Discurso durante a 142ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Transcrição, nos anais do Senado Federal, de artigo publicado no jornal "O Globo", de primeiro de outubro do corrente, intitulado "Idéias e mesas desarrumadas", de autoria do jornalista Élio Gaspari.

Autor
Sergio Guerra (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PE)
Nome completo: Severino Sérgio Estelita Guerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Transcrição, nos anais do Senado Federal, de artigo publicado no jornal "O Globo", de primeiro de outubro do corrente, intitulado "Idéias e mesas desarrumadas", de autoria do jornalista Élio Gaspari.
Publicação
Publicação no DSF de 16/10/2003 - Página 31838
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DENUNCIA, DESCUMPRIMENTO, COMPROMISSO, GOVERNO FEDERAL, CAMPANHA ELEITORAL, PARALISAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, CRESCIMENTO, DESEMPREGO, CONCENTRAÇÃO DE RENDA.

O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE. Sem apanhamento taquigráfico.)

ESPETÁCULO DO CRESCIMENTO

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo a tribuna nesta tarde para comentar o artigo intitulado “Idéias e mesas desarrumadas”, de autoria do jornalista Élio Gaspari, publicado no jornal O Globo, de 1º de outubro do corrente.

O artigo, que solicito seja inserido nos Anais do Senado, é oportuno e serve para mostrar que o Governo Lula não está em condições de cumprir com as promessas de campanha: continuamos com a economia estagnada, registrando altos índices de desemprego e contração na renda per capita.

            O artigo, que passo a ler, para que fique integrando este pronunciamento, é o seguinte:

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR SÉRGIO GUERRA EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210 do Regimento Interno.)

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IDÉIAS E MESAS DESARRUMADAS

01/10/2003

Está entendido que Lula celebrará o nono ano de mandarinato da ekipekonômica com estagnação, desemprego e contração da renda per capita. Seus sapientes economistas dizem que, como a inflação repicou, os juros não podem baixar mais. Ou seja: como o custo de vida subiu, não se pode baixar a taxa de remuneração do capital do andar de cima, mesmo sabendo-se que a renda do trabalho do andar de baixo foi à breca, mutilando o consumo, que por sua vez mutila a produção.

A ekipekonômica preside um país onde se assiste a uma regressão ao século XIX. Aumentou o número de puxadores de carroças nas grandes cidades. Na última semana de setembro, viam-se em São Paulo ruas com trânsito de fim de semana em tardes de dias úteis. A conta da gasolina deixou os carros em casa. Outro dia, um banqueiro disse que “os melhores feitores eram os ex-escravos”.

Muito melhor do que chorar o ano derramado é dar uma volta pela correspondência de Alceu Amoroso Lima com sua filha. Não se trata de buscar idéias capazes de arrumar a cabeça da economia petista, mas apenas de buscar aconselhamento para as pessoas de todos os partidos que padecem da ansiedade de terem mesas de trabalho desarrumadas. É muito mais negócio aprender a alternativa para a mesa com doutor Alceu do que alternativas para os juros com o governor Henrique Meirelles.

Em dezembro de 1961, a mesa de Alceu estava um caos e ele escreveu: “Acabo adotando uma das duas atitudes que atribuem ao Barão do Rio Branco e ao Chico Campos.”

Santos exemplos. O Barão pode ser nomeado patrono da desordem. Empilhava papéis, mapas, maços de cigarros e jornais. Quando a mesa não agüentava mais entulho, mandava vir outra, chamava o caos de “Mar Morto” e proibia que se mexesse na papelada. A sala de sua casa de Petrópolis ficou imprestável porque as pilhas de papéis vedaram o acesso às janelas. No seu grande gabinete do Itamaraty, comportava-se um pouco melhor. Um argentino escreveu que ele o recebeu em frente a uma grande mesa, inteiramente desarrumada, onde havia espaço apenas para um mata-borrão e um prato cheio de guimbas de cigarro.

Em nove anos de ministério, Rio Branco teve 14 mesas e todas ficaram na mesma sala. Tinha também o hábito de comer e dormir no gabinete. (Acabou morrendo nele, em 1912, aos 66 anos.) Um dia foi encontrado estendido no chão, vestido. Desmaiara estudando mapas.

O mesmo acontecia com o outro exemplo de arrumação de mesa dado por dr. Alceu, o jurista Francisco Campos. Trancava-se na biblioteca de seu apartamento, no Flamengo, e só saía quando o serviço estava terminado. Várias vezes foi achado no meio dos livros.

Foi Campos, o Chico Ciência, quem redigiu a Constituição ditatorial de 1937 e o preâmbulo do Ato Institucional de 1964, dando legitimidade literária à desordem que se seguiu à deposição de João Goulart. Era o oposto do Barão. Ia entulhando a mesa e, quando ela estava sobrecarregada, jogava tudo no chão, chamava o contínuo e mandava que varresse a papelada.

Num caso ou noutro, alguém poderia ver onde Lula guardou o papelzinho com a receita do “espetáculo do crescimento”, aquele que lhe permitiria honrar a sugestão de criar 10 milhões de empregos em quatro anos. Uma coisa é certa: o Barão e Francisco Campos não perderiam um papel de tamanha importância. O que eles tinham de desarrumado era a mesa, não as idéias.

ELIO GASPARI é colunista do GLOBO.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/10/2003 - Página 31838