Discurso durante a 140ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao governo Lula. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas ao governo Lula. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 11/10/2003 - Página 31220
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, MANIPULAÇÃO, PROPAGANDA, PUBLICIDADE, AUSENCIA, VERACIDADE, DIVULGAÇÃO, ATUAÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBJETIVO, INFLUENCIA, OPINIÃO PUBLICA, MANUTENÇÃO, POPULARIDADE, CHEFE DE ESTADO.
  • ANUNCIO, APRESENTAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, PROIBIÇÃO, UTILIZAÇÃO, MATERIAL, VIDRO, DIFICULDADE, VISÃO, INTERIOR, CARRO OFICIAL, USO PRIVATIVO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, insisto no fato de que este Governo tem sido o governo da propaganda e de muito poucas realizações. É o governo da propaganda!

Outro dia, desta tribuna, denunciei um fato que poderia ser pitoresco, se não houvesse uma certa dose de má-fé, nele embutida. O Presidente, ou melhor, a Secretaria de Imprensa do Presidente, faz estampar nos jornais brasileiros, nos noticiários televisivos, que Sua Excelência teria tomado atitudes altivas, corajosas, retumbantes, nos Estados Unidos, em relação a certas posições do Governo Bush, envolvendo o Brasil.

Minha assessoria se deu ao trabalho de ir à Internet, pesquisou os principais jornais dos Estados Unidos e não encontrou nenhuma linha a esse respeito. Àquela altura, eu disse: “Meu Deus, não podem transformar isso aqui numa Sucupira e alguém imaginar que não temos capacidade de saber o que se passa mundo afora, como se ficássemos aqui jungidos à pobre sina de sermos informados pelo príncipe”. Ou seja: aquilo que o príncipe não quiser que saibamos, não saberemos; aquilo de que quiser que tomemos conhecimento, tomaremos.

Ocorreu um outro episódio: publicou-se aqui, com estardalhaço, que o Presidente Lula estava cotado para o Prêmio Nobel da Paz. Espantei-me, cá com os meus botões. Perguntei-me: exatamente por quê? Qual foi o grande gesto que teve? Pensei em Sérgio Vieira de Mello, pelo seu sacrifício pela paz mundial. Mas o Presidente Lula, por quê? Pelo insucesso do Programa Fome Zero? Pelo seu jargão eterno de política social sem a capacidade técnico-administrativa para executar um programa qualquer? Pensei que seria prematuro, mas permaneci quieto, porque se falasse, há dias, o que estou dizendo agora, diriam: “Ah, perdeu a eleição, o partido dele não ganhou a eleição e, por isso, está torcendo contra o Presidente”. Portanto, fiquei quieto, imaginando, quem sabe, até funcionar aquela velha mística da homenagem que o mundo faria a um ex-operário que chegou à Presidência da República de um país. Não me esqueço nunca de que Lech Walesa tem a mesma origem: foi eleito, mas não governou bem a Polônia.

Saiu o resultado do Prêmio Nobel, e ele não passou perto do Presidente Lula, não passou fronteiriço ao Presidente Lula. E eu pergunto: é alguma coisa de mais o Presidente da República do Brasil não ser consagrado com o Prêmio Nobel? Não. É normal até que não seja. O Prêmio Nobel é para o pacifista, para alguém que teve a vida imolada -refiro-me novamente a Sergio Vieira de Mello -, mas aqui se espalhou com estardalhaço, aqui se noticiou, com muita ênfase, que o Presidente Lula estava a um passo da conquista do Prêmio Nobel. Lá fora, não; aqui dentro, tudo.

Ou seja, vejo o Governo encenando uma farsa grotesca: a de tentar manipular esta sociedade brasileira sofisticada, complexa, inteligente, culta até quando não lê, mas culta, porque temos uma cultura popular que me autoriza a dizer que o nosso País é culto, mesmo quando está longe da cultura formal. A nossa cultura histórica, a mistura das raças, nossas tradições libertárias, tudo isso faz do brasileiro um povo até intuitivamente culto. Mas imaginam que podemos ter a nossa opinião influenciada por quem manipula o marketing da Presidência da República.

“Qual é a de hoje?” - eles pensam lá. A de hoje é que “a pesquisa caiu um pouquinho”. “O que fazemos?” “Ponham o homem no Prêmio Nobel da Paz.” Em seguida, não sai o Prêmio Nobel. Quero ver qual é a próxima. Não me espanta se quiserem inscrever o Presidente nos jornais do Brasil, a disputar os recordes do Michael Jordan na NBA, no basquete profissional norte-americano, para o qual o Brasil não se credencia em função da pouca tradição nossa na prática desse esporte.

Mas o fato é que quero aqui denunciar o Governo da propaganda. Até já existe o ministro da propaganda, que mistura as contas, que é do PT, é do Governo, ganha licitações, dá os últimos retoques na aparência do Presidente quando vai fazer seus pronunciamentos. Refiro-me ao Sr. Duda Mendonça, que, aliás, disse que estava processando o Presidente do meu Partido, José Aníbal, e estava em dúvida - disse à revista Veja - se me processava. Estou dizendo a ele que continuo às ordens. Vai processar somente o José Aníbal? Por que não a mim? Estou completamente às ordens: já me ofereci da tribuna outro dia e estou aqui hoje novamente. Assumo completamente a responsabilidade por meus atos. Não digo nada de que depois eu me arrependa. Estou dizendo ao Sr. Duda Mendonça que, se ele ainda não se decidiu, não se constranja comigo. Estou às ordens para ser processado por ele e não retiro uma linha do que disse: a relação dele com o Governo é promíscua, e, mais ainda, estão tentando engabelar a opinião pública, montando o que, para mim, é o Governo da propaganda.

Sr. Presidente, juntamente com V. Exª e com tantas pessoas que são vigilantes, altivas, que não se curvam, quero me credenciar para funcionar como um ministro informal da contrapropaganda ou contra a propaganda. A cada passo que tentarem fazer a nossa opinião pública de Sucupira, nós aqui diremos que esperamos um estadista no Governo e nada abaixo disso. Não esperamos nada abaixo disso. Nós não somos Sucupira, não somos comédia que televisão passa. Somos um País com uma cultura, eu diria, bastante consistente. Somos um País com toda uma tradição de respeito internacional, que tem sido cultivada por uma política externa profissional que, mesmo nos tempos da ditadura militar, era o que se salvava neste País.

Denuncio, portanto, algo que, a longo prazo, não é bom para o Presidente; algo que, a curto prazo, se é bom para o Presidente, não é bom para a Nação nem a curto, nem a médio, nem a longo prazos. Denuncio o fato de que esses factóides começam a constranger algumas pessoas - a mim, com certeza; a outras pessoas, tenho certeza que sim. Não sei se há milhões ainda, mas a repetição disso nos levará a uma constatação clara de que o Presidente da República poderá perder crédito, ou seja, se um dia tivermos a honra de ter o nosso Presidente da República credenciado efetivamente para o Prêmio Nobel, que bom para o Brasil, que os brasileiros todos aplaudam isso, mas a farsa não funciona. Se um dia tivermos o nosso Presidente citado em verso e prosa, polemizando com o presidente Bush - isso pode ser bom ou ruim para o Brasil - nas primeiras páginas dos jornais americanos, vamos imaginar que essa é uma realidade a ser discutida aqui dentro, à luz de dados objetivos. Mas vou ao jornal, vou à Internet e não vejo uma linha sobre o Presidente nos jornais americanos. No entanto, aqui parece até que ele quase chegou à cena de pugilato com o presidente Bush.

O Presidente da República precisa perceber uma coisa: a busca incessante e até doentia de seus marqueteiros para manter sua popularidade - no fundo, para sustentar um Governo que não funciona - pode fazer o Presidente perder algo que ele sempre teve, mesmo quando mais discordei dele, ao longo de minha trajetória política e ao longo da trajetória política dele, algo que sempre reconheci nele e que ele não deve perder - e aqui quero fazer o papel da pessoa que realmente está preocupada com ele, porque os áulicos não estão: não perca, Presidente, a credibilidade. Popularidade, eu sempre digo, é um ioiô: vai e volta, dependendo da conjuntura. Credibilidade não é ioiô, é só “iô”: ela vai e não volta, porque, quando se abala a credibilidade de um homem público, é preciso talvez mais do que a vida dele restante para que a possa recuperar.

Então, solicito ao Presidente que se modere, restrinja-se aos fatos, largue os factóides, não ouça cegamente tudo o que manda seu tal ministro informal da propaganda e ouça mais a voz da Nação. O Presidente já começa a dar sinais ruins: já se esconde atrás de um vidro fumê, um insulfilme, que é contra a lei do Detran e está sujeito a uma multa no valor de R$154,00. Mas isso não é o de mais, isso é o de menos. O de mais é que o Presidente, que ia fazer todo o seu Governo nos braços do povo, abraçando e beijando as pessoas - o que me agoniava um pouco, pois o papel do Presidente não é ficar beijando e abraçando as pessoas 24 horas por dia -, agora se esconde atrás de um insulfilme, o que também não é papel de um Presidente. O papel do Presidente é a transparência para valer, ou seja, tem que saber que àquela hora está passando o comboio presidencial, e o povo pode saber que o Presidente está ali, mas não tem nada que parar para dar beijinho e abracinho ou para conceder entrevista improvisada a repórter. Nada disso. Ele tem que passar dentro da dignidade do cargo, mas com as pessoas sabendo que é ele quem está ali, sabendo o que está fazendo dentro carro e dando exemplo para os demais.

            Por isso Sr. Presidente, estou apresentando projeto de lei que proíbe o insulfilme em carros oficiais, de modo a que nenhum de nós que tenhamos a prerrogativa de usar carro oficial tenhamos a possibilidade de fazê-lo de maneira inadequada, inconveniente ou atentatória aos bons costumes da vida pública deste País.

Obrigado, Sr. Presidente. Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/10/2003 - Página 31220