Discurso durante a 10ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas a declarações do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em encontro com o Primeiro-Ministro Tony Blair, na Conferência da Governança Progressista. (Como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA EXTERNA.:
  • Críticas a declarações do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em encontro com o Primeiro-Ministro Tony Blair, na Conferência da Governança Progressista. (Como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 15/07/2003 - Página 17976
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • APREENSÃO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, POLITICA EXTERNA, DESEQUILIBRIO, DECLARAÇÃO, CRITICA, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, GRÃ-BRETANHA, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), COLOMBIA, AFRICA DO SUL, ESPECIFICAÇÃO, GUERRA, ORIENTE MEDIO, AREA DE LIVRE COMERCIO DAS AMERICAS (ALCA).
  • ANALISE, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RISCOS, ISOLAMENTO, BRASIL, AMBITO, POLITICA INTERNACIONAL, PREJUIZO, ECONOMIA NACIONAL.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, acompanho com muita atenção a cena internacional, sobretudo o envolvimento do Brasil na sua faceta de política externa. E estou extremamente preocupado com o que me pareceram idas e vindas do Senhor Presidente da República na reunião recente da chamada Cúpula da Governança Progressista. Afinal de contas, pareceram-me no mínimo inábeis as declarações de Sua Excelência em entrevista coletiva concedida ao lado do Primeiro-Ministro britânico, Tony Blair: ataques à posição de Tony Blair em relação à guerra do Iraque; discussão - que me pareceu descabida - com os Presidentes da Colômbia e da África do Sul; ao mesmo tempo, críticas duras e de certa forma ingênuas aos Estados Unidos, quase que imaginando o nosso Presidente que poderia ditar o calendário de participação, na cena internacional, do Presidente George Bush, que preside essa superpotência - com todos os defeitos e qualidades que ela possa ter - hoje sem contrastes no mundo.

A impressão que tenho é que Sua Excelência precisa realmente parar com os improvisos. Se fosse para tomar uma rota diversa da que está posta, Sua Excelência teria de mudar, por exemplo, sua política econômica - e não o faz. Assim, o Brasil corre o risco de passar da deflação para o aprofundamento do quadro recessivo se não baixar, em pelo menos três pontos percentuais, na próxima reunião do Copom, a taxa básica de juros. O País está parado, estamos vivendo uma ultra-ortodoxia que exacerba a política econômica herdada por Sua Excelência do Governo anterior.

E, ao mesmo tempo, no quadro internacional, eu o percebo errático. Começou com aquela história de amigos da Venezuela - isso foi abandonado. Depois, seu assessor internacional oferece asilo político a Sadam Houssein - o que foi risível. Em seguida, houve momentos bastante afirmativos de conversa entre o Presidente Bush e o Presidente Lula - isso me pareceu correto, não neguei apoio do meu partido nem o meu próprio à luta pela paz encetada pelo Presidente Lula. Portanto, a condenação, a meu ver, tinha que ser firme, porém muito sensata, muito prudente em relação aos caminhos que levaram à guerra contra o Iraque.

Ontem, no entanto, Sua Excelência extrapolou. Diz o jornal “Entre brincadeiras e ao mesmo tempo falando sério”, mas Sua Excelência não foi lá para brincar e tem apenas que falar sério. Houve ataques a aliados, dos quais o Brasil não se desgruda, até porque, nas crises de liquidez da economia, terminamos batendo às portas do Tesouro norte-americano e necessitando do aval norte-americano para se abrirem as portas do Fundo Monetário Internacional para a nossa economia.

Vou fazer um vaticínio: Sua Excelência dificilmente vai deixar de renovar o acordo com o Fundo Monetário Internacional. E não o condeno se renovar o acordo, pois julgo que refazê-lo é sensato. Entretanto, eu simplesmente me pus a perguntar se o Presidente Lula não estava ali dando uma resposta ao Presidente da Argentina, Néstor Kirchner, que o havia considerado excessivamente subalterno em relação ao Presidente George Bush. Ou ainda se não estava dando mais uma resposta ao ex-Presidente Fernando Henrique, Cardoso, que havia dito, em recente entrevista, que, no episódio da Alca, o seu Governo teria sido muito mais restritivo do que o de Lula, que já aprazou a data para o casamento inevitável. Se foi isso, as minhas preocupações se redobram, porque Sua Excelência não estava ali para dar resposta ao Presidente da Argentina, Néstor Kirchner - aliado importante, mas que nem sequer estava presente; além disso, as dúvidas em relação ao Presidente argentino podem ser dirimidas na conversa bilateral, que tem de ser freqüente e íntima, entre o Presidente brasileiro e o Presidente argentino. Muito menos o Presidente da República estava ali para fazer as duas outras coisas: dar respostas ao ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso - como se dissesse que a prova de que não é americanista é que estava a afrontar, na frente do Primeiro-Ministro inglês, Tony Blair, o Presidente norte-americano, George W. Bush - ou ainda jogar para uma platéia, uma mais à esquerda do que hoje se porta o seu Partido, que irremediavelmente se afasta dele.

O Presidente Lula precisaria olhar com muito senso estratégico esse quadro que está posto e evitar o isolamento brasileiro. Se repetir essa aparição, daqui a pouco Sua Excelência já não será convidado para fazer parte da reunião de cúpula da governança progressista. Acaba não sendo convidado mais. Perde-se o interesse. As pessoas esgotam o repertório de Sua Excelência e passam a não querem ver aquele repertório encenado mais outra vez, mais outra vez e mais alguma outra vez.

Sua Excelência precisa realmente tomar ciência do tamanho razoável do Brasil - não é imenso nem pequeno - na cena internacional. O Brasil não é uma potência militar. Prego que ele seja uma potência militar defensiva e dou graças a Deus por não ser uma potência militar ofensiva, mas não é uma potência militar. O Brasil tem possibilidades, potencialidades e capacidades que o credenciam a imaginar que seu futuro haverá de ser radioso, e é um País de peso médio na cena internacional. Não adianta ficar imaginando que dá para se hiperbolizar o peso brasileiro. Agora, esse peso pode ficar menor se perceberem falta de solidez no principal dirigente do País, se perceberem o dado errático da política externa.

Num dia, Sua Excelência apressadamente diz que vai fazer a Alca, de qualquer maneira, até 2005; no outro dia, um de seus Ministros diz que não só é justificável o fuzilamento em Cuba como, “se tentarem desestabilizar Lula aqui” - são aspas que abro para o Ministro Tilden Santiago - “ainda teriam, os que estão no Governo, de tomar providências”. O Senador Jefferson Péres perguntou e ficou sem resposta se a providência seria fuzilar nós outros da Oposição.

Fico trêmulo de medo, de pavor quando vejo essa cena. E digo que não é medo por minha vida. Meu pai me dizia: “Meu filho, aprenda a enfrentar homens e enfrente as dificuldades da natureza. Seja corajoso diante de tudo, mas fuja do ridículo”. A cena é grotesca. Não cabe ao Brasil a idéia de condenação à morte nem de julgamento político apressado, pois trata-se de uma democracia consolidada. Fico trêmulo de medo do ridículo que pode estar cobrindo o Brasil, quando essas declarações infelizes são espalhadas aos quatro cantos. E notícia ruim voa mais depressa que notícia boa.

É fundamental que o nosso Presidente passe para o mundo a idéia sólida de alguém que tem uma posição, que deseja dar ao País um rumo e que, no seu caminhar, acertando e errando - atitudes que fazem parte da própria humanidade -, não fuja da espinha dorsal da sua coerência.

Ao concluir o meu pronunciamento, cito um exemplo. Foi inoportuna a declaração do Presidente da Assembléia portuguesa ao questionar o Presidente Lula sobre resultados referentes ao Brasil. Na verdade, o Presidente não tem obrigação de dar informações a S. Exª, mas ao povo brasileiro. O Deputado português foi inconveniente e não teria mesmo direito de fazer uma exigência dessas a um dirigente estrangeiro. S. Exª foi inoportuno e descortês.

Da mesma maneira, entendo ter sido o Presidente Lula inoportuno e descortês com o Primeiro-Ministro Tony Blair, ao fechar caminhos para o Brasil, fazendo algo parecido com as bravatas que Sua Excelência dizia que apenas seriam reservadas e cabíveis nos tempo de oposição. Se Sua Excelência acredita que já não é possível mais haver bravatas, aprenda a não fazê-las no campo da política externa, porque, no mundo de mercados globalizados, uma atitude dessas pode significar isolamento político. Isolamento político pode significar prejuízo econômico. E prejuízo econômico pode significar, com menos investimentos, menos empregos num País que precisa desesperadamente gerar empregos. E já estou perdendo a esperança de que este País possa gerar os dez milhões de empregos prometidos por Sua Excelência, até porque, mês a mês, temos visto o crescimento do desemprego, um recorde após outro. Batem recordes os índices referentes ao desemprego e ao agravamento da crise social.

Era essa a crítica construtiva que o PSDB tinha a apresentar no dia de hoje. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/07/2003 - Página 17976