Pronunciamento de Amir Lando em 14/08/2003
Discurso durante a 97ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Situação da educação no Estado de Rondônia.
- Autor
- Amir Lando (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
- Nome completo: Amir Francisco Lando
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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EDUCAÇÃO.:
- Situação da educação no Estado de Rondônia.
- Publicação
- Publicação no DSF de 15/08/2003 - Página 23694
- Assunto
- Outros > EDUCAÇÃO.
- Indexação
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- COMENTARIO, NOTICIARIO, TELEJORNAL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), GRAVIDADE, PROBLEMA, FALTA, ESCOLA PUBLICA, PROFESSOR, CONDIÇÕES DE TRABALHO, MATERIAL ESCOLAR, DIFICULDADE, ALUNO, FREQUENCIA ESCOLAR, ESTADO DE RONDONIA (RO).
- NECESSIDADE, INCLUSÃO, REGIÃO AMAZONICA, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, IMPORTANCIA, PRIORIDADE, REFORÇO, EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO, ESTUDANTE, UTILIZAÇÃO, CONHECIMENTO, PROTEÇÃO, RECURSOS NATURAIS, AMEAÇA, INTERESSE, AMBITO INTERNACIONAL, MANUTENÇÃO, SOBERANIA NACIONAL.
O SR. AMIR LANDO (PMDB - RO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em alguns locais do mais interior de Rondônia, o ano letivo começou em agosto. É o que mostrou, na última semana, para todo o País, o Jornal Hoje, da Rede Globo de Televisão. A notícia, que virou manchete, demonstra o descaso, não apenas com aqueles meninos e meninas, corações e mentes acelerados na busca pelo saber, mas com o futuro de uma geração que tem pressa. É como se relógios e calendários do Estado estivessem parados no tempo e no espaço, enquanto o mundo permanece no seu movimento de rotação e translação. O que o noticiário desnudou para o País é que, se depender do seu ritmo atual da educação formal, o Estado de Rondônia poderá ser retardatário na marcha do desenvolvimento do País.
Municípios onde faltam escolas; escolas onde faltam professores; professores para quem faltam as mínimas condições de trabalho; alunos para quem faltam os mais fundamentais direitos constitucionais.
Rondônia tem todas as condições para virar notícia. Boas notícias. Mais do que isso, pelas características próprias de sua ocupação, do Estado pode emergir o que se poderia denominar pensamento Amazônico, fundado na multiplicidade de origens, de sotaques e do contraditório de pontos de vista sobre a realidade regional. Mas, e que é pior, os casos estampados na notícia não são isolados. O processo de esvaziamento na geração do conhecimento amazônico, e Rondônia é um atestado, começa no ensino fundamental e se estende até a Universidade. Por isso, a discussão sobre a inexistência de quesitos básicos para o funcionamento normal de uma escola pública, como aquela mostrada na TV, não pode se circunscrever à necessária contratação, imediata, de professores de matérias faltantes. A sociedade organizada, de Rondônia e da Amazônia, deve participar de um debate mais amplo, sobre a inserção regional em um processo de desenvolvimento verdadeiramente nacional e sobre os interesses externos que pairam sobre a região, notadamente no sentido de mantê-la sob as rédeas do pensamento exógeno.
Neste sentido, se a educação é uma questão para debate em âmbito nacional, nos Estados amazônicos ela adquire importância fundamental para a manutenção da soberania nacional. Não há como negar a cobiça internacional sobre os recursos amazônicos. Se há cobiça, é porque esses recursos são estratégicos. Se são estratégicos, devem ser agilizados para o progresso do povo brasileiro, e não para atender a interesses dos países hegemônicos.
Portanto, a negligência do Governo de Rondônia ou de qualquer outro Estado amazônico para com as escolas públicas do ensino fundamental ou médio e do Governo Federal para com a Universidade pública não significam apenas um descaso a ser lamentado, com lágrimas, por alunos, pais, mestres, diretores e reitores, passível de ser sanado por contratações e aquisições localizadas. É hora de pensar a Amazônia e o seu futuro como história e geografia brasileira. Esse debate deve começar, necessariamente, pela educação. As escolas amazônicas, em todos os níveis, devem se constituir algo assim como trincheiras na defesa da soberania nacional; como soldados, os alunos, pais, mestres, zeladores, diretores e reitores; como arma, o conhecimento.
Não sei ao certo de quantos professores necessitam as escolas de Rondônia. A matéria jornalística atribui algo próximo de dois mil, apenas nas escolas estaduais. A UNIR, próximo de cem. Que sejam contratados, imediatamente. Também não tenho a idéia mais apurada sobre tais números, em toda a região. Que tais lacunas sejam, igualmente, preenchidas. O conhecimento da Amazônia não pode permanecer na marca do tempo de ponteiros atrasados nos relógios do País e adiantados nos relógios do mundo desenvolvido.
O Professor de matemática, entrevistado na mesma matéria, fez uma associação entre o teorema de Pitágoras e a pupunha. O País conhece, com certeza, o enunciado de tal teorema, que “o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos”. Não tenho a mesma convicção de que o resto do País saiba de que se trata a tal pupunha. Imagine-se, então, dos recursos da floresta e de toda a biodiversidade amazônica. Enquanto faltam professores e pesquisadores para reunir e compartilhar o conhecimento amazônico, os interesses internacionais, do outro lado do mundo, já providenciaram, inclusive, o registro do cupuaçu. Este, pelo menos, conhecido pelo seu suco nas lanchonetes de todo o Brasil. Imaginem-se, então, as nossas riquezas minerais, os recursos medicinais da floresta; o conhecimento, enfim.
As escolas de Rondônia e da Amazônia têm que estar preparadas para essas boas notícias.
Era o que eu tinha a dizer.