Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comportamento do PMDB frente ao governo lula.

Autor
Íris de Araújo (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Íris de Araújo Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Comportamento do PMDB frente ao governo lula.
Aparteantes
Alberto Silva.
Publicação
Publicação no DSF de 10/07/2003 - Página 17630
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, LEITURA, TRECHO, DISCURSO, POSSE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RECONHECIMENTO, IMPORTANCIA, ESTABELECIMENTO, DIALOGO, DIVERSIDADE, SETOR, SOCIEDADE.
  • COMENTARIO, HISTORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), DISPOSIÇÃO, LEGENDA, APOIO, GOVERNO FEDERAL, INICIATIVA, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO, RETORNO, CRESCIMENTO ECONOMICO.

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, recorro ao discurso de posse do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva para as devidas correlações com esse momento efervescente que vivemos hoje, seis meses depois.

Sem meias palavras, o Presidente dizia: “Meu Governo terá a marca do entendimento e da negociação. Da firmeza e da paciência (...) Continuaremos a ter atuação decidida no sentido de unir as diversas forças políticas e sociais para construir uma Nação que beneficie o conjunto do povo. Vamos promover um pacto nacional pelo Brasil (...) e escolher os melhores quadros para fazer parte de um Governo amplo, que permita iniciar o resgate das dívidas sociais seculares”.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no momento em que o País se vê diante da ameaça de enveredar por uma crise política de graves proporções, em função dos últimos acontecimentos no cenário nacional, basicamente representado pelo conflito no campo, essas palavras ditas pelo Presidente, no início de sua gestão, soam como uma espécie de profecia que precisa, como nunca, se cumprir agora, quando brotam as angústias e incertezas a respeito do futuro da Nação.

Desde a minha estréia nesta tribuna, há pouco mais de quatro meses, tenho sido voz insistente e perseverante no sentido de fazer cumprir esse que é o único caminho viável para um país com tanta diversidade como o Brasil: o caminho do dar as mãos, da ação coletiva, da cooperação, do agrupamento de esforços para domar as dificuldades e construir o verdadeiro crescimento, que nada mais é do que o repartir justo e digno das riquezas produzidas por todos.

O Presidente Lula falou, nos primórdios, em governar com as diversas forças políticas e sociais, bem como em promover um pacto nacional pelo Brasil. Agora que a realidade vem com toda a intensidade de sua crueza, agora que os arautos do confronto ampliam seus espaços, creio que finalmente chegou a hora de se apostar para valer nesse projeto, que, sem dúvida, representa a vontade maior de nosso povo.

Pertenço a um partido que construiu a sua trajetória com uma coerência ímpar, mas muitas vezes pouco reconhecida pelos agentes públicos! O que é a coerência ímpar do PMDB? Em todos os momentos da vida nacional, independentemente das incompreensões e das acusações fúteis, essa legenda jamais se furtou a realmente colaborar para que a governabilidade se viabilizasse, para que as instituições fossem integralmente respeitadas, para que a Nação pudesse dar um passo à frente a partir do imprescindível equilíbrio e maturidade.

O PMDB sempre atuou dentro dos intocáveis padrões democráticos e jamais se deixou levar pelos caminhos de fogo; antes, procurou impedir qualquer tentativa que, de repente, acabasse por levar a Nação a um cenário de mais tormenta ou dor.

Muitas vezes, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o PMDB se apresenta, sim, disposto ao sacrifício e à remissão, a fim de que o Brasil possa cumprir as suas etapas históricas dentro da possível normalidade, o que significa permitir ao seu povo a paz social, para que encontre um lugar ao sol no processo produtivo, para ver atendidas as suas necessidades básicas, para que, enfim, prospere a cidadania como expressão maior das relações sociais realmente justas.

Faço essas observações porque estamos no início de um perigoso debate, na medida em que se busca maximizar situações que podem ser naturalmente controladas por meio da única via admissível no sistema democrático, que é o diálogo, o entendimento e a razão.

É bem verdade que a economia brasileira vive momento de estagnação, de retração dos investimentos, de desemprego em alta. Os excessos da política monetária naturalmente produziram efeitos colaterais próprios da administração em altas dosagens do medicamento aplicado, mas também não é verdade que estejamos à porta do caos. Como contrapartida ao cenário da estagnação, o dilema inflacionário parece ter sido domado, a alta desenfreada do dólar cede a uma via de racionalidade, o risco país aponta à curva descendente, os negócios no campo prosperam e a credibilidade internacional do Brasil não está afetada. Portanto, temos pesos e medidas que certamente não apontariam para uma celebração exacerbada e muito menos para um pessimismo alarmante.

A questão central, neste momento, é a perigosa ênfase na batalha política, quando as nossas atenções deveriam estar voltadas para a aplicação das alternativas viáveis - seja por meio das reformas, seja por meio da adoção de um choque administrativo capaz de fazer deslanchar os inúmeros projetos que estão na órbita dos Ministérios apenas no papel e cheios de boas intenções.

Em função do vazio administrativo substituído pelos excessos de palavras e pelos excessos de gestos que emanam do Palácio do Planalto, de repente, se forja um ambiente perigoso no centro das instituições - ambiente alimentado por um aspecto conjuntural representado pelas ações do MST e pela sua contrapartida, qual seja, a formação de grupos armados por partes dos grandes proprietários rurais.

Veja bem, Sr. Presidente, que o Brasil não está à beira da fornalha, mas determinadas situações forjam as condições para que se aproxime dela. E é nesse cenário que o PMDB mais uma vez se apresenta para fazer o alerta e, sobretudo, colocar-se à disposição do Brasil com determinação para o equilíbrio, para a consciência e para a maturidade, porque a nossa vocação é, sobretudo, a vocação democrática, berço e origem do PMDB. Como muito bem afirmam os registros oficiais do Partido, “surpreende que o PMDB tenha resistido a tantas pressões de governos ditatoriais, divisões internas, esvaziamento, crescimento, novas divisões e se mantenha como a legenda de maior base no território nacional. (...) A história do PMDB, Srs. Senadores, é a história do Brasil que continuou pulsando a partir de 1964 (...) Hoje, para contar com um pouco da história do PMDB é preciso não só falar da História do Brasil, mas de praticamente todos os Partidos, à sua esquerda ou à sua direita.”

Oficialmente, Srªs e Srs. Senadores, o PMDB nasceu MDB, teve a sua fundação em 24 de março de 1966 com o registro na Justiça Eleitoral. Era um dos resultados da extinção dos partidos imposta pelo AI-2 e a instalação do bipartidarismo. Mas ao invés de sua hipotética destinação servil, o que se viu foi o nascimento de uma legenda aguerrida, corajosa, destemida, patriótica, guerreira, disposta a lutar pelo Brasil - o nosso País.

Sou desta geração, Sr. Presidente, que não se curva, que não se dobra diante das dificuldades, que persegue o ideal democrático com garra e temperança, mas colocando o coração em tudo o que se faça. Persistir no ideal democrático hoje é não permitir que sejamos outra vez reféns dos excessos e dos radicalismos que, sob a justificativa da defesa de seus argumentos próprios, acabem fomentando um ambiente perigosamente inquietante, perigosamente explosivo.

Para que alimentar argumentos a pau e pedra, Sr. Presidente? Precisamos, sim, é de alternativas práticas, factíveis, viáveis, para tirar a economia da letargia e gerar emprego para o povo - porque enquanto discutimos o MST, os chamados radicais do PT e o último boné ou discurso do Presidente Lula, o nosso povo vê aumentar sua fome de pão, de arroz e de feijão!

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Permite-me V. Exª um aparte?

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO) - Concedo o aparte a V. Exª.

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Senadora Iris de Araújo, V. Exª tem autoridade de sobra para falar sobre o PMDB, sobre o País e sobre a Administração Pública. V. Exª foi Primeira-Dama várias vezes. Cuidou dos pobres, da sociedade do seu Estado e deu exemplos ao Brasil. Sou testemunha disso. À época em que Iris Rezende, ex-Senador da República e seu marido, era Ministro da Agricultura e eu aqui era Senador, S. Exª aumentou a produção de grãos no País, elevando a nossa taxa de grãos de 60 bilhões de toneladas para aproximadamente 80 bilhões. Enviei-lhe um telegrama.

O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho) - Senador Alberto Silva, tendo em vista que o tempo da sessão ordinária se esgotou, prorrogo a sessão por mais quinze minutos.

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Senadora Iris de Araújo, não quero tomar o tempo do belo discurso de V. Exª. Quero apenas dizer-lhe - V. Exª é testemunha - que estamos montando um esquema do nosso Partido, o PMDB, para apresentar ao Presidente da República uma solução para consertar as nossas estradas. V. Exª ouviu, aprovou o projeto, e tenho certeza de que o Partido também o aprovará. Além disso, ontem tive um encontro com o Ministro Ciro Gomes para dizer que é possível, com três hectares, darmos salário de mil reais a um lavrador do semi-árido do Nordeste. Apresentarei esse segundo projeto, contando também com o apoio de V. Exª e do Partido. Vamos oferecer o apoio do PMDB para gerar emprego e dar sossego e paz à população brasileira. Parabéns, Senadora Iris de Araújo.

O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho) - Senadora Iris de Araújo, lamento informar que V. Exª dispõe de apenas mais cinco minutos.

A SRª IRIS DE ARAÚJO (PMDB - GO) - Sr. Presidente, procurarei ser breve.

Nobre Senador Alberto Silva, agradeço o aparte. Conheço o projeto de V. Exª e penso que faz muito bem em apresentá-lo, com o nosso apoio.

Temos uma responsabilidade pública. O PMDB a tem. E não se furta a colaborar com suas idéias, com seu projeto de desenvolvimento, com sua larga experiência administrativa, com seus reconhecidos talentos e quadros para simplesmente ajudar o Brasil - sem interesses nem segundas intenções.

Está o Senado da República mais uma vez comandado por um ex-Presidente da República que é a voz da ponderação, da lealdade, que é a própria expressão do mais fervoroso amor à Pátria, que é o nosso Presidente José Sarney. Estão aí o Líder do Governo no Congresso, Amir Lando, e o Líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros. Todos integralmente dedicados a amar este País e sempre dispostos a colaborar para o bem nacional. Tantos valores tem esse Partido, de Norte a Sul do País, que podem espontaneamente disponibilizar as suas experiências tendo em vista incrementar um novo horizonte para este País! Homens de história, de fibra, de elevado espírito público, como Mão Santa, Pedro Simon, Ney Suassuna, Alberto Silva, Ramez Tebet, Hélio Costa, Sérgio Cabral, Maguito Vilela e tantos outros dentro e fora do Senado.

Esse Partido tem história, Sr. Presidente, tem serviços prestados, tem a cor deste País. Mas temos, sobretudo, essa capacidade prática de realizar a coisa concreta. Outro dia, aqui mesmo, apresentava um vídeo do mutirão, instrumento barato e eficaz para resolver o drama da falta de moradias.

No momento em que o Brasil se perde no redemoinho das palavras, o PMDB pode perfeitamente fazer a diferença no sentido de convocar a Nação para um imprescindível mãos à obra contra a fome, contra a miséria, contra o desemprego.

Todos nós queremos não apenas assistir, mas participar do espetáculo do crescimento, Srªs e Srs. Senadores. Um levantamento recente feito pelo Portal iG computou que o Presidente Lula, desde sua posse, já pronunciou mais de 200 mil palavras, superando os 160 mil verbetes da última versão do dicionário Aurélio. E o que tantas palavras geraram? Mais inquietação do que tranqüilidade, infelizmente, fornecendo combustível para os que se encontram ao derredor da fornalha.

O PMDB não quer saber de fomentar essa ladainha, Sr. Presidente. O PMDB quer trabalhar com seriedade, denodo, compromisso e amor em favor do Brasil e de seu povo.

Está na hora de reunirmos as melhores idéias, os melhores projetos e começar a viabilizar o Brasil dos nossos sonhos. Jamais o Brasil da instabilidade, do retrocesso, do desrespeito à ordem e à lei, da ingovernabilidade. Mas, sim, o Brasil da construção, das grandes realizações, do crescimento econômico e da justiça social.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigada, Sr. Presidente, pela oportunidade e por sua paciência.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/07/2003 - Página 17630