Discurso durante a 143ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre os 25 anos do pontificado do Papa João Paulo II.

Autor
Papaléo Paes (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reflexão sobre os 25 anos do pontificado do Papa João Paulo II.
Aparteantes
José Jorge, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 17/10/2003 - Página 32727
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, ORDENAÇÃO, JOÃO PAULO II, PAPA, ELOGIO, TRABALHO, BENEFICIO, IGREJA CATOLICA, PAZ, MUNDO.

O SR. PAPALÉO PAES (PMDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no dia 16 de outubro de 1978, um desconhecido cardeal polonês, numa eleição que surpreendeu a todos, foi escolhido para dirigir a Igreja Católica Apostólica Romana.

Certamente, a mão de Deus estava presente na escolha de um Papa da Polônia para ocupar o Trono de São Pedro em tempos particularmente muito difíceis para Igreja, já que a Barca de Pedro enfrentaria muitas ondas revoltas em um mundo marcado por ódios, vinganças, guerras, barreiras sociais e ideológicas, corrupção, ateísmo, neopaganismo, fanatismo e perseguições religiosas.

O Cardeal Karol Woytila viu de perto e participou pessoalmente da humilhação e do sofrimento do povo polonês, oprimido ao longo de sua história com invasões e dominações de estrangeiros durante séculos e, particularmente, no século XX, em que foi vítima de dois déspotas abomináveis, Adolf Hitler e Joseph Stalin.

Em João Paulo II, confirma-se a passagem do Evangelho em que Jesus Cristo disse a Cefas: “Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno nunca prevalecerão sobre Ela”.

A força do Espírito de Deus, o Paráclito, o Consolador, certamente operou para que Karol Woytila confirmasse e fortalecesse a fé de seus irmãos poloneses, ajudando-os a se libertarem do julgo totalitário de um regime intrinsecamente mau, contrário à dignidade da pessoa e incompatível com os valores do cristianismo, com a ética e a moral cristãs e com a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

O papel de João Paulo II no desmoronamento do mundo comunista é inegável: a queda dos regimes comunistas da Europa e da União Soviética tem uma forte relação com a reação dos poloneses do Sindicato Solidariedade de Lech Walesa e com a coragem de seus concidadãos, que nunca abandonaram a fé católica e sempre colocaram suas esperanças na Virgem de Czestochowa, cuja proteção garantiu muitas vitórias aparentemente impossíveis.

O Papa, certamente, haveria de passar pelas dificuldades e tribulações previstas nas Escrituras. “No mundo, tereis tribulações. Coragem! Eu venci o mundo”. Isso que confirma a autenticidade de sua fé e o valor inestimável do seu pontificado para a Igreja e para toda a humanidade, até mesmo para aqueles que afirmam não terem fé.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a ação covarde e abominável de um terrorista que tudo fez para assassinar o Papa João Paulo II também oferece muitas lições e reflexões sobre a humanidade. Além das tribulações, no mundo sempre haverá traidores, outros Judas, outros Caifases, outros Anases e outros Pilatos, que perseguirão e venderão os justos, pois a simples presença dos justos muito incomoda os obreiros da iniqüidade.

João Paulo II, um outro Cristo, um verdadeiro cristão, certamente perdoou o criminoso que tudo fez para tirar-lhe a vida, lembrando as palavras de Jesus no calvário: “Pai, perdoai-lhes. Eles não sabem o que fazem”.

O Papa, desportista, atlético, após o atentado de que foi vítima, nunca mais teve a mesma higidez, a mesma força física e a mesma disposição atlética. Teve um envelhecimento precoce até atingir a atual debilidade física. No entanto, o Espírito de Deus conduz o físico desse homem fragilizado pela perversidade humana, como que repetindo aquilo que o Profeta Isaias afirmara: ”Homem das dores, tomou sobre si todos os nossos pecados”.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, outro grande profeta do século XX, Dom Hélder Câmara, contava uma história interessante de um dos seus amigos pobres, no caso, um estivador. Esse estivador dizia: “Dom Hélder, Jesus tinha todas as qualidades, era o Filho de Deus, mas como homem parecia fraco, não tinha muita força, pois carregava aquela cruz com muita dificuldade, tinha que ser ajudado. Eu acho que eu poderia carregar aquela cruz com facilidade, pois parecia que não era tão pesada assim”. Ao que Dom Hélder Câmara respondeu: “Não diga bobagem, naquela cruz não estava apenas o peso físico da madeira; naquela cruz estavam os meus, os teus, todos os pecados da humanidade, de todos os tempos, do presente, do passado e do futuro”.

Certamente, podemos afirmar que o sofrimento físico, a cruz de João Paulo II, também representa o peso de todos os pecados atuais da humanidade: todas as guerras, todos os ódios, todas as intransigências, todas as vaidades, todas as barreiras, toda a soberba e todo egoísmo, todo o desamor de todos os homens e mulheres do mundo.

João Paulo II é o outro Cristo que carrega uma outra cruz para redenção de uma humanidade perversa, dividida, sofrida e dilacerada pelo egoísmo humano.

O Cardeal-Arcebispo de Brasília, Dom José Freire Falcão, em artigo publicado no Jornal Correio Braziliense do dia 4 de outubro do corrente ano assim se expressa:

(...) Esse homem, firme na fé e na disciplina eclesiástica, condutor e líder espiritual de mais de um bilhão de católicos, tem sido um missionário incansável, malgrado, nesses últimos anos, a extrema debilidade física. Tem levado a mensagem de Jesus ao mundo inteiro, na língua de cada povo. Em todas as realidades sociais e culturais tem proclamado a força transformadora para o homem e a sociedade do amor cristão. Como nenhum outro papa, cumpriu o mandamento último de Jesus: ‘Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda a criatura’. (Mc 16:5)

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a comemoração dos 25 anos de Pontificado do Papa João Paulo II representa um momento especial de reflexão para todos nós da Igreja Católica Apostólica Romana nesses cinco séculos de evangelização na América.

Os ensinamentos de Jesus Cristo, indicados no segmento do Evangelho e sintetizados no amor a Deus e no amor aos irmãos, representam a missão de vida de João Paulo II, homem cheio de Espírito de Deus e de solidariedade humana e maior líder da humanidade nos séculos XX e XXI.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PAPALÉO PAES (PMDB - AP) - Concedo um aparte ao nobre Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Papaléo, ninguém, numa destinação, poderia melhor falar do Papa do que o Senador Papaléo. Quero dar um testemunho: V. Exª, com a sua inteligência privilegiada e brilhante, é o primeiro a manifestar nesta Casa o respeito e a gratidão do povo brasileiro à figura do Papa. A Igreja Católica difere das demais igrejas cristãs pelo fato de ser dirigida por um Papa - o primeiro, como V. Exª traçou e lembrou, foi Pedro, que os católicos chamam de santo. Entendo que, hoje, V. Exª representa muito bem a grandeza deste Senado, pelo seu passado de profissional médico, brilhante, e pelas perspectivas invejáveis no Amapá e no Brasil. A Justiça, que tem suscitado tanta polêmica, é abençoada pela presença de outro homem como V. Exª, o Ministro Marco Aurélio. Hoje li um artigo deste grande membro do Supremo Tribunal Federal, ex-Presidente daquele Colegiado, homem de justiça que se iguala a Rui Barbosa e a um outro grande do meu Piauí, Evandro Lins e Silva. Nesse artigo, o Ministro lembrou a primeira vez em que o Papa João Paulo - que V. Exª homenageia em nome do Senado e do Brasil - veio ao Brasil. Escreveu o Ministro que a primeira frase dita por Sua Santidade, que é poliglota, foi a seguinte: “Se eu errar, me corrijam”, numa demonstração de humildade. “O orgulho divide os homens e a humildade os une”. Quem disse isso foi o filósofo Lacordaire. “Se eu errar, me corrijam”, disse este grande líder da Igreja Católica. Quando veio ao Brasil, o Papa visitou o Piauí. O Piauí se lembra quando ele afirmou: “O povo sofre”. Esta reflexão é para todos nós. E Deus, na sua bondade, permitiu que eu e minha esposa Adalgisa, em novembro de 95 - tenho o quadro tenho em meu gabinete, para nos aproximar de Deus -, fôssemos por ele abençoados. Naquele mesmo instante, quis Deus, também estava presente recebendo as bênçãos do Papa o Governador de Minas Gerais na época, hoje nosso companheiro Senador Eduardo Azeredo. A lucidez de Sua Santidade é grande naquelas inúmeras bênçãos semanais, para lideranças de todo o mundo e para o povo de todo o mundo. Dom José Freire Falcão, que era Bispo de Teresina, Capital do Piauí, foi por ele nomeado para ser Bispo de Brasília. Isso mostra a competência e a inteligência privilegiada do Papa. Senador Papaléo Paes, mediante seu pronunciamento, V. Exª mostra a gratidão do Senado e da nossa Pátria pela liderança da Igreja Católica.

O SR. PAPALÉO PAES (PMDB - AP) - Agradeço a V. Exª pelo aparte, que engrandece a homenagem que esta Casa está fazendo a este grande homem de Deus.

Concedo o aparte ao nobre Senador José Jorge.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Nobre Senador Papaléo Paes, congratulo-me com V. Exª pelo tema que traz ao Senado Federal. O Papa fazia mesmo por merecer esta homenagem, pois são vinte e cinco anos de um trabalho intenso, realizado em condições de saúde não muito favoráveis desde o atentado de que foi vítima. Visitou praticamente todos os países do mundo, países onde havia muitas dificuldades para a Igreja e também países onde a Igreja é amplamente majoritária, como é o caso do Brasil. Sua Santidade sempre soube levar sua mensagem com muita elegância, principalmente tentando apaziguar o mundo de guerras, miséria, fome. Vinte e cinco anos de trabalho não são vinte e cinco dias. Congratulo-me com V. Exª por ter lembrado de fazer essa homenagem. Muito obrigado.

O SR. PAPALÉO PAES (PMDB - AP) - Muito obrigado, Senador José Jorge. Incorporo ao meu pronunciamento suas palavras que, como falei ao Senador Mão Santa, vêm engrandecer ainda mais a nossa homenagem a este grande homem de Deus.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, agradecemos a Deus, que nos concedeu a bênção de nos enviar Karol Wojtyla para cuidar de uma igreja e anunciar o Evangelho, cumprindo o que dizia o apóstolo Paulo: “Anunciar o Evangelho não é glória para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho.”

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/10/2003 - Página 32727