Discurso durante a 149ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários a respeito de matérias veiculadas na imprensa sobre o Governo Luiz Inácio Lula da Silva. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários a respeito de matérias veiculadas na imprensa sobre o Governo Luiz Inácio Lula da Silva. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 25/10/2003 - Página 33788
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANALISE, AUMENTO, DESAPROVAÇÃO, POPULAÇÃO, ATUAÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, MANUTENÇÃO, MODELO, GESTÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEMORA, ATENDIMENTO, PRIORIDADE, GOVERNO FEDERAL, BENEFICIO, POLITICA SOCIAL.
  • COMENTARIO, DECLARAÇÃO, AUTORIA, OCTAVIO FRIAS DE OLIVEIRA, JORNALISTA, CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, IMPRENSA, DENUNCIA, IRREGULARIDADE, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, NECESSIDADE, COMBATE, CONDUTA, AUTORITARISMO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, DEMOCRACIA, LIBERDADE DE EXPRESSÃO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, tenho em mãos duas matérias publicadas na imprensa brasileira, que julgo preciosas.

A primeira é de O Estado de S.Paulo, assinado pelo ex-Ministro e ex-Deputado João Mellão Neto, com o título “O Leão Miou”. Em seu consistente artigo, João Mellão Neto lembra que, no início do Governo Lula, definiu o Presidente como apenas regular e que, por isso, foi praticamente linchado por seguidas patrulhas ideológicas. Agora, sente-se respaldado até pelas pesquisas de opinião, mostrando que a avaliação regular é a que prepondera, a de ótimo e bom caem, enquanto sobem, ainda não velozmente - espero que isso não ocorra -, a de ruim e de péssimo. Mas este é um Governo regular, um Governo do lugar comum.

Diz Mellão Neto:

Encontraram no homem qualidades que ele não tinha. Sua falta de instrução, em vez de uma deficiência, era propalada como uma virtude. (...) Sua incauta e ingênua prolixidade era anunciada como ‘espontaneidade’ e ‘habilidade na comunicação com as massas’. Lula não tinha defeitos.

Ele considera Lula regular e faz uma comparação com o Presidente Fernando Henrique, que, com esse mesmo tempo de mandato, tinha uma avaliação positiva de 39%, e Lula tem 41%. A diferença é que, com a proximidade do final do ano, Fernando Henrique crescia, enquanto Lula está decrescendo.

Diz Mellão Neto:

Lula, agora, aos olhos do povo, não é melhor do que FHC. Foi-se o tempo da exacerbada adulação. Ele não é mais o ‘único’, é apenas mais um”.

Em outro trecho, diz:

Já é possível fazer uma análise mais fria do seu governo, sem que os xiitas pretendam linchar-me. (...) É um Presidente mediano. Nada fez de revolucionário, não mudou radicalmente a Nação nem corrigiu nenhuma injustiça histórica”.

Os pontos fortes do seu governo, segundo Mellão, seriam a continuação da política econômica herdada. Diz que Lula tem o mérito de não ter levado o País para o desastre, mas “não se pode gabar de ter salvado o Brasil do desastre, até porque o desastre que se pronunciava fora causado justamente por ele. (...) O grande mérito de Lula, o Presidente, foi ter salvado o Brasil de Lula, o candidato”.

Afirma que um ponto médio do seu governo seriam as tais propaladas reformas constitucionais.

Aproveito para perguntar, como Mellão fez, onde está o Conselho que ouviria a sociedade e que, em algum momento, chegaram a dizer que dispensava o Congresso Nacional. O Conselho não funciona, não se reúne, virou algo que não é levado a sério nem por seus membros e nem pelo Presidente Lula. O Conselho não existe.

Diz ele:

As coisas não se deram bem assim. O famigerado ‘Conselho’ não deu em nada, e as reformas constitucionais, tanto a tributária como a da Previdência Social, foram retalhadas, desfiguradas e, em parte, esvaziadas tão logo chegaram ao Parlamento.

Então, refere-se ao ponto fraco do Governo: a política social. “Esperava-se que o PT, há anos campeão das causas populares, tivesse um desempenho esplêndido na área social”. Ele critica o Fome Zero e diz que tudo que se fez até agora foi anunciar a unificação dos programas Bolsa-Escola e Bolsa-Alimentação, que já funcionavam bem na gestão anterior.

Diz que outro ponto fraco foi a criação do nepotismo ideológico, o aparelhamento da máquina,o que tem sido fartamente denunciado aqui por nós. Afirma que hoje tem 33 ministérios, mas, na verdade, são 35, e lembra que “nos malsinados tempos de Collor eram apenas 13”.

E Mellão Neto pergunta:

Onde está o governo revolucionário de que se falava apenas seis meses atrás? Que grandes mudanças foram essas, que não ocorreram? E a propalada correção das injustiças de cinco séculos? Segundo as pesquisas, Lula deixou de ser ‘o único’ para ser apenas ‘mais um’. As atuais sondagens o qualificam como ‘regular’. Queira Deus que as próximas não o indiquem como ‘medíocre’.

A segunda matéria a que me referi é simbólica, tem peso sentimental e político muito grande devido ao seu autor, o jornalista Octavio Frias de Oliveira, que, aos 91 anos de idade, é um homem que poucas entrevistas concedeu na vida. É um dos grandes comandantes de empresa brasileira, ainda vivo, da geração de Roberto Marinho. A sua eloqüência em sua economia de palavras e a observação ferina do seu jornal são marcas registradas. É um homem a cada dia mais homenageado por todos que percebem a preciosidade da sua existência.

Diz o jornalista Octavio Frias de Oliveira: “O governo quer a mídia de joelhos”. A denúncia não é feita pelo Líder do PSDB, pelo Líder do PFL, pela Senadora Heloísa Helena, pelo Senador Jefferson Peres, mas pelo legendário jornalista Octavio Frias de Oliveira.

Em seu artigo, ele faz uma denúncia que começa a inquietar a tantos. Por isso, advirto o Governo, com a lealdade de sempre, que vamos fazer o impossível para impedir que esse malsinado plano de expandir os poderes da Abin seja consumado.

Todos estamos vendo o maniqueísmo no poder: o que antes não podia ser feito, pode agora. Justificam-se todos os erros, todos os equívocos, até éticos, dos membros do governo - e a cada dia tem um. Está ficando difícil fazer oposição, pois acabamos nos omitimos, sendo injustos com o irregular do momento, porque não conseguimos ter tempo, o espaço é restrito, para criticar todos os desmandos. O fato é que o Presidente perdoa, como se estivesse ali um “superpapa”. O Presidente Lula já está até com uma postura cardinalícia: quando Sua Excelência perdoa é uma concessão muito importante e as pessoas devem dar graças a Deus.

Chamo a atenção do Plenário para o fato de que Marília Pêra optou por Collor. Certa ou errada, ela optou por Collor. E sofreu uma patrulha brutal. Outro dia, tive pena dela. Ela foi ao tal cineminha do Palácio da Alvorada e lá foi perdoada. Ou seja, ela é perdoada pela vaia que recebeu, pela patrulha que sofreu, pelos constrangimentos que passou, pela difamação ideológica mantida contra ela. Como se alguém tivesse o direito de dizer: quando estou errado, estou certo; quando perdôo, agradeça o meu perdão pelas ofensas que lhe fiz. Foi um pouco isso que vi.

É uma denúncia grave: “O Governo quer a mídia de joelhos”. Quem diz isso não sou eu, não é o Líder do PFL, não é o Líder do PDT, não é a Senadora Heloísa Helena, não é nenhum dissidente do PT; quem diz isso é o legendário jornalista Octavio Frias de Oliveira. Independente diante de todos os Governos, não o vi se vergar diante de nenhum. Vejo-o imprimir uma irreverente linha ao seu jornal. Vejo-o inconformado com os erros de quaisquer latitudes, de quaisquer ideologias, de quaisquer governos.

Esse homem que quase nunca fala - não me lembro de outra entrevista dele, deve ter dado -, é profundamente eloqüente quando nos chama a atenção para o fato de que se deve advertir o Governo em relação ao autoritarismo crescente e ao maniqueísmo que precisam dar lugar ao convívio democrático.

E todos precisamos estar atentos, porque o primeiro e último prejudicado é sempre o povo. A Oposição, claro, é prejudicada. Se se quer a mídia de joelhos - se alguém consegue fazer isso -, a Oposição sofre, mas o Governo também. Com a mídia de joelhos, o Governo não teria as nossas vozes denunciando, com amplitude nacional, possíveis escândalos ou irregularidades que poderiam ser contidas com uma providência administrativa do Governo. Portanto, a mídia de joelhos não interessa a ninguém.

O Governo deve ficar alerta quanto a isso e levar a sério a palavra de alguém que nunca disse isso nos tempos de democracia, ao contrário, enfrentou, no início do Governo Collor, uma manifestação infeliz do Ministério da Justiça. E mostrou, naquele momento, que a Folha de S.Paulo iria manter a sua tradição libertária. Agora, ele volta a falar, depois de muitos anos. Volta a falar. O grande mudo está falando! Cuidado, porque há um processo autoritário! E diz Otavio Frias de Oliveira*: “O Governo quer a mídia de joelhos”. Tenho certeza que Otavio Frias e tantas pessoas que fazem a imprensa brasileira não permitirão isso. Estejam certos de que, se fosse ou se for essa a intenção do Governo, encontrará na Oposição e na sociedade barreiras e muralhas a impedir que o bastão da liberdade caía neste País, ainda que mascarado sob a égide de instituições que funcionam normalmente. Não queremos pressão direta nem indireta. Não queremos pressão econômica. Não queremos nada que cheire a desrespeito à democracia que estamos todos juntos lutando para consolidar neste País.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/10/2003 - Página 33788