Discurso durante a 106ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas às nomeações de cunho político em áreas estratégicas do Governo. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas às nomeações de cunho político em áreas estratégicas do Governo. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 28/08/2003 - Página 25148
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, FALTA, CRITERIOS, GOVERNO FEDERAL, NOMEAÇÃO, SERVIDOR, CARGO DE DIREÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, PROBLEMA, GESTÃO, INSTITUTO NACIONAL DO CANCER, FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAUDE.
  • QUESTIONAMENTO, MANUTENÇÃO, CARLOS LESSA, PRESIDENTE, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), AUSENCIA, EXERCICIO, PRESIDENCIA.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, FALTA, CONTROLE, MOVIMENTAÇÃO, SEM-TERRA, REPUDIO, POLITICA PARTIDARIA, PERSEGUIÇÃO, DISSIDENTE.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Senador Tasso Jereissati fará, daqui a pouco, importante pronunciamento sobre a reforma tributária. Teremos, então, a oportunidade de dissecar o defeituoso projeto apresentado pelo Governo à Nação.

Atenho-me, nesta comunicação de Liderança, a pontos da Administração, ou seja, deste Governo, que tanto quanto todos os governos têm o dever de governar. Mas não governa.

E citarei exemplos muito concretos. Já foi muito batido aqui, por todos os Líderes responsáveis da Casa, mas não o bastante - porque isto é um estigma - o caso do Instituto Nacional do Câncer. A incompetência administrativa de quem dirige a saúde neste País levou os doentes de câncer a uma situação de penúria deprimente a que estão relegados. Temos visto - e de novo vem a indigitada e infeliz área da saúde - a politização da Funasa e, recentemente, o episódio emblemático da demissão do marido de uma Deputada dissidente do PT. Ou seja, ou o marido da Deputada, se foi nomeado só por o ser, não deveria tê-lo sido, ou o técnico, que teria sido nomeado, apesar de ser marido da Deputada, mesquinhamente, teria sido defenestrado por um Governo entre mesquinho e fisiológico.

Poderia falar da repolitização da Funai. Poderia falar do aparelhamento do Estado, que está acontecendo. Isso trará conseqüências funestas para a Administração. Estamos vendo já a falência da Funasa. Estamos vendo a falência da Saúde.

E, hoje, estarrecido, vejo o BNDES. Os jornais dizem que o economista Carlos Lessa vira uma “rainha da Inglaterra”. O economista Carlos Lessa vai ser agora uma espécie - não sei de quê - lá, no BNDES, e o Sr. Darc Costa, Vice-Presidente, passaria, de fato, a comandar os destinos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Ou seja, o Governo que não governa também não demite. O Governo que não governa é capaz de perseguir seus dissidentes, mas não demite o ineficiente, não demite o incapaz, não demite o equivocado, não demite aquele que vai à falência administrativa.

O justo é simples, e o simples talvez nem sempre seja justo. Mas o justo quase sempre é simples. O Sr. Carlos Lessa não resolveu, retire-se o Sr. Carlos Lessa da Administração. Mantê-lo sabe-se lá por que pruridos, desmoralizando-o e ao seu curriculum de importante acadêmico brasileiro, significa, na verdade, compactuarmos com a incompetência, com a fisiologia e com o descaso para com o País.

O Governo tem ainda este gargalo importante que é o chamado MST. O Governo não consegue controlá-lo. E digo mais: hoje, quando o Governo compreende que o MST não é sua massa de manobra, digo mais, não sei se, a essa altura, o Sr. João Pedro Stédile é capaz de controlar o MST; não sei se, a essa altura, não existem lideranças muito mais fortes e radicais do que Stédile e se essa situação não está ficando, de fato, incontrolável e até incontrolada pela omissão do Governo, ao longo de todo o processo, apesar dos alertas que lhe fizemos nesses primeiros oito meses de Governo Lula.

Portanto, temos um quadro que, a par de extravagâncias, como US$1 bilhão do BNDES para a economia Venezuelana se movimentar, numa hora em que estamos vendo a economia brasileira, por falta de crédito, entre outras razões, passar por um dos momentos mais obscuros, mergulhada que está em pleno processo recessivo. Considero que o Governo se porta de maneira exótica, bizarra e, sem dúvida alguma, ele se porta de maneira incompetente em relação ao administrativo. Aparelha e politiza o Estado e, ao mesmo tempo, consegue desmantelar tudo o que de organizado encontrou, e o seu saldo final será funesto para a sociedade brasileira, na medida em que o saldo final que vai sendo construído revela um governo sem capacidade gerencial, incapaz de meter a mão na massa e de viver com competência, criatividade e construtividade o dia-a-dia do povo brasileiro.

Encerro esta fala, mostrando que o Governo que não governa é, ao mesmo tempo, o Governo que não demite, porque não demite Carlos Lessa, preferindo que ele se transforme em “Rainha da Inglaterra”. E o Governo que não governa é o governo que persegue seus dissidentes, a ponto de tentar impedi-los de se candidatarem na próxima eleição. É o que acontece com a Senadora Heloísa Helena, que seria expulsa, supostamente após o prazo de refiliação. Isso é uma prova de que também falta o caráter da democracia, o caráter da cordialidade e o caráter da tolerância a um governo que tem que se adaptar para valer às regras democráticas de um País que não abre mão de ser ele próprio um País eternamente democrático.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/08/2003 - Página 25148