Discurso durante a 10ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas à inação do governo petista, destacando matéria publicada na revista Veja, intitulada "O Brasil Apagou". Considerações sobre o relacionamento do Presidente Lula com o MST e sobre o bom desempenho da agricultura.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas à inação do governo petista, destacando matéria publicada na revista Veja, intitulada "O Brasil Apagou". Considerações sobre o relacionamento do Presidente Lula com o MST e sobre o bom desempenho da agricultura.
Publicação
Publicação no DSF de 15/07/2003 - Página 18011
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, PARALISAÇÃO, PROVIDENCIA, COMBATE, RECESSÃO, AUSENCIA, MELHORIA, DESEMPREGO, RODOVIA, REDUÇÃO, VENDA, INDUSTRIA, COMERCIO, COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • CRITICA, DEMORA, IMPLEMENTAÇÃO, PLANO DE GOVERNO, REFORMA AGRARIA.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, APOIO, GOVERNO, MOVIMENTO TRABALHISTA, SEM-TERRA.
  • CRITICA, DECLARAÇÃO, EMBAIXADOR, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REUNIÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, GRÃ-BRETANHA.

DO ALLEGRETTO AO FUNDO DO POÇO

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o governo petista continua em sua política dúbia. Enquanto espalha alvíssaras à guisa de anunciar boas novas, como o espetáculo do crescimento, na prática segue firme na posição de atonia que já dura seis meses e entoa ritmo assemelhado àquela posição de andamento entre o andante e o alegro, o allegretto. E se nada faz, muito desfaz.

Essa é, infelizmente, a situação a que a Nação é lançada pelo Palácio do Planalto. Uma falta de tono que já incomoda e angustia a população, cada vez mais debilitada. O desemprego aumenta, as vendas da indústria caem assustadoramente e o comércio não decola. As estradas estão intransitáveis. Não há sinal algum de melhoria, a não ser as resultantes do trabalho desenvolvido pelo governo anterior.

Tanto incomoda a atual situação brasileira que a grande revista brasileira, que é a Veja, edita esta semana não uma matéria especial. Edita uma reportagem especial, colocada em relevo na capa, com o título O BRASIL APAGOU.

Nas páginas internas, quatro palavras chamam a atenção para mostrar, de forma muitíssimo evidente, aonde foi parar o Brasil: NO FUNDO DO POÇO. No subtítulo, essas chamadas: Queda no consumo derruba a produção da indústria e faz o primeiro semestre fechar com cheiro de recessão.

O que a revista divulga faz parte, hoje, das preocupações do brasileiro, com medo da recessão que toma conta do País. “Os analistas até divergem - diz a Veja - quanto ao uso do termo recessão - embora tecnicamente se justifique pelo recuo do PIB em dois trimestres seguidos. Mas ninguém tem dúvida de que o país chegou ao fundo do poço”

E mais: “Uma situação como essa contamina todas as esferas de atividade do país. Os sinais da crise são visíveis nas ruas, nas fábricas de automóveis, na lanchonete, no cabeleireiro, no shopping, no supermercado.”

Segue a Veja: “Se as vendas de um setor caem, isso é ruim. Significa que as pessoas não têm dinheiro para comprar. Mas, se é a produção que diminui, o problema é mais grave. Significa que as indústrias não acreditam numa reversão da crise e decidem fabricar menos.”

Nesse quadro desolador, como mostra a reportagem, situam-se os setores de material de construção, automóveis, eletrodomésticos, remédios (quem diria!), roupas e alimentos.

Enquanto segue a carruagem, os fatos mostram que, ao contrário do apregoado pelas lideranças governistas, tudo está por fazer ou nada foi feito, uma frase que pode ser traduzida para uma inquietante realidade: os planos de Lula não saíram do zero.

É o caso da reforma agrária. O que o Governo chama de Plano Nacional continua em preparação, e a verba inicial caiu pela metade. De R$462 milhões, previstos no Orçamento da União, os recursos ficaram limitados a R$162 milhões.

Não obstante, Lula continua achando que tudo caminha num mar de rosas, chegando a declarar, ontem em Londres, que o seu governo prometeu a reforma agrária e vai fazê-la. Estamos esperando, no mínimo, que Sua Excelência admita que Fernando Henrique fez mais em reforma agrária que qualquer outro presidente e que, a seguir, faça, em quatro anos, mais e melhor do que o anterior.

Mais grave. O Planalto faz afagos ao chamado Movimento dos Sem Terra, como a sorrir diante das continuadas invasões de propriedades particulares pelo Brasil adentro.

Em vez de promover assentamentos, Lula prefere dar biscoito na boca dos líderes do MST, sem medir as conseqüências de um gesto que pode colocar em risco todo o êxito da agricultura brasileira.

O jornal O Estado de S.Paulo desse domingo, ao analisar o bom desempenho da atividade da agricultura brasileira, observa que essa vitória se deve a fatores e acertos que vêm ocorrendo há vários anos. Seria essa a herança maldita de que tanto se queixa o Governo petista ?

Os bons resultados obtidos no campo - que o jornal chama de Revolução na Agricultura - foram possibilitados por grandes investimentos privados e públicos e, acima de tudo, pela difusão de novas concepções entre os produtores do campo.

Diz o Estadão, em editorial: “Esses números contam mais que uma história de sucesso. Mostram o que os brasileiros podem alcançar quando se dispõem a fazer a coisa certa.”

Por falar em coisa certa, será certa a prática predatória e abusiva das invasões de terras? Se o governo não as apóia, pelo menos fecha os olhos, sem perceber que gestos tresloucados apenas contribuem para afundar ainda mais o País. No caso da agricultura, as invasões só desestimulam os esforços dos brasileiros que levam a sério as atividades do campo.

Por falar em desestímulo, será um estímulo estender o tapete às práticas do MST? Não terá sido isso o que fez o Ministro Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio?

Está nos jornais de sábado o aceno de Furlan para que o MST se transforme em partido político. “Seria desejável que um braço do MST se explicitasse no parlamento, como um partido político ou algo parecido” - sugeriu Furlan, sem explicar o que vem a ser “algo parecido”. Esperamos que não sejam invasões... 

Sigo adiante. O editorial de O Estado de S.Paulo desse último domingo considera um grave disparate as desarrazoadas declarações do novo embaixador do Brasil em Cuba, o experiente parlamentar Tilden Santiago, que fez declarações de apoio à repressão levada a efeito naquela país por Fidel Castro, com a execução sumária de três dissidentes.

Para o jornal paulista, o mínimo que se pode dizer é que o embaixador brasileiro deixou muito mal, perante o governo americano, o presidente Lula. Um espetaculoso disparate, digno do Guiness Book.

E por falar em disparate, o que dizer da fala do Presidente Lula em Londres? Numa conferência a que estiveram presentes outros Presidentes, o nosso saiu-se com mais um de seus repentes, ao dizer que “Os Estados Unidos, primeiro pensam neles; segundo, neles, e, em terceiro, também neles.” Gracinhas à parte, o discurso, no mínimo, causou constrangimento, a começar pelo presidente da Polônia, Aleksander Kwasnurwski, que discordou do dirigente brasileiro e com ele estabeleceu inconveniente bate-boca.

Nessa trilha, a reputação brasileira no exterior irá ao chão. O Presidente Lula precisa alertar-se para o efeito negativo de seus seguidos - e pouco responsáveis - improvisos.

Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/07/2003 - Página 18011