Discurso durante a 13ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Realização hoje, de reunião do PSDB, para avaliar as irregularidades praticadas no âmbito do governo Lula. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Realização hoje, de reunião do PSDB, para avaliar as irregularidades praticadas no âmbito do governo Lula. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 11/03/2004 - Página 6604
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, REUNIÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), AVALIAÇÃO, IRREGULARIDADE, GOVERNO FEDERAL.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tivemos hoje uma reunião do PSDB. Passamos em revista as inúmeras irregularidades que já vão sendo “jurisprudenciadas” como irregularidades e estão sendo praticadas no âmbito desse Governo. É assim que vemos o momentoso caso Waldomiro, que para nós é um escândalo configurado, claro, nítido. Foi por essa ótica que visualizamos o até hoje inexplicável affair Santo André.

Por não ser um Partido leviano, o PSDB está aprofundando seus estudos, sob a coordenação do Senador Tasso Jereissati, para irmos fundo na questão do Geap. Não estamos dizendo que se trata de um escândalo configurado. Temos ouvido várias pessoas, vários pontos de vista. Há quem diga que existe fumaça, mas que o escândalo não está configurado; há quem diga que o escândalo já está configurado. O PSDB vai formar sua opinião de maneira criteriosa após o estudo que, de duas uma, ou inocentará o Governo ou o deixará em maus lençóis com relação a esse episódio. Estamos separando o caso Geap, o caso Waldomiro Diniz, o caso Santo André e outras coisas.

Vemos com desagrado a movimentação política do Sr. Delúbio Soares, recebendo empreiteiros aqui ou acolá e, segundo consta na crônica, até mesmo no Palácio do Planalto, agredindo um decreto-lei do Governo passado que estabelece normas decorosas para se receber em audiência no Palácio do Planalto. E o Ministro José Dirceu diz: “Ele é o tesoureiro, ele vai lá comigo, mas não para tratar de assuntos de Tesouraria”. Acho estranho. Daqui a pouco, vão me convencer de que o Presidente José Genoíno cuida de Tesouraria e que o Dr. Delúbio cuida de política. Não é isso! É uma inversão de prioridades que não é, por nós, digerível com facilidade.

Nesse episódio específico do filho do Ministro José Dirceu, o PSDB tomou uma atitude que a meu ver compõe com o seu passado, com a sua orientação. Não imaginamos que aí esteja em si mesmo configurado o escândalo. Não acreditamos nisso.

Temos muito que reclamar do Ministro. S. Exª, que, quero crer, não foi cúmplice de Waldomiro, foi, sem dúvida alguma, no mínimo, negligente e incompetente ao nomeá-lo. A CPI é que mostra quem é cúmplice de quem ao final das contas.

Mas, nesse episódio do filho do Ministro, estamos imaginando que não foi o que S. Exª fez, o que não é infelizmente prática nova na nossa República, e o PSDB não quer enveredar pelo caminho da hipocrisia. Portanto, não queremos priorizar isso neste instante, por entender que o PSDB deve centrar suas baterias e seu fogo em cima das verdadeiras evidências.

Nesse episódio, sinceramente, imagino que, se olharmos para trás, veremos que várias pessoas com influência em determinados Governos, não necessariamente filhos, usaram de seu prestígio para abrir certas portas. E, francamente, eu me sentiria mal se viesse aqui hoje para dizer que esse é o crime do Ministro José Dirceu. Eu não viria aqui para dizer isso. Não quero sequer dizer que S. Exª tenha cometido qualquer crime. Estou dizendo apenas que meu objetivo é ver instalada a CPI que investigará Waldomiro Diniz, para que crimes possíveis, culpas eventuais, inocências também possíveis e, se Deus quiser, prováveis, tudo seja provado.

Sr. Presidente, hoje venho a esta tribuna para dizer que muito estranho esse verdadeiro pavor que o Governo revela em relação ao escândalo Waldomiro Diniz. Os jornais já perceberam, as televisões já noticiaram, e, daqui a pouco, nas ruas, as pessoas estarão falando: o Governo chega ao ponto de arriscar desmoralizar a sua política econômica, de arriscar queimar a sua equipe econômica, para que se trate de outro assunto no País que não o escândalo Waldomiro Diniz. Jamais vi algo parecido.

Hoje, na reunião, houve um princípio de polêmica no meu Partido. Perguntaram-me: “V. Exª está defendendo a política econômica do Governo?”. Digo: não estou fazendo isso. Estou dizendo apenas que o Governo deposita tanta esperança nessa política econômica, tem feito por ela tantos sacrifícios, que não consigo imaginar que não seja algo reprimível com dureza - porque reprimida com dureza foi, por exemplo, a Senadora Heloísa Helena quando discrepou do Governo - a verdadeira tentativa de boicote do trabalho da equipe econômica.

Os jornais já vão noticiando nas entrelinhas: ataca a política econômica para abrir espaço para a crítica e, quem sabe, a derrubada do Ministro Antônio Palocci. Em troca disso, não se fala mais em Waldomiro Diniz, não se fala mais na CPI. Isso está ficando muito claro. Isso é um tiro no pé. Isso, se comprovado, exibe responsabilidade pública, falta de convicção. Isso significa novamente, se se preocupam tanto com os investidores - e não estão errados em fazê-lo -, desnortearem investidores que, por exemplo, dirão que amanhã pode haver a tal guinada que eles juraram que não haveria, ou seja, estariam voltando ao que seria o seu passado em relação à questão econômica e estariam abrindo mão do compromisso, tão apregoado por eles como sagrado, da chamada Carta aos Brasileiros.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Já concluo, Sr. Presidente.

Tem plena razão o Senador Osmar Dias, figura respeitada e querida desta Casa, quando reclama do by-pass a Parlamentares. Era ideal que o Brasil tivesse outras práticas. O Brasil tem práticas que são antigas, e essa prática adotada pelo Ministro José Dirceu é uma prática antiga. Não é uma prática delituosa, é uma prática superada. Não é uma prática desonesta, é uma prática, quem sabe, até injusta, mas não é uma prática que tenha sido inventada por esse Governo. Quero manter-me o tempo inteiro de acordo com o que é o meu respeito à coerência e o meu respeito ao meu papel na vida pública brasileira.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Portanto, Sr. Presidente - peço a V. Exª mais quinze segundos -, concluo dizendo que o Brasil nos está examinando. Não acredito que tenhamos que sair por aqui atirando a torto e a direito e a esmo, para um lado e para o outro. Temos que focar aquilo que é essencial.

Volto a dizer, encerrando: a meu ver, esse caso revela uma prática antiga e não delituosa; revela uma prática injusta, mas não criminosa.

O caso Geap pode ser um grande escândalo, Senador Tião Viana, mas o PSDB não tem ainda autoridade para dizer que se trata de um escândalo, porque está estudando a matéria. Portanto, separamos o caso Geap das demais matérias, onde para nós há escândalo, sim, a começar por Santo André e a terminar pelo episódio triste de Waldomiro.

Estamos, portanto, atentos, mas no caminho da coerência. E tudo que os Parlamentares tucanos desejam fazer é cumprir com o seu dever de dia, colocar a cabeça no travesseiro de noite e poder dormir o sono de quem não praticou nenhuma injustiça e, ao mesmo tempo, de quem não praticou nenhuma omissão.

Obrigado pela tolerância, Sr. Presidente.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/03/2004 - Página 6604