Discurso durante a 21ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa do combate ao desemprego como ação prioritária do governo Lula.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Defesa do combate ao desemprego como ação prioritária do governo Lula.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 23/03/2004 - Página 7983
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, INEFICACIA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • DEFESA, NECESSIDADE, PRIORIDADE, COMBATE, DESEMPREGO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Siqueira Campos, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e aqueles que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, peço permissão para vir aqui - e quis Deus que aqui estivesse presente uma das melhores expressões do meu Partido - chamar a atenção do Presidente Lula, como algumas vezes já usei desta tribuna, advertir o Presidente da República, Senador Papaléo Paes, de que é passado quase um terço do seu mandato.

Fui “prefeitinho” da minha cidade, Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Prefeitão.

O Sr. Jonas Pinheiro (PFL - MT) - Prefeitaço.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - BA) - Lembro-me de que temos que estudar. Até para jogar futebol se estuda! Passei por um extraordinário Prefeito de Piripiri, Dr. Luiz Menezes, que é próximo à minha cidade no Piauí. Tanto é verdade que ele é extraordinário que novamente é prefeito no interior. E aprendi muita coisa com ele, e fui aprendendo com os prefeitos. Depois fiz um curso de administração municipal no Recife - o Inad, e passei por um Prefeito, hoje do PFL, o Sr. César Melo. Senador Roberto Saturnino, atentai bem, Senador Cristovam Buarque: era naquele período de seis anos de mandato. E o Prefeito César Melo me disse: “Mão Santa, o negócio é ligeiro. Quando a gente vê, termina”. Era no período de seis anos. Foi um aprendizado, mas a coisa passa rápido. E já está acabando, Presidente Lula. Está acabando.

O PMDB fez uma convenção gloriosa, e já surgiram cinco candidatos! O Governador Rigotto, o Governador Roriz, o Governador Requião, o Garotinho e o Mão Santa, do Piauí.

Senador Papaléo Paes, o Presidente do nosso Partido, Deputado Michel Temer, garantiu as primárias, que serão por ordem alfabética. Iniciar-se-ão lá no Amapá. Mas eu gostaria de dizer que está aí: é um terço mesmo! Tudo indica! E reeleição é um negócio muito difícil! Já disputei reeleição. O Cristovam Buarque já disputou também.

E esse Partido que mostrou a foto, o PMDB, nós queremos é ser a luz. Essa é a dívida com o Brasil. Não é para ser base, não! Queremos ser o núcleo puro, mole, encefálico, inteligente! Está aí. Tem que aprender!

O Senador Antonio Carlos Magalhães se inspira e se ajoelha na Igreja do Senhor do Bonfim. Pois eu busco Deus! Deus, que não é brasileiro, todo o mundo já sabe! E Deus disse: “Comerás o pão com o suor do teu rosto!” Senador Cristovam Buarque, essa é uma mensagem aos governantes. Trabalho! É o trabalho!

Olha, Senador Antonio Carlos Magalhães, Napoleão, o francês, disse: Eu conheci os limites dos meus braços, das minhas pernas, dos meus olhos, da minha visão, mas não conheci o limite do trabalho.

Senador Roberto Saturnino, o Governo passado enfrentou dificuldades. Houve o risco do apagão, e criaram a Câmara de Gestão. Nós nos livramos do apagão, mas está na hora de o PT criar a “Câmara de Gestão para o Paradão”. O Brasil está parado. Não há progresso em relação a escolas, a estradas, a hospitais e a emprego.

Aqui há dois senadores evangélicos, os Senadores Marcelo Crivella e Magno Malta. O apóstolo Paulo disse que quem não trabalha não merece ganhar para comer. E La Fontaine dizia que o trabalho é um tesouro, professor Cristovam Buarque. A saída é o trabalho. Como médico: terapia ocupacional.

Mas, além de dizer que temos o compromisso de vencer as eleições primárias no Estado do Amapá, gostaria também de dizer, Senador Papaléo Paes, que gosto muito do povo. Como Ulysses Guimarães dizia, escute a voz rouca das ruas.

            Senador Eduardo Siqueira Campos, não vou falar difícil, mas entendo que a música é extraordinária, tem uma revelação, professor Cristovam Buarque, maior do que sabedoria, maior do que a filosofia. Parece que a música é uma comunicação divina. Está aí, no livro de Deus, nos Cânticos, nos Salmos. Davi tocava.

Então, eu iria dizer ao Presidente da República e à Ideli - onde está a Líder? Onde está o povo do PT? Eu ia recordar uma música do Ceará, de Iracema, do cantor Fagner. É a música Menino Guerreiro. A música é essa revelação de sabedoria. Ele diz mais ou menos assim: o menino guerreiro tem um peito que dói e chora; quando castram seu sonho, seu sonho é seu trabalho; um homem sem trabalho perde a dignidade, perde a honra; sem o trabalho, ele mata, ele morre, comete crimes e não encontra a felicidade.

É isso. O Presidente da República tem que ver que somos humanos, Senador Jonas Pinheiro, de quem ouvimos há pouco a mais extraordinária aula sobre trabalho no campo, sobre produção. O trabalho por meio da educação traz o bem-estar social, a produção e a riqueza. E eles não entendem isso. O desemprego está aí. Vimos um exemplo no Senado. O desemprego está aí.

Nós, médicos, levamos nossa formação profissional para onde vamos. A minha é a de médico cirurgião. E às vezes dá certo, Presidente Lula. Mas a nossa limitação é humana.

Vejamos a história, professor Cristovam Buarque. Esta pátria é grande. Veio Dom Pedro I, a quem competia a independência; ele a realizou; depois veio Dom Pedro II, 49 anos, a quem competia a unidade deste Brasil grande. Em seguida, veio a idéia do governo do povo, pelo povo, para o povo, vieram os Deodoros, os Florianos, veio Washington Luís, governar é fazer estradas. Depois, Getúlio, com o trabalhismo, a Previdência; Juscelino, com o otimismo, o desenvolvimento, cravando a nossa Capital, como Deus cravou o coração, no meio do corpo do Brasil. Esta é a verdade: cada um com a sua missão histórica. Seguiu-se João Goulart, o pacificador, que caiu pela paz para não ter uma guerra interna, fratricida. Vieram os militares, os ditadores, que disseram combater o comunismo, cada um com sua missão histórica. Depois veio o Presidente José Sarney, que consolidou a democracia, deu generosidade a este País. Ao Presidente Collor coube a abertura. E surgiu o grande o monstro, a inflação, que capava a cada instante, a cada dia, o salário de todos, principalmente dos trabalhadores. Aí, combateram a inflação: ou Itamar Franco, ou Fernando Henrique. Isso é problema de DNA, foram eles os pais.

Está feito o diagnóstico, Presidente Lula. Livre-se do núcleo duro, do núcleo burro; aproxime-se de um núcleo mole, flexível, de saber e de conhecimento e que espalhe, neste País, a confiança e busque o trabalho. Presidente Lula, a sua missão está aí. Antes de operar um doente, buscamos exames, não é isso, Senador Papaléo Paes? Os exames nos permitem fazer o diagnóstico. E o diagnóstico está feito, Senador Cristovam. Qualquer pesquisa, em qualquer lugar, no meu Piauí, aqui em Brasília, no Brasil todo, a principal doença deste País é o desemprego. Lacerda, que há pouco, está ali o livro, dizia: “Governar é escolher”. É ter prioridade, é fazer que façam; vamos fazer um mutirão e libertar o povo brasileiro dessa doença que é o desemprego. Depois, vem a violência, que é uma conseqüência; problemas de saúde e educação.

Concedo um aparte ao Senador Cristovam Buarque.

O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PT - DF) - Senador Mão Santa, fico muito satisfeito quando ouço V. Exª falar em trabalho, trabalho, trabalho. E nem mesmo apenas emprego. Não vou fazer nenhum juízo sobre a necessidade de o Presidente se livrar do núcleo duro ou não, mas, acredito que precisamos livrar-nos de uma lógica que nos está aprisionando: a lógica de pensar que pôr as pessoas para trabalhar é um problema apenas de opção nas variáveis econômicas. Esse fim de semana mesmo, num debate feito pelo PT, pediu-se a baixa das taxas de juros, a mudança da política econômica, em vez de se pedir que se colocassem as pessoas para trabalhar, que é o que elas querem. Por exemplo, no programa Brasil Alfabetizado, ainda em andamento pelo Governo Federal, há 108 mil pessoas trabalhando. Não vou chamá-las de empregadas porque não têm carteira profissional nem o trabalho durará para sempre felizmente, porque, em breve, por todos estarem alfabetizados, esses alfabetizadores deixarão de ter o trabalho. Se empregássemos, neste País, as pessoas para colocarem água e esgoto nas casas dos que não os têm, ou as pessoas que querem trabalho, como V. Exª diz, para produzirem os livros de que as nossas crianças e adultos precisam, não há dúvida de que não haveria desemprego e teríamos o produto de que as pessoas necessitam. V. Exª traz no seu discurso uma lógica diferente da lógica econômica, até como médico, como poeta que é: a necessidade do trabalho, independentemente de se mudar a política econômica, que, a meu ver, se mudada, trará um perigo muito grande, podendo desestabilizar pontos fundamentais. Parabenizo V. Exª, com quem estou de acordo: é preciso transformar aquilo que é visto como problema, pessoas sem emprego, naquilo que de fato elas são: uma energia nacional querendo ser mobilizada e que pode sê-lo facilmente, com algumas medidas e alguns recursos, mas nem tão caros quanto se pensa.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu e o País todo agradecemos a participação do Senador Cristovam Buarque.

Se aqui no Brasil há 11% de desempregados, 20% nos centros urbanos, isso é muito mais grave do que nos outros países. Em outros países, há uma renda familiar para sustentar o desempregado e uma assistência social mais responsável.

Todos sabem que, se o PIB crescer 1%, serão gerados 300 mil empregos. Este País tem que crescer 5% ao ano para que sejam criados 1,5 milhão de empregos. Isso, só para os jovens. E ainda ficará déficit do que foi prometido, dos 10 milhões de empregos.

O PT não mudou a bandeira para vermelho, como todos temíamos. No entanto, escreveu “Desordem e Regresso” na lista branca de nossa bandeira. O fato é que o País regrediu científica e matematicamente.

Todos os problemas do Brasil podem ser resolvidos com trabalho, visão e honestidade. Nossos sentimentos são de esperança, não de despeito, Senador Cristovam Buarque. Não conduzimos uma luta de frustrados, mas uma batalha de idealistas.

Daqui a pouco, ouviremos o Boris Casoy dizendo: “isso é uma vergonha”. O Programa Primeiro Emprego, lançado em 30 de junho de 2003, criou apenas um emprego. O beneficiado foi um baiano, acho que por obra de Nosso Senhor do Bonfim. Um único emprego!

O programa atraiu apenas 0,3% das empresas convidadas. Convidaram 160 mil empresas, mas apenas 2 mil se cadastraram. A verdade está aqui, na Folha Online, na seção dinheiro: “Só Renison, 21, ganhou ‘Primeiro Emprego’”.

O País tem jeito e o diagnóstico está aí. O Presidente tem que ver suas limitações e devemos fazer um mutirão para o trabalho, para o emprego. A história ensina, Senador Cristovam Buarque. Todos se lembram de François Mitterrand, que foi derrotado nas eleições por duas vezes e saiu vencedor na terceira; o Presidente Lula foi derrotado três vezes e venceu na quarta. Então não há razão para não acertar, porque Mitterrand foi para o debate com o estadista Giscard d’Estaing. Mitterrand ganhou no primeiro turno, mas não estava rodeado por um núcleo-duro burro, e, com muita inteligência, fez um cálculo matemático e apostou na criação de empregos. Virou a eleição.

A caridade começa em casa, com o Governo. Das oito horas, o funcionário público vai trabalhar cinco e as três restantes serão trabalhadas pelos desempregados.

Mitterrand venceu com a inteligência, com o cérebro, que é mole. Nada de ameaça de duro com duro. Ninguém tem medo dessas bravatas. Nós queremos a bondade, a generosidade. “O bem não faz barulho e o barulho não faz bem”. Francisco de Assis, o santo.

É isto que queremos: emprego. Não para amanhã, mas para logo. À noite se trabalha. Precisamos convocar todos esses Ministros e fazer um mutirão, fazer a câmara de gestão do “paradão” que está o Brasil. E vamos. Isso é violência para o baiano, isso é violência para o Piauí.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sr. Presidente, a saída é chamar os Prefeitos, que estiveram aí. Prefeito é gente boa. Essa mágoa do PT é por ter eleito poucos prefeitos, e elegerão menos nas próximas eleições. Mas eles têm que ser chamados. O grande erro do Fome Zero foi não ter aproveitado os Prefeitos e criar uma estrutura imaginária, que não existe. O povo deu nota zero e o Governo ficou conhecido como Governo zero, porque criou o Fome Zero, comprou um carro zero, um avião zero. E agora é isso.

Votamos no Presidente Lula com o compromisso de se criarem empregos. Já sabíamos que a maior doença deste País era o desemprego.

Senador Antonio Carlos Magalhães, eu estava na minha praia e disse que o PT iria ganhar até no Piauí. Não acreditaram. Eu disse: vai ganhar porque o grande drama é o desemprego. Eu estava lá na minha praia, no litoral do Piauí. Senador Eduardo Siqueira Campos, havia 20 jovens e eu, candidato a Senador, profetizava que o PT ganharia lá. Perguntei para os 20 jogadores de futebol que tomavam cerveja quantos estavam desempregados. Senador Cristovam Buarque, tomei um susto. Todos disseram, em coro, que estavam desempregados. Este é o nosso Brasil: a juventude, cheia de ideal, de bondade, encontra um amor, casa, tem um filho e entra no desespero. É como na música de Fagner: sem emprego, um homem não tem honra, não tem dignidade, mata, morre. Essa é a situação.

Então, termino dizendo que nossos sentimentos são de esperança, não de despeito. Não conduzimos uma luta de frustrados, mas uma batalha de idealistas. Rui Barbosa disse, na sua época: a única saída, a salvação é a lei dentro da lei. Só com a justiça há salvação. Parodiando Rui Barbosa, eu digo que a única salvação para este País é o emprego e o trabalho para os que necessitam.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/03/2004 - Página 7983