Discurso durante a 177ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pressão exercida pela direção do PT para manter o Governador Flamarion Portela, do Estado de Roraima, na legenda. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Pressão exercida pela direção do PT para manter o Governador Flamarion Portela, do Estado de Roraima, na legenda. (como Líder)
Aparteantes
Heloísa Helena.
Publicação
Publicação no DSF de 06/12/2003 - Página 40164
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • CRITICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), OMISSÃO, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DE RORAIMA (RR), COMENTARIO, ANEXAÇÃO, NOTICIARIO, IMPRENSA, IRREGULARIDADE, GOVERNADOR, REGISTRO, DOCUMENTO, DEPUTADOS, PEDIDO, DESLIGAMENTO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA.
  • QUESTIONAMENTO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), OMISSÃO, INVESTIGAÇÃO, IRREGULARIDADE, PREFEITURA, MUNICIPIO, SANTO ANDRE (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estranho o comportamento do Partido dos Trabalhadores como instituição diante da crise de Roraima. O PT às vezes assumia até uma característica leviana, acusando sem provas, queimando supostos suspeitos vivos numa fogueira inquisitorial. Hoje, meu estimado ex-colega e sempre amigo José Genoino, Presidente do PT, desqualifica o documento do chamado grupo de radicais petistas - não sei se são radicais, são trinta Deputados; não são poucos, não são três ou quatro -, pedindo que o PT observe com mais cautela o quadro de corrupção em Roraima.

Segundo a Folha de S.Paulo, “Genoino diz que Flamarion é ‘modelo’ de administrador”. Pode ser que o seja para o PT, não o é para o PSDB. Traz ainda a Folha de S.Paulo: “Petistas pedem afastamento de Flamarion”, invocando as raízes históricas de um Partido que nasceu sob o signo do combate pela moralidade. O Estado de S.Paulo publica: “Sob pressão, Flamarion admite deixar o PT”; “A saída de Flamarion do PT é uma medida sanitária, diz o Deputado Ivan Valente, do PT”; “Governador sabia de folha paralela, diz ex-secretária”. Todos os jornais a que me refiro são de hoje. O Correio Braziliense divulga: “Pressão petista contra Flamarion. Parlamentares pedem à cúpula do Partido a saída do Governador de Roraima”; “Fraude chega a R$230 milhões”. Nessa reportagem, a Srª Diva faz declarações comprometendo o Governador.

Não faço juízo de valores, estou simplesmente dizendo que estranho a pressa com que o PT o chama de modelo de administrador. Há ainda o editorial da Folha de S.Paulo intitulado “O PT e os ‘gafanhotos’”.

Eu estranho, a Folha de S.Paulo estranha, e o Brasil inteiro está estranhando.

Ao mesmo tempo, vejo que o Presidente Genoino, de maneira muito pressurosa, já põe alguma desconfiança. O Globo traz: “Genoino muda o tom e Flamarion admite deixar PT”. Genoino já recuaria, segundo O Globo, mas, de acordo com outros jornais, não recuou. Vemos, de certa forma, toda uma paciência com o Governador de Roraima, que está cercado, pelo menos, de uma série de indagações que merecem respostas além da que tem oferecido.

Vemos, ademais, a intolerância para com os chamados dissidentes do PT. Disse o Senador José Genoino: “A Senatriz é muito boa no papel de vítima”. Ele chama a Senadora Heloísa Helena de Senatriz. Gostaria de alertar o Presidente do PT para um fato: Senatriz, etimologicamente, é o feminino de Senador, não tem nada demais. A primeira vez que essa palavra veio à baila ocorreu quando o Senado da República teve uma mulher entre os seus membros, a minha conterrânea Eunice Michiles*, que assumiu a vaga decorrente do falecimento do saudoso Senador João Bosco - ela era a sua primeira suplente.

Na época, os bons dicionaristas indicavam que “Senadora” seria mais aconselhável como feminino de Senador. Etimologicamente, porém, não existia esse vocábulo, que acabou sendo aceito pelo bom-senso para evitar conotações em face de sua semelhança com outra palavra de som muito parecido. No mesmo ano em que Eunice Michiles chegava ao Senado, o Brasil recebia a primeira mulher como Embaixadora de um país amigo. Foi a Embaixadora da Guatemala. Ela, a Embaixadora, disse que se sentia feliz no Brasil porque o português contempla duas palavras bem diferentes para definir coisas diferentes. Embaixatriz seria a esposa do diplomata, do embaixador; embaixadora seria a mulher diplomata. O Presidente José Genoino, se tentou ofender a Senadora Heloísa Helena, chamando-a de Senatriz, não conseguiu.

Para mim, ela é uma ótima Senadora; para mim, ela é uma ótima Senatriz. Ela não é esposa de Senador, mas é Senadora ou Senatriz, com direito a voto, a voz, a rebeldia, a decência, tudo isso.

Mas estranho o PT. Há ainda a história de o Ministério Público acusar 25 funcionários da Prefeitura petista - aquele caso de Santo André, dos R$54 milhões. Isso tem de ser investigado mais a fundo. Há silêncio sobre isso, há paciência extrema com o Governador de Roraima, tentativa de dizê-lo um modelo de administração, e há, ao mesmo tempo, uma brutal intolerância para com os chamados dissidentes. Mais ainda, há a tentativa de desqualificar os que não o são, os 30 Deputados ditos radicais - não sei se são radicais ou se não o são; não sei o que é ser radical. Faço uma enorme diferença entre ser sectário e radical. Radical, para mim, é o que vai buscar a solução dos problemas na raiz, é o que vai à raiz das coisas. Mas são 30. Radicais ou não, são 30 Deputados petistas. Faça qualquer cálculo percentual e veja que é um número expressivo. Ou seja, 30 Deputados significam muito numa bancada de 300, e o PT não tem uma bancada de 300. Tem uma bancada de 90, da qual 30 significa um terço. Ou seja, o Presidente Genoino desqualifica um terço de pessoas que dizem que há suspeição sobre o Governador de Roraima. Ao mesmo tempo, ele confunde as regras do bom português - vejo aqui a Senadora Heloísa Helena, que não estava presente há pouco, quando me referi a ela -, chamando-a de “Senatriz”. Quero dizer que Senadora ou Senatriz, V. Exª, para mim, é tão boa tanto como uma quanto como outra. Até porque as palavras são sinônimas. Boa Senadora...

A Srª Heloísa Helena (Bloco/PT - AL) - Permite-me V. Exª um pequeno aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Pois não.

A Srª Heloísa Helena (Bloco/PT - AL) - Tento não me lembrar desse assunto, mas não tem jeito. Algumas pessoas até me perguntavam se eu achava que ele estava querendo rimar com atriz ou com meretriz. Primeiro, eu respeito muito as mulheres que, muitas vezes, vendem o corpo por um prato de comida. Eu tive muita sorte, porque, embora tenha nascido em uma família pobre, miserável, talvez até ao nascer tenham carimbado na minha testa que o meu destino era o quartinho de empregada ou a prostituição, como geralmente é o destino dos pobres. Em relação à questão de atriz, eu também respeito muito as pessoas que se dedicam ao mundo da arte. Eu tenho uma mania, Senador Arthur Virgílio. Lá no interior de Alagoas, dizem assim: “Eu não quero saber. Eu só quero a briga com o dono dos porcos.” Quando algum porquinho ou porquinha treinada para cantar, para representar, fala alguma coisa sobre mim, eu nem respondo. Mas se for o dono dos porco, aí, efetivamente... Tive, infelizmente, que responder. Eu sei que, talvez, as pessoas não consigam compreender a dor dos outros. Mas, quando não conseguimos compreendê-la, pelo menos a respeitamos. Algo que, infelizmente, ele não fez. Talvez - eu já disse várias vezes isso -, ninguém pense, ninguém imagine a tortura por que estou passando. Agora, sou mulher de não correr do pau. Podem torturar, usar o requinte de crueldade que quiserem, eu não vou abrir mão das minhas convicções, não vou fazer nada contra companheiros. Isso, realmente, não vou fazer. Então, eu nem queria tocar nesse assunto, mas sei que V. Exª tocou, com respeito, com consideração, mas apenas para deixar absolutamente claro. No interior, diz-se que quando uma coisa é muito pequena, Senadores Augusto Botelho e José Jorge, é cabelinho de sapo, porque ninguém nem vê cabelinho de sapo, não é? Mas nem um cabelinho de sapo de medo eu tenho, porque estou naquela de que pode vir quente que eu estou fervendo.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito bem, Senadora, encerro, dizendo que, na verdade, eu fazia o cotejo entre a dureza em relação a posições divergentes e à questão ética, a questão moral lá em Roraima. O silêncio diante dessa coisa que se está avolumando em Santo André, parece que não existe, parece que é assim tipo um autismo, não existe, não é conosco, não tem nada a ver, não estamos aí, “tô nem aí, tô nem aí...”, aquela história da música, não é?

Recorri ao dicionário. Pedi, Senadora Heloísa Helena, uma pesquisa a minha Assessoria e fui ao dicionário. Embaixador é o diplomata e embaixatriz é sua esposa. Entendemos bem: a digna embaixatriz fulana de tal é a digna esposa do digno Embaixador fulano de tal. De outro lado, Senadora ou Senatriz são termos iguais. O significado é o mesmo, os bons dicionários consideram as duas hipóteses.

Encerro, Sr. Presidente, dizendo que não foi feliz, portanto, sequer no chiste, o Presidente do Partido dos Trabalhadores.

Contudo, não estou aqui para discutir regras de português com o Presidente José Genoino, que sei que domina muito bem a língua pátria. Estou aqui para indagar, mais uma vez, por que tanta contemplação? Por que não ter, pelo menos, um dos pés atrás? Por que mudou tanto o PT, que, às vezes, se apressava e era leviano ao acusar e em “queimar” pessoas, e, agora, se mune de uma tolerância que contraria os editoriais dos jornais, as evidências dos fatos, contraria tudo?

Em suma, quero apenas que o PT faça como os demais brasileiros tentam fazer: um peso e uma medida para tudo, e não dois pesos e duas medidas, de acordo com conveniências eleitoreiras ou com conveniências de uma falsa e suposta preocupação com governabilidade. Não se monta governabilidade em cima de suspeição sobre a coisa pública.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/12/2003 - Página 40164