Discurso durante a 17ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento de Vicente Bessa, primeiro prefeito do município de Assis Brasil. Pavimentação da BR-364 no Acre. .

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PSB - Partido Socialista Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA DE TRANSPORTES. ESTADO DO ACRE (AC), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Pesar pelo falecimento de Vicente Bessa, primeiro prefeito do município de Assis Brasil. Pavimentação da BR-364 no Acre. .
Publicação
Publicação no DSF de 25/07/2003 - Página 20124
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA DE TRANSPORTES. ESTADO DO ACRE (AC), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, VICENTE BESSA, EX PREFEITO, MUNICIPIO, ASSIS BRASIL (AC), ESTADO DO ACRE (AC).
  • GRAVIDADE, SITUAÇÃO, RODOVIA, ESTADO DO ACRE (AC), NECESSIDADE, PAVIMENTAÇÃO, MOTIVO, IMPEDIMENTO, TRAFEGO, EPOCA, CHUVA, ISOLAMENTO, MUNICIPIOS.
  • PARTICIPAÇÃO, ORADOR, VIAGEM, JORGE VIANA, GOVERNADOR, ESTADO DO ACRE (AC), ACOMPANHAMENTO, OBRA PUBLICA, RODOVIA, INTEGRAÇÃO, MUNICIPIOS.
  • ELOGIO, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO ACRE (AC), INTEGRAÇÃO, COMUNIDADE, RESPEITO, MEIO AMBIENTE.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (Bloco/PSB - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes de mais nada, eu gostaria de agradecer a gentileza de a Senadora Heloísa Helena de ter cedido o seu tempo para que eu pudesse proferir este discurso.

Eu gostaria também de registrar, com pesar, o falecimento de um grande amigo, lá do meu Estado, Vicente Bessa, que ocorreu há dois dias. Vicente Bessa foi o primeiro prefeito do Município de Assis Brasil e deixa saudades para os seus familiares e amigos que tanto o admiravam.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no final da semana passada tive a oportunidade de integrar a comitiva do companheiro Jorge Viana, Governador do Acre, durante sua mais recente viagem à região do oeste do Estado, passando por seis municípios. Durante três dias, percorremos de carro cerca de 700 quilômetros da BR-364, claro que parando várias vezes em encontros com as comunidades, desses 700 quilômetros da BR mais de 500 ainda não pavimentados. A BR-364 é a principal rodovia do nosso Estado - a rodovia que deveria integrar todos os acreanos e que só é aberta, com muito esforço, por cerca de 90 dias durante o ano, quando cessam as chuvas na região amazônica e entramos no chamado verão.

Sr. Presidente, não é preciso dizer que durante o inverno, quando a estrada fecha e isola os Municípios de Manuel Urbano, Feijó, Tarauacá e Cruzeiro do Sul, é a temporada de sofrimento dos nossos irmãos acreanos. Os produtos alimentícios tornam-se escassos e quando aparecem são com os preços bem majorados. Coisas simples, como visitar um amigo, rever familiares, torna-se uma tarefa quase impossível. A rodovia, apesar de aberta há mais de 30 anos, simplesmente é o principal fator de frustração e impedimento daquela gente sofrida.

Portanto, a sua abertura tem um significado especial. É quando o nosso povo renova as esperanças de que essa longa noite de isolamento e sofrimento um dia terá fim. Como fiel depositário da esperança e dos sonhos do povo acreano, que o reconduziu para o segundo mandato como o governador proporcionalmente mais bem votado do País, o companheiro Jorge Viana e sua equipe foram acompanhar de perto, palmilhando o solo acreano, as obras que permitirão que o Estado seja, de fato, integrado por via terrestre.

Mas, muito mais importante que a reabertura da estrada, devo dizer que o Governo do Acre trabalha de forma intensa e dedicada para acabar com o isolamento que massacra e humilha nosso povo. Com a ajuda do Ministério dos Transportes, por determinação do eminente Presidente Lula, que pela primeira vez na história está liberando recursos para as obras de abertura e conservação da rodovia, o Governo está asfaltando alguns trechos que vão permitir a integração entre municípios. No máximo até outubro, o Governo entrega o trecho de 38 quilômetros entre Feijó e Tarauacá. Quem está de fora, de longe, pode pensar que quase 40 quilômetros de asfalto é muito pouco. Mas se considerarmos que as duas cidades quase centenárias, ainda que distante nestes poucos quilômetros, nunca se integraram social e economicamente, vamos descobrir que o rompimento do isolamento é uma espécie de resgate da cidadania e o encontro com a liberdade para as populações dos dois municípios. O trecho entre Sena Madureira e Manuel Urbano, mais de 70 quilômetros, deve ter as obras contratadas ainda este ano. O trecho mais difícil, aquele entre Manuel Urbano e Feijó, cerca de 155 quilômetros, será objeto de estudo por parte da equipe do Governo do Estado e do Governo Federal. O Diretor-Presidente do Deracre, o Departamento de Estradas e Rodagens do Acre, Dr. Sérgio Nakamura, defende a necessidade de mudanças no trajeto da estrada, para evitar que seu leito passe por áreas de solo frágil e alagadiço, como é o caso atual. Mudando-se o curso da estrada, o trecho aumentaria pelo menos em 20 quilômetros, mas o asfaltamento seria possível. Atualmente, o quilômetro asfaltado custa em média R$1,8 milhão naquela Região. Naquele trecho alagadiço, esse preço seria praticamente dobrado e não há certeza de que a pavimentação seria segura. Isso, Srs. Senadores, é o suficiente para mostrar que fazer estradas na Amazônia não é uma tarefa fácil. As dificuldades de acesso, a falta de insumos e a geografia, tudo isso são fatores de dificuldades e muitas vezes de impedimento.

Mas essas dificuldades servem também para revelar a qualidade e o que é o Governo do companheiro Jorge Viana, esse jovem brilhante e determinado que está fazendo história na Amazônia e no Brasil. Revelador porque, em meio a tantos desafios e sacrifícios, vem trabalhando para pôr fim a décadas de isolamento e abandono do nosso povo. A chamada “Estrada do Pacífico”, a BR-317 que liga Brasiléia a Assis Brasil, na fronteira com a Bolívia e o Peru, é um bom exemplo disso. O que é hoje uma estrada internacional, durante mais de três décadas foi apenas um caminho de serviço que, assim como a BR-364 no Juruá, também isolava e humilhava as populações do Alto Acre. Foi preciso que Jorge Viana, eleito Governador em 1998, num dos primeiros atos de seu Governo, contratasse, com a ajuda do Governo Federal na gestão do Presidente Fernando Henrique Cardoso - é bom que se diga -, as obras que, num período recorde de pouco mais de dois anos, permitiriam o asfaltamento de 11 quilômetros numa estrada que, acreditem V. Exªs, tinha mais de 360 ladeiras e que obrigou, durante o período de trabalho, a movimentação de mais de quatro milhões de metros cúbicos de terra.

Muito mais que trabalhar de forma determinada, o Governo de Jorge Viana realiza obras, seguindo um padrão técnico, ético, social e ambientalmente correto. É por isso que, em sua última viagem pela BR-364 - da qual tive o privilégio de fazer parte -, por todos os lugares que passou, o Governador Jorge Viana fez um único discurso: a estrada é necessária, mas só será possível fazê-la se houver respeito ao meio ambiente e se a sua construção tornar o menor possível o impacto ambiental que toda rodovia causa. De Mato Grosso a Rondônia, de Rondônia ao Acre, ao longo dos anos, as estradas não trouxeram os benefícios a que investimentos dessa natureza estão destinados: melhorar a vida dos mais pobres, dos mais isolados. O que se constatou é que os grandes, aqueles que já detinham posses, foram os mais beneficiados porque compraram as pequenas propriedades às margens das estradas e empurraram os mais pobres para grotões cada vez mais isolados. Além do dano social, os donos dessas propriedades violaram as regras mais elementares de convivência com a natureza, queimando, destruindo, tornando as margens das rodovias ambientes hostis à própria vida.

No Acre, tudo o que se quer é evitar que esses erros se repitam. Jorge Viana tem dito que está lutando para que, até o final de seu mandato, o Acre esteja integrado de fato. Mas tem advertido que seu Governo não permitirá desmatamento e especulações de terra às margens da rodovia.

Os índios, os primeiros habitantes daquelas terras, pelo menos no Acre, são a inspiração dos princípios que norteiam o Governo a trabalhar com respeito ao meio ambiente. O trecho construído pelo Governo do Estado entre o Município de Rodrigues Alves e o igarapé Campinas, um percurso de 30 quilômetros, passa por dentro de uma reserva indígena. Os índios Katukinas, que vivem na região, foram amplamente consultados e finalmente permitiram que o Governo realizasse a obra. Para isso, exigiram que fosse respeitado o meio ambiente e fossem dadas garantias de que o impacto ambiental causado pela rodovia seria o menor possível em sua cultura. Essas exigências foram respeitadas e o que se viu, no terceiro dia de nossa viagem pela BR-364, quando chegamos à aldeia dos Katukinas, no início de uma tarde de domingo, foi a integração entre os povos. Os índios nos receberam como irmãos, saudando-nos com seus ritos, fraternidade, generosidade e alegria. Confesso às senhoras e aos senhores que foi difícil segurar a emoção.

E quando falo em emoção, sou compelido a dizer a esta Casa que tenho me emocionado muito desde que cheguei aqui. Ser Senador pelo Acre, representar aquele povo tão querido é uma dessas emoções que muito me honram. Mas falar de estradas e, principalmente, relembrar as emoções vividas ao longo da viagem, também me emociona. Afinal, é ali em Feijó, às margens dos rios Envira e Acurau, que estão as origens da minha família. Meus avós vivenciaram, há quase um século, as mesmas dificuldades por que passam, no momento, aqueles autênticos heróis que, a despeito da dor e do isolamento, fazem a vida e a história acontecer naquelas paragens amazônicas.

Acompanhar o Governador e sua comitiva nesta cruzada pela integração do Acre me emocionou, sobretudo porque pude constatar que nosso Estado está mudando - e mudando para melhor. O Governo do Estado quer fazer a estrada - já dispõe, por exemplo, de recursos para alguns trechos -, mas quer fazê-la dentro do princípio do desenvolvimento sustentável e ambientalmente correto. Esse é o caminho que o Brasil precisa seguir. Vivemos a era dos extremos, dos limites. Buscar o desenvolvimento, ainda que para romper barreiras como o isolamento, tem que ser feito com a certeza de que, se não nos dermos conta de que, no ambiente em que vivemos, tudo é finito e tem limites, poderemos estar apressando o processo de destruição da própria humanidade.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/07/2003 - Página 20124