Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa da CPI do caso Waldomiro Diniz, concitando o licenciamento do Sr. José Dirceu do cargo de ministro chefe da Casa Civil. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Defesa da CPI do caso Waldomiro Diniz, concitando o licenciamento do Sr. José Dirceu do cargo de ministro chefe da Casa Civil. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 03/03/2004 - Página 5497
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, AUSENCIA, ESCLARECIMENTOS, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, EX SERVIDOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, VINCULAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, DEFESA, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), SUGESTÃO, LICENCIAMENTO, MINISTRO.
  • PROPOSTA, REUNIÃO, LIDER, SENADO, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), COMPROMISSO, VOTAÇÃO, MATERIA, INTERESSE, GOVERNO, GARANTIA, ESTABILIDADE, ECONOMIA NACIONAL.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, é preciso que alguém traga a lembrança da coerência e a palavra da serenidade nesta hora. De um lado, temos a opinião pública sedenta de que se vá fundo nesta investigação e, de outro, um Governo que perde densidade e credibilidade porque, a cada instante, insiste em fingir que não é um governo, mas um avestruz, até na forma com que se refere ao Waldomiro. Fala-se naquele homem, naquele cidadão, naquela pessoa, naquele isso, naquele aquilo.

Já começam as especulações sobre outros homens da confiança do Palácio envolvidos em supostas irregularidades. Não sei onde irão encontrar tantos sinônimos para aquele homem, aquele sujeito, aquela pessoa, aquele indivíduo em relação a seu fulano, seu beltrano e seu sicrano que já começam a freqüentar as páginas dos jornais.

Sr. Presidente, não houve até agora nenhuma explicação efetiva do Governo para essa denúncia escabrosa.

Mais ainda: fato novo há, sim: a ligação de Waldomiro com a GTech, com Carlos Cachoeira e com o Palácio do Planalto; a ligação após a posse do Presidente Lula -- essa está provada -- merece ser investigada. O PT jamais permitiria que não fosse investigada no passado. Agora, todos nós temos que imaginar que deva ser esse o comportamento sereno -- eu não disse que o PT era sereno -- sereno e equilibrado, a ponto de investigar para valer este caso até o final. Não estou aqui pedindo cabeça de quem quer que seja. Sugeri, há semanas, que fosse melhor, talvez, para o Ministro José Dirceu se afastar à maneira de Hargreaves enquanto durasse a investigação. Não peço a cabeça de ninguém. Não estou prejulgando. Peço à CPI que investigue a fundo quem tem e quem não tem culpa nesse cartório. Todos os disparates foram cometidos pelas figuras que supostamente deveriam ter responsabilidade neste Governo. Já nos ameaçaram. E desta tribuna digo: investiguem o que quiserem do passado e, mais ainda, do Dr. Paulo Bretas, da Caixa Econômica, para quem há irregularidades na GTech no Governo Fernando Henrique. Muito bem! Vamos investigar Waldomiro e vamos investigar o Governo Fernando Henrique no episódio GTech.

Sr. Presidente, o que me anima a vir a esta tribuna hoje é fazer uma proposta clara e sóbria, para um governo que está pouco claro e que tem sido pouco sóbrio no seu caminhar. O Governo certamente não teme os resultados da investigação; ele teme que a economia entre em alvoroço, o aumento do Risco Brasil, Senador Agripino Maia; o Governo teme o recrudescimento das dificuldades brasileiras. Pois, neste momento, falando em nome do PSDB, falando em nome da minha Bancada de Senadores, faço uma proposta, que nem de leve é um desafio. É uma proposta, em nome do Brasil, para que instalemos a CPI, após uma reunião de Líderes, que pode ser onde desejarem as Lideranças do Governo, para assumirmos algum compromisso: A CPI vai fundo, investiga quem tiver que investigar, indica a punição para quem merecer, e nós nos comprometemos a votar, sem obstaculizar, todas as matérias disso que o Governo chama de agenda positiva. A Lei de Falências, que não foi votada antes por causa do PT, será votada agora. Votamos a regulação do setor elétrico, corrigindo os disparates da lavra da Ministra, votamos a lei de biossegurança e o que mais queiram e que possa fazer parte de uma agenda positiva. Ou seja, a CPI funcionaria, como funciona a do Banestado, no seu lugar e na sua hora, e nós, aqui, iríamos manter o nosso papel de legisladores. Não iríamos deixar cair a expectativa sobre a economia brasileira, não iríamos comprometer, de forma alguma, o que possa ser o desempenho de uma economia, até porque não há necessidade de se atrapalhar um governo que deixou de fabricar 2% de crescimento positivo pela sua indecisão ao baixar juros e pela sua fraqueza na hora de fazê-lo. O Brasil teve um crescimento negativo de 2%. Seria impatriótico complicarmos ainda mais este quadro.

O Governo não teme, o Ministro José Dirceu não teme, o Presidente Lula não teme, ninguém teme. Imagino que, a esta altura, a única pessoa a temer seja o Sr. Waldomiro, e espero que só ele mesmo.

Aqui está, portanto, Sr. Presidente, uma proposta, não um desafio. Instalamos a CPI, o Governo sai dessa posição constrangedora de recuo, dessa posição constrangedora que o leva a ficar muito mal perante sua própria história e perante a opinião pública, e assumimos o compromisso solene, perante a Nação, de votar todas as matérias da agenda positiva. Portanto, imagino que, após a resposta do Governo, que não haverá de ser o silêncio que pareça prepotente ou que pareça covarde, mas, sim, com certeza, dizendo que, se é assim, o Governo autoriza seus Senadores a assinarem a CPI, faremos a investigação e mostraremos que esta democracia é sólida e forte o bastante para que não haja perspectiva de se atrapalhar a economia porque se está querendo pegar ladrão pela gola, um dos papéis de quem tem decência na vida pública. Ladrão solto atrapalha o desempenho da economia brasileira, Sr. Presidente.

Não é desafio, mas um apelo, que está lançado para os homens de honra de um Governo que, tenho certeza, não vai cair na desmoralização da omissão, porque, ao contrário, vai saber se reerguer na altivez de quem reage, na altivez de quem tem amor-próprio, na altivez de quem tem respeito por si mesmo, na altivez de quem não é omisso, na altivez de quem não vira as costas para o clamor da Nação. Oitenta e um por cento dos brasileiros querem a CPI, e eu diria que cem por cento dos brasileiros querem o êxito do Governo Lula, que ele dê certo, mas que o preço para se tocar a economia para frente não seja o falso pretexto de se abafar a indignação de nosso povo contra a imoralidade que se perpetrou às barbas do Presidente no quarto andar do Palácio do Planalto.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/03/2004 - Página 5497