Discurso durante a 10ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa do Presidente Lula, a propósito do pronunciamento do Senador Arthur Virgílio. (Como Líder)

Autor
Hélio Costa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MG)
Nome completo: Hélio Calixto da Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA EXTERNA.:
  • Defesa do Presidente Lula, a propósito do pronunciamento do Senador Arthur Virgílio. (Como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 15/07/2003 - Página 17978
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • DEFESA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VISITA, PAIS ESTRANGEIRO, GRÃ-BRETANHA, APOIO, DECLARAÇÃO, REFERENCIA, GOVERNO ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, REDUÇÃO, RISCOS, MERCADO INTERNACIONAL, INVESTIMENTO, BRASIL, VALORIZAÇÃO, REAL, SUPERAVIT.
  • ANALISE, POLITICA EXTERNA, BRASIL, REFERENCIA, MORTE, EXECUÇÃO, CIDADÃO, CRIME POLITICO, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, ATUAÇÃO, ORADOR, RELATOR, MATERIA, COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES E DEFESA NACIONAL, SENADO, ENCAMINHAMENTO, ITAMARATI (MRE), REPUDIO, GOVERNO ESTRANGEIRO.
  • COMENTARIO, APOIO, TONY BLAIR, PRIMEIRO-MINISTRO, PAIS ESTRANGEIRO, GRÃ-BRETANHA, ENTRADA, BRASIL, CONSELHO DE SEGURANÇA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU).

O SR. HÉLIO COSTA (PMDB - MG. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, acompanhei atenciosa e detalhadamente as observações do ilustre Líder Arthur Virgílio. Até entendo, Sr. Presidente, que algumas observações críticas possam e devam ser feitas com relação à viagem do Presidente Lula à Europa e aos contatos que Sua Excelência vem fazendo com os dirigentes europeus. Mas é importante também vislumbrar o outro lado da moeda.

Nesta manhã, o Jornal The Guardian ocupa-se em divulgar que não trataria o Presidente do Brasil de Presidente Lula, fazendo questão de colocar entre aspas o nome Lula, sempre se referindo à Sua Excelência como o Sr. Da Silva. Ora, se se chega a esse ponto de um jornal inglês, com a tradição que tem, não querer absorver o nome por que o cidadão brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva é reconhecido neste País inteiro, nas América do Sul e do Norte, no Continente Europeu, enfim, no mundo inteiro, fico me perguntando se as críticas que foram feitas são todas válidas e se estão no contexto natural de se falar da visita de um Presidente a um país amigo - diga-se de passagem. Refiro-me a país amigo, porque sempre tivemos as melhores relações com o Governo inglês, com o povo inglês e, de certo modo, com toda a comunidade britânica de nações.

Mas, lamentavelmente, o jornal inglês esquece-se de que o próprio Primeiro-Ministro é chamado por um apelido, porque Tony não é nome, mas o diminutivo de Anthony, de Antônio. Então, nega-se o jornal a chamar o Presidente Luiz Inácio da Silva de Lula, mas chama o Primeiro-Ministro de Tony Blair. Trata-se de dois pesos e duas medidas. Se estamos falando dos contatos, das conversas que o Presidente está tendo na Europa, é importante que se faça também alusão a essa má vontade da imprensa européia com o nosso Presidente.

Ao mesmo tempo, vale lembrar as coisas boas que este Governo já fez. Todos sabemos que, no final do ano passado, o risco Brasil estava em 2.400 pontos, e nem o charme do Presidente Fernando Henrique Cardoso foi capaz de diminuí-lo ao deixar o Governo.

Pois bem, a simplicidade do Presidente Lula, a maneira comum, coloquial que ele usa nas suas conversas internacionais foi o que deu credibilidade ao País novamente e reduziu esse risco Brasil de 2.400 pontos para até seiscentos e poucos pontos, estando hoje em torno de 800 pontos.

Essa diferença, Sr. Presidente, já fez uma economia para o País de cerca de US$60 bilhões, porque é exatamente o que o País deixa de pagar quando cai o risco e quando as nossas dívidas são renegociadas em patamares mais corretos, de acordo com a economia agora em franco desenvolvimento.

Foi a primeira vez que ouvi falar, nos últimos anos, que o dólar realmente caiu, porque até recentemente usávamos a frase de uma forma errada. Dizíamos que o dólar havia caído. Mas o dólar nunca caiu no Brasil até este Governo. Sempre caía a moeda local. E, até recentemente, caiu o real, que começou na paridade; um dólar chegou a custar R$3,40 e está hoje em menos de R$3,00.

Então, o dólar caiu. Imagine que extraordinário feito deste Governo! Fazer, pela primeira vez, na história recente do nosso País, a nossa moeda estar valorizada. Mas não se trata de uma valorização mentirosa, como no passado, quando - qualquer empresário sabe - o valor estabelecido para o dólar e para o real, no Brasil, era totalmente desproporcional. O valor real de nossa moeda era visto abrindo-se o The New York Times ou o Financial Times, não o divulgado em nosso País.

Sr. Presidente, nossas reservas, em cinco meses e pouco do Governo Luiz Inácio Lula da Silva, já têm um superávit de R$9 bilhões. Até o ano passado, estávamos no vermelho. E as nossas exportações aumentaram.

Aqui devo fazer uma observação quanto à questão cubana. Fui Relator da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do documento, o qual redigi, e que juntou as propostas da Oposição e do Governo relativas ao assassinato de três políticos dissidentes de Cuba. Aprovado pela Liderança do Governo e pela Oposição, o documento, que relatava nossa posição contrária ao regime de imposição pela força e até de paredão do governo daquele país, foi encaminhado ao Itamaraty com endereço certo: Cuba, Comandante Fidel Castro.

Então, Sr. Presidente, é uma questão apenas de como queremos ver as coisas: se de modo otimista ou pessimista.

O Brasil está saindo de uma situação extremamente delicada. No ano passado, como ano de eleição, o Brasil perdeu totalmente sua credibilidade no exterior. Entre nós, já não existia mais credibilidade no Governo. Mais de cinqüenta milhões de pessoas foram às urnas dizer da sua preocupação com o Brasil e, por essa razão, elegeram o Presidente Lula. E não foi só o PT que elegeu o Presidente, mas o Brasil inteiro, todos os partidos. Em todas as cidades por que passei, em meu Estado e fora de Minas Gerais, encontrei companheiros do PSDB ao PT, todos inclinados a votar no Lula pela esperança que ele significava.

Portanto, Sr. Presidente, é uma questão de interpretação, é como a história do vendedor que, chegando a uma cidade do interior para vender sapato, mandou telegrama para seu chefe dizendo: “Péssimos negócios: ninguém tem sapato”. Foi substituído por outro vendedor que, chegando lá, enviou telegrama com o seguinte teor: “Grandes possibilidades: ninguém tem sapatos”.

Sr. Presidente, essa é a minha posição. Vejo o Brasil com os olhos do otimismo e a viagem do Presidente Lula como mais uma demonstração do interesse do Governo em fazer uma política voltada para o progresso nacional por meio de diálogo com os aliados, abrindo os olhos daqueles que precisam tê-los abertos. Passei trinta anos entre o Brasil e os Estados Unidos e posso dizer que a afirmação do Presidente está rigorosamente certa. O Governo americano - não os norte-americanos - pensa primeiro nele, depois, nele, se necessário, nele outra vez e, havendo oportunidade, pela quarta vez, também nele.

Fui Presidente da importante Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados e nunca recebi a visita de um político americano para conversar sobre política. Todos vinham falar de negócios, de como proteger os negócios americanos no Brasil, de como aumentar os lucros das empresas americanas no Brasil.

O que disse o Presidente está correto. Quem quiser que aceite de uma outra forma. Quem quiser que faça uma interpretação diferente. Para nós, o Presidente abriu caminho para as relações internacionais, mas não uma relação submissa. O Presidente mostra o caminho de uma relação à altura do Brasil, de potência mundial. Se a repercussão da visita de Sua Excelência a Londres tivesse ocorrido como foi apresentada aqui, eu perguntaria: por que então o Primeiro-Ministro Tony Blair está hoje na Internet, neste momento, divulgando para o mundo inteiro seu apoio à pretensão do Brasil de entrar para o Conselho de Segurança da ONU como membro efetivo? Se não tivesse gostado da visita do Presidente, a primeira reação seria a de aguardar, de esperar uma próxima visita. Mas não, já está nos jornais, em todas as agências de notícias. Se o Governo inglês apóia a pretensão do Brasil, foi positiva a visita do Presidente. Portanto, está sim de acordo com os interesses nacionais.

Por essa razão, Sr. Presidente, é fundamental defendermos aqui clara e abertamente. Sou Líder do PMDB, Partido que apóia o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e temos liberdade para criticar o incorreto, mas também temos a obrigação de defender o que está de acordo com os interesses da Nação. E vejo que o Presidente Lula está fazendo um trabalho totalmente dedicado à recuperação da posição do Brasil no exterior e internamente.

Graças à eleição extraordinária do ano passado que todos nós, até o mais ferrenho adversário, sentimo-nos hoje à vontade para dizer: “Não votei, mas estou satisfeito. Eu não era partidário do então candidato, mas vejo que ele está fazendo um bom serviço”. Viajo toda as semanas e encontro em todas as cidades por que passo a mesma expressão de esperança na administração do Presidente Lula.

Sr. Presidente, é importante que fique aqui a certeza de que nós, da Liderança do Governo, apoiamos o nosso Presidente, batemos palmas para as suas viagens, pois, neste momento, são fundamentais para a sustentação da posição do Brasil que é de sobriedade, de liderança na América Latina, uma posição que se destaca hoje no mundo. E não é a primeira vez que se diz que para aonde for o Brasil vai o resto da América Latina. Hoje, os ingleses e os franceses pensam dessa forma e os americanos têm que pensar assim. Já pensaram uma vez, inclusive um de seus presidentes fez a mesma afirmação na década de 60. Pois agora, mais do que nunca, para aonde for o Brasil vai o resto da América Latina.

Para tanto, é fundamental o apoio de todos a um Presidente que tem respaldo popular. Um Presidente que, possivelmente, seja o número um do mundo, talvez o Presidente com maior número de votos realmente democráticos e abertos em uma nação democrática do tamanho do Brasil.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/07/2003 - Página 17978