Discurso durante a 10ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Lançamento do livro do Poeta piauiense Álvaro Pacheco. Considerações sobre a história política e cultural do Piauí.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA CULTURAL.:
  • Lançamento do livro do Poeta piauiense Álvaro Pacheco. Considerações sobre a história política e cultural do Piauí.
Aparteantes
Roberto Saturnino.
Publicação
Publicação no DSF de 15/07/2003 - Página 18000
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, LANÇAMENTO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), OBRA LITERARIA, AUTORIA, ESCRITOR, ESTADO DO PIAUI (PI).
  • REGISTRO, CONTRIBUIÇÃO, ESTADO DO PIAUI (PI), HISTORIA, CULTURA, DEMOCRACIA, BRASIL.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador José Sarney, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros - como dizia V. Exª, Senador José Sarney, em seus discursos como Presidente da República - que nos assistem pela TV Senado e nos ouvem pela Rádio Senado -, no sábado, o Piauí foi festejado no Estado do Rio de Janeiro.

E quis Deus, que escreve certo por linhas tortas, que V. Exª estivesse presidindo esta sessão. Um irmão camarada de V. Exª - como diz Roberto Carlos em sua música -, o poeta piauiense Álvaro Pacheco, lançava para o Brasil e para o mundo mais um trabalho literário: Vaso Etrusco.

Senador Leonel Pavan, meu encanto pelo Piauí vem desde quando, estudando os filósofos, aprendi com Sófocles que muitas são as maravilhas da natureza, mas a mais maravilhosa é o ser humano. Nesses 502 anos de Brasil, não ouvi falar de pessoas de comportamento tão grandioso como as do Piauí. Na História da Independência, fomos os primeiros, seguidos pelos baianos, em batalha sangrenta, a expulsar os portugueses que queriam fazer do Norte uma nação ligada a Portugal.

No Piauí, a data é 13 de março de 1823. E como um bem nunca vem só, segundo Padre Antônio Vieira, tão bem estudado pelo Presidente José Sarney, os baianos, em 2 de julho, concretizaram a unidade do Brasil. O Brasil só é grande devido ao Piauí e à Bahia. Só nós fomos à batalha sangrenta contra os portugueses.

Essa é a gente do Piauí.

E não é só isso.

Lembremos o sonho de Abraham Lincoln: um governo do povo, pelo povo e para o povo.

Dezessete anos antes da Proclamação da República por Deodoro, um jornal em Teresina, criado por um idealista, jornalista do Piauí e poeta, David Caldas, de Canto Maior, sob o nome Oitenta e Nove, inspirava o Brasil a fazer o governo do povo, pelo povo e para o povo. Dezessete anos antes! Ele foi o profeta da República. E é piauiense.

Na nossa democracia - a primeira democracia civil, Vargas -, com episódios de ditaduras, Vargas saiu colocando tenentes em todo lugar. O Piauí não aceitou. Nosso interventor foi um médico piauiense, Leônidas Melo, que encravou um grande hospital em Teresina - daí Teresina ser um ícone em serviços de saúde do Brasil.

Presidente José Sarney, em Teresina, nós fazemos transplantes cardíacos com êxito.

Dr. Senador Mozarildo, foi somente no Piauí que Ruy Barbosa colheu suas vitórias. Foi no Piauí que o Presidente Sarney buscou sua coragem para lutas políticas, pois seu avô é piauiense, de Valença. Essa é a historia do Piauí.

Veio do Piauí a luz da ditadura militar: o Ministro João Paulo dos Reis Velloso, exemplo de dez anos de mando, de honradez, de honestidade e inteligência, criando para este País o primeiro e o segundo PND.

Foi no Piauí que o maior jornalista brasileiro fazia renascer as esperanças da redemocratização: Carlos Castello Branco, o Castelinho. Foi no Piauí que se buscou a salvação para a truculência militar, com o banho de justiça dado neste País por intermédio de Evandro Lins e Silva, a quem ninguém excedeu e que devia ser buscado a cada dia como fonte de inspiração para a Justiça brasileira. É esse o Piauí.

E, na literatura, tivemos a festa de ontem. Quero dizer que o Presidente da Academia Brasileira de Letras não é piauiense, mas filho de piauiense. Da Costa e Silva, o maior poeta do Piauí, cujo hino diz: “Piauí, terra querida, filha do sol do Equador”, fez concurso para o Itamaraty e tirou 1º lugar. No momento da entrevista, o Barão do Rio Branco o afastou, por ele ser negro e mal-afeiçoado. O Barão do Rio Branco disse que não conviria mandá-lo representar o País, pois ele se assemelhava a um macaco.

Eis a grandeza do homem do Piauí, Presidente Sarney, como seu filho Alberto Costa e Silva nos contou, quando eu governava o Estado e fiz um convênio da Fundação Getúlio Vargas com a UESP, do Piauí, que ampliamos. E ele tinha sido convidado. Então, fiz a indagação à figura agradável do embaixador Alberto Costa e Silva. E ele não era da Academia Brasileira de Letras, mas Deus me deu o privilégio de dar-lhe o fardão - embora ele fosse paulista -, pois sua glória é ser filho de um poeta piauiense.

E a ele, Senador César Borges, perguntei: o que o inspirou a entrar no Itamaraty? Ele me disse, Senador Mozarildo Cavalcanti: “Vingança!”. Fiquei perplexo, e ele me contou o fato que tinha ocorrido com o pai, o poeta do Piauí. E prosseguiu: “A vingança foi grande: acabei de aposentar-me, estudei a raça africana” - ele tem um livro - “e coloquei dois filhos meus lá.” O Piauí, então, ganhou de 3 a 1, em relação àquele ato do Barão do Rio Branco. E ele é hoje o Presidente da Academia de Letras. A festa era de um piauiense, por sinal irmão camarada do Presidente desta Casa, Senador José Sarney.

            O Presidente José Sarney é dessas figuras que Deus demorou a arquitetar. Na residência do poeta Álvaro Pacheco, há quadros pintados pelo Senador José Sarney, além de, na sua biblioteca, toda a obra literária do Presidente desta Casa, dessa figura abençoada por Deus, com tantas qualidades.

            Ele lançava o seu livro, mas o mais importante é a cultura do nosso povo do Piauí.

            O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Senador Mão Santa, concede-me V. Exª um aparte?

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Ouço o aparte do Senador Roberto Saturnino, do Rio de Janeiro.

            O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Senador Mão Santa, quero também incluir minha voz modesta nesse discurso de V. Exª, que começou exaltando a obra de Álvaro Pacheco e agora retorna ao tema inicial do lançamento do Vaso Etrusco - a que eu gostaria até de ter podido comparecer, mas, infelizmente, por uma questão de saúde na família, não pude -, a cuja leitura me dedicarei. Conheço a poesia de Álvaro Pacheco, amadurecida ao longo de muito tempo. É um dos valores da cultura brasileira, especialmente da poesia brasileira. Álvaro Pacheco é um dos nomes grandes da terra de V. Exª que engrandecem o Brasil. Eu queria ao mesmo tempo regozijar-me com o pronunciamento de V. Exª e acrescentar também um nome que me veio à memória quando V. Exª percorreu uma lista imensa de piauienses ilustres, um nome que pontificou nesta Casa, conquistando a admiração unânime de todos os Senadores - o grande Petrônio Portella, um dos construtores da redemocratização do País, com muita inteligência, clareza, respeitabilidade, com uma ação tenaz, persistente. No discurso de V. Exª, teria de constar também o nome desse grande piauiense, ao lado de tantos outros citados por V. Exª, a começar por Álvaro Pacheco. Vamos render homenagens a esse grande poeta do Brasil, que é do Piauí e lança mais um livro na sua vasta e amadurecida obra de poeta.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu me detinha mais nos escritores e no lado cultural. É óbvio que Petrônio Portella foi ícone disso tudo. Mas, se formos lembrar da grandeza política, apenas quero dizer o seguinte: Flávio Marcílio governou o Ceará e presidiu por duas vezes a Câmara Federal; Francelino Pereira, de quem V. Exªs têm saudades, piauiense; Moreira Franco, no Rio de Janeiro; Carlos Afonso, em Santa Catarina. O Piauí tem exportado aquilo que é gente, que faz esse País avançar.

Srªs e Srs. Senadores, queríamos registrar a importância do autor. Como o Piauí, o Brasil, o mundo jurídico e a Academia Brasileira de Letras perderam recentemente Evandro Lins e Silva, é hora de o Estado estar presente com mais um filho seu, Álvaro Pacheco, na Academia Brasileira de Letras.

            Presidente Sarney, quero dizer que a bandeira do Piauí é mais bonita do que a do Brasil. Possui as mesmas cores: verde, amarelo, azul, branco, mas tem uma só estrela. Sábado essa estrela foi o seu filho ilustre, o poeta Álvaro Pacheco, que tem uma folha de serviço extraordinária. Não vou cansá-los, porque, como o professor Sarney, Álvaro Pacheco tem dezenas e dezenas de obras literárias e destacou-se também no cinema. O ex-Senador da República, que esteve presente, foi assessor especial do Presidente Sarney em 1985 e 1986, quando foi eleito Senador da República pelo Estado do Piauí. Exerceu seu mandato até 1995, participando até mesmo da Constituinte de 1988, sendo um dos signatários da Constituição atual.

            Nessa festa, Presidente José Sarney, estava um sobrinho de Afonso Arinos. Eu lhe dizia para que buscasse o livro e o disco aqui publicados pelo Presidente Antonio Carlos com os melhores momentos do Parlamento, os melhores discursos. Entre todos, sem dúvida alguma, o que mais me empolgou foi o de Afonso Arinos denunciando o atentado da Rua Toneleiro, em que faleceu o major Vaz e foi vítima o Deputado Carlos Lacerda.

Para terminar, quero dizer que ficou acertada uma visita, em setembro, do Presidente da Academia Brasileira de Letras, Alberto da Costa e Silva, à Academia de Letras do Piauí e à Academia Parnaibana de Letras, da minha cidade e da qual sou membro. Quero falar de Parnaíba como Sêneca - que não morava nem em Atenas nem em Esparta -, quando falava de sua cidade: não é uma pequena cidade, é a minha cidade. O Presidente da Academia de Letras se prontificou a atender ao convite de estar no Piauí, prestigiando os inúmeros intelectuais que lá existem e que estão tão bem representados no Estado do Rio de Janeiro por Álvaro Pacheco.

São essas as nossas palavras e a homenagem que o Piauí quer fazer ao seu filho intelectual ilustre.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/07/2003 - Página 18000