Discurso durante a 135ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas à postura ética do presidente Lula.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Críticas à postura ética do presidente Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 04/10/2003 - Página 30240
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • LEITURA, TRECHO, ENTREVISTA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXPECTATIVA, REDUÇÃO, POBREZA, JUSTIFICAÇÃO, VIAGEM, CARATER PESSOAL, BENEDITA DA SILVA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA ASSISTENCIA SOCIAL, IMPOSSIBILIDADE, SUGESTÃO, INTERVENÇÃO, BRASIL, POLITICA, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, CONTESTAÇÃO, PROPOSTA, REFORMULAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL.
  • CRITICA, FALTA, PUNIÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA ASSISTENCIA SOCIAL, DEFESA, INTERESSE PARTICULAR, FUNCIONARIO PUBLICO, AUSENCIA, EXPECTATIVA, MELHORIA, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, DESAPROVAÇÃO, EXCESSO, DESPESA, GOVERNO FEDERAL, PUBLICIDADE, MANIPULAÇÃO, LICITAÇÃO, CONTRATAÇÃO, DUDA MENDONÇA, PUBLICITARIO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • COMENTARIO, RESULTADO, PESQUISA, CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDUSTRIA (CNI), REDUÇÃO, CONFIANÇA, CONSUMIDOR, ECONOMIA NACIONAL, EXPECTATIVA, AUMENTO, INFLAÇÃO, DESEMPREGO, MANUTENÇÃO, CONCENTRAÇÃO DE RENDA, SOLICITAÇÃO, ATENÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONTENÇÃO, FAVORECIMENTO, INTERESSE PARTICULAR, MEMBROS, EXECUTIVO, PRIORIDADE, BENEFICIO, ADMINISTRAÇÃO FEDERAL.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - O Senador Garibaldi Alves Filho merece de nós toda a estima e toda a consideração.

Sr. Presidente, o Presidente Lula, seguindo a orientação do seu esquema de marketing, age bem, procurando, em cima do fato, sustentar, de qualquer jeito, a única âncora do seu Governo, que é a sua popularidade pessoal, e, portanto, o seu desempenho pessoal.

Sua Excelência deu ontem uma entrevista, cujo conteúdo me pareceu bem próximo do desastroso: “Lula dá adeus às vacas magras”. Essa é uma promessa difícil de ser honrada, a curto prazo, por alguém que conhece o perfil de distribuição de renda do País, como o Presidente Lula tem obrigação de conhecer.

Por outro lado, a idéia de se vender ilusão posterga crises e impopularidades, mas eu não imagino que o País possa dar adeus às vacas magras em tão pouco tempo, só porque o Presidente Lula, num acesso de contato com a mídia, num surto, imaginou que isso lhe garantiria um certo efeito anestésico.

Mas Sua Excelência diz mais coisas:

A Benedita me trouxe documentos, provando que ela foi para um ato religioso, mas, ao mesmo tempo, ela foi encontrar com a Ministra da Ação Social da Argentina e foi participar de um debate com empresários. Não vejo qual o crime que a Benedita tenha cometido.

Eu nunca disse que a Ministra Benedita havia cometido crime, mas um grave delito que, a meu ver, mereceria sua demissão.

Volto ao Presidente Lula:

A Benedita cometeu um erro administrativo, que passou por muita gente. (....) Aceitei a justificativa dela e o que precisamos fazer, daqui para a frente, é olhar com mais cuidado cada companheiro que pede para viajar. Mesmo que tenha errado, você tem que ter a grandeza de até chamar a atenção de quem tenha cometido um erro, mas você não pode crucificar.

Tenho estima pessoal pelo Presidente Lula, mas isso beira a hipocrisia. Se fosse no Governo passado, teriam acionado o Ministério Público, viraria um carnaval. Na verdade, o Presidente Lula está revelando um padrão flácido de controle das questões éticas no seu Governo. E esse é o ponto para o qual chamo a atenção de Sua Excelência.

Continuo, comentando ainda a entrevista do Presidente Lula, que afirmou:

Conversei quase duas horas com o Presidente Fidel Castro sobre a questão dos prisioneiros de Cuba. Mas um Chefe de Estado não pode dar palpite na política de outro País.

Entretanto, o Presidente acabou de fazer isso nos Estados Unidos, quando criticou a política americana naquele país. Evidentemente, seu compromisso com os direitos humanos, juntamente com a sua amizade com o ditador Fidel Castro, deveria fazer com que o Presidente Lula aproveitasse, sim, para chamar o Presidente cubano para a realidade deste século, que já não admite ditadura, o ditador nem essa transgressão continuada aos direitos humanos praticada naquela ilha que, tão esperançosamente, recebeu o líder Fidel Castro, quando derrubava Fulgêncio Batista, aquele ditador sanguinário, em 1959. Depois, percebemos o encaminhamento político que terminou fazendo de Cuba, nem mais nem menos, que uma atroz ditadura, a não merecer a menor indulgência por todos que professam a fé na democracia e na liberdade.

O Presidente parte para aspectos trêfegos, coisas pequenas. Sobre a Previdência Social, diz que ”tem muita gente com inveja”. Tenho a impressão de que isso deve ser a meu respeito, e que o Presidente imagina que estou com inveja dele. Sua Excelência diz que “muitos tentaram, passaram anos no governo tentando. Não dá para a gente ficar com medo de um corporativismo minoritário”. O Presidente chama de corporativismo minoritário os servidores públicos que acionava para insultar Senadores e impedir o funcionamento do Congresso com a formação de piquetes. O Presidente Lula impedia, na prática, que se votasse qualquer tentativa de aprofundamento de uma reforma previdenciária naquela época.

Acerca das nomeações políticas, novamente, o Presidente é leve demais para o meu gosto. Sua Excelência diz: “Deve ter alguém reclamando porque ficou de fora.” Será que o Presidente Lula interpreta que assumir um cargo público é uma delícia e que o bom é ficar de dentro? Isso é uma boca rica ou, na verdade, está se convocando brasileiros para o sacrifício de governar o País de maneira inovadora, de maneira correta?

Volta o Presidente Lula: “Ouvi, outro dia, reclamação porque contratamos o Duda Mendonça.” Foi precisamente eu quem fez a reclamação. Reclamei sim. E por falar em Duda Mendonça, hoje O Globo publica a seguinte matéria:

Duda Mendonça está internado desde segunda e deve voltar ao batente semana que vem. O marqueteiro de Lula fez uma cirurgia para retirada da bolsas em volta dos olhos, que estariam provocando inflamações nos cílios. Mas, como não é de ferro, Duda aproveitou e fez outros retoque no layout.

Portanto, ele vai sair mais bonito. E o Presidente Lula não percebe que não temos nada com a idéia de alguém ganhar uma licitação sem vícios. Nós temos tudo, sim, contra a idéia de alguém ter essa intimidade com o Palácio, virar Ministro informal da propaganda, ganhar licitações, ser publicitário do PT. Ele fez essa cirurgia e não sei se tem um pouco do meu dinheiro, como contribuinte. Não sei se ele está fazendo a cirurgia com o dinheiro que ganhou anteriormente. Ou seja, é uma relação promíscua. O Presidente Lula deveria tratar isso com menos leveza e levar em conta a probidade administrativa.

O Presidente pergunta: “queriam que eu contratasse o publicitário do Fernando Henrique Cardoso?”. Não. Mas Sua Excelência não tem o direito de influenciar sobre a contratação de alguém via licitação. Aquele que ganhar deve ser contratado ou eliminamos essa coisa que cairia em desuso, chamada licitação pública.

Depois, o Presidente diz: “A inflação não passará de 7%. E vamos gerar os empregos que queremos gerar. Não sei se serão 10, 5 ou 20 milhões”. Bom, 5 milhões não é o que Sua Excelência prometeu. Foram prometidos 10 mihões. Vinte milhões de empregos eu não exigiria, porque seria, de fato, cobrar mais do que Sua Excelência se comprometeu na campanha.

Uma coisa interessante é que o Presidente, ainda nessa tentativa de ser popular, entrou, ontem, no terreno do futebol e bateu boca com o Dr. Citadini, o presidente do Corinthians, porque é contra a diretoria corinthiana. Eu queria perguntar ao Dr. Citadini o que S. Sª está achando do governo do presidente Lula. Talvez fosse interessante o Presidente Lula saber o que o dirigente do Corinthians acha do governo de Sua Excelência. Talvez, o Corinthians não esteja tão bem quanto nas suas fases mais áureas, mas gostaria de saber, no pingue-pongue, o que o Dr. Citadini acha do presidente Lula se meter em futebol, que é um tema popular, e o que ele acha do governo Lula, se está provocando mudanças boas para o País.

E vamos aterrissar na realidade, no chão duro e frio da realidade:

A Confederação Nacional da Indústria diz que confiança do consumidor diminui.

O Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec) da Confederação Nacional da Indústria, relativo ao terceiro trimestre de 2003, mostra que os brasileiros estão menos otimistas em relação à economia e menos propensos a consumir. O indicador fechou o trimestre em 102 pontos, enquanto no segundo trimestre de 2003 ele estava em 106. O resultado representa uma queda de 3,4% no indicador.

Segundo o coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, 2003 pode ser considerado um ano perdido para a economia e o consumo.

(...) 20% dos entrevistados mostravam a intenção de gastar mais nos próximos três meses. No segundo trimestre, esse percentual era de 23%. O trabalho revela ainda que 67% dos entrevistados acreditavam que a inflação iria subir nos próximos seis meses, enquanto 52% achavam que o desemprego iria aumentar. Outros 19% previam que sua renda iria diminuir, enquanto 47% acreditavam que ela não iria mudar nos próximos seis meses.”

Portanto, o Presidente cuida de futebol e não cuida da administração como deveria. O Presidente perdoa a Ministra, que deu uma desculpa esfarrapada. Foi grave a viagem por motivos que não eram administrativos nem de interesse público, porém, mais grave foi a Ministra inventar uma agenda para tentar se adaptar a uma realidade, fazendo aquilo que não dá certo em país algum, que é não encarar para valer as conseqüências dos seus atos. O Presidente, então, entrou na canoa da desculpa esfarrapada da Ministra, o mesmo Presidente que bateu boca com o seu Ministro da Saúde - Sua Excelência dizia uma coisa e o Ministro outra, na mesma solenidade. Parece mesmo o samba do crioulo doido, do imortal Stanislau Ponte Preta.

Era o que tinha a dizer.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa) - Senador Arthur Virgílio, queremos nos congratular com V. Exª. Estava aqui refletindo sobre Sófocles, que disse que muitas são as maravilhas da natureza, mas a mais maravilhosa é o ser humano. Então, as maravilhas da Amazônia são enormes - o rio, a floresta -, mas a mais maravilhosa é o ser humano, tão bem representado aqui pelo Senador Gilberto Mestrinho, pelo Senador Jefferson Péres e por V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Em nome dos três, agradeço a V. Exª, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/10/2003 - Página 30240