Discurso durante a 115ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação de S.Exa. com o aumento do alcoolismo no País.

Autor
Papaléo Paes (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Preocupação de S.Exa. com o aumento do alcoolismo no País.
Publicação
Publicação no DSF de 09/09/2003 - Página 26466
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • APREENSÃO, SITUAÇÃO, AUMENTO, ALCOOLISMO, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, JUVENTUDE, MULHER.
  • ADVERTENCIA, DANOS, ABUSO, CONSUMO, BEBIDA ALCOOLICA, DROGA.

O SR. PAPALÉO PAES (PMDB - AP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, não são poucos os que consideram o alcoolismo um problema sobre o qual já dissemos o que havia a ser dito e sobre o qual já estamos fazendo o que há para ser feito. Não há como negar, é bem verdade, que o alcoolismo é uma das doenças mais estudadas e combatidas em todo o mundo. Volta e meia, contudo, é importante que refresquemos nossas memórias com alguns dados e algumas considerações sobre esse flagelo do mundo moderno. Como médico e Senador da República, não poderia deixar de lançar meu alerta sobre os malefícios do consumo abusivo das bebidas alcoólicas.

Em reportagem recente, a revista semanal Istoé nos informa que o alcoolismo já atinge 11% da população adulta brasileira. Algumas instituições divulgam percentuais ainda mais elevados, que chegam a 15%. É o mesmo intervalo em que geralmente se situa a taxa mundial, que varia entre 10 e 15%.

O álcool, indiscutivelmente, é a mais disseminada das drogas. Estima-se que sete em cada dez brasileiros já experimentaram algum tipo de bebida alcoólica. Seu consumo é aceito com uma naturalidade injustificável, caso consideremos os custos financeiros e os danos sociais provocados por essa substância.

Sr. Presidente, a droga mais difundida e mais consumida no mundo é, também, a mais problemática, a mais custosa e a mais socialmente danosa. As taxas de consumo entre os jovens, por exemplo, são preocupantes. O álcool é a droga mais popular entre a juventude brasileira. Cerca de 70% dos jovens da cidade de São Paulo começam a beber entre os 10 e os 12 anos de idade. Segundo uma pesquisa realizada em cinco capitais do País, 45% dos jovens entre 13 e 19 anos envolvidos em acidentes automobilísticos haviam ingerido bebida alcoólica.

Sabemos, ainda, que motoristas alcoolizados são responsáveis por cerca de 65% dos acidentes fatais em São Paulo. Nos hospitais psiquiátricos brasileiros, aproximadamente 90% das internações por dependência de drogas acontecem devido ao álcool.

Outro dado alarmante veiculado pela revista Istoé diz respeito ao alastramento do alcoolismo entre as mulheres. Ano após ano, a incidência de dependentes mulheres vem aumentando proporcionalmente em relação aos homens. No grupo Alcoólicos Anônimos (AA), a antiga proporção de quatro homens para cada mulher já é de dois homens para cada mulher.

Os danos que o álcool causa ao corpo humano são imensos. O uso abusivo da droga é capaz de provocar o aparecimento de mais de 350 doenças físicas e psíquicas. Cito, como exemplos, a diminuição das funções cerebrais, como perda de memória, dificuldade de aprendizagem e de concentração; cânceres de esôfago, de estômago e de pâncreas; males cardíacos e elevação da pressão arterial; cirrose hepática; pancreatite crônica; problemas na gravidez; e disfunções sexuais, como diminuição da libido e impotência. Destaco, ainda, que o abuso do álcool aumenta as chances de se contrair o HIV, uma vez que a pessoa relaxa nos cuidados e passa a apresentar comportamento de risco, como, por exemplo, ter relações sexuais sem o uso de preservativos.

Uma das questões que eu gostaria de ver abordadas com mais ênfase nas campanhas contra o alcoolismo é a relação existente entre essa doença e os acidentes de trabalho. Os danos causados pelo álcool afetam a produtividade do trabalhador e colocam em risco sua vida e sua integridade física, pois reduzem seus níveis de concentração e de atenção.

Os prejuízos que o álcool causa às empresas são astronômicos. Calcula-se que, no Brasil, problemas relacionados ao álcool respondam por uma queda de produtividade equivalente a 500 milhões de dólares anuais. Cerca de 25% dos acidentes de trabalho são causados por funcionários alcoolizados ou debilitados pelo uso da droga. Os usuários do álcool faltam dez vezes mais do que os não-usuários. Nos Estados Unidos, o custo da dependência química alcança impressionantes 140 bilhões de dólares anuais, traduzidos em perdas patrimoniais, furtos, faltas, acidentes, despesas médicas e corrosão de 10% da folha de pagamento.

Várias empresas públicas e privadas já têm programas de prevenção e tratamento de dependentes, como é o caso da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo. As empresas estão percebendo as vantagens de tratar de seus funcionários alcoólatras, ao invés de demiti-los. Na ponta do lápis, fica mais barato recuperar os empregados dependentes do que mantê-los produzindo pouco. Simplesmente afastá-los, por sua vez, exigiria gastos adicionais com o treinamento de substitutos.

Srªs e Srs. Senadores, não há dúvida de que o alcoolismo é um gravíssimo problema de saúde pública. É a primeira causa de acidentes de trabalho, uma das principais nos acidentes de trânsito e a terceira causa mortis no Brasil. O fato de que o número de alcoólatras no País está crescendo reforça a necessidade de campanhas mais enérgicas, voltadas principalmente para a juventude, fase da vida em que a grande maioria das pessoas estabelece o primeiro contato com as bebidas alcoólicas.

A experiência norte-americana da Lei Seca deixou claro que a proibição não é o caminho para a solução do problema. É preciso, acima de tudo, educar a população para os males decorrentes do consumo abusivo do álcool e de outras drogas. A restrição da publicidade, ora em estudo na esfera governamental, pode ser uma das formas de atacar esse mal que devemos, a todo custo, tentar erradicar.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/09/2003 - Página 26466