Discurso durante a 132ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o pronunciamento do Senador Jefferson Peres a respeito da viagem da Ministra da Assistência e Promoção Social à Argentina. Análise dos resultados da última pesquisa CNI/Ibope sobre o aumento da inflação.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre o pronunciamento do Senador Jefferson Peres a respeito da viagem da Ministra da Assistência e Promoção Social à Argentina. Análise dos resultados da última pesquisa CNI/Ibope sobre o aumento da inflação.
Publicação
Publicação no DSF de 01/10/2003 - Página 29650
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, BENEDITA DA SILVA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA ASSISTENCIA SOCIAL, SUSPEIÇÃO, UTILIZAÇÃO, FUNDOS PUBLICOS, REALIZAÇÃO, VIAGEM, CARATER PESSOAL, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA.
  • ANALISE, RESULTADO, PESQUISA, AUTORIA, CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDUSTRIA (CNI), APRESENTAÇÃO, ESTATISTICA, CRESCIMENTO, DESAPROVAÇÃO, POPULAÇÃO, ATUAÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXPECTATIVA, AUMENTO, INFLAÇÃO, DESEMPREGO, AGRAVAÇÃO, SITUAÇÃO, SEGURANÇA PUBLICA.
  • COMENTARIO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, AUMENTO, DIVIDA EXTERNA, DESPESA, JUROS, CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ADIAMENTO, EFETIVAÇÃO, PROPOSTA, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, NECESSIDADE, ATENÇÃO, CONDUTA, MINISTRO, CONTENÇÃO, DESAPROVAÇÃO, SOCIEDADE.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tem inteira razão o líder do PDT, Senador Jefferson Peres, ao enfocar aqui a viagem da Ministra Benedita da Silva a Buenos Aires, em caráter particular e às custas do erário. A desculpa foi esfarrapada e o Planalto, de maneira licenciosa, diz que o assunto está encerrado: se bastou para os padrões do Planalto, não bastou para os da Nação.

Não esse episódio em si, senão os números teriam sido mais duros, mas esse comportamento se reflete na pesquisa CNI/IBOPE*, da qual tenho aqui alguns tópicos que mostram que cresce a desaprovação ao Governo de Lula. A desaprovação era de 13% em março, subiu para 18% em junho e, agora, está em 24%, ou seja, cresceu quase que numa progressão geométrica.

“A avaliação do Governo permanece elevada, mas a gordura que havia começa a ser consumida - disse Armando Monteiro, presidente da CNI.”

“CNI/IBOPE: Aumenta o número de pessoas que temem o aumento da inflação e do desemprego: 40% dos entrevistados acham que a inflação vai aumentar nos próximos seis meses, contra 22% que acham que vai diminuir.”

“Desemprego: 49% dos entrevistados dizem que vai aumentar, enquanto 27%, que vai diminuir.” Ou seja, desaba a confiança.

“Confiança em Lula cai seis pontos.”

Aqui, um fato interessante: perguntados se votariam em Lula novamente, 52% dizem que sim. Aqui tem não, mas na verdade percebi que é um engano de redação, porque 58%, em junho, diziam que votavam nele de novo e 64%, em março, logo, apenas 52% ainda dizem que repetiriam a aventura política. E, diz mais ainda: “Sua pior atuação está no combate ao desemprego e na área de segurança pública”. A desaprovação supera a aprovação; 52% desaprovam as medidas adotadas pelo Governo para combater o desemprego, 41% a aprovam. Em segurança, 53% desaprovam, 39% a aprovam. Por segmentos, a pesquisa constatou quedas acentuadas de avaliação do Governo na maioria dos Estados, com exceção das pessoas mais velhas, mais instruídas, mais ricas e as residentes no Sul do País, que se mantêm mais confiantes, porque sofrem menos até, têm toda razão de terem mais paciência.

Por outro lado, este é um Governo que nasceu sob a lógica de que o País tinha uma dívida ingovernável e que seu primeiro trabalho seria certamente o de reduzir a dívida como proporção do PIB. Aqui temos que a dívida cresce. A despesa com a dívida cresce 69% entre janeiro e agosto de 2003, comparativamente com igual período no turbulento ano de 2002. Gastos com juros passa de R$100 bilhões neste ano já. E mais ainda: como proporção do PIB, já se atinge alguma coisa perto de 58%. Vamos tentar estabelecer que o Brasil estaria confortável se a relação dívida/PIB fosse alguma coisa parecida com 46%. Há muito tempo não é; isso cria um quadro de vulnerabilidade. Há muito tempo não é, e está mais alta do que nunca, 57,5%, quase 58%, como proporção do PIB, a dívida externa. Ou seja, desaba mais um bastião do discurso do Governo do Presidente Lula, do Governo do Partido dos Trabalhadores. O Governo, ao invés de reduzir a dívida, a tem aumentado. As promessas são sempre adiadas, e sempre é o futuro quem vai responder pela incapacidade do Governo de, no presente, oferecer respostas positivas para a Nação brasileira.

Não me alongo porque vamos voltar à tribuna amanhã. Hoje, apenas lembro-me do apelo feito pelo Presidente Lula à Nação. Desde o começo, quando subi a esta tribuna pela primeira vez, eu dizia ao Presidente Lula, por intermédio do diálogo mais legítimo que devo ter com Sua Excelência, que é o diálogo da minha tribuna para com a Presidência de Sua Excelência, eu dizia que não se pode dar trégua. Trégua, não! O que é trégua? Trégua é eu me calar por seis meses e, durante os seis meses, a Ministra Benedita viajar à vontade e, daqui a seis meses, eu começo a cobrar. Não! Trégua, não! Trégua, nem um segundo! Paciência, sim; tolerância, sim. Apoio temos dado, no painel, para que o Governo aprove matérias fundamentais para a governabilidade. Mas trégua, não. Ainda assim, respondendo à nossa ação de oposição, o Presidente Lula dizia, em uma comemoração, no ABC paulista: “Não têm paciência para com o meu Governo. A criança não nasceu”. Até uma criança para nascer precisa de nove meses. Depois ela vai começar uma outra etapa de vida. Dizia o Presidente: “Esperem pelo menos a criança nascer”.

Sr. Presidente, quero comunicar à Nação que estamos comunicando ao Presidente o que Sua Excelência já sabe: a criança nasceu! Passados nove meses, a criança nasceu. Daqui por diante, seria uma demora antinatural. É possível sobreviver com seis meses e meio, com sete meses de gravidez, com oito meses e meio. E, claro, com nove meses, a criança nasceu. O Governo completa nove meses e, de lá para cá, só vimos a situação do País se deteriorar, ainda que comparativamente com dados graves daquele turbulento ano de 2002, que foi turbulento, entre outras coisas, porque os mercados se aproveitaram da desconfiança que havia quanto aos rumos que seriam adotados pelo Governo Lula e provocaram todo aquele over shooting do dólar e todas as conseqüências, a começar pela inflação daí decorrentes. Mas, a criança nasceu. Daqui a pouco faz um ano. Daqui a pouco teremos o segundo ano de Governo decorridos. Em outras palavras, o Presidente Lula tem que tomar algumas atitudes muito claras para que o seu Governo não seja o Governo que protagonize o espetáculo da postergação, o espetáculo do adiamento, o espetáculo da renovação do pedido de paciência. O Presidente Lula precisa fazer algo muito simples: começar, para valer, a romper com o lado pirotécnico do seu Governo e aderir à idéia - a meu ver, justa, correta, eficaz, digna e patriótica para com o Brasil -, de simplesmente governar o Brasil, dando expediente e cobrando ação dos seus Ministros, cobrando rigidez moral dos seus Ministros e evitando que, a cada pesquisa que tenhamos daqui para a frente, quando percebemos que a lua-de-mel acabou, tenhamos que registrar, com preocupação, quedas e deteriorações na percepção que o povo faz do seu Governo e até - isso que é o triste - na percepção que o povo faz acerca do seu próprio futuro.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Era essa a comunicação de Liderança do PSDB.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/10/2003 - Página 29650