Discurso durante a 163ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Situação dos aposentados brasileiros.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • Situação dos aposentados brasileiros.
Publicação
Publicação no DSF de 15/11/2003 - Página 37432
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • ANALISE, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, VELHICE, BRASIL, VITIMA, FALTA, ATENÇÃO, GOVERNO, SOLICITAÇÃO, UNIÃO, IDOSO, DEFESA, DIREITOS.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, agradeço. Sou o último orador desta sessão, mas gostaria de ser muito breve.

Senador Paulo Paim, queria trazer aqui um livro de Ulysses Guimarães, com o tema O Homem e a Liberdade, que proferiu na Assembléia Legislativa do Piauí, em 13 de agosto de 1976.

Senadoras e Senadores, brasileiras e brasileiros, Ulysses diz: “Ouçamos a voz purificadora de um dos heróis americanos.” Ele fala de um cubano, do maior herói cubano, que fez a independência cubana, Senador Paulo Paim. Ulysses cita José Martí, que diz: “Liberdade é o direito que todo homem tem de ser honrado, a pensar e falar sem hipocrisia”.

Senador Paulo Paim, 81 somos nós, mas nenhum o excede em honra neste plenário e talvez na história dos 180 anos que comemoramos.

Quero aproveitar este momento, e quis Deus estivesse presente, neste plenário, o maior amigo de Ulysses Guimarães, Dr. Oswaldo Dante Manicardi, seu secretário particular, que acompanhou durante quarenta e quatro anos o nosso líder - que, quis Deus, ficasse encantado no fim do mar, como uma mitologia, para ser a luz do nosso Partido.

Eu queria então convidá-lo, em nome de Ulysses, a quem represento, que nos mandou escutar a voz rouca das ruas - o que não significa estar na rua, mas com a rua, com o povo -, para substituí-lo, na mesma grandeza de ideais. V. Exª pode até ficar perplexo.

Senador Alvaro Dias, Ruy Barbosa, o nosso patrono, que lutou pela libertação dos escravos e pela República, afastou os reis do Brasil e foi Ministro da Fazenda do Marechal Deodoro da Fonseca. No segundo governo, foi-se militarizando a República, com o Marechal Hermes da Fonseca, que começou a destituir os governadores eleitos. E Ruy Barbosa contestou. Ele, que defendia a federalização, a autonomia, que tinha fundado o Partido Republicano, contestou. Depois, sofreu exílios, Senador Arthur Virgílio, em Buenos Aires, Portugal, Londres. Posteriomente, foi para outro partido, defender a história civilista.

Então, a vinda de V. Exª seria o renascer da coragem de Ulysses Guimarães no nosso Partido.

Nesta minha vinda à tribuna, serei breve. Abordarei apenas a paridade. Aposentados todos, uni-vos! Batalhai! Eu diria, como Churchill, no seu mais breve discurso. Depois da guerra, convidado a paraninfo, chegou atrasado, nobre Senador Arthur Virgílio. Tinha o compromisso de um líder que venceu a guerra e nos trouxe a paz democrática, e disse: “Meus jovens, não desanimem. Não desanimem nunca, jamais”. E eu digo aos aposentados: “Agora, aposentados, uni-vos. É para lutar mesmo. É para vir. É para desmascarar os covardes e traidores”.

Atentai bem. Dizem que é duro o centro do Planalto. É duro porque não tem massa encefálica. Só tem osso, que não pensa. Ruy Barbosa disse que quem não luta pelos seus direitos não merece viver. Oh! aposentados, lutai pelos seus direitos!

Deus é bom. Deus prepara os homens. Deus preparou Davi para vencer Golias, Salomão e Moisés para nos guiar, e nos preparou. Eu quero dizer aqui o que é paridade. Deus me deu esta luz, nobre Senador Alvaro Dias. Em 1968, um Prefeito muito lúcido de Parnaíba colocou todos os funcionários da Prefeitura na Previdência, no INPS que começava. Mas havia os anteriores, nobre Senador Arthur Virgílio. Em 1988, Deus me preparou, nobre Senador Alvaro Dias, para ser Prefeito da minha cidade. Havia alguns funcionários anteriores aos contratos feitos entre a Prefeitura e a Previdência. Aqueles, então, foram aposentados e ficaram ali, numa lista, jogados, desprezados e esquecidos durante vinte anos. Eu, Prefeito, sabia dessa lista e mandei buscá-la. Eram apenas 12 velhinhos - como esses velhinhos que Ricardo Berzoini maltratou - e 20 pensionistas. Eles ficaram jogados numa lista por 20 anos, nobre Senador. Eu fui ver o valor, e olhai o que é paridade: Os aposentados ganhavam o valor de uma cerveja, e as pensionistas, as mulheres dos aposentados, as viuvinhas, o valor de uma coca-cola. Mandei dar salário mínimo aos aposentados. Um ficou tão emocionado que passou mal e eu tive que mandá-lo no carro do prefeito para o pronto-socorro. Foi um sinal de Deus. Aqueles velhinhos nunca faltaram a uma inauguração do meu governo, na praça, a dar mensagem aos seus filhos e netos de que eu era um homem generoso, tinha olhado os velhinhos. Isso me ensinou.

Collor era Presidente quando disse que não daria os 147% aos aposentados. Eu disse: está morto. E aconteceu. O aposentado é a árvore dos filhos, dos netos, é o norte da família. Tenho essa experiência.

O Senador Arthur Virgílio poderia estar pensando: o Mão Santa vem com uma história velha de 68, da Parnaíba. Eu diria, Senador Paulo Paim, que velha é a Ave-Maria. Cada vez que a balbuciamos nos transportamos desta terra ao céu.

Aposentados de todo o Brasil, uni-vos e lutai! Ruy Barbosa já dizia que o homem que não luta pelo seu direito não merece viver. Olhai a coragem de Paulo Paim. Aposentados, é hora de luta. A luta está no hino do Piauí: “Piauí, terra querida, filha do sol do Equador”. É um dos seus filhos que acaba de chegar, guiado por esse grito: Heráclito Fortes, forte no nome, na luta e na vida.

Vou trazer a prova, Senador Paulo Paim, não é historinha da Parnaíba. Deus me deu a luz, um sinal para dizer a verdade. A ignorância é audaciosa e dura, o núcleo é duro porque não tem massa encefálica, não pensa, não raciocina, não sabe, não acerta e não faz o bem. Srs. Senadores, trago documentos. Vejam a situação injusta, em setembro de 1988, de um servidor federal aposentado Tal situação, felizmente, foi corrigida com a Constituição aprovada no mês seguinte. “Não permita que isso aconteça novamente. Nós, velhinhos, agradecemos”. Foi Ulysses que os salvou dessa situação. Está aqui Heráclito Fortes, símbolo da amizade de Ulysses.

Um quadro vale por dez mil palavras. Uni-vos, aposentados, não deixai assaltar a vossa mulher, os vossos filhos, os vossos netos, a vossa dignidade!

Em setembro de 88, um fiscal de renda, quando ativo, ganhava Cz$547.950,00, vinte e quatro salários mínimos; e o aposentado, Cz$113,00, quatro salários mínimos. Olhai a diferença: o aposentado ficou chocando, esquecido e abandonado, porque não tem poder de pressão, não faz a greve que Lula ensinou para seus companheiros.

Então, uni-vos, aposentados de todo o Brasil, e segui Ruy Barbosa: “O homem que não luta pelos seus direitos não merece viver”.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim) - Senador Mão Santa, gostaria de agradecer as suas palavras generosas em relação ao nosso trabalho. Claro que nos deixou até com um pouco de vaidade por, no seu pronunciamento, fazer uma comparação nossa com o grande Ulysses Guimarães, que foi o nosso Presidente na Assembléia Nacional Constituinte.

Tenho muito orgulho em dizer que os grandes mentores, os grandes artesãos da Constituição cidadã foram Ulysses Guimarães e Mário Covas. Esses dois homens, jamais vou esquecer. Por isso, fiquei emocionado com a sua comparação, claro que muito generosa.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/11/2003 - Página 37432