para a bandeira eleitoral do partido salvacionista. Agora, o governo do PT tem apenas três anos para arranjar 10 milhões de empregos novos (10 milhões e 600 mil, acrescento eu, se levarmos em conta o índice de desemprego), dobrar o valor real do salário mínimo, matar a fome de milhões de patrícios e encenar o espetáculo do crescimento duradouro - com austeridade fiscal e estabilidade monetária.”

Essa deveria ser a preocupação do governo. E o que temos visto não é nada disso. Preocupam-se os petistas em punir a brava senadora Heloísa Helena, tentando impor-lhe a mordaça, e, enquanto isso, a tensão no meio rural continua crescendo. Entre os governistas, a indiferença marca os passos do governo Lula, que agora já até sonha alto com resultados positivos nas urnas das eleições municipais do próximo ano.

Era o que tinha a dizer.