Discurso durante a 186ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Esclarecimentos ao teor de seu pronunciamento feito nesta tarde na tribuna do Senado.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL.:
  • Esclarecimentos ao teor de seu pronunciamento feito nesta tarde na tribuna do Senado.
Publicação
Publicação no DSF de 16/12/2003 - Página 41276
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL.
Indexação
  • RESPOSTA, IDELI SALVATTI, SENADOR, REFERENCIA, CRITICA, ORADOR, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Para uma explicação pessoal. Com revisão do orador.) - Eufemismos não cabem, a menos que o Palácio do Planalto dê um golpe de Estado e me tire da Liderança sem os liderados quererem. Sou o Líder do PSDB. Toda vez que, nesta Casa, alguém se referir ao Líder do PSDB, está-se referindo a mim, a não ser que diga Deputado Fulano de Tal, Líder na Câmara; Senador, por enquanto, sou eu. Lamento informar isso ao Palácio: parece que meus colegas estão tramando me reconduzir - é uma notícia triste - e com o apoio do PFL, para ficar...

Sr. Presidente, quando se fala na tal avaliação da transparência, não se leu a revista Veja como um todo. Ela mostra, sim, um Governador do PT acuado. Avisei ao Líder Aloizio Mercadante, a quem tanto prezo, que dificilmente aquilo daria em coisa boa por conhecer a realidade de Roraima como conheço. É um Estado vizinho ao meu. Ao mesmo tempo, longe de mim macular a memória do prefeito Celso Daniel, que sempre respeitei e estimei. Todavia não se deve usar do pretexto de defender a memória de quem quer que seja para dizer que toda tentativa de investigar o que está insepulto e que não está aclarado seria uma tentativa vil de atingir a memória de quem quer que fosse.

Portanto, quando aqui falamos que se o padrão ético for esse, o Governo mergulhará em seguidas crises neste campo. Quando digo que a atitude que um partido qualquer... O partido é público. Partido não é como a maçonaria antiga, algo voltado para dentro; partido é algo voltado para fora. Partido que trata com autoritarismo os seus membros, poderá, se consolidado no poder - esse é o meu temor - querer impor esse mesmo tratamento ao restante da Nação brasileira.

É por isso que, vendo a “casa do vizinho pegar fogo, eu já coloco as minhas barbas de molho”. E mais, Sr. Presidente, quando se fala em dados da economia, tenho aqui um galardão: eu defendi a gestão do Ministro Antonio Palocci, no início dela, mais, talvez, do que qualquer Senador do Partido dos Trabalhadores. Eu a defendi por entender que ali estava o equilíbrio, mas eu tenho o direito de apontar equívocos e aponto os equívocos cometido por S. Ex.ª. Quais são? O Ministro Antonio Palocci, que, a meu ver, aplicou a receita correta, demorou a baixar juros e o fez em medida insuficiente, ou seja, fez menos do que podia ter feito. Isso significa que a renda caiu. O fato de a renda ter caído tão drasticamente pode complicar o ano 2005 e o 2006, já que o 2004 vai ser para alguns ano de ilusão e para outros, com mais critérios e com mais interesse, com mais curiosidade científica, um ano de reposição cíclica.

Portanto, esse debate é muito bom. Temos de encorajá-lo, mas algumas respostas devem ser dadas. Primeira, vamos esperar um pouco mais, para ver a que ponto 2005 e 2006 não estarão sofrendo a conseqüência do desastre de 2003. Mais ainda, no campo político, veremos a que ponto a Nação se defende da manifestação autoritária de quem pensa que está podendo governar com métodos bolcheviques de ação até na comemoração e mesmo na forma de dizer que se conquistava uma vitória, em detrimento de companheiros. Eu estava vendo ali Stalin, Kamenev, Zinoviev. Aquele que, dissente do poder, é condenado inapelavelmente e supostamente lhe outorgam um direito - que, para mim, é fictício - de defesa. Foi isso que ocorreu com a Senadora e com os Deputados. Eu ponho a minha barba de molho.

E o Partido não pode dizer que é problema dele, porque - vou dizer uma coisa muito grave para as Senadoras e Senadores do PT - o que ocorre no PSDB é problema de quem quer que seja do PT; porém, o que ocorre no PT é problema meu, sim, porque tenho direito de saber e de cobrar contas de tudo que seja público no País! Não me interessa a vida particular de ninguém; mas, a vida pública de todos, a mim, me interessa. A vida pública de todos, a vida pública de cada um e, portanto, os gestos, os atos e os fatos de um Partido que se portou como se comandasse, não um processo democrático vindo de uma eleição, mas um processo bolchevique, um processo de imposição, um processo de centralismo democrático, um processo de liquidação e exterminação dos seus dissidentes.

            Quanto à questão ética, é muito simples. O Governador se afasta, mas, o PT o aceitou. O PT diz que o caso dos gafanhotos acontecia há oito anos. Não sei se roíam há tanto tempo, mas o fato é que, tendo sido descobertos - e não foi descoberto pelo “ministério da honestidade” do Dr. Waldir, do qual ainda não vi uma manifestação contundente -, fez-se de tudo dentro do PT para passar a mão na cabeça do Governador. Quando começou a haver um incômodo, disseram: “Muito bem. Agora pede uma licença e vamos ver se essa coisa é esquecida”.

            Tudo que desejo é que a memória do meu ex-colega Celso Daniel seja preservada, assim também que não se deixe de investigar documento por documento, fato por fato de algo que está assumindo a feição de escândalo, até porque a imprensa - e a imprensa tem faro para saber onde está a notícia, onde está o fato - vê que essa notícia incomoda. Se essa notícia incomoda, há pessoas que recuam, e se há pessoas que recuam e ficam na negaça, ficam no escapismo, a imprensa imagina que há até mais coisas do que possa parecer. Na minha cabeça, não tem nada. Quero apostar aqui - até porque sou democrata - na inocência das pessoas, se eu não tenho a culpa delas formada na minha consciência. Mas a imprensa deve estar dizendo: “Se fosse uma coisa tão fácil, eles estariam querendo nos ajudar a investigar. Ao contrário, não estão querendo fazer isso”.

            Portanto, aqui, não cometi nenhum pecado mortal. Devo dizer para o PT algo muito tranqüilo...

            O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - O Vice-Governador de então, o “gafanhoto”, é o Flamarion.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PMDB - AM) - Diz muito bem o Senador Antonio Carlos Magalhães: nesse esquema dos gafanhotos, o antigo Vice-Governador era o atual Governador. As coisas estão ficando muito claras.

Concluindo, Sr. Presidente, digo, de maneira muito altaneira, que tenho uma grande vantagem em relação, por exemplo, à Senadora Heloísa Helena. V. Exªs têm de admitir que isto é uma vantagem que eu e muitos outros temos: posso falar o que quiser, que não serei expulso do PT. Não vou ser expulso do PT, porque não sou do PT. Não posso fazer ao PT um mimo de Natal e dizer que me filio ao Partido para que eles tenham a alegria de me expulsar. Então, posso falar aqui o que eu quiser. Aliás, acostumei-me a falar mesmo sempre o que eu quero. É um defeito, que vai comigo para o túmulo. Como não posso ser expulso, democraticamente, só cabe ao PT rebater. E fico engrandecido quando vejo o debate democrático se processando. A outra coisa que cabe ao PT - e quanto a essa me parece que tenho razão irrecorrível - é ouvir, ouvir e perceber que não adianta fingir que não está ouvindo o clamor da Nação. A Nação começa a se inquietar porque vê que pode não estar havendo pulso firme do Governo, e se este Governo não tiver pulso firme pode encaminhar o País para uma crise ética, sim, Srªs e Srs. Senadores.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/12/2003 - Página 41276