Discurso durante a 153ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem prestada ontem, pelo Congresso Nacional, ao Papa João Paulo II. Necessidade de reexame da ajuda federal ao combate à seca.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. CALAMIDADE PUBLICA.:
  • Homenagem prestada ontem, pelo Congresso Nacional, ao Papa João Paulo II. Necessidade de reexame da ajuda federal ao combate à seca.
Publicação
Publicação no DSF de 01/11/2003 - Página 34653
Assunto
Outros > HOMENAGEM. CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • REGISTRO, HOMENAGEM, CONGRESSO NACIONAL, JOÃO PAULO II, PAPA, IGREJA CATOLICA.
  • CRITICA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ACUSAÇÃO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • ANALISE, HISTORIA, BRASIL, CONTINUAÇÃO, PROBLEMA, SECA, REGIÃO NORDESTE, GRAVIDADE, EMERGENCIA, FALTA, AGUA, ATUALIDADE, INEFICACIA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, CRITICA, SECRETARIA, DEFESA CIVIL, GESTÃO, MINISTERIO EXTRAORDINARIO DE SEGURANÇA ALIMENTAR E COMBATE A FOME.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, brasileiros e brasileiras aqui presentes e os que assistem a esta sessão pelo sistema de comunicação do Senado, Senador Geraldo Mesquita Júnior, permita-me dizer que V. Exª tem a face - a cara, como o médico chama - de pastor que acredita em Deus e prega as Suas palavras.

Sr. Presidente, Senador Eduardo Siqueira Campos, nós, brasileiros, somos criados em um lar cristão. Ontem, o Congresso Nacional prestava uma homenagem ao Chefe da Igreja Católica, o sucessor de Pedro. Atente bem, Senador Rodolpho Tourinho. Ontem só poderiam prestar essa homenagem um Senador - e fomos muito bem representados pelo Senador Marco Maciel - e um Deputado Federal. Hoje eu gostaria de lembrar que o Papa foi ao Piauí nos anos 80. Nessa oportunidade, fizeram uma faixa com os seguintes dizeres: “Santo Papa, o povo passa fome”. Os que fizeram aquela faixa foram presos. Eram os anos 80. Depois, o Papa nos visitou outras vezes. Deus me permitiu ser abençoado pelo Papa como Governador do Estado do Piauí, em 6 de dezembro de 1995. Ao nosso lado, estava o então Governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, hoje Senador.

Dirijo-me ao nosso Presidente da República: Deus escreve certo por linhas tortas. Lembrei-me do Provérbio nº 15, o número do PMDB. Não é o PMDB pusilânime, não é o PMDB de negociatas, mas o PMDB de Deus, o PMDB do povo de Deus, o PMDB de Ulysses, o meu PMDB.

O Secretário-Geral da Mesa do Senado, Sr. Carreiro, é eficiente e, com uma agilidade extraordinária, foi buscar o Livro de Deus. Senador Augusto Botelho, Deus escreve certo por linhas tortas.

Presidente Lula, atente bem para os provérbios. É bom ler a Bíblia. Somos filhos de Deus. Na Bíblia, está a história daquele que foi homem e divino, o Filho de Deus. Sua Excelência cometeu um grande erro outro dia - mas Deus lhe perdoa -, quando disse: “Se Deus for generoso, quero viver 100 anos”. Deus é generoso. Ele nos mandou seu Filho para sofrer e ressuscitar.

Essa é a aliança do PMDB com o Brasil e com a governabilidade, não é outra. O PMDB não está atrás de Ministério. Aliás, somos Ministros de Deus, do Brasil cristão.

Senador Valdir Raupp, figura histórica, um dos filhos de Ulysses, o número 15 é o número do PMDB. Fui eleito Governador duas vezes e Senador com esse número 15. Os provérbios, Presidente Lula, são a sabedoria do povo escrita. E, atente bem, o Provérbio nº 15 diz mais ou menos assim, dependendo da interpretação: “A palavra dura atiça a cólera; a palavra calma, a palavra branda afasta a ira”. Atente bem, Senador Ramez Tebet, para o Provérbio nº 15.

Esta é a mensagem do nosso PMDB ao Governo e ao Presidente da República: “A palavra dura suscita o furor; a palavra branda afasta a ira”. Senhor Presidente da República, chamar os nossos ex-Presidentes de covardes não está enquadrado e é um pecado contra o Livro de Deus, contra o Provérbio nº 15.

Aprendi também, Senador Ramez Tebet, não com Rui, de quem V. Exª tanto gosta, mas com Lacordaire, filósofo, que disse que “a humildade une os homens, e o orgulho os divide”.

O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) - Senador Mão Santa, permite-me V. Exª um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Peço-lhe um instante, Senador.

Venho a esta tribuna para falar, sobretudo, da seca. Nascemos no Nordeste. Essa história de governante retroage a D. Pedro II, que, num gesto de sensibilidade, em 1847, quando o nosso Nordeste enfrentava uma grande seca, disse: “Venderei a minha coroa até o último brilhante para resolver o problema da seca”. Não o fez. Mas o coração duro da ditadura e do Presidente Médici foi muito sensível. O Presidente foi ao Nordeste e disse uma frase, que ficou na História: “O Governo vai bem; o povo ainda vai mal”.

A V. Exª, Senador Augusto Botelho, que é médico, quero dizer que, em 1958, eu era estudante do Ceará, interno no Colégio Marista, quando ocorreu uma grande seca e o povo do Nordeste queria invadir Fortaleza. O Governo fez uma hospedaria Getúlio Vargas, para deter, na cidade próxima, Caucaia, todos os que emigravam, fugindo da calamidade da seca. Os Irmãos Maristas, com sua filosofia cristã, fizeram um pedido para que se buscassem gêneros alimentícios na sociedade rica, para entregá-los àqueles emigrantes. Fui o primeiro, Senador Rodolpho Tourinho, a pular no caminhão, porque eu queria fugir das aulas. Eu era um menino de quinze anos. Fui até lá e vi e como era toda aquela situação. Quis Deus que aqui chegasse Antonio Carlos Magalhães, que sabe a história do Nordeste. Senador Antonio Carlos Magalhães, em 1958, como estudante do Marista, eu faltava às aulas para buscar gêneros alimentícios e deixá-los na hospedaria. Senador Geraldo Mesquita, a impressão que guardei é a de que aquela hospedaria era um campo de concentração.

Senador Augusto Botelho, quantos partos V. Exª fez, como médico? Foi nessa hospedaria que pela primeira vez assisti a um parto. Os soldados, com fuzis a postos, impendiam o povo de invadir Fortaleza.

Contra a seca se tem lutado muito. Governei o meu Estado em um ano eleitoral, enfrentando uma seca. Nessa oportunidade, marquei uma audiência com o Presidente Fernando Henrique Cardoso. Deus trouxe o Antonio Carlos Magalhães aqui para testemunhar, porque a audiência foi adiada devido ao falecimento do seu santo filho, que está no céu.

Aquilo me fez - Deus assim me encaminhou - ir ao interior, e, como Governador, vi o sofrimento do povo vitimado pela seca. Faltava-lhe água, o mais necessário. Queriam invadir. Mas eles têm confiança nos governantes.

Enquanto o filho de Antonio Carlos Magalhães ia aos céus, eu estava no interior. E foi adiada a audiência. O Presidente Fernando Henrique Cardoso, um homem sensível, marcou a reunião no Alvorada. Senador Eduardo Siqueira Campos, às 17 horas, cheguei àquela biblioteca. E ele, naquela sua elegância tradicional, vinha com umas revistas nas mãos, não as que lemos - a Veja ou a Istoé -, mas a Time, a Life, e eu me deleitava com aqueles títulos. Fui logo perguntando: “Senhor Presidente, o senhor acredita em Deus?”. E ele tomou um susto; eu queria causar impacto. E ele disse: “Claro, acabei de vir da missa do Luís Eduardo Magalhães”. Contei-lhe a história, disse-lhe que tinha marcado a audiência e que a mesma havia sido cancelada. Eu lhe disse: “Vim do interior. Deus escreve certo. E está escrito no Livro de Deus ‘dai de beber a quem tem sede e de comer a quem tem fome’. Presidente Fernando Henrique Cardoso, o senhor vai perder as eleições. O senhor não agüenta. O senhor deixou o povo de Roraima sofrer com o incêndio e não lhe deu assistência. Fui ao interior e vi a revolta do povo, da Igreja, das lideranças. O senhor não vai suportar, pois houve o descaso de Roraima e agora o abandono dos nossos nordestinos”. E ele tomou um susto, Senador Antonio Carlos Magalhães.

Eu disse: “Olha, Presidente, sou médico e quero lhe falar sobre a situação de emergência em que nos encontramos. O seu Governo foi muito bom no que chamamos cirurgias eletivas, a construção das grandes obras, dos açudes, das barragens, mas acontece que estamos diante de uma emergência. Trata-se de uma apendicite que, se não for operada, pode causar peritonite e levar à morte. Então, a água é para já! Técnico deve ter sensibilidade política e responsabilidade administrativa. Não quero dinheiro”.

E Governador tem compromisso com o povo. O povo é Deus. É o povo de Deus de que cuidamos, porque somos de Deus, igual àquele que Moisés foi buscar.

Assim, afirmei: “Presidente, quero colaborar. Não quero o seu dinheiro, mas o senhor tem que ajudar. Isso é histórico, ocorre desde a época de D. Pedro II, que disse que ia vender a coroa. E se deu até a ditadura, com o Médici, que foi sensível à questão. Estamos nesta emergência. No que diz respeito à água, não se pode esperar. É tecnicismo dizer isso. É preciso cuidar disso, pois essa é uma emergência. Não quero nada. O senhor faça o seguinte: busque a Sudene, que tem experiência, tem know-how, e não espere que se indique o novo superintendente, não espere Marco Maciel nomear quarta-feira, não”. Ele me ouviu atentamente. E eu disse mais: “Sei que o senhor tem os seus indicados, mas não espere por quarta-feira. É V. Exª que deve acudir. E bote Leonides Alves da Silva Filho, que é um homem da Sudene”. Talvez, os Senadores Antonio Carlos Magalhães e Rodolpho Tourinho conheçam quem eu indiquei. Leonides Alves da Silva Filho nasceu no Piauí, mas tem uma vida na Sudene; então, sabe fazer isso.

E o Presidente Fernando Henrique, Senador Antonio Carlos Magalhães, vendo o meu apelo e minha sinceridade, inspirado pelo momento cristão, tendo rezado pela alma de seu filho - Sua Excelência vinha da missa -, sensibilizou-se e, na segunda-feira, nomeou Leonides Alves da Silva Filho. Ele teve esse cuidado.

Então, Senador Antonio Carlos Magalhães, essa Sudene está aí desde Juscelino Kubitschek e Celso Furtado, tem know-how. É essa Sudene que sabe acudir.

Portanto, o que houve, Senador Siqueira Campos? Preste atenção! Há esses carros-pipas. Como o Piauí, outros Estados do Nordeste estão em situação ainda pior. Citaria apenas Caetés, terra natal do Presidente, cujo Prefeito, José Luiz Lima de Sampaio, disse hoje que não há água nas torneiras desde junho naquela cidade. Isso ocorre em Caetés, a terra do Presidente! Presidente, afaste-se desses maldosos paulistas! Seja como o Zé do Egito, reconheça sua origem e seu povo!

E mais, num livro de Deus, que está aqui - foi o Carreiro, Senador Antonio Carlos Magalhães, que o trouxe -, Tiago diz: “A fé sem obras já nasce morta”. E o Padre Antônio Vieira disse: “As palavras vão ao vento; as obras ficam no coração”.

Os carros-pipas são necessários, mas era a Sudene que sabia fazer. Agora, trocou. A Sudene era da competência do Ministro da Integração Nacional. Faço aqui um elogio, expresso gratidão ao Ministro Ovídio de Ângelis. Ele foi comigo socorrer. A minha mãe me ensinou que Deus mora no céu e no coração dos homens agradecidos. A gratidão é a mãe de todos os outros sentimentos.

E fomos ali, como o Antonio Carlos Magalhães, que deve ter enfrentado inúmeras secas. Não estou dizendo a que eu enfrentei.

Hoje recebi um apelo da Defesa Civil. Está tudo errado, Senador Antonio Carlos Magalhães. Havia 200 carros-pipas. Ele pediu. O número baixou para oito, e se colocou o Exército, que fica com 20%.

São honrados todos os Governadores, como eu e todos que fomos, pois temos compromisso com o povo. Ninguém tem mais compromisso - nem Exército, nem técnico de São Paulo - com o povo do que um Governador que nasceu do povo. Diz-se: “Assim como a fumaça vem do fogo, o Governador vem do povo”. Mas, para o Exército, são 7 mil carros-pipas e, para a Defesa Civil, são 2,8 mil. Veja bem, Senador Rodolpho Tourinho, que trinta e cinco Municípios do Piauí estão paralisados. Era o decretado, mas ainda há mais.

Tudo isso era da competência do Ministério de Integração Nacional. Os peladeiros levaram para um tal de MESA - Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar, chefiado pelo Graziano. Ora, se o Graziano tem aquela antipatia pelo Nordeste, tem outra incompetência genética e não cuida. Usaram o Piauí, as cidades de Guaribas e Acauã, como marketing, Senador Rodolpho Tourinho. Em Acauã está faltando água, o povo está morrendo, igualmente ao de Caetés. O erro é tão grande! Toda a Defesa Civil deste País - o Brasil tem 503 anos - foi estruturada pelos administradores. Antonio Carlos Magalhães ensinou a todos nós que “o essencial é invisível aos olhos”.

Existe uma Secretaria de Defesa Civil para acudir nas calamidades, não é verdade, Senador? A Defesa Civil pertence ao Ministério da Integração, mas quem a está gerindo agora é um tal de MESA, do Graziano, que não cuida.

Está aqui o Geraldo Mesquita. Convidamos todos para o debate qualificado. Não tem Duda Mendonça que dê jeito. Aprendi que existe opinião pública e opinião publicada. O que está aí é a opinião publicada.

Venho aqui trazer o apelo do Piauí para que se reestude a ajuda do Governo, que sempre estendeu a mão aos homens do Nordeste. Não vou cansá-los, porque o tempo está se esgotando, e se esgotando também está a paciência do povo do Nordeste, do povo do Piauí, que passa sede. Pediria então ao Presidente da República e ao Geraldo Mesquita, que tem cara de santo e é da base do Governo. O meu PMDB não é da base do Governo; o meu PMDB é a luz para iluminar, para guiar, graças a nossa luta e a nossa experiência, à luta de Ulysses Guimarães, que mandou escutarmos a voz rouca do povo; à luta de Teotônio, de Tancredo. Queria sobretudo o mínimo que temos exigido deste povo.

Ontem, este Congresso se ajoelhava diante de um representante de Deus, que comemorava os 25 anos de pontificado, o Papa. O Governo brasileiro deveria obedecer ao Livro de Deus, que diz: “Dai de beber aos que têm sede”.

Essas são as nossas palavras.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/11/2003 - Página 34653