Discurso durante a 99ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Modelo de desenvolvimento do semi-árido, formulado pelo Padre Lira, da Fundação Ruralista, de Dom Inocêncio/PI.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Modelo de desenvolvimento do semi-árido, formulado pelo Padre Lira, da Fundação Ruralista, de Dom Inocêncio/PI.
Publicação
Publicação no DSF de 19/08/2003 - Página 24018
Assunto
Outros > HOMENAGEM. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • RECONHECIMENTO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, SACERDOTE, POLITICO, ESTADO DO PIAUI (PI), MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO CARENTE, VITIMA, SECA, REGIÃO NORDESTE, ESPECIFICAÇÃO, EMPENHO, BUSCA, COLABORAÇÃO, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), BANCOS, CONSTRUÇÃO, CISTERNA, RESERVATORIO, AGUA, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, QUALIFICAÇÃO, PROFESSOR, OFERECIMENTO, REFEIÇÃO, ESTUDANTE.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros que acompanham esta sessão pela TV Senado e pela Rádio Senado, venho a esta tribuna dizer que Deus está presente aqui, assim como o Senador Eduardo Suplicy, do PT de São Paulo, grande Estado, mas muito maior é esse Senador. Se o PT é uma estrela, o Senador Eduardo Suplicy é o sol desse Partido. Mais do que o sol, porque a claridade do sol aparece somente durante o dia e a luz do Senador Eduardo Suplicy brilha dia e noite.

Senador Eduardo Suplicy, o Piauí é orgulhoso da gente de Guariba e Acauã. Guariba não é importante somente porque lá começou o Governo Lula, mas também porque teve uma colheita magnífica de feijão. E Guariba, Senador João Capiberibe, fica na chamada Serra das Confusões.

Queria trazer aqui uma experiência para o PT. O Piauí, ao longo da história, tem sido a luz. Basta dizer que, no período mais difícil da nossa vida política, na ditadura, o que seria deste País sem Petrônio Portella? Ninguém o excedeu. Sem uma truculência, sem um tiro, sem uma bala, ele foi o grande artífice da redemocratização. Sem Evandro Lins e Silva o que seria da Justiça deste País no período ditatorial? Ninguém o excedeu em coragem, em sabedoria. O que seria deste País sem João Paulo dos Reis Velloso? Na ditadura, Senador João Capiberibe, tiraram o direito à liberdade, o mais sagrado dos direitos, pois sem liberdade não há vida. Entretanto, houve muitos avanços na tecnologia, na comunicação, nas estradas. A luz nesse período foi trazida por João Paulo dos Reis Velloso, um exemplo. Após vinte anos de mando, de ser a luz, nenhuma corrupção, nenhuma indignidade, nenhuma imoralidade ocorreu, não é, Senador Ney Suassuna? O que seria deste País sem o maior dos jornalistas, Carlos Castelo Branco, o Castelinho, que ainda hoje é lembrado? Ele é do Piauí.

Eu queria trazer uma luz para o PT. O nosso PMDB não é a base; é a luz. Sou desse PMDB do sofrimento, da luta, da redemocratização, simbolizado por Ulysses Guimarães. Encantado e mitológico no mar. Teotônio Vilela, com câncer, levantava a bandeira da redemocratização. Quero lembrar Tancredo Neves. O Senador José Sarney atravessou o mar vermelho do renascer democrático da transição. Aqui está o resumo histórico da Fundação Ruralista.

Senador Ney Suassuna, não sei o que é ódio nem rancor. Deus poupou-me desses sentimentos. Em 1995, fui candidato contra forças oligárquicas muito poderosas do Piauí.

Senador Jonas Pinheiro, a maior surra política que já levei em minha vida foi na cidade de Dom Inocêncio. No segundo turno, quando o povo já marchava conosco e havia uma perspectiva invejável de mudar a política do Piauí, foi uma avalanche. Mandamos um bravo Deputado da região, Marcelo Castro, para lá. O meu vice era Presidente da Fetag. Tive 10% dos votos. Meu adversário teve uns 4 mil. Por quê? Porque existia um líder, um homem de Deus lá, o Padre Lira*.

O Governo de Fernando Henrique Cardoso teve como seu melhor elemento, sem dúvida nenhuma, o Pedro Parente. Na hora do Apagão, foram chamá-lo. Pedro Parente, Senador Capiberibe é apenas filho de piauiense e sobrinho desse Padre Lira, que meu deu a maior surra política em Dom Inocêncio. Naquele tempo votava-se na chapa escrita, todo mundo era alfabetizado, Senador Almeida Lima, lá não existem analfabetos. Depois de governar o Estado e muita luta continuei porque era um grande líder a quem rendo homenagem. Não conheço e não existe no Nordeste brasileiro nenhuma pessoa que entenda mais de semi-árido do que o Padre Lira, o tio do Pedro Parente, do PFL, que sempre me deu uma surra política enorme.

Outro do Nordeste também que conhece muito o Nordeste, Senador Suplicy, é do PFL - não tem nada, sou do PMDB -, é o Governador do Sergipe, João Alves. O melhor livro escrito sobre o Nordeste é de João Alves. Recentemente o nosso líder das forças oposicionistas, Efraim Morais, levou para o México um livro de João Alves sobre energia.

Mas o que queria dizer é que aqui está o modelo para quem quiser desenvolver o semi-árido. Para este Padre Lira, nota dez, o Frei Betto fica com cinco. Escreve muito, mas quero é resultado, quero é aquilo que Cristo disse: não só palavras, mas obras. Cristo é acompanhado pelos seus discursos - o “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”, o Pai-Nosso -, mas ele fez obras. Senador João Capiberibe, se Cristo não tivesse feito as suas obras - cego ver, aleijado andar, mudo falar, surdo ouvir, limpar os corpos dos leprosos, tirar os endemoninhados, multiplicar peixes e pães - nós não o seguiríamos. E aqui está a obra.

O grande Líder Eduardo Suplicy foi ao Piauí várias vezes. Somos muito agradecidos a S. Exª, inclusive pelo seu empenho e esforço em conseguir aqueles R$60 mil de dois Ministérios, Senador João Capiberibe, para fazer funcionar um hospital universitário, que ainda não foi possível. Lembro-me da nossa Deputada Francisca Trindade, que, também, morreu magoada, porque conosco lutava para o funcionamento daquele hospital e não conseguiu.

Agradecemos ao Governo - a gratidão é a mãe de todas as virtudes - as ações em Guaribas, mas que vá buscar o modelo da fundação ruralista. O padre que me derrotou várias vezes por trabalho, por serviço, ninguém mais do que ele conhece o semi-árido. Começou na seca de 1942, eu estava nascendo, V. Exª não tinha nascido e ele já estava lá, Senador Eduardo Suplicy, obedecendo às leis de Deus, dando água aos que têm sede e alimento aos que têm fome.

Na seca de 50 e de 51, a política como ideal, queria só chamar um professor sacerdote, e seria breve. Naqueles tempos, o Governo americano era melhor. Agora ele nos mata com o FMI. Mas tem solução: basta se inspirar na coragem de Juscelino Kubitscheck de Oliveira, que soube romper com o FMI para conseguir dar a este País 50 anos de progresso em 5 anos de administração. Naquele tempo, havia a aliança para o progresso, alimento para a paz, e o Padre Lira era o responsável. Era proibido vender ou trocar. A ordem era somente dar. Esses eram os Estados Unidos do passado.

Padre Lira foi acreditado e recebeu subsídio e auxílio de vários países, inclusive da Inglaterra, da fundação Friends of the Lira Foundation. Enfrentou as secas de 1972, 1976, 1977, 1983 e 1984. De 1990 a 1993 houve quatro anos de seca. Desenvolveu um artesanato; levou àquele povo do semi-árido a água por meio de cisternas.

Srs. Senadores, na guerra contra a carência de água nenhuma batalha foi tão dignificante para a Fundação Ruralista o quanto foi o projeto de reservatórios domiciliares para captação de água do telhado, as cisternas, projeto pioneiro no Nordeste, de alcance como não se pode imaginar sob todos os aspectos. Nada existe que possa trazer maior conforto, mais economia de tempo e benefícios à saúde do que o tesouro de possuir água potável em casa, nessa região. Libertar-se da água salobra era o maior sonho desse povo.

Assisti na microrregião de Cansanção - a mesma onde dentre dez crianças que nasciam, oito morriam antes de completar dois anos - uma garota de sete anos dizer: mãe, estou com fome, mas se eu comer vou ter sede.

Hoje desapareceu a mortalidade infantil em Cansanção. Não se registra mais criança vomitar a água que bebe; em todas as casas existem reservatórios - caixas, como costumam chamar.

A capacidade dos reservatórios é de 12 mil litros, suficiente para uma família beber durante a estiagem normal de 6 meses. Na outra metade do ano, a família bebe da aguada ou lagoa que sempre existe próxima da casa, sendo comum trazer água em jumento ou na cabeça da reserva existente perto de onde mora e completar a caixa ficando assegurado o provimento nos 6 meses em que a única água existente é a do reservatório.

No Município de Dom Inocêncio, existem atualmente 1.310 reservátorios domiciliares, quantidade proporcional a 7 mil habitantes, não registrada em nenhum Município do Nordeste.

Existem 1.310 cisternas feitas pelo padre, Senador Capiberibe. Das Cáritas brasileira, ele conseguiu 20; da Legião Brasileira de Assistência, 200; do Vitae - Apoio à Cultura e Promoção Social de São Paulo, 230; do Grupo de Amigos da Inglaterra, 150; do Grupo de Amigos da Holanda, 80; do Lourdes Villela de São Paulo, 10; da Fundação Banco do Brasil - a pedido do Dr. Pedro Parente, 300; a Sudene, a pedido do Dr. Pedro Parente, 320.

Esse padre, sozinho, fez 1.310 cisternas.

Não estão incluídos nesta relação 15 reservatórios, com capacidade de 50 mil litros cada um, existentes nas escolas e 10 na sede, todos também construídos pela Fundação Ruralista.

Levando-se em conta as novas casas que foram levantadas após a aplicação do último recurso recebido para os projetos de água, ainda existem, na zona rural e na cidade de Dom Inocêncio, 300 domicílios que não possuem cisterna.

PIONEIRISMO

O sistema de educação da Fundação Ruralista apresenta pioneirismos que muito a honram.

1) Primeira obra instituída no Brasil com a finalidade específica de assistir aos rurícolas, vítimas da seca, com dispositivo estatutário de ser sediada na zona rural. Criada em 1958, foi fundada há 45 anos;

2) Primeiro projeto de educação rural a estabelecer calendário escolar adaptado à realidade econômica, social e climática da região;

3) Primeiro projeto de educação rural a incluir, em seu currículo, como obrigatório, ocupando todo um turno, curso profissionalizante para mulheres;

4) Primeiro projeto a valorizar a professora, ao ponto de dar prioridade à construção de sua casa na escola - Casa de Apoio - e sala para o artesanato, deixando a latada funcionando como sala de aula;

5) Primeiro projeto de educação participativa com as mães preparando a merenda, os pais fornecendo a lenha, os alunos assumindo o asseio e afazeres domésticos da escola;

6) Primeiro projeto, ao menos no Piauí, que, desde sua instalação, fornece não apenas merenda, e sim três refeições por dia a todos os alunos, como o Presidente Lula deseja;

7) Primeiro projeto a criar cursos de capacitação de professoras leigas no Piauí, os primeiros com duração de 3 meses; e os outros, de 2 meses, 14 anos;

8) Bolsa de educação é novidade hoje no Brasil; na Fundação Ruralista, ela existe desde 1982.

9) Uma inovação recente do sistema de educação do País foi o prolongamento para nove anos do ensino fundamental.

Nas escolas da Fundação Ruralista, há 36 anos, o antigo primeiro grau menor - escola primária - sempre teve a duração de 5 anos: 1º ano A, 1º ano B, 2º ano, 3º ano e 4º ano.

Há vários benfeitores. Entre eles, destaca-se o Ministro João Paulo Reis Veloso, que ajudou muito o Padre.

No momento, a Fundação Ruralista, por meio do Deputado Paes Landim, conseguiu o auxílio do Sebrae e mantém as mulheres bordadeiras de Dom Inocêncio.

A expectativa de transformação pelo projeto traz algo inconcebível: emprego e mão-de-obra inicialmente para mais de 800 pessoas, num Município de 7 mil habitantes. São 80 bordadeiras que hoje comercializam seu produto por meio do Sebrae.

Então, Sr. Presidente, deixo aqui uma oportunidade para o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva colher o exemplo da Fundação Ruralista de Dom Inocêncio, que, sob o comando do Padre Lira - que, sem dúvida nenhuma, representa Deus -, traz melhores dias para aquele povo, por meio do trabalho.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/08/2003 - Página 24018